Entender a situação da saúde privada em nosso país levanta muitos aspectos diferentes sobre a situação como um todo. Todos os setores da economia brasileira são regulados, a saúde não é diferente, neste caso, pode-se dizer que é um dos mais regulados setores. Os planos de saúde privados seguem sofrendo de forma drástica com o perverso intervencionismo do estado na nossa economia. O setor demonstra como a livre concorrência é melhor para a população que o sentimentalismo dado a essa questão pelos reguladores.
O mercado privado de saúde viveu um aumento desenfreado da oferta de planos no início da década de 1990 e contava com mais de 3 mil operadoras. Graças a quase não regulação do setor a concorrência era ampla e os consumidores poderiam escolher de melhor forma o plano que queriam aderir, de acordo com sua renda, necessidade ou desejo. (Não é necessário aqui entrar na discussão de que maior concorrência acarreta menores preços e melhores serviços.)
Tudo isso começa a mudar no final da mesma década com a crescente intervenção da mão visível (perdoe o autor pelo trocadilho infame) do estado. A promulgação da Lei nº. 9.656/1998, que ficou conhecida como Lei dos Planos de Saúde, foi a pá de terra no crescente e livre mercado do setor de saúde. Foi esta lei que estabeleceu o “plano-referência”, que seriam requisitos mínimos que os planos deveriam ofertar. Logicamente, essa obrigatoriedade foi repassada aos consumidores e os planos subiram consideravelmente os valores.
Ao tomar medidas como essas os governos fazem com que as operadoras se protejam de prejuízos e aumentam os valores dos planos. Já o consumidor tem um plano mínimo encarecido, o que faz com que muitos não possam nem pagar o plano mais barato. O ideal nesse caso, era retirar barreiras para que os planos ofereçam modos personalizados de seus serviços e assim os planos seriam mais baratos e com maior concorrência.
As coisas pioram em 2000, dez anos depois, com a criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) pela Lei 9.961/2000. A ANS arbitra sobre vários temas nos planos de saúde, até mesmo de quem pode exercer cargos de direção das empresas, controla preços e reajustes (claro que com total falta de racionalidade econômica como todo burocrata com uma caneta) e concede autorização para os planos operarem. A agência adotou como obrigatórios mais de 3.000 procedimentos para que um plano possa entrar no mercado.
É necessário que se perceba que restringir o acesso à saúde privada ajuda a saturar justamente o que nossos amigos socialistas insistem em defender: o SUS. Com mais planos podendo entrar no mercado, a tendência é que seus preços caiam e assim, mais pessoas de menor renda teriam condições de pagar um plano, por mais barato que fosse e assim deixaria de usar o SUS para alguns procedimentos e eventos em saúde.
Nos dias atuais, raros são os planos individuais, estes representam menos de 20% da fatia do mercado. De forma a fugir da aberração regulatória nos planos individuais, as operadoras simplesmente pressionam os consumidores a não fazer um plano individual e sim empresarial ou coletivo por adesão.
Uma importante causa desse movimento é a fixação da ANS por reajustes anuais, o que faz com que os planos, por vezes, gastem mais do que arrecadaram. Este reajuste fixado não ocorre nos planos corporativos, e se tornam mais atrativos para as empresas.
A saída de muitos brasileiros está na criação de uma empresa com CNPJ ou MEI para que possam fazer os contratos corporativos, e ainda assim correm o risco de serem indiciados por fraude. Tal fator só comprova que um mercado menos regulado é muito melhor para todos que sentimentalismo e ações governamentais para tentar “consertar” as chamadas “falhas de mercado”.
Outro fator que tira dos pobres uma saúde privada mais barata é o protecionismo de médicos brasileiros a novas turmas de medicina com a chancela do Ministério da Educação (MEC). Através do MEC em 2018, foi decretada moratória de 5 anos na abertura de novos cursos de medicina no país. Um outro decreto do MEC de 2006 obrigava a ter autorização do MEC na criação de novos cursos de medicina, odontologia, enfermagem, psicologia e direito.
Todas essas medidas foram tomadas, é claro, com a desculpa de preocupação com o nível de ensino do país, certamente, não com o interesse de alguns poucos grupos corporativistas que estão interessados em uma reserva de mercado. Essa medida é tão danosa a população brasileira que fomos obrigados a importar médicos cubanos, os quais não temos a menor noção de como é o padrão de formação e a máxima de que a medicina cubana é excelente mais parece uma das propagandas socialistas de sucesso. Cabe ressaltar que com essa ideia, a preocupação claramente não era com a qualidade do ensino, senão, haveria mais rigor ao importar médicos cubanos. E claro que a importação de médicos cubanos nada tem a ver com o sustento de uma ditadura comunista, isso é apenas uma loucura de liberais “conspiracionistas”.
Temos além dessas coisas, uma força paraestatal que age de modo igualmente perverso ao estado: o Conselho Federal de Medicina (CFM). Com o advento das clínicas populares, o povo passou a ter consultas mais baratas em médicos particulares. O CFM proíbe a propaganda dos serviços por telefone e internet. O consumidor só pode ter acesso a valores quando entra no estabelecimento e, além disso, as clínicas populares não podem ter venda de próteses e afins. O motivo são vários: não fazer da saúde um comércio (se não é um comércio, do que se trata, então?), vedar a concorrência desleal, seja lá o que esse termo significa. Concorrência é concorrência.
Conclusão
Nos falta entender, que a saúde é um serviço como outro qualquer, não um direito. Novamente o mercado se mostra mais eficiente em melhorar a vida das pessoas que o sentimentalismo e intervencionismo tão aplaudidos por demagogos que insistem em ultrajar as leis da ação humana.
Em tempo, cabe ressaltar que saúde não é um direito. O único direito existente na ética libertária é o direito a propriedade privada. É desse direito que derivam todos os direitos. O acesso a saúde vem da propriedade privada. O direito de alugar ou comprar um espaço para fazer um consultório, o direito de comprar insumos médicos, o direito de dar consultas através do seu conhecimento para resolver os problemas das pessoas, problemas esses que os indivíduos estão dispostos a pagar para serem resolvidos. Usando analogamente a ideia de outro texto desse canal sobre Nietzsche, o direito torna obrigatório que um médico atenda uma pessoa. Ninguém é obrigado a tratar uma pessoa se ele não quiser. Não estamos aqui falando da moralidade de atender ou não, e sim da obrigatoriedade. A despeito de tudo supracitado neste texto, não há nem um mínimo movimento dos órgãos estatais para flexibilizar o setor de saúde privado e retirar as amarras que engessam o setor. Nem ao menos a pandemia foi capaz de fazer com que o nosso estado retroceda na sua vil ação de nos privar de saúde de qualidade.
Mais um grande artigo escrito pelo autor Gabriel Didres, obrigado.
Bom artigo!
Só discordo da parte dos médicos cubanos. A trazida deles para o Brasil não foi uma forma adicional de sustentar a ditadura cubana por quê?
Muito bacana este artigo! Ao envolvido deste, meus parabéns!