Dicas de investimento e análise da economia mundial – com Jim Rogers

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O IMB apresenta duas entrevistas concedidas por dois titãs dos investimentos, Peter Schiff e Jim Rogers, “austríacos” que previram a atual crise e suas exatas causas.  Além de dicas de investimento, ambos dão uma aula sobre o funcionamento da economia.  (O link do original está no título das entrevistas).

Entrevista de Jim Rogers à Businessweek Magazine (14/04/2009)

Coloque todos os ovos na mesma cesta, diz Rogers

Em entrevista à Newsweek, o investidor veterano e viajante do mundo Jim Rogers, que hoje mora em Cingapura com a esposa e suas duas filhas (uma de cinco e outra um ano de idade), oferece lições de investimento, diz que prefere as commodities e faz escárnio da diversificação de investimentos.

Em seu novo livro (A Gift to My Children: A Father’s Lessons for Life and Investing, que será lançado no dia 28 de abril), o senhor recomenda às pessoas se educarem extensamente sobre um determinado assunto antes de pedirem conselhos a especialistas renomados, de modo que elas possam avaliar corretamente a qualidade do conselho dado.  Qual a viabilidade dessa recomendação para investidores que não são profissionais como o senhor?

Essas pessoas que você está descrevendo sequer deveriam estar investindo, a menos que elas invistam em coisas sobre as quais elas conhecem bastante.  Se você é um mecânico de automóveis, você certamente sabe muito mais sobre esse assunto do que qualquer um em Wall Street.  Sendo assim, você saberá quando novos produtos ou novos processos estarão chegando ao mercado.  Esse tipo de pessoa pode ficar extremamente rica caso se atenha apenas à área que conhece bem.  Você pode investir, por exemplo, nos produtos que vão para os carros – como em empresas fabricantes de pneu ou fabricantes de vidro – ao invés de investir [apenas] nas montadoras.  Mas você não deve tentar competir com Warren Buffet.

Então o senhor rejeita o conselho sobre diversificar portfólios?

Diversificação é algo que os corretores criaram para se proteger, para evitar que fossem processados [por fazerem más escolhas de investimento para seus clientes].  Henry Ford nunca diversificou, Bill Gates não diversificou.  A maneira de ficar rico é colocando seus ovos numa única cesta, mas sempre vigiando essa cesta muito cuidadosamente.  E tenha certeza de que você escolheu a cesta correta.

Você pode quebrar diversificando.  Pergunte a qualquer um que tenha diversificado nos últimos três anos.  Eles perderam dinheiro.  Os não-profissionais estão sempre irriquietos, alterando seus investimentos, pensando que sempre têm de estar fazendo alguma coisa.  Se obtêm um grande êxito, acham que precisam ter outro logo em seguida.  É aí que a arrogância e o excesso de segurança fazem o estrago.  É aí que elas realmente deveriam parar tudo e ir para a praia.  Acontece comigo também.

O senhor acredita que os americanos devem conter mais seus gastos e aumentar sua taxa de poupança/investimento – algo muito parecido com o que o senhor observou na China duas décadas atrás.  Mas os economistas alertam que se todo mundo optar por mais poupança ao mesmo tempo, isso irá acabar completamente com os gastos em consumo, o que irá dificultar a recuperação econômica.

Você nunca verá os EUA poupando um terço de sua renda anual [como os chineses já fizeram].  Mesmo o Japão reduziu sua taxa de poupança para 15%.  Os EUA deveriam aumentar sua taxa de poupança.  Trinta anos atrás, os EUA estavam poupando 9 ou 10% de sua renda.

O motivo dessa crise nos EUA é o endividamento excessivo.  Todo mundo pegou muito empréstimo; todo mundo se endividou mais do que podia.  Essa ideia de que você pode solucionar um período de endividamento e gastança desmesurados com mais endividamento e gastança não vai funcionar.   Em termos de crédito, acabamos de vivenciar o pior período de excessos da história mundial, principalmente nos EUA.  É impossível acabar com um problema como esse sem dor.  Alguém tem de sofrer.

O senhor tem se manifestado fortemente contra a política adotada pelo governo americano em resposta à crise financeira.  O exemplo da Lehman Brothers não mostra quantos malefícios teriam ocorrido caso o governo tivesse permitido que outras grandes instituições financeiras quebrassem?

Seria melhor permitir que algumas delas quebrassem agora do que esperar até que seis ou oito delas quebrem simultaneamente.  O sistema consegue se recuperar de falências.  Depois que a Lehman quebrou, a bolsa de valores não despencou imediatamente.  Isso só aconteceu um mês depois.  E aí as pessoas começaram a dizer, a posteriori, que o motivo da recessão era a quebra da Lehman.

Vamos ter de ter alguma dor, é inevitável.  Se, além da Lehman, a AIG, a Fannie Mae e a Freddie Mac também quebrassem, isso limparia o sistema.

A Coréia do Sul passou por isso no final dos anos 1990.  Eles não tinham ninguém para socorrê-los, e por isso tiveram de enfrentar toda a dor.  O mesmo aconteceu com a Suécia no início da década de 1990, e depois com o México e depois com a Rússia.  E tem mais na lista.  Pessoas competentes assumem os ativos dos incompetentes e recriam as empresas sobre fundamentos mais sólidos.

O senhor tem falado muito sobre o século XXI pertencer à China e sobre as oportunidades de investimentos que existem lá.  Como a classe média chinesa está crescendo, o senhor espera grandes mudanças nos hábitos de poupança dos chineses, já que eles poderão comprar mais bens de consumo?

Veja as taxas de poupança extremamente altas do Japão e da Coréia.  À medida que esses países foram se tornando mais prósperos, essas taxas foram diminuindo.  A China já começou a criar redes de proteção social.  Quando você tem essas redes, há menos motivos para se manter altas taxas de poupança.  Isso também acontecerá com a China.

A economia chinesa talvez seja um quinto da economia da Europa.  A China não pode salvar o mundo, não importa o que eles façam.  Eles estão investindo em sua própria economia, têm enormes reservas e muita poupança.  O Banco Mundial previu que em 2020 a China será a maior economia do mundo.  Mas o Banco Mundial nunca acertou nada.  Isso pode até acontecer durante os próximos 10 ou 20 anos, porém, em termos per capita, provavelmente isso não ocorrerá durante meu tempo de vida – a menos que os EUA realmente entrem em colapso e a economia chinesa realmente dispare.

O senhor acha que o ciclo de subida das commodities ainda vai mais longe?

Se a história serve de guia, ainda temos mais chão pela frente.  O único setor da economia cujos fundamentos estão melhorando é o setor de commodities.  Os agricultores não estão conseguindo empréstimos para comprar fertilizantes [o que está restringindo a oferta agrícola].  Leva uns 10 anos para se abrir uma nova mina.  Os índices da bolsa americana atingiram seu auge em outubro de 2007, mas as commodities continuaram subindo até julho de 2008.

Se a economia mundial se recuperar, as commodities estarão na liderança.  Se a economia mundial não se recuperar, as commodities ainda assim serão um bom investimento – especialmente com os governos imprimindo tanto dinheiro.  Veja a década de 1970.  A economia mundial estava lá embaixo, mas as commodities se saíram muito bem.  Hoje, há restrições na oferta e a produção de petróleo está em declínio.

Como o senhor está investindo em commodities?

Eu utilizo meus índices [ele criou o Rogers International Commodity Index em 1998] porque meus advogados não me deixam comprar commodities individuais, já que estou sempre falando delas em público.  A maioria de meus produtos listados utiliza contrato de futuros.  Em última instância, você está comprando futuros, mesmo que compre um ETF ou ETN.

Suas commodities favoritas são as agrícolas?

Historicamente, os preços ainda estão muito deprimidos em relação à maioria das outras commodities.  Comprei todas as commodities recentemente, mas provavelmente comprei mais de agricultura.

O senhor poderia nos dar um exemplo de algum investimento que o senhor fez em decorrência de uma descoberta feita em solo em outros países, algo que a maioria dos economistas e estrategistas de ponta não sabia?

Cruzando de moto a fronteira da Botsuana, não tive qualquer perturbação ou aborrecimento da parte dos guardas da alfândega.  O procedimento foi perfeitamente eficiente e objetivo.  Preenchi formulários e ninguém me pediu propinas.  No país, não havia mercado negro para a moeda local.  Havia estradas de verdade, hotéis de verdade e lojas com produtos de verdade.  Quando cheguei à capital, havia semáforos de verdade e prédios comerciais.  Fiz mais algumas pesquisas e descobri que a Botsuana tinha um enorme superávit comercial e um orçamento equilibrado, em oposição a vários outros países.  Havia uma democracia operante e um mercado de ações.  E esse acabou se revelando um dos melhores mercados de ações de todo o mundo durante os últimos 20 anos.

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