Análise do atual momento da economia brasileira

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industria2A intenção deste artigo é apenas fazer um apanhado do que ocorreu na economia brasileira nos quatro primeiros meses do presente ano.

Até o presente momento, a economia brasileira segue mantendo basicamente o mesmo padrão de comportamento que descrevemos neste artigo, ainda em março – o que comprova mais uma vez o poder explicativo da Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos.  Vejamos em mais detalhes:

EMPREGOS

Como previsto pela teoria austríaca, durante uma contração que se sucede a um período de expansão econômica, os setores que representam os primeiros estágios da cadeia de produção são os que mais sofrem – no caso, o setor extrativista, siderúrgico, e as indústrias de bens de capital e intermediárias.  Já os setores que representam os estágios finais da cadeia de produção são os que menos sofrem – como é o caso do varejo (principalmente o comércio de bens não-duráveis) e do setor de serviços.

O Brasil vem seguindo esse roteiro à risca.  O gráfico a seguir mostra a variação do emprego na indústria tomando-se como base o nível 100 para janeiro de 2001.

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Período Brasil
2001   100,02
2002   99,04
2003   98,47
2004   100,24
2005   101,52
2006   101,48
2007   103,68
2008 Jan 104,41
  Fev 104,73
  Mar 104,91
  Abr 105,31
  Mai 105,77
  Jun 106,31
  Jul 106,73
  Ago 106,80
  Set 107,90
  Out 107,81
  Nov 106,45
  Dez 102,73
2009 Jan 101,74
  Fev 100,27
  Mar 99,63
Fonte: IBGE

Observe que a partir de 2007, em decorrência do boom mundial, o emprego na indústria decola, chegando ao ápice em setembro de 2008, mês em que a crise mundial tornou-se explícita.  A partir dali a contração torna-se brusca, de modo que já em março de 2009 o emprego caiu para níveis menores que os registrados em 2001.

Os empregos na indústria sumiram em decorrência da queda tanto da demanda interna quanto da demanda mundial.  A tabela deixa claro que o nível de emprego atingido em meados de 2008 foi uma anomalia, resultado de uma demanda totalmente estimulada pelo crédito fácil que irrigou todo o mundo, que por sua vez foi consequência das ações concertadas dos bancos centrais mundiais.

Em abril desse ano (dados que ainda não constam oficialmente na tabela acima, mas que foram divulgados pela imprensa), a indústria continuou em baixa, registrando queda de 0,2% no número de ocupados em relação a março – o que significa que houve um corte de 7 mil vagas de um mês para o outro.  Ao todo, as exportações de bens manufaturados já registram uma queda de 30%, atingindo – como previsto pela teoria – segmentos como bens de capital (máquinas e equipamentos), siderurgia, automóveis e celulose.

Em relação a abril de 2008, a indústria cortou 105 mil vagas nas seis principais regiões metropolitanas do país, uma queda de 3%, o que representa o maior recuo na comparação anual para o setor desde 2002.  A USIMINAS, por exemplo, está operando com apenas 50% de sua capacidade total e 3 de seus 5 alto-fornos estão desligados.  Para piorar, a siderúrgica anunciou recentemente que planeja demitir 1.326 funcionários.  Esse número deixou os políticos de cabelo em pé, e já se fala em impor novas alíquotas de importação para o aço.  Como de praxe, Brasília acha que protecionismo garante a renda e a prosperidade.

Para se ter uma ideia da gravidade da crise nesse setor, a USIMINAS teve um prejuízo de R$112 milhões no primeiro trimestre deste ano, sendo que já havia um bom tempo que a empresa não sabia o que era ter prejuízo.  Só no Brasil, a empresa afirma que a demanda por aços planos caiu mais de 40% nos últimos 12 meses.

Ou seja, de fato a indústria é o setor que mais sofre.

Mas como a economia da China vem registrando sinais de revigoramento, é bem possível que o emprego na indústria brasileira volte a crescer ainda este ano, porém dificilmente voltará a esses níveis registrados em 2008 – e assim será por um bom tempo.

O setor de extrativismo mineral também continuou em queda, cortando 582 vagas só em abril.  A Vale anunciou recentemente que reduziu sua previsão de investimentos em 2009 de 14,2 bilhões de dólares para 9 bilhões de dólares – um corte de 36,5%.  E as siderúrgicas chinesas estão reivindicando um corte de 40% no preço do minério de ferro da Vale, porém a empresa nega ter feito qualquer negociação.

Para piorar o cenário, a Vale, ao que tudo indica, planeja novas demissões, o que açulou a fúria de sindicalistas, que ameaçam invadir a empresa.

