“Estramos cada vez mais na era do pós-jornalismo, onde os veículos sobrevivem não da precisão e honestidade de suas reportagens, mas do apelo de sua narrativa.” — Fred Skulthorp, O Crítico
Ninguém deixou de perceber que o Ocidente sofre de um problema de credibilidade. Suas instituições – ou seja, a mídia, os membros do governo, a academia, os sindicatos de professores e outras “coisas” sociais conjuntas – perdem cada vez mais a nossa confiança coletiva (exceto as empresas, ao que parece). Não confiamos na mídia para transmitir ou exibir a verdade; não confiamos em nossos governos para dizer a verdade, agir com honra ou administrar os “bens comuns” de boa fé. Falando em fé, as elites intelectuais substituíram amplamente Deus não por Mamon, mas por Gaia – muitos adoram no altar de Santa Greta nos dias de hoje.
“Não viva por mentiras” é uma das sugestões do herói literário russo Aleksander Soljenítsin. Escrito nos últimos dias da União Soviética, é um texto que lhe valeu o exílio de sua terra natal. De acordo com os estudiosos Edward Ericson e Daniel Mahoney, editores do Solzhenitsyn Reader de 2006, “mentiras” significa algo como “ideologia” – “a ilusão de que a natureza humana e a sociedade podem ser remodeladas para especificações predeterminadas”. O que é é, e é fútil e perigoso contradizê-lo.
Brincar com a verdade é precisamente o que os regimes totalitários fazem, observei no ano passado em uma resenha de A Psicologia do Totalitarismo, do psicólogo Mattias Desmet — livro que aparentemente acaba de ser banido pela própria universidade desse estimado professor: “O coletivo entoa e defende as regras, não importa quão insanas ou ineficazes sirvam para alcançar seu suposto objetivo. O totalitarismo é a indefinição entre fato e ficção, mas com uma intolerância agressiva a opiniões divergentes. É preciso cumprir as regras.”
Todo esse pavor filosófico vêm à mente ao ler o popular livro do astrofísico e educador Neil deGrasse Tyson, Starry Messenger: Cosmic Perspectives on Civilization. Em um mundo partidário que espera que tenhamos contribuições politicamente inclinadas sobre todos os tópicos sob o sol do Congresso, escritores e pensadores são forçados a se envolver com tópicos sobre os quais não sabem nada. Como figura pública e educador no Planetário Hayden de Nova York, deGrasse Tyson vê sua própria tarefa como se abster de tudo isso. Estimulantemente, ele diz que é um cientista que só fala sobre temas em que tem algum conhecimento.
No entanto, o que em Starry Messenger começou com investigações sobre a natureza da ciência gradualmente se transformou em um manifesto woke. A verdade objetiva é, de fato, o tema central dos primeiros capítulos, onde a civilização, o cosmos e a lua ocupam o centro do palco. O autor sustenta que “a coisa mais bela sobre o universo pode ser que ele é cognoscível. Nenhuma mensagem escrita em tábuas no céu exigia que assim fosse. Simplesmente é.” Ele também escreve que “verdades objetivas da ciência não são fundadas em sistemas de crenças. Elas não são estabelecidas pela autoridade dos líderes ou pelo poder de persuasão. … negar verdades objetivas é ser cientificamente analfabeto, não ser ideologicamente consistente”.
Até aí, totalmente estelar.
Imagine o choque do leitor, então, quando a segunda metade do livro se desvia de órbita; negar a realidade objetiva torna-se a estrela guia para os capítulos da diversidade.
Na verdade, deGrasse Tyson teve que ir direto ao terceiro trilho da guerra cultural ao dizer que o sexo biológico é um conceito confuso, antigo e ultrapassado. Como a cor existe em um espectro de comprimento de onda, de alguma forma deGrasse Tyson imagina que o sexo também existe – o problema de hardware mais obviamente perceptível se transformou em software difuso, para usar a terminologia do jornalista britânico Douglas Murray. Neil deGrasse Tyson não está convencendo ninguém de que “tudo é um espectro” ao apontar cores – que comprovadamente são – e categorias de furacões, que foram criadas com a história em mente. Uma criança não é um adulto só porque o limite exato entre os dois é confuso.
Em um relato memorável, Tyson interpreta um detetive no metrô de Nova York, tentando discernir os sexos dos outros passageiros enquanto vê o que ele acha que são irrelevantes e arbitrárias “características secundárias e terciárias – tudo construções sociais”. “Eu poderia identificar quem se apresentava como homem e quem se apresentava como mulher apenas a partir de seus rostos?” foi o desafio que ele se propôs. Como todos estavam sentados e porque era inverno então as formas do corpo eram convenientemente cobertas por jaquetas grossas, ele de alguma forma não tinha a capacidade de separar homens de mulheres.
