International Man: O anarcocapitalista Javier Milei venceu recentemente as primárias presidenciais da Argentina. Ele agora é o favorito indiscutível nas próximas eleições.
O resultado pegou muitos de surpresa. Milei é um outsider que superou os dois partidos do establishment entrincheirados do país.
Como isso aconteceu e por que alguém fora da Argentina deveria se importar?
Doug Casey: Isso pode ser a coisa mais extraordinária que aconteceu politicamente desde, pelo menos, a Segunda Guerra Mundial. Em qualquer lugar. Por que? Porque ele é um libertário da AnCap que gostaria de abolir o estado – ou chegar o mais perto possível disso. Se ele for eleito em outubro, fará todos os movimentos possíveis para eliminar – e não apenas reduzir – o maior número possível de departamentos do governo o mais rápido possível. E a maioria das pessoas parece alheia a isso.
Milei ficou em primeiro lugar nas primárias. Historicamente, na Argentina, quem vence as primárias vence as eleições gerais. Houve apenas uma exceção a essa regra. Ainda mais encorajador é que sua avaliação subiu de 30% para 40% desde as primárias. Parece que sua campanha não é apenas um fogo de palha, mas uma tendência que está ganhando força.
A Argentina era um dos países mais prósperos do mundo há cem anos, quando era tão livre economicamente quanto qualquer país. Antes de Perón, o PIB argentino igualava o restante do continente somado. Mas desde a ascensão de Juan Perón, em 1946, tem caído constantemente a cada ano.
Porquê?
Perón era um fã declarado de Mussolini e do fascismo. O fascismo – palavra cunhada por Mussolini – é definido como a completa subordinação das corporações e das empresas ao estado. Após a 2ª Guerra Mundial, a palavra “fascismo” foi relacionada a algo a se evitar à qualquer preço, então o sistema foi rebatizado de “peronismo” na Argentina. Não é uma filosofia consistente; tem muitas mutações. Trata-se de empresários e políticos usando uns aos outros, através do estado, para enriquecer. As classes mais baixas tornam-se dependentes, e a classe média é empobrecida. O fascismo tem pouco a ver com militarismo e coturnos; é um sistema econômico. Quase todos os países do mundo são fascistas hoje – incluindo os EUA, a UE, a China e a Rússia.
Apesar do triunfo do peronismo, a Argentina ainda tem as tradições liberais mais clássicas de toda a América Latina. Sempre foi o país mais voltado para o exterior da América Latina. Sempre acreditei que era o terreno mais fértil para uma revolução pró-liberdade individual na América Latina. Agora, isso pode estar acontecendo.
Se dividirmos a sociedade argentina em uma classe dominante, uma classe baixa e uma classe média, fica claro que, nos últimos 80 anos, a classe dominante usou esquemas de bem-estar social e mentiras para fazer com que as classes mais baixas votassem contra seus próprios interesses. A classe média pagou por isso com imensos impostos e regulamentações. A inflação basicamente destruiu as classes baixa e média; a inflação alta impossibilitou a poupança e a construção de capital.
Milei poderia reverter totalmente tudo isso. O argentino médio está farto de ser esfolado. O apoio de Milei é maior entre os jovens e o que resta da classe média. Estima-se que metade do país esteja com dificuldades para se alimentar. Eles querem desesperada e entusiasticamente uma mudança radical, e só os mais estúpidos não conseguem ver o que o fascismo, o socialismo e outras variedades de estatismo fizeram. Os principais defensores do status quo são os sindicatos e os vagabundos assistencialistas. Todo mundo os odeia.
International Man: Milei chamou o banco central e a moeda fiduciária de fraude histórica. Ele prometeu “exterminar o banco central” e substituir o peso pelo dólar e qualquer commodity que o livre mercado escolhesse como moeda. Ele é favorável aos metais preciosos e ao Bitcoin.
Ele chamou os impostos de roubo e busca reduzir drasticamente – e eventualmente eliminar – muitos impostos.
Milei também quer reduzir radicalmente o tamanho do governo e eliminar vários departamentos.
Ele também rejeita a farsa das mudanças climáticas e criticou a histeria em massa da Covid.
Doug, você é um proeminente anarcocapitalista. Qual é a sua opinião sobre a solidez da plataforma de Milei?
Doug Casey: Sou totalmente a favor de Milei. Na verdade, ele é mais radical (usando radical no sentido próprio de chegar à raiz do problema) do que Ron Paul foi em suas campanhas presidenciais nos EUA. Ele é tão radical e sincero quanto meu velho amigo Harry Browne, que concorreu à presidência dos EUA em 1996 e 2000.