Já o setor da construção civil, beneficiado por um corte no IPI, apresenta um crescimento no emprego de 2,63%, de janeiro a abril.  Nos últimos doze meses, houve a abertura de 152 mil vagas.  Porém, de acordo com o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo, Sérgio Watanabe, essa expansão é resultado dos contratos assinados antes do agravamento da crise, em setembro de 2008.  Caso o programa Minha Casa, Minha Vida saia como o planejado, as grandes empreiteiras certamente não estarão mal com todos os subsídios que vão receber do governo – à custa das construtoras pequenas e familiares, que serão expulsas do mercado.

Já o setor de comércio varejista e o de serviços, também como previsto pela teoria austríaca, são os menos atingidos, registrando inclusive um aumento no emprego entre março e abril.  O comércio criou 5.647 vagas em abril, após quatro meses seguidos de resultados negativos.  O setor de serviços criou 59.279 postos de trabalho e a agropecuária, 22.684 vagas.  Contudo, esses números representam a menor alta já apurada pelo IBGE nessa pesquisa mensal de emprego, iniciada em março de 2002.

Conclusão: o setor terciário (comércio e serviços), conquanto possa não mais encolher, dificilmente apresentará algum vigor notável nos próximos meses.  Já a situação da indústria é mais delicada.  No cenário atual, pode-se dizer que ela está totalmente dependente da demanda externa.  Os desempenhos futuros tanto do setor terciário quanto da indústria podem ser melhor entendidos pela análise do próximo item.

OFERTA MONETÁRIA E INFLAÇÃO

Apesar dos recentes cortes na taxa SELIC, a base monetária, o M1 e os depósitos à vista estão crescendo em níveis anuais historicamente baixos.

O gráfico a seguir – utilizando dados fornecidos pelo site do BACEN – mostra qual foi a variação percentual dessas três variáveis em relação ao mesmo mês do ano anterior, o que dá uma boa idéia sobre se houve uma aceleração, uma desaceleração ou uma retração na expansão de cada uma delas:

O gráfico mostra que as três variáveis iniciam janeiro de 2006 10% maiores do que estavam em janeiro de 2005.  A partir daí, essas taxas vão subindo constantemente, de modo que, de janeiro de 2006 até julho de 2008, as três variáveis se expandiram em termos anuais a taxas superiores a 10%, sendo que, de abril de 2007 até fevereiro de 2008, as três ficaram constantemente acima de 20%.

Isso aditivou o boom da economia brasileira em 2007 e 2008.  Porém, observe a recente – e acentuada – queda sofrida pela base monetária e pelos depósitos à vista. Em julho/08, ambas cresciam a taxa anuais superiores a 10%.  Em novembro/08, ambas despencam para 0%.  No mês passado (abril), elas já haviam regredido ao mesmo patamar nominal que estavam em abril de 2008.

Detalhe adicional: observe que essas variáveis sempre iniciam um ano em um nível pelo menos 10% maior que o mesmo mês do ano anterior.  Nesse ano de 2009, elas começaram exatamente no mesmo nível de janeiro de 2008.

Porém, há mais um detalhe: dado que M1 = depósitos à vista + papel-moeda em poder do público, conclui-se que este último vem crescendo a taxas superiores a 12% (algo que pode ser comprovado pelas planilhas do BACEN), o que pode pressionar os preços de alguns bens de consumo não-duráveis, como alimentos, além de outros itens como vestuário e transportes.

O fato de o M1 e a base monetária estarem mantendo uma taxa de crescimento extremamente baixa (para os padrões históricos) ajuda a explicar a deflação de preços havida no atacado.  O IGP-M, por exemplo, foi negativo em janeiro, março, abril e maio.

Conclusão: independentemente do comportamento dos preços, o cenário monetário não indica, para os próximos três meses, possibilidade de aumento sensível da demanda.

INVESTIMENTOS

A importação de bens de capital tem se mostrado relativamente robusta (talvez por causa do câmbio mais favorável), ao mesmo tempo em que a produção de bens de capital no país vem declinando sensivelmente (consequência óbvia do fraco desempenho dessa indústria, como explicado no primeiro item).  É provável que o investimento vá depender mais da demanda externa.

RECESSÃO

Baseando-se nos tópicos acima, não é difícil inferir que o primeiro trimestre de 2009 não foi melhor que o quarto trimestre de 2008, o que configura uma recessão técnica para o país (recessão técnica = dois trimestres seguidos de encolhimento do PIB).  Estima-se que o PIB tenha encolhido 2%.

CÂMBIO

O Federal Reserve (o banco central americano) continua aumentando a base monetária ferozmente, como pode-se ver aqui.  Entretanto, a quase totalidade desse dinheiro recém-criado continua sendo voluntariamente mantida pelos bancos como reservas depositadas junto ao Fed.  A insegurança é tamanha que os bancos preferem deixar o dinheiro parado no Fed (rendendo míseros juros de menos de 0,25% ao ano) a fazer empréstimos.

