Foi apenas em meados de 2014, após dois trimestres consecutivos de PIB negativo, que toda a imprensa nacional começou a falar sobre os desarranjos da economia brasileira — àquela altura, visíveis até mesmo para os panfleteiros político-partidários — e sobre como aqueles desequilíbrios levariam a uma recessão no ano seguinte.
(Atualmente, todos os economistas jáfalam abertamente que o ano de 2015 será um ano perdido.)
O que poucos fizeram, no entanto, e este site se inclui nessa honrosa lista das “minorias ínfimas”, foi detectar e explicar estes problemas quando a economia brasileira ainda estava “bombando”, crescendo a 7,5% do PIB.
Uma coisa é gritar “recessão” somente após o IBGE trazer os dados negativos; outra coisa, bem diferente, é explicar como e por que haverá uma recessão enquanto o país ainda está vivenciando um crescimento chinês.
E foi isso o que fizemos ainda no longínquo ano de 2010. Enquanto a economia brasileira crescia a chineses 7,5%, este site publicou este artigo explicando por que aquilo tudo era insustentável e mostrando por que a situação iria se reverter. O artigo abordou, inclusive, os truques contábeis que já vinham sendo praticados desde àquela época, e que só em 2014 passaram a ser abertamente denunciados pela grande imprensa.
Um ano depois, já no terceiro trimestre de 2011, um novo artigo foi publicado prevendo uma ligeira recessão para 2012. Em termos de PIB per capita, que é o que realmente interessa, a economia de fato ficou estagnada em 2012, mas o que realmente aconteceu é que a economia brasileira foi mantida animada por novas e crescentes doses de crédito estatal, que é um crédito totalmente imune à taxa de juros estipulada pelo Banco Central.
Este fenômeno do agigantamento do crédito estatal, sobre como ele traria um curto impulso à economia e faria um grande estrago nos balancetes dos bancos estatais foi esmiuçado neste artigo de 2012 e, um ano depois, neste de 2013. Hoje, nossas previsões se confirmaram e o próprio governo já fala abertamente em recapitalizar a Caixa e o Banco do Brasil.
Também em 2012 publicamos este artigo abordando novamente, dentre outras coisas, a situação fiscal brasileira. Naquela época, ainda eram poucos os economistas que alertavam para essas “pedaladas” no orçamento do governo. Menor ainda era o número de economistas que alertavam sobre como isso iria terminar.
De novo em 2012, um novo artigo fazendo previsões para a economia brasileira, todas elas concretizadas, inclusive para o setor imobiliário.
Para completar, também em 2012, este artigo e este artigo já alertavam para o risco de problemas no setor elétrico em decorrência do intervencionismo populista do governo.
A partir de 2013, todos os desarranjos previstos já estavam explícitos. Aos nossos articulistas restou apenas fazer uma narração em tempo real de como a vaca caminhava rumo ao brejo.
O esfacelamento do real foi narrado em tempo real aqui e aqui (e aqui um post-mortem). Os principais desmandos do governo Dilma, que iriam culminar na atual recessão econômica que vivenciamos, foram sintetizados em tempo real aqui. Os motivos da insatisfação da população com a situação do país, o que gerou os protestos de junho de 2013, foram explicados aqui e aqui. Os motivos da então aparentemente baixa taxa de desemprego foram explicados aqui e aqui.
Até mesmo a inviabilidade do pré-sal foi prevista. Em agosto de 2013, explicamos neste artigo que o desinteresse de grandes empresas no primeiro leilão de um campo do pré-sal indicava que, aos preços vigentes do petróleo, a operação era inviável. Os atuais acontecimentos comprovam a previsão.
Toda a narrativa culminou com este artigo que traça um panorama completo da economia brasileira ao longo da última década; com este artigo que sintetiza os dez principais erros do governo Dilma; com este artigo, que antecipava tudo de errado que seria feito pelo novo Ministro da Fazenda: e, finalmente, com este artigo, que faz uma narração cronológica completa das medidas desastrosas adotadas pelo governo Dilma.
De brinde, ainda em meados de 2011, produzimos este artigo prevendo que a inflação de preços, dali em diante, seria continuamente alta.