Milei é extremamente franco e vibrante. Ele percebe que, como a pessoa comum não entende de economia e não tem interesse em filosofia, política é 90% entretenimento. Peço a todos que lerem isso que acessem o YouTube e sintonizem vários vídeos do Milei (aqui, aqui e aqui).
Milei é totalmente sólido do ponto de vista econômico, político e filosófico. Mas – e isso é extremamente importante – ele é sólido do ponto de vista moral.
Ele lida com conceitos básicos de bem e mal, certo e errado. Isso é algo que nenhum político discute, certamente não na América do Sul. É o equivalente a chicotear um burro para chamar sua atenção. Todo mundo entende intuitivamente que a classe política é essencialmente criminosa – mas apenas Milei é corajoso o suficiente para dizer isso. O cara comum quer fazer a coisa certa, a coisa moral. É isso que Milei está apontando para as pessoas e é por isso elas gostam dele. Ele não usa linguagem ambígua, não faz concessões para obter alianças ou apoia meias medidas.
É por isso que, nos EUA, eu realmente respeito mais os democratas do que os republicanos.
Como posso dizer isso?
Todas as ideias que os democratas têm são erradas e podres, mas pelo menos não são hipócritas. Eles dizem o que querem fazer. Eles realmente acreditam em algo, mesmo que seja estúpido e mau.
Os republicanos, por outro lado, não têm nenhuma crença central real. Eles não discordam das premissas morais dos democratas. Eles apenas dizem que os democratas estão indo longe demais, rápido demais.
Milei, por outro lado, quer derrubar a estrutura moral sobre a qual a política é construída.
International Man: A grande mídia global sincronizou suas narrativas sobre Milei.
É quase impossível encontrar um artigo sobre Milei – em qualquer idioma – que não o prefacie com algum tipo de pejorativo sem sentido, rotulando-o de “populista de extrema-direita”, “ultradireitista” ou algo nesse sentido.
Por que a classe de Davos tem tanto medo de Milei? Ele pode superar a oposição deles?
Doug Casey: Esta é mais uma prova de como a grande mídia é inútil. Eles chamam Milei de sósia de Donald Trump e Bolsonaro, ou ultradireitista, na tentativa de assustar o Boobus argentinus. Essas pessoas não lidam com questões e programas factuais, mas com o medo. Em todos os lugares do mundo, as classes midiáticas são apenas porta-vozes malévolos da classe dominante.
Milei não é “ultradireitista”. Ele é um libertário que acredita em mentes livres e mercados livres. Na verdade, ele é mais do que um libertário; ele é um AnCap, um anarcocapitalista. Ele não acredita que o estado sirva a um propósito útil. Ele acredita que a sociedade, certamente em um país industrial avançado, pode viver sem um governo. Já discuti essa filosofia aqui e aqui.
Seu plano é reduzir o tamanho do governo em 50% este ano, 50% no ano que vem e assim por diante, até que seja o mais próximo de zero possível. As pessoas horríveis em Davos o odeiam porque ele está atacando sua própria essência. Ele não pretende apenas fazer algumas mudanças, mas transformar a Argentina no país mais livre e próspero do planeta.
De certa forma, ele é um sintoma do que está acontecendo no mundo em geral hoje. Os próprios Estados Unidos, na minha opinião, estão à beira de uma guerra civil. A liberdade e a autonomia pessoal têm recuado a um ritmo acelerado há anos. As pessoas nos EUA estão tão fartas quanto os argentinos; elas simplesmente não têm o pavio adequado. Trump é o mais próximo que chegam de um, mas ele é apenas um tradicionalista, não um libertário.
Milei é motivo de otimismo no mundo em geral.
International Man: O presidente Nayib Bukele transformou drasticamente El Salvador à velocidade da luz – reduzindo drasticamente a criminalidade, tornando o Bitcoin moeda legal e iniciando reformas para trazer empresas e pessoas produtivas para o país.
Embora a Argentina seja muito maior do que El Salvador, o exemplo de Bukele sugere que uma enorme mudança positiva é possível na Argentina?
Doug Casey: Bukele é outro sintoma de uma possível grande reviravolta no mundo.
Os estatistas e coletivistas podem finalmente ter exagerado. Eles são apenas criminosos inteligentes com muitos seguidores, como Hitler na Alemanha e Mao na China. Só os mortos cerebrais caem em suas ladainhas. “Você não será dono de nada e será feliz.” O mundo está acabando por causa das mudanças climáticas. Vacinar ou morrer. Cidades de 15 minutos. Viagens restritas. Nada de comer carne. ESG. DEI. Sem combustíveis fósseis. É uma longa ladainha. Eles podem destruir a própria civilização.
