Mises e a Escola Austríaca – uma visão pessoal

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6 – Política Internacional

Minha principal motivação para entrar na política foi dar alguma contribuição para o estabelecimento de uma sociedade livre. Esse desejo, aliado aos argumentos austríacos em defesa do funcionamento eficiente da economia de mercado, serviu-me muito. O interesse em especial que tem ocupado meu tempo é o tema da moeda e da inflação.

Contudo, é impossível concentrar-se na moeda e na inflação e ignorar a política externa. Elas estão entrelaçadas. O fato de que o intervencionismo econômico leva a uma redução de nosso padrão de vida é ruim o suficiente, mas sua produção de excessivo nacionalismo, protecionismo, isolacionismo econômico, militarismo e guerras deveria despertar em todos nós o temor pelo destino da liberdade e da própria civilização. A previsão de Mises de que o tipo americano de intervencionismo levará a um tipo alemão de nacional-socialismo parece ser precisa. Em Ação Humana, Mises sustenta:

Um ponto essencial na filosofia social do intervencionismo é a pressuposição da existência de fundos inesgotáveis que podem ser drenados permanentemente. O sistema intervencionista entra em colapso quando essa fonte seca: desmorona o mito do Papai Noel econômico. [10]

Evidências confirmando a previsão de Mises estão hoje por toda parte. Podemos apenas ter esperança de que consigamos mudar as coisas antes que a previsão de que estamos a caminho de um fascismo de tipo alemão torne-se realidade.

Conservadores que reconhecem o fracasso de sua modalidade de intervencionismo agora esboçam planos para a “reindustrialização” — um eufemismo para fascismo (“parceria” entre governo e empresas). A Regulamentação Bancária Número Um e a Lei de Defesa da Produção, já nos livros, permitem, sob circunstâncias emergenciais, que um déspota econômico assuma o controle quase imediatamente. Em uma situação de pânico, não será preciso muito para todos ruirmos. Como os americanos desaprovam a propriedade estatal direta, teremos a ilusão da propriedade privada em conjunção ao controle autoritário do governo sobre a economia. E alguns empresários, sob esse sistema, esperarão sempre garantir lucros maiores às custas de vítimas inocentes (e desconhecidas).

Em Ação Humana, Mises salienta:

O nacionalismo agressivo é uma consequência necessária das políticas intervencionistas e do planejamento central. Enquanto o laissez-faire elimina as causas dos conflitos internacionais, a interferência do governo na atividade econômica e o socialismo criam conflitos para os quais não se consegue encontrar qualquer solução pacífica. Enquanto num regime de livre comércio e de liberdade de migração nenhum indivíduo se preocupa com o tamanho do território de seu país, num regime de medidas protecionistas adotadas pelo nacionalismo econômico quase todo cidadão tem um interesse substancial nessas questões territoriais. O aumento do território sujeito à soberania do seu próprio governo significa uma melhoria material para si mesmo ou pelo menos um alívio em relação às restrições que são impostas ao seu bem-estar, por um governo estrangeiro. O que transformou a guerra limitada entre exércitos reais em guerra total, num conflito entre povos inteiros, não foram as tecnicalidades da arte militar; foi a substituição da filosofiado laissez-faire pelo estado provedor (welfare state). [11]

E, novamente, mais adiante ele reitera:

O intervencionismo gera nacionalismo econômico e o nacionalismo econômico gera beligerância. Se os homens e as mercadorias são impedidos de cruzar as fronteiras, por que não haveriam os exércitos de fazê-lo? (…)A raiz do mal não é a construção de novas e terríveis armas; é o espírito de conquista.

Como Mises mostra, o “espírito de conquista” é o problema, e não as armas em si. Por essa razão, ele não deposita qualquer confiança em tratados e em conferências, que para ele não passavam de tolices burocráticas.

As tensões internacionais estão crescendo como nunca, com a guerra ao terror alimentando mais terrorismo, o que proporciona mais razões para a guerra. A magnitude dessas tensões é ainda maior do que nos anos de 1930. A dívida internacional é mais elevada; o nível de inflação mundial é mais ameaçador.

O ouro foi “desacreditado” por todos os governos. Os mecanismos da inflação por todo o mundo estão operando a todo vapor, lutando para evitar que a pirâmide da dívida desmorone. A real formação de capital diminui ano a ano. Incrementos militares continuam a taxas sem precedentes. Os governos ocidentais continuam a financiar regimes cruéis, emprestando mais de 100 bilhões de dólares. À medida que a capacidade militar de outros países é fortalecida com financiamento nosso, ouvimos demandas prementes tanto dos democratas quanto dos republicanos para aumentar vastamente os gastos militares. Nunca questionamos nossos subsídios aos “aliados e amigos” por meio de enorme ajuda militar e econômica. Desmontamos nossas bases aéreas na Costa do Golfo do Texas e enviamos aeronaves com sistema AWAC para a Europa e o leste asiático, deixando nossas costas vulneráveis. Todas as necessidades de defesa do Japão são custeadas pelo pagador de impostos americano e sua poupança é repassada às montadoras de carros e outros exportadores japoneses. As indústrias de automóvel e de aço americanas pedem, então, mais protecionismo, por meio de cotas e de tarifas.

Toda essa insanidade, claro, é financiada por meio de uma altíssima carga tributária e de inflação suportada por nossos pagadores de impostos. Sem a moeda de curso forçado, esses programas desvairados seriam impossíveis. E mais inflação e mais planejamento só pioram as coisas. E estamos agora em meio à compensação dos problemas que criamos com barreiras ao comércio, desvalorizações, taxas de câmbio flutuantes, resgates de bancos e ajuda financeira a governos estrangeiros e do terceiro mundo. A única resposta dada ao panorama em deterioração é ou gastar mais em bombas ou assinar tratados sem valor com governos indignos de confiança. E, no entanto, há claramente outra opção.

Ninguém quer considerar seriamente a moeda sólida e o livre comércio como uma alternativa. Banco central e moeda de curso forçado provocam os ciclos econômicos e desemprego. Eles também nos proporcionam crises internacionais e guerras. Para alcançar a paz e a prosperidade, temos de aceitar as ideias do livre mercado e da moeda honesta.


[10] Mises, Ação Humana, p. 968.

[11] Ibid, p. 930.

 

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Ron Paul
é médico e ex-congressista republicano do Texas. Foi candidato à presidente dos Estados Unidos em 1988 pelo partido libertário e candidato à nomeação para as eleições presidenciais de 2008 e 2012 pelo partido republicano. É autor de diversos livros sobre a Escola Austríaca de economia e a filosofia política libertária como Mises e a Escola Austríaca: uma visão pessoal, Definindo a liberdade, O Fim do Fed – por que acabar com o Banco Central (2009), The Case for Gold (1982), The Revolution: A Manifesto (2008), Pillars of Prosperity (2008) e A Foreign Policy of Freedom (2007). O doutor Paul foi um dos fundadores do Ludwig von Mises Institute, em 1982, e no ano de 2013 fundou o Ron Paul Institute for Peace and Prosperity e o The Ron Paul Channel.

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