Prefácio do livro “Individualismo e a filosofia das ciências sociais”

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Abordando uma visão do todo, posso dizer que ainda não estou convencido de que o grosso das discussões a respeito dos problemas do método científico [nas Ciências Sociais] que surgiu nas últimas décadas – ainda que dotada de grande qualidade – tenha promovido um grande avanço no trabalho científico que está surgindo e que está por vir. Considero-me um ávido leitor desse tipo de literatura, e sem dúvidas, essa mesma literatura me fez evitar que eu cometesse uma série de erros. A literatura existente sobre o assunto me deixou bem mais consciente de que a tarefa de construir uma teoria útil é muito mais difícil do que eu imaginava e que há muitas armadilhas no trajeto que precisam ser evitadas. Porém, infelizmente, muitos desses textos sugerem que existe um procedimento simples e facilmente aprendido, que apenas tem que se seguir cuidadosamente para chegar a resultados válidos. Quanto a este princípio, eu estou ficando cada vez menos convencido de que isso seja verdade. A verdadeira dificuldade ainda parece definir de forma clara o problema pelo qual se deseja encontrar uma resposta. E sobre isso, eu temo, que todo o meu estudo de trabalhos científicos a respeito do método dificilmente tenha contribuído para essa tarefa. Ainda assim, [essas discussões] parecem encorajar um grande número de jovens, e não tão jovens, adeptos da minha disciplina a se debruçar acerca das prescrições do método científico como se fossem receitas de livros de receitas que, se estritamente seguidas, certamente produziria um prato nutritivo.

Entretanto, diferentes problemas demandam diferentes procedimentos. Se grandes avanços foram realizados em algumas disciplinas através do uso de certos métodos, isso por si só não basta para criar a expectativa de que estes mesmos métodos funcionem com o mesmo êxito em outras disciplinas. Na verdade, os problemas com o tipo complexidade que encontramos nos fenômenos das ciências biológicas e sociais demandam uma abordagem muito diferente daquelas que usamos de forma bem sucedida nas ciências da matéria como a física, por exemplo. Dentre os pensadores que fizeram contribuições ímpares para os problemas particulares das ciências da ação humana, Ludwig von Mises provavelmente foi o mais preciso e original dos tempos atuais. O professor Murray N. Rothbard foi profundamente influenciado por seus trabalhos nessa área. Nós dois estamos tentando desenvolvê-los ainda mais, e se isso às vezes nos leva a mudar algumas das conclusões de Mises, mesmo em diferentes posições, eu estou certo de que é isso que Mises esperava ou mesmo desejava de seus estudantes. O quão proveitosa se mostra uma abordagem de um estudioso se manifesta nos desenvolvimentos posteriores aos quais ela dá origem, e somente a evolução posterior pode mostrar qual elaboração se tornará provada mais fértil.

Porém diferenças menores, mesmo se elas são as que tornam cada contribuição individual valiosa, não são o que eu desejo discutir aqui. Os textos do Professor Rothbard são sem sombra de dúvidas importantes contribuições para esta grandiosa tradição. Que o estado atual desta tradição, estabelecida em sua maior parte, pelos tratados bem sistemáticos que Mises realizou da terceira à sétima década deste século, poderiam se tornar mais acessíveis aos leitores das próximas décadas de forma condensada por um dos seus mais brilhantes discípulos, certamente seria muito bem vinda. Os assuntos examinados não perderam com esta condensação, sem nenhuma dúvida, sua importância. Cada pessoa estudiosa no tema e que surgirá nos próximos anos tem que aprender a compreender do que se trata a praxeologia e quais são os seus métodos específicos. Nos tempos de Mises era certamente necessário explicar e justificar seu caráter numa examinação crítica de todas as alternativas possíveis. Porém com o advento dessas novas visões que são difundidas, se faz muito necessário que haja uma exposição simples e breve de suas características essenciais. O professor Rothbard demonstra grande habilidade em expô-las concisamente com uma linguagem mais familiar à geração atual.

Apesar do que eu disse no primeiro parágrafo, a metodologia é importante para a sinalização de avisos contra muitos dos modismos intelectuais que ainda são profundamente influentes no pensamento político atual. E para aqueles que particularmente não desejam entrar em controvérsias filosóficas, os artigos de Rothbard reimpressos neste livro fornecem um guia muito eficaz para o entendimento destas disputas na política em que cada ser pensante deveria estar interessado. Estes artigos demandam, inevitavelmente, certa atenção intelectual, como qualquer coisa com qualidade equivalente deveria ter. Porém ao menos aqueles que estão dispostos a fazer este esforço devem ser hábeis em ter alguns insights a partir de seus estudos e deveriam ser gratos ao Professor Rothbard por fornecer muito material em tão curto espaço.

 

 

Acesse o livro no link abaixo:

Individualismo e a filosofia das ciências sociais

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