Guido Mantega
Embora hoje Guido Mantega seja uma figura execrada e ridicularizada, houve uma época em que ele era unanimidade. Até mesmo os semanários antipetistas eram abertamente simpáticos ao ministro — que nunca enganou os articulistas deste site —, sempre lhe agraciando com uma cobertura positiva.
A paixão da imprensa por Guido Mantega — que sempre falava estultices sem ser questionado e sempre fazia previsões que se comprovavam demasiadamente otimistas sem ser cobrado por isso — foi primeiramente abordada aqui, no longínquo ano de 2010.
Seus atos totalitários — como a imposição de soviéticas tarifas de importação sobre automóveis, o aumento generalizado de todas as tarifas de importações sobre todos os produtos importados, a imposição de políticas de conteúdo nacional, a imposição de políticas de preços mínimos, a implantação de métodos à la Stasi de revista de passageiros em aeroportos — foram esmiuçados, denunciados e tiveram suas consequências previstas aqui,aqui, aqui e aqui, ao mesmo tempo em que ganhavam um passe livre de toda a imprensa.
Sua idiótica declaração de guerra à entrada de capital estrangeiro no Brasil foi aplaudida pela imprensa e veementemente denunciada por este site (aqui, aqui e aqui), pois sabíamos que isso geraria uma saída de dólares, uma desvalorização da moeda e uma consequente disparada da carestia. Previsão efetivada. De 2011 até hoje, o real foi uma das moedas que mais se desvalorizou no mundo.
E tudo isso foi feito por Mantega com a justificativa de “proteger a indústria”. A indústria, no entanto, foi o setor que mais sofreu sob o seu reinado, e o motivo disso — algo totalmente alheio ao conhecimento de Mantega — foi explicado aqui.
Foi só no início de 2014 que a imprensa finalmente acordou e começou a jogar duro com Guido Mantega. Tarde demais. Seus estragos já eram irreversíveis.
Cenário externo
Também no front externo tivemos acertos.
Este artigo de meados de 2009 explicava por que o tão comemorado “fim da recessão americana”, reverberado por toda a imprensa, era uma falácia. Um ano depois, em 2010, todos voltaram a falar que a recessão americana, na prática, ainda não havia acabado.
Já este artigo de setembro de 2011 explicava por que o Banco Central da Suíça não iria manter sua âncora cambial em relação ao euro por muito tempo. Vários investidores estrangeiros e fundos de investimento acreditaram na declaração do BC suíço de que a âncora seria eterna. Nós não. Com a súbita flutuação do franco em janeiro deste ano, vários fundos e empresas — que acreditavam piamente na durabilidade da âncora — perderam dinheiro e quebraram.
Explicamos também, neste artigo, como ocorreu a recessão europeia e apresentamos os fatos que mostravam por que ela não acabaria tão cedo. A realidade nos provou corretos.
Produzimos também este artigo que explica em detalhes como se deu a implosão do sistema financeiro americano, naquela que talvez seja a narrativa mais completa disponível em língua portuguesa.
E, de brinde, produzimos esta série de artigos sobre a China.
Qual o método?
Ao se fazer análises econômicas, é imperativo deixar paixões e preferências ideológicas de lado. Para se ser sensato em economia, ideologias e preferências não podem ter voz nem vez.
Nesse sentido, foi memorável a participação do economista Luiz Carlos Mendonça de Barros no programa Entre Aspas, da Globo News. “Mendonção”, que se declarou keynesiano, se disse “depressivo” com o fato de que as políticas keynesianas aplicadas nos EUA não estarem funcionando para recuperar a economia.
Segundo ele:
Acho Krugman um sujeito inteligente, muito preparado, mas eu…. que bebo na mesma água que ele, keynesiana, esse negócio todo…. eu estou meio depressivo porque era pra funcionar! Tudo que o Banco Central fez, tudo o que o Obama fez … [era pra ter funcionado]…
Tal desespero é típico de quem passou a vida lendo panfletos ideológicos em vez de estudar a ciência econômica verdadeira; é típico de quem passou a vida estudando aquilo que governantes gostam de ouvir, e não aquilo que eles realmente deveriam fazer. Caso tivesse se livrado de suas ideologias de juventude, Mendonção poderia estar vendo o mundo com mais clareza hoje, e não estaria tão perdido assim.
É por isso que nós do IMB sempre tentamos seguir à risca os dizeres do economista Robert Higgs, uma das melhores mentes da Escola Austríaca de economia. Segundo ele:
A habilidade mais escassa entre os economistas (e entre aqueles que acreditam entender de questões econômicas) é o bom senso.
Muitos economistas claramente são muito preparados, no sentido de que são muito versados em matemática e são capazes de lidar facilmente com modelos matemáticos e econométricos extremamente complexos.
Mas esse tipo de habilidade técnica não necessariamente — e é lamentável dizer que normalmente é assim — fará você realmente entender como o mundo funciona.
Ter bom senso e bom discernimento sobre a realidade econômica depende muito mais de uma combinação desses três fatores:
1) dominar a teoria básica do funcionamento dos preços, ou seja, a teoria de como alterações nos incentivos e nos custos relativos afetam as ações dos indivíduos;
2) ter um conhecimento substancial da história econômica e do contexto institucional dentro do qual ocorreram as ações econômicas; e
3) ter aquele autocontrole que impede que caiamos de amores por aquilo que é meramente uma possibilidade (normalmente, um modelo sedutor, de apelo fácil, e totalmente errado) e ignoremos aquilo que é realmente factível.
Em outras palavras, a maioria dos economistas e supostos especialistas, não obstante sua clara destreza em relação às ciências exatas, não conseguem “sentir” como realmente uma economia funciona. É como se eles fossem incapazes de enxergar além das minúcias numéricas e das tecnicalidades, jamais conseguindo apreciar como realmente ocorrem as interações econômicas no mundo real. Muito menos conseguem compreender as magnitudes dos vários fatores que governam a ação humana de cada indivíduo, seja ele um consumidor, um empreendedor ou um investidor.
Ou, como disse o grande Frédéric Bastiat, o bom economista não é aquele que explica o que se vê, mas sim aquele que consegue também explicar o que não se vê. Em suas imortais palavras:
Na esfera econômica, um ato, um hábito, uma instituição, uma lei não geram somente um efeito, mas uma série de efeitos. Dentre esses, só o primeiro efeito é imediato. Manifesta-se simultaneamente com a sua causa. É visível. Os outros só aparecem depois e não são visíveis. Podemo-nos dar por felizes se conseguirmos prevê-los.
Entre um mau e um bom economista existe uma diferença: o primeiro se detém no efeito que se vê; já o outro leva em conta tanto o efeito que se vê quanto aqueles que se devem prever.
E essa diferença é enorme, pois o que acontece quase sempre é que, quando a consequência imediata é favorável, as consequências posteriores são funestas e vice-versa. Daí se conclui que o mau economista, ao perseguir um pequeno benefício no presente, está gerando um grande mal no futuro. Já o verdadeiro bom economista, ao perseguir um grande benefício no futuro, corre o risco de provocar um pequeno mal no presente.
De resto, o mesmo acontece no campo da saúde e da moral. Frequentemente, quanto mais doce for o primeiro fruto de um hábito, tanto mais amargos serão os outros. Testemunham isso, por exemplo, o vício, a preguiça, a prodigalidade. Assim, quando um homem é atingido pelo efeito do que se vê e ainda não aprendeu a discernir os efeitos que não se veem, ele se entrega a hábitos maus, não somente por inclinação, mas por uma atitude deliberada.
Isso explica a evolução fatalmente dolorosa da humanidade. A humanidade se caracteriza, em seus primórdios, pela presença da ignorância. Logo, está limitada às consequências imediatas de seus primeiros atos, as únicas que, originalmente, consegue enxergar. Só com o passar do tempo é que aprende a levar em conta as outras consequências.
Dois mestres bem diferentes lhe ensinam esta lição: a experiência e a previsão. A experiência atua eficazmente, mas de modo brutal. Mostra-nos todos os efeitos de um ato, fazendo-nos senti-los: por nos queimarmos, aprendemos que o fogo queima. Seria bom se nos fosse possível substituir esse rude mestre por um mais delicado: a previdência. Por isso, buscarei a seguir as consequências de alguns fenômenos econômicos, opondo às que são visíveis àquelas que não se veem.