Como a Suécia (ainda) se beneficia de seu passado de livre mercado

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sweden-west-archipelago-fjallbacka-vsO desejo de “ser como a Suécia” está ubiquamente presente nos debates políticos de quase todas as democracias do mundo, das mais pobres às mais ricas.  Não é incomum ver autoproclamados “democratas socialistas” dizendo ter o objetivo de copiar o “bem-sucedido modelo sueco de bem-estar social”.

O mais interessante nisso tudo é perceber que tais pessoas olham para um país rico como a Suécia e automaticamente concluem que o alto padrão de vida daquele país não tem nada a ver com seu passado de laissez-faire, com uma baixa dívida pública, com sua independência monetária, com a ausência de um salário mínimo estipulado pelo governo, com uma robusta proteção dos direitos de propriedade, com um Banco Central equilibrado, com baixas alíquotas de imposto de renda para pessoa jurídica, e até mesmo com as graduais adoções de privatização no sistema de saúde, no sistema previdenciário, e na educação.

Ao contrário, tais pessoas olham para a Suécia e, não apenas ignoram estes fatos, como ainda naturalmente pressupõem que o alto padrão de vida da população sueca é produto de sua alta carga tributária e de suasmundialmente desconhecidas empresas estatais.

Imagine se LeBron James [astro da NBA] começasse a fumar.  Qualquer sucesso que ele continuasse apresentando nas quadras seria apesar desse hábito destrutivo e não por causa dele.  O êxito econômico sueco ocorreu apesarde sua alta carga tributária sobre pessoas físicas, e não por causa dela.

Dado que a Suécia sempre é citada por progressistas como o paraíso na terra e o modelo a ser seguido, este artigo irá se concentrar apenas neste país.  Uma (extremamente) breve história deste fascinante país pode nos ajudar a entender melhor o atual alto padrão de vida da Suécia e as várias maneiras nas quais o “socialismo” sueco impôs um desnecessário limite sobre a produtividade do país.

Suécia: da pobreza lancinante à prosperidade inesperada por meio do capitalismo laissez-faire

Duzentos e cinquenta anos atrás, a área que hoje é conhecida como “Suécia” era apenas uma tundra congelada e habitada por uma massa de camponeses esfomeados.  Suas vidas eram rigidamente controladas por uma série de reis, aristocratas e outros homens artificialmente respeitados.  Como explicou o premiado escritor sueco Johan Norberg, neste excelente tratado sobre a história da Suécia, foi necessário o surgimento de uma série de indivíduos empreendedores e de mentalidade liberal-clássica para arrancar o controle das elites e colocar a Suécia no caminho da prosperidade.

Poderosos que ditavam quem poderia e quem não poderia receber licenças profissionais, um opressivo sistema de guildas corporativas que proibia a liberdade de associação e o livre empreendedorismo, e uma litania de onerosas regulações sobre as liberdades comerciais e de empreendimento — tudo isso foi ou dramaticamente reduzido ou simplesmente abolido.

No século entre 1850 e 1950, a população dobrou e a renda real dos suecos decuplicou.  Não obstante a quase não-existência de um estado assistencialista ou de qualquer grande controle estatal sobre os setores da economia, em 1950 a Suécia já era a quarta nação mais rica do mundo.  O extraordinário crescimento da Suécia durante aquele século rivalizou até mesmo com o dos EUA — e o fato de a Suécia não ter participado de nenhuma das duas grandes guerras, o que deixou sua infraestrutura intacta e não destruiu sua economia, sem dúvida ajudou bastante.

Com efeito, a formação de capital e a criação de riqueza se mostraram tão abundantes na Suécia durante a depressão global de 1930, que até mesmo os social-democratas do governo da época praticaram uma forma de “negligência salutar” para garantir que a prosperidade continuaria.

Como em qualquer outro país, o impressionante estoque de capital da Suécia foi construído por empreendedores operando em um sistema de livre mercado.

(Tudo isso foi relatado em detalhes neste livro bem como neste excelente tratado).

O experimento sueco com o “socialismo nórdico” é relativamente recente e tem se mostrado desastroso para o crescimento econômico

Nas décadas seguintes a este impressionante crescimento econômico, aconteceu aquilo que parece inevitável: grandes empresários em busca de proteção do governo contra a concorrência se aliaram a políticos ambiciosos e a líderes sindicais para forçar o governo a adotar políticas socialistas.  As décadas de 1970 e 1980 viram um estado assistencialista crescendo descontroladamente, ampliando enormemente suas áreas de intervenção.

Vários novos benefícios governamentais foram criados; leis trabalhistas extremamente rígidas foram introduzidas; setores estagnados da economia passaram a receber amplos subsídios do governo; as alíquotas de impostos sofreram aumentos drásticos, sendo que algumas alíquotas marginais chegaram a ultrapassar os 100%.

Com o tempo, os gastos do governo mais do que duplicaram, e os impostos sobre determinados setores da economia foram dobrados e até mesmo triplicados.

