Ontem as bolsas do mundo todo estremeceram quando a estatal Dubai World pediu mais prazo para pagar sua dívida bilionária. O default do governo argentino logo veio à mente de muitos. Os principais índices de ações da Europa caíram mais de 3%, e até o Ibovespa recuou mais de 2%. O emirado árabe de Dubai possui US$ 80 bilhões em dívidas, sendo quase US$ 60 bilhões só da Dubai World. O grosso dessa montanha de dinheiro foi usado para financiar um boom imobiliário que remete ao caso japonês da década de 1980. A liquidez de capital abundante no mundo, estimulada pelas taxas de juros artificialmente baixas, e a alta do preço do petróleo, sustentada por essa liquidez e pela demanda chinesa, explicam o clima de euforia em Dubai nos últimos anos.
Existem basicamente quatro tipos de bolhas: aquelas financiadas pelo mercado de capitais ou por crédito bancário; e aquelas em que o destino do dinheiro vai para investimentos produtivos ou para consumo. A pior combinação, naturalmente, é uma bolha financiada por crédito bancário para bancar uma orgia de gastos sem sentido. Eis exatamente o caso de Dubai. A bolha do Nasdaq foi o caso oposto, já que a origem do dinheiro foi o mercado de capitais e o destino foram investimentos em tecnologia que, mal ou bem, ficam depois do estouro, permitindo ganhos de produtividade. Foi uma bolha mais fácil de ser digerida. Já o caso de Dubai é diferente. Afinal, a grande fonte de recursos foram os bancos europeus, e o destino foram ilhas artificiais para celebridades, uma pista de ski no meio do deserto e o prédio mais alto do mundo – que Freud explica! Com a queda do castelo de areia, não sobra muita coisa produtiva.
Para os críticos do capitalismo liberal, será complicado culpar o bode expiatório preferido dessa vez. Afinal, uma bolha estimulada por políticas frouxas de bancos centrais e criada por gastos faraônicos de uma estatal poderosa não tem muito de livre mercado.