Não obstante, o dólar já iniciou seu processo – a nosso ver, irreversível – de desvalorização.  Não só em relação ao real, como também em relação a todas as principais moedas do mundo.  A tendência é que o câmbio siga em queda, embora algumas oscilações obviamente não estejam descartadas.

Um dólar desvalorizado pode estimular a importação de insumos e facilitar o investimento, ao mesmo tempo em que ajuda a conter a inflação de preços.

BRASIL E CHINA

Na semana que de 17 a 23 de maio, um dos destaques foi a intenção anunciada de Brasil e China abandonarem o dólar e passar a comercializar entre si em Real e Yuan.  Por incrível que pareça, essa seria uma medida acertada.  Quanto maior a liberdade monetária para o comércio exterior, melhor.  Ademais, saindo desse padrão-dólar, o país reduziria sua dependência deste, e pararia de ficar tentando manipular artificialmente seu poder de compra, algo detrimental para toda a economia (pois ou gera inflação ou aumenta a dívida).  Tal medida foi elogiada por Peter Schiff (veja o vídeo, essa parte começa aos 8:30)

BOLHA IMOBILIÁRIA

Ao que tudo indica, o preço dos imóveis não foi afetado pela recessão – continuam subindo e consolidando a reputação de “investimento seguro”.  Mas vale lembrar que a bolha imobiliária americana também passou incólume pela recessão de 2001-2002.  Ademais, com a queda dos juros, a tendência é que a bolha continue inflando.  Por outro lado, existe a possibilidade de o programa Minha Casa, Minha Vida gerar distorções no mercado imobiliário, fazendo com que a maior oferta de casas subsidiadas leve a um menor preço dos imóveis.

BOLSA

Imprevisível, como sempre.  Até o presente momento, apresenta uma valorização de 41,67% desde janeiro, em sintonia com as principais bolsas do mundo.  Pode perfeitamente se descolar da economia e subir mais, como também pode apresentar ralis seguidos de quedas profundas.  Peter Schiff, Marc Faber e Jim Rogers acreditam que a Dow Jones, como consequência da política inflacionista americana, pode apresentar alguns ganhos nominais, mas a tendência geral é de queda.  Jim Rogers diz que o futuro é das commodities e que quem for agricultor estará rico.  Como isso vai influenciar algumas ações da Bovespa fica a cargo do leitor.

GASTOS DO GOVERNO E ARRECADAÇÃO

Como consequência tanto da recessão quanto do menor crescimento da oferta monetária, a arrecadação do governo federal segue em queda, não obstante o superávit primário venha sendo mantido.  Porém, em igual período do ano passado, o governo havia conseguido um superávit nominal de R$ 6,885 bilhões.  Para esse ano, nesse mesmo período o déficit nominal foi de R$ 17,499 bilhões.

Esse superávit nominal do ano passado – ocorrido em grande parte pelo fato de a SELIC se encontrar à época em seu menor nível da história (o que fez com que os juros pagos pelo governo sobre seus títulos fossem menores) – pode ter sido um dos fatores que ajudaram na robusta expansão ocorrida no PPR daquele ano.

Tão logo saiam os dados do PIB para o primeiro trimestre deste ano, o IMB fará os cálculos para o PPR atual.  Porém, quando se sabe de antemão que as despesas do governo federal aumentaram, de janeiro a abril deste ano, 19,06% em relação ao mesmo período do ano passado, e que nesse mesmo período os gastos com funcionalismo subiram 24,23% e os gastos previdenciários, 13,57%, já é possível ter a noção de que o PPR não será nada alvissareiro.

PARA TERMINAR BEM

Para continuar jogando cimento no sorvete, o governo inventou agora que vai praticamente proibir a prática da terceirização de serviços, criando novas regulamentações.

O projeto de lei em elaboração pelo Ministério do Trabalho – que, fazendo jus ao ridículo de quem o criou, pretende instituir a “responsabilidade solidária” – vai permitir que um trabalhador terceirizado possa escolher quem ele quer processar – se a terceirizadora ou a empresa que contratou o serviço – por não ter lhe pagado absolutamente todas as impagáveis obrigações trabalhistas impostas pela mussoliniana CLT.

O governo, de fato, é um ente que padece do condicionamento clássico de Pavlov: quando ele vê um setor da economia funcionando, ele começa a salivar: “Hmmm, vejamos, como vamos regular isso?”

Confirmando o dizer de Reagan: se a coisa funciona, taxe-a; se continuar funcionando, regule-a; quando quebrar, subsidie.  Um setor até então dinâmico da economia – aliás, um dos poucos que restou – será dizimado caso o entulho seja aprovado, justamente em um momento de recessão.

Nada de novo em Brasília.

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Como de praxe, eis a melhor ilustração da teoria dos ciclos econômicos:

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