Ainda em 1970, a OCDE classificava a Suécia como o quarto país mais rico do mundo. No entanto, no ano 2000, a Suécia já havia despencado para a 14ª posição.  Em um artigo (infelizmente disponível apenas em sueco) publicado em 2009 no periódico Ekonomisk Debatt, da Associação de Economia Sueca, os economistas Bjuggren e Johansson, do Ratio Institute, mostraram a triste verdade.  Baseando-se em dados públicos divulgados pela agência governamental Estatísticas Suecas (“SCB” em sueco, um acrônimo para Bureau Central de Estatísticas) e utilizando um novo sistema de classificação para designar o tipo de propriedade das empresas, eles descobriram que não houve absolutamente nenhum emprego criado no setor privado de 1950 a 2005.

Sim, você leu corretamente: não houve nenhum aumento líquido no número de empregos no setor privado na Suécia durante um período de 55 anos.  Em outras palavras, em um período que começou cinco anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, a economia sueca ficou completamente estagnada.

O socialismo nórdico congelou no tempo um povo que outrora era empreendedor e próspero.  Com algumas poucas exceções, as grandes empresas suecas têm muito poucos incentivos para inovar (e elas não inovaram), e várias empresas sobrevivem hoje exclusivamente graças a contratos de fornecimento para o governo, contratos esses cujos valores são impossíveis de serem corretamente determinados sem um sistema de livre mercado capaz de estabelecer preços para bens e serviços.

A Suécia conseguiu viver confortavelmente por décadas apesar de suas políticas “socialistas” somente porque um grande estoque de capital e riqueza já havia sido criado nas décadas anteriores por seus laboriosos empreendedores.  Primeiro a Suécia enriqueceu e acumulou muito capital (e tal tarefa foi auxiliada por uma continuamente austera política monetária, que fez com que a Suécia jamais conhecesse um período prolongado de alta inflação de preços).  Depois, só depois de ter enriquecido, é que o país começou a implantar seu sistema de bem-estar social no final da década de 1960.

No entanto, o consumo deste capital acumulado está erodindo a riqueza da Suécia.

[N. do E.: para que uma economia que faz uso maciço de políticas assistencialistas continue crescendo, sua produtividade tem de ser muito alta.  E para a produtividade ser alta, seu capital acumulado já tem de ser muito alto.  Apenas um alto grau de capital acumulado pode permitir uma alta produtividade. Ou seja, o país tem de já ser muito rico.

Apenas um país que já enriqueceu e já acumulou o capital necessário (e já alcançou a produtividade suficiente) pode se dar ao luxo de adotar abrangentes políticas assistencialistas por um longo período de tempo.  Assistencialismo é algo que só pode funcionar — e, ainda assim, por tempo determinado — em sociedades que já enriqueceram e já alcançaram altos níveis de produtividade.  Não dá para redistribuir aquilo que não foi criado.  Adotar um modelo sueco em um país sudanês não daria muito certo…]

Em 2007, o professor Mark J. Perry, da George Mason University demonstrou que, se a Suécia se tornasse o 51º estado americano, ela seria o estado mais pobre em termos de desemprego e renda familiar média.  Sim, seria mais pobre até mesmo do que o Mississipi.  Com efeito, o atual estado assistencialista da Suécia suprime a renda das famílias de modo tão efetivo, que um estudo de 2012 descobriu que os americanos que moram na Suécia vivenciam praticamente a mesma taxa de desemprego dos suecos, mas ganham, em média, 53% mais em termos anuais.

Nos anos recentes, o país começou, ainda que de maneira lenta, a privatizar fatias de seus setores socializados, como saúde, previdência e educação.  Ano passado, a revista Reason mostrou que o uso de planos de saúde privados estão explodindo em um país em que pacientes de câncer podem ter de esperar mais de um ano para receber tratamento no sistema de saúde estatal.  E essa tendência só faz crescer.  A Suécia, adicionalmente, começou a terceirizar a educação para fornecedores privados e, com isso, vivenciou não apenas uma redução dos custos mas também um aumento na satisfação dos pais e no aprendizado dos alunos.

Social-democratas aprenderam as lições erradas do modelo nórdico

Políticos que prometem copiar o modelo sueco são tão entusiasmados com o regime, que praticamente não prometem apenas iates para os mendigos.  O grande problema dessa gente é que eles realmente não entendem de economia.  Como Ludwig von Mises já havia demonstrado, o socialismo não é uma teoria econômica; o socialismo é uma teoria sobre redistribuição.

Somente um sistema de livre mercado e de livres transações comerciais pode coordenar empreendedores e seus recursos de maneira a criar bens e serviços que de fato satisfaçam os desejos e as necessidades dos consumidores.  Socialistas não participam desse processo de criação de riqueza; eles simplesmente aparecem quando tudo já foi efetuado e exigem os créditos pela proeza.  A Suécia vem praticando essa forma de socialismo parasítico sobre sua riqueza acumulada e, com isso, vem significativamente afetando a produtividade de seus cidadãos.

As políticas do “socialismo nórdico” vêm restringindo o crescimento sueco por décadas.  A ideia de que é possível implantar um socialismo mordico em qualquer país sem destruir a mobilidade da mão-de-obra, sem tributar o capital até sua aniquilação, e sem paralisar completamente a inovação é uma ilusão total.

A Suécia está lentamente retornando às suas produtivas raízes capitalistas.  Seus pretensos imitadores deveriam querer imitar isso também.

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