É algo que já deveria ser óbvio para todos. Menos, talvez, para o mais empedernido adepto do keynesianismo: os vários e volumosos pacotes de estímulo econômico implementados pelo governo americano fracassaram. A combinação de aumento dos gastos e do déficit orçamentário, as desesperadas tentativas de reestimular o mercado imobiliário, os vários esquemas inventados para socorrer empresas falidas dando-lhes dinheiro retirado à força de terceiros, e a criação direta de trilhões de dólares pelo Banco Central não fizeram absolutamente nada para revigorar a economia americana.
Na verdade, ocorreu exatamente o oposto. Todos esses esforços lograram apenas impedir que a economia se reajustasse — e a realidade após uma década de expansões monetárias e manipulações dos juros orquestrados pelo Banco Central não é nada bonita. Todos os recursos que os pacotes de estímulo consumiram foram extraídos do setor privado. Afinal, como nunca é demais lembrar, o governo não possui recursos próprios; ele nada produz. Tudo o que ele faz ou tudo o que ele utiliza teve necessariamente de ser extraído de produtores privados e dos cidadãos em geral — se não imediatamente, certamente no futuro.
É algo totalmente enfadonho termos de aprender essa lição mais uma vez, pois foi somente há 38 anos que o mundo vivenciou outro colapso completo do paradigma keynesiano. O matiz da teoria era um pouco diferente naquela época. O governo fazia “ajustes finos” na economia com a intