A elite dominante ocidental: seu desenvolvimento e sua traição

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A elite dominante ocidental tornou-se oligárquica por natureza, sua influência política e econômica é desproporcional e até prejudicial à sociedade. É necessário, portanto, rever sua evolução histórica e expor seus objetivos atuais.

Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que é natural e necessário que a sociedade tenha uma elite. Murray Rothbard escreveu sobre o ideal de “aristocratas naturais” que “vivem em liberdade e harmonia com seus semelhantes, e se elevam exercendo sua individualidade e suas mais altas habilidades a serviço de seus semelhantes, seja em uma organização ou produzindo eficientemente para os consumidores”.

Uma sociedade livre precisa desses “aristocratas naturais” porque eles são seus principais impulsionadores e inspirações. Grandes iniciativas empreendedoras são geralmente tomadas por aqueles que são clarividentes e motivados, dispostos a fazer mais sacrifícios e assumir mais riscos do que a pessoa média. Toda a sociedade se beneficia indiretamente das iniciativas dessas pessoas.

O problema, portanto, não é a existência de uma elite em si, mas o fato de que ela não é mais composta principalmente por “aristocratas naturais”. Hoje ela é composta pelo que Rothbard chamou de “aristocratas artificiais” – “aqueles que governam por meio da coerção”; ou seja, com a ajuda do Estado. Os pensadores “maquiavélicos” foram os primeiros a descrever essa elite oligárquica de forma sistemática, referindo-se à “minoria organizada e dominante”, em oposição à maioria desorganizada e controlada.

Como escreveu Gaetano Mosca em sua obra A Classe Dominante, “o poder político nunca foi, e nunca será, fundado no consentimento explícito das maiorias. Ele sempre foi, e sempre será, exercido por minorias organizadas, que tiveram e terão os meios, variando conforme os tempos, para impor sua supremacia às multidões”.

De fato, quando se torna oligárquica, a minoria dominante usa a coerção para influenciar decisões políticas e até valores sociais, em seus próprios interesses econômicos e ideológicos. No entanto, ela não é toda-poderosa e onisciente; seu poder nunca é totalmente adquirido, e ela nem sempre exerce sua influência com muita habilidade.

Como em outros lugares, as sociedades ocidentais sempre tiveram “minorias organizadas”, mas estas evoluíram ao longo do tempo. O poder político dessa elite tem aumentado constantemente, juntamente com a expansão do Estado e o capitalismo de compadrio que ele facilita. Citando novamente Mosca: “Na medida em que o Estado absorve e distribui uma maior parte da riqueza pública, os líderes da classe dominante têm mais meios de influência arbitrária sobre seus subordinados e escapam mais facilmente do controle de qualquer um”.

Não se deve supor que a introdução da “democracia” tenha reduzido a influência dessa minoria dominante na sociedade, pois esse sistema político foi inexoravelmente acompanhado por um considerável desenvolvimento do poder estatal. De fato, mesmo em uma “democracia liberal”, a maioria desorganizada e geralmente desinformada praticamente não tem influência sobre, por exemplo, as políticas externa e monetária de seus governos.

Três fases de desenvolvimento

É possível identificar três fases na evolução da minoria dominante. Durante o século XIX, essa minoria era bastante próxima da elite natural ideal descrita acima. Na ausência de Estados fortes e instituições supranacionais, as minorias dominantes (no plural), eram, portanto, inicialmente mais nacionais do que internacionais em perspectiva, buscavam o poder econômico em vez do político, e eram mais industrialmente do que financeiramente orientadas. Na França, o conde de Saint-Simon escreveu sobre os “industrialistas“, que descreveu em uma carta aberta ao rei Luís XVIII como “os líderes naturais e permanentes do povo”.

Essas minorias, naturalmente, sempre pensaram em seus próprios interesses em primeiro lugar (embora também fossem filantropos). No entanto, os investimentos dessas minorias dominantes contribuíram grandemente para o aumento da prosperidade desfrutada no Ocidente durante o “longo” século XIX.

Sua relação com o resto da sociedade era, portanto, bastante simbiótica, apesar das tensões reais relacionadas às condições sociais do início da industrialização. Por exemplo, até a Primeira Guerra Mundial, essas minorias dominantes estavam comprometidas com a deflação e o livre comércio e mantinham um certo nível de controle monetário por meio do padrão-ouro.

A minoria dominante moderna consolidou-se então, com o desenvolvimento do capitalismo financeiro no final do século XIX, em torno do aumentado e crescente poder político dos “banqueiros internacionais” e suas famílias extensas. O historiador Carroll Quigley os descreveu, os Rothschilds, os Morgans, os Rockefeller e os outros, assim:

     “Essas famílias bancárias permaneceram diferentes dos banqueiros comuns de maneiras distintas: eram cosmopolitas e internacionais, eram próximas dos governos e estavam particularmente preocupadas com as questões das dívidas públicas… dedicavam-se quase igualmente ao sigilo e ao uso secreto da influência financeira na vida política.”

Nesta segunda fase, surge a minoria dominante ocidental, internacionalizada, politizada e, principalmente, financeiramente orientada. Essa descrição do núcleo da minoria dominante ocidental ainda é a mesma hoje, apesar das grandes mudanças no sistema financeiro ao longo do último meio século. Em torno desse núcleo, é claro, precisam ser contados líderes políticos e altos funcionários públicos, bem como editores e editoras da grande mídia e os líderes de muitas empresas multinacionais ocidentais.

Como mencionado, essa politização da minoria dominante está intimamente ligada à rápida expansão do papel do Estado na sociedade a partir do final do século XIX, que primeiro aumentou seu controle sobre a produção (controle estatal sobre indústrias-chave), depois sobre a moeda (abandonando o padrão-ouro), depois sobre o consumo (introdução de controles de preços). Como escreveu Albert Jay Nock, “é mais fácil apoderar-se da riqueza (dos produtores) do que produzi-la; e enquanto o Estado fizer da apreensão da riqueza uma questão de privilégio legalizado, irá perdurar a disputa por esse privilégio.”

Fase 3: Globalismo messiânico e nefasto

Com a Segunda Guerra Mundial e a ascensão do keynesianismo, a inflação monetária – esse flagelo artificial sobre a maioria – tornou-se uma ferramenta importante para o enriquecimento das grandes instituições bancárias. Com a financeirização das economias ocidentais na década de 1970, os interesses da minoria dominante começaram a divergir claramente dos interesses da economia “real” baseada na produção, da qual a maioria participa. A elite oligárquica ocidental entrou então em sua terceira fase.

Nas últimas décadas, essa minoria dominante ocidental tornou-se muito mais ambiciosa e agressiva do que já foi. Ela está agora totalmente imbuída de uma missão ideológica, mesmo messiânica, de mudar o mundo. O retorno do investimento e o controle dos recursos não são mais os únicos ou mesmo os mais importantes objetivos; a atual minoria dominante tem um desejo tecnocrático de moldar as sociedades, de controlar e dirigir sua evolução. De fato, seu propósito hoje pode ser resumido em uma palavra: controle. Trata-se de controlar tudo: pessoas, finanças, alimentos, energia, saúde e até a natureza.

Isso significa enfraquecer os Estados-nação acelerando a transferência da soberania nacional para autoridades supranacionais. Para convencer a maioria de que o globalismo político é a única esperança para a humanidade, crises foram fabricadas e apresentadas como insolúveis no nível do Estado soberano. As três principais crises criadas para esse fim são a “crise” climática, a “crise” pandêmica e a “crise” da imigração. Esta última também serve para diluir nações etnicamente homogêneas e, assim, diminuir a resistência social e cultural natural ao globalismo político.

As Nações Unidas e as instituições governamentais e organizações não governamentais que orbitam em torno dela desempenham um papel fundamental. Para citar alguns exemplos, a Organização Mundial da Saúde deve ter o poder de introduzir uma ferramenta de saúde digital que permita o controle das populações sob pretextos de preocupações de saúde pública. A União Europeia deve impor obrigações e restrições ao comportamento de indivíduos e empresas europeias (veja a Diretiva de Relatório de Sustentabilidade Corporativa, a Lei de Serviços Digitais e o Green Deal). A introdução de moedas digitais pelos bancos centrais permitirá o controle de todas as transações econômicas individuais. A carteira digital permitirá a introdução de um sistema de créditos sociais.

Todas essas iniciativas são coordenadas pelo Fórum Econômico Mundial e são passos progressivos em direção ao objetivo de estabelecer um governo mundial sob o controle da minoria financeira dominante ocidental.

Opor-se a um inimigo do povo

Esses planos nefastos da minoria dominante ocidental obviamente representam uma ameaça significativa à liberdade individual em escala global. Infelizmente, eles já foram parcialmente implementados. É nada menos do que uma traição da minoria dominante ocidental às suas próprias sociedades. A minoria dominante ocidental tornou-se ao longo do tempo um inimigo do povo, ao qual as maiorias não têm escolha a não ser se opor.

É obrigatório voltar à situação que prevaleceu durante parte do século XIX, quando a minoria dominante ocidental era majoritariamente uma elite econômica. Ou seja, a minoria dominante deve ser composta essencialmente pelos “aristocratas naturais” de Rothbard.

Quando a liberdade está tão em risco como hoje, estas palavras de Ludwig von Mises vêm à mente: “Cada um carrega uma parte da sociedade em seus ombros; ninguém é exonerado de sua parcela de responsabilidade pelos outros… Quer queira, quer não, cada homem é atraído para a grande luta histórica, a batalha decisiva em que a nossa época nos mergulhou”.

 

 

 

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