A postura intermediária e comprometedora daqueles chamados “centristas” ou “moderados” é muitas vezes confundida com uma posição equilibrada e razoável. Não há quase nada pior do que um mundo inteiro ser enganado sobre o que racionalmente equivale ao crime, achando que é equilibrado, realista e ideal. O centrista convenceu-se de que a sua posição intermédia é a única posição justa e razoável, e que qualquer outra coisa é extremismo desequilibrado. A oportunidade de examinar racionalmente essas afirmações nunca foi tão importante quanto agora.
Comecemos por perceber que a maioria das pessoas não se diz realmente centrista, mas está convencida de que as suas opiniões são uma mistura adequada de ideias, uma negociação para se encontrar um meio termo, que é o que o centrismo implica. Quer se trate de uma mistura de segurança e liberdade, socialismo e capitalismo, ou coletivismo e individualismo, poucos admitem que a proporção única de sua mistura é o que está por trás de sua confiança em suas próprias visões políticas. A maioria está convencida de que possui a mistura certa, enquanto acredita que aqueles com visões diferentes possuem uma mistura errada.
Quantos conservadores tradicionais são contra o socialismo sem perceber que muitas de suas visões são baseadas no socialismo? Eles não colocam o rótulo de “socialismo” em seus amados militares, policiais e escolas públicas, mas esses são exemplos de socialismo. Quantos progressistas à favor da distribuição de riqueza via governo realmente admitirão que são favoráveis à busca do lucro para que esta permaneça como o poço do qual eles podem perpetuamente tirar o que distribuir? Quase todo mundo tem uma mistura, nem que seja para se certificar de que não são extremistas radicais.
Para aumentar a confusão, há paralelos em nosso mundo que nos sugerem que uma mistura é melhor, como as ligas de metais sendo mais úteis do que metais puros sozinhos, ou a temperatura certa sendo uma mistura de não muito quente e não muito frio. É intuitivo imaginar que exista um meio termo ideal em questões sociais, econômicas e políticas.
Agora vamos ver a mistura de uma perspectiva diferente. Os engenheiros não se esforçam para um equilíbrio saudável entre os aviões que continuam a voar e os aviões que caem do céu. Eles são muito desequilibrados em sua opinião de que todos os aviões devem continuar voando sem problemas, o máximo possível. Consideraríamos inaceitável que o sistema jurídico promovesse, exteriormente, uma mistura saudável de aplicar a justiça aos criminosos e deixá-los fazer o que quiserem. O ponto relevante aqui é que não devemos misturar veneno em nossos alimentos e chamar isso de equilíbrio saudável.
Nenhuma porcentagem de crimes violentos tem um lugar apropriado na civilização, assim como a fraude, a corrupção e uma longa lista de atos ilícitos. A prática da pilhagem forçada através do aparato chamado “governo” é o equivalente racional da criminalidade, afirmando que a capacidade de fazê-lo equivale ao direito de fazê-lo, e descartando outros meios pacíficos de financiamento como se fossem inferiores. Nenhum grau do que é racionalmente criminoso é, de alguma forma, um ingrediente de qualidade para misturar na posição política de alguém, mesmo que as leis atuais o legitimem. O fato de essa ideia se originar da máxima “o poder decide a lei” e violar direitos inalienáveis significa que justificar qualquer grau dela torna a pessoa cúmplice dessa criminalidade, que é objetivamente criminosa e perversa porque a realidade objetiva é alterada por ela, para a subtração do bem-estar objetivo e mensurável.
Pessoas bem-intencionadas de todos os tipos se misturam em ideias que são objetivamente criminosas, não enxergando com olhos racionais porque usaram as leis vigentes como sua única medida para o que é justo. Mesmo aqueles que buscam uma ideologia moral mais elevada acreditam em coisas como cidades-estado e governos pequenos ou locais como a solução, como se não tivessem admitido plenamente que ninguém está apto ou tem o direito de governar, seja uma pessoa ou um grupo. É o racional que nos dá as ferramentas para orquestrar colaborativamente a lei e a ordem, e o mesmo que permanece como o padrão constante para o que é o bem e o mal, o que preserva os direitos racionais e o que os enfraquece. Se o racionalismo pode revelar quais justificativas tóxicas e maléficas podemos ter misturado em nossos pontos de vista, ele pode ser a ferramenta para nos ajudar a limpar nossos pontos de vista, mesmo que alguém pense que isso equivalerá a extremismo.
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Objetivo, claro e sucinto.