Cada parte de nosso corpo exclama diferenças sexuais dimórficas – de nossas células e rostos às formas e tamanhos de nossas mãos. No entanto, as classes dominantes e suas ideias exigem que o sexo se torne um grande pedaço de inclareza, tanto que os mais eruditos de nossos cientistas não podem mais definir o que é uma mulher. Portanto, deGrasse Tyson (ou talvez seus editores) se sente compelido a incluir uma história que sugere que todo gênero é fluido e sexo irrelevante.
Na página 193, é parida(!) — se você desculpar o trocadilho — a frase “pessoas grávidas”, sem dúvida inserida por um editor semanticamente deficiente.
Foi apenas há sete anos que Jordan Peterson subiu ao palco da guerra cultural com sua oposição estoica a esse discurso compulsório. Barbara Kay escreveu para o Reality’s Last Stand: “Já está bem claro que a insistência no uso universal de pronomes não tem nada a ver com bondade, e tudo a ver com homenagem compulsória a – para muitos de nós – um sistema de crenças falso e alienante”.
A próxima fronteira é o “capacitismo“, onde deGrasse Tyson diz que “cheira a machismo sensorial e fisiológico” pensar em pessoas que não têm dedos, braços, pernas ou um de seus sentidos como deficientes. Dobrando a aposta nesse grito de guerra, deGrasse Tyson passa a listar exemplos de humanos extraordinários que superaram obstáculos inacreditáveis – de Ludwig van Beethoven, que compôs surdo, a Matt Stutzman, o campeão de tiro com arco que se destaca em atirar flechas com os pés. Alguma dessas pessoas é realmente deficiente?
Claramente não, argumenta deGrasse Tyson, porque a palavra “deficiente” é ruim e porque cada um é incrível por si só, ou algo assim.
Não precisa haver um juízo de valor no fundo de cada adjetivo ou de cada descrição do que é a mediana ou o modo humano em qualquer domínio que consideremos – da altura ou número de braços às habilidades cognitivas. Para serem úteis, os livros didáticos de medicina e anatomia têm que dizer algo sobre nossa espécie, para poder dizer, as palavras devem significar alguma coisa. Redefinir tudo e transformar-se em um pretzel linguístico antes de transmitir uma mensagem simples parece menos útil e o mais longe possível do que é ser científico.
É quase insultuoso também. Para cada Stephen Hawking extraordinário, temos inúmeros outros sofrendo aflições semelhantes, mas ficando muito aquém das realizações do Sr. Hawking. É anticientífico dizer “espere um minuto” quando nossas estimadas elites escolhem à dedo um valor extremo em uma distribuição e, a partir daí, concluem que não há distribuição, não há mediana e não há modo?
Implicações estatisticamente analfabetas à parte, o que DeGrasse Tyson está correto é que “quando você não é bom em uma coisa, você normalmente tenta outra coisa. Em uma sociedade livre, há muitas ‘outras coisas’ por aí.” Sim, graças a Deus pela divisão do trabalho e por uma ordem econômica onde o meu melhor pode complementar o que outra pessoa não pode, não vai ou não deve fazer – malditas controvérsias “capacitistas” e jogos de palavras.
O que está claro é que coisas ruins acontecem quando outros – sejam governos ou não – obrigam ou intimidam você a dizer coisas que não são verdadeiras.
Então, não, o estimado Dr. deGrasse Tyson não vacila em seu compromisso de falar a verdade. Ouvi-lo é muito mais libertador do que julgar suas palavras filtradas pelo censório woke que é a ideologia progressista. Se apenas atribuímos os absurdos em Starry Messenger aos pedágio que ele deve pagar para não ser cancelado pelas editoras – as palavras mágicas que ele deve falar para apaziguar a intelligentsia – ele entregou um livro popular decente sobre como pensar sobre nosso mundo.
Mesmo assim, eu só desejava que nosso estimado cientista se recusasse a viver de mentiras.
Artigo original aqui
“…de Ludwig van Beethoven, que compôs surdo, a Matt Stutzman, o campeão de tiro com arco que se destaca em atirar flechas com os pés. Alguma dessas pessoas é realmente deficiente?”
Sim, são deficientes.
Beethoven era deficiente auditivo e Stutzman tem deficiência física.
Não tem como negar isso. Ser deficiente não é a mesma coisa que ser inútil.
* Um universitário de humanas e fumador de ervas é normalmente um inútil embora geralmente não tenha qualquer deficiência. (sic)
(*) Tudo bem, eu aceito a tese de que ninguém é inútil, o universitário citado como exemplo é um idiota útil, muito útil para o avanço da agenda progressista.
E quanto à deficiência, pode ser que a deficiência dele seja mental, as ervas que ele fumou debilitaram os poucos neurônios que ainda funcionavam no cérebro dele…