“Estimula que cresce!”

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GreenWheelBarrowCashA propósito do nosso boletim sobre a economia brasileira, alguns leitores mandaram e-mails na seguinte linha:

“Se as indústrias estão temporariamente ociosas, com excesso de capacidade investida, então faz sentido o governo gastar para mantê-las operando a pleno vapor.  Isso não apenas vai garantir empregos, como também vai deixar a indústria preparada em termos técnicos tão logo a economia volte a crescer.”

Essa é uma falácia repetida à exaustão por todo o establishment universitário.  Trata-se da falácia dos “recursos ociosos”.  Como é de fácil apelo e de lógica aparentemente simples, tal raciocínio facilmente cai no agrado do leigo.

Mas por que ele é falso?

É simples.  A razão pela qual há tantos recursos que repentinamente se tornaram ociosos é porque houve algum erro anterior de cálculo.  Afinal, os empreendedores incorretamente imaginaram que havia uma demanda maior do que a que de fato existia, e isso os levou a fazer investimentos errôneos – a saber, a expansão de sua capacidade instalada.

E o que levou a esse erro sistêmico de cálculo?  No caso do Brasil, além das baixas taxas de juros internacionais, que estimularam artificialmente a demanda externa, tivemos também todos os incentivos creditícios oferecidos pelo governo, principalmente via BNDES, que foram direcionados para a indústria a juros historicamente baixos.  Esse cenário de intervenção distorceu as previsões empreendedoriais e estimulou essa má alocação de recursos.

Para entender melhor o processo, imagine que Teresina tenha sido escolhida a cidade-sede das Olimpíadas 2012 (parece até livro de H.G. Wells).  Nesse cenário, imagine o dono de um restaurante da capital piauiense que, imediatamente após a chegada das delegações e dos jornalistas, vivencie um aumento sem precedentes na demanda por seus serviços.  Esse dono de restaurante terá duas opções: ou ele mantém seus serviços no mesmo nível ou ele faz investimentos.

Entretanto, suponha que esse dono de restaurante interprete mal esse aumento momentâneo da sua demanda e passe a acreditar que se trata de um aumento real e sustentável da mesma.  Com isso, ele contrai vários empréstimos e faz investimentos vultosos em seu restaurante, contratando mais mão-de-obra, ampliando seus recintos, sua capacidade instalada (comprando mais fogões, pratos, talheres, geladeiras e churrasqueiras) e até mesmo abrindo um novo restaurante.

O que vai acontecer assim que as olimpíadas acabarem e todas as delegações e jornalistas forem embora?  Ora, acontecerá o óbvio: esse dono de restaurante ficará com recursos ociosos.  Com vários empregados sem nada para fazer e um segundo restaurante totalmente vazio.

E então?  Será que o governo deveria “estimular” esses recursos, despejando dinheiro ali para tentar manter o nível anterior de atividade?  Será que o governo deveria passar a comprar ativamente a comida desse restaurante, apenas para mantê-lo funcionando em plena capacidade?  Isso seria um uso inteligente dos recursos?  Ou seria um mero desperdício de recursos?

Lembre-se de que essa mão-de-obra e todos esses recursos sequer deveriam ter sido alocados dessa maneira, em primeiro lugar.  Portanto, esse restaurante está segurando mão-de-obra e capital que poderiam estar sendo mais eficientemente utilizados em outros setores da economia.  A única medida correta seria deixar o mercado, sempre guiado pelo sistema de preços, realocar esses fatores da maneira mais racional possível.

Logo, o problema da indústria nacional não é apenas a falta de “demanda” ou de “gastos”.  Tampouco é economicamente sensato dizer que o governo deve preencher a “baixa demanda”.  O problema foi que, na esteira da farra mundial do crédito fácil e dos subsídios dado pelo governo brasileiro, houve uma má alocação de recursos na indústria brasileira, um desequilíbrio estrutural, um descompasso entre a estrutura do capital e a demanda do consumidor.

A recessão é o período no qual a economia passa a corrigir esse desequilíbrio.  E a única maneira de fazer corretamente esse procedimento é permitindo que os recursos sejam realocados de modo que correspondam às reais demandas do consumidor.

E isso apenas o sistema de preços, desde que atuando livre e desimpedidamente, pode efetuar com acurácia.  Qualquer intervenção governamental que vise impedir esse processo vai gerar destruição de riqueza e ineficiência – como bem sentiu a URSS.

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