Pessoas com cérebro estão procurando um para-raios para catalisar mudanças.
Em El Salvador pode ser Bukele. Ele definitivamente tem instintos libertários, indicados pelo fato de que seu principal conselheiro econômico é Safedean Ammous, um AnCap. Ele é um dos economistas mais importantes do mundo hoje, junto com Walter Block e Hans-Hermann Hoppe. Peço que ouçam a entrevista que ele fez comigo no mês passado sobre os princípios do anarcocapitalismo (link).
El Salvador é o último país do hemisfério – com exceção do Haiti – que eu teria escolhido dar a volta por cima. É o país mais superpovoado do hemisfério. É cheio de crime, e é por isso que ele prendeu 65.000 membros de gangues. Sofreu com uma guerra civil horrível de 1979 a 1982. Não tem exportações, exceto café, banana e pessoas pobres. Quem poderia ter adivinhado?
Bukele já fez o Bitcoin ter curso legal. É possível que ele reforme El Salvador da mesma forma que Milei tentará reformar a Argentina.
International Man: Quais são as implicações de investimento ou especulativas da ascensão de Milei para os ativos argentinos?
Quais são as implicações do estilo de vida e outras implicações da diversificação internacional?
Doug Casey: Neste momento, a Argentina é o país mais barato e agradável do mundo. Certamente o país mais barato do mundo ocidental.
Isso é especialmente surpreendente tendo em vista a imensa carga tributária que a economia argentina tem que suportar, alimentando um grande número de bocas inúteis que prejudicam a prosperidade.
Se Milei for eleito, ele reduzirá radicalmente os impostos, o que significa que os custos de produção cairão radicalmente. À medida que o país dolariza, a moeda se estabiliza, e o ouro pode vir em seguida. Os preços reais podem cair ainda mais, mas não por causa de uma moeda em colapso. A economia deve crescer economicamente à medida que o investimento chega. As pessoas vão voltar a trabalhar, começar a poupar e reconstruir o capital doméstico. A Argentina pode rapidamente se tornar, novamente, um dos países mais ricos do mundo.
O que poderia dar errado neste cenário? Os parasitas que agora vivem do estado não querem que suas tigelas de arroz sejam quebradas. Mesmo que Milei tenha um enorme apoio de pessoas de todo o espectro social – incluindo as classes mais baixas que estão fartas de serem mantidas como animais de estimação pelas pessoas no Estado Profundo. O Estado Profundo, sem dúvida, lutará ferozmente contra as reformas de Milei. Espero que ele tenha muitos guarda-costas competentes ao seu redor, porque essas pessoas são genuinamente más, assim como o Deep State nos EUA.
Se ele for eleito, tanto o estilo de vida quanto as implicações de investimento podem ser enormes.
A Argentina sempre foi um dos meus países favoritos no mundo, sem exceções. Mas se eles implantarem um sistema bancário sólido, uma moeda sólida, e desrespeitarem as regras estabelecidas pelos EUA, pelo FMI, pelo Banco Mundial e pelo Fórum Econômico Mundial, a Argentina pode realmente se tornar um dos melhores lugares do mundo para se viver.
Você deve ter em mente que a cidadania está disponível com apenas dois anos de residência. E mesmo durante esses dois anos de residência, só é necessário passar metade do ano no país. Culturalmente, a Argentina é mais europeia do que alguns países da Europa.
Se Milei conseguir lavar a imoralidade socialista e a criminalidade que corrompeu a Argentina por tantos anos, não vou viver lá apenas metade do ano, mas todo o ano.
Artigo original aqui
Daqui a pouco aparece algum ancap brasileiro (nem preciso dizer quem) detonando Milei e defendendo o funcionario publico de carreira e estatista Jair Messias.
Concordo com o comentário do Daniel. Daqui a pouco algum ancap arrependido vai aparecer e dizer que Milei é satanista como todos nós libertários é claro! rs
Gostaria de queimar a língua mas não acredito mais em políticos. Milei pode até ter boas intenções e entender corretamente os princípios mas provavelmente vai dar de cara com o Leviatan. A melhor chance é ele juntar um grande grupo de apoiadores, fazer uma secessão de parte da Argentina e nesse local colocar a ética de propriedade como base de tudo.
No mais, somente o mercado resolve problemas, nunca políticos.
Aguardemos de camarote.
Concordo com vc. O ideal é juntar grupos empresariais rico com boa intençao e financiar o separatismo. So assim para dar certo de verdade.
Se ele não provar-se um mestre na diplomacia o leviatam vai esmaga-lo. A Argentina é bem maior do que El Salvador, não será possível meter os pés na porta.
De consolo por enquanto é que a mensagem está ganhando terreno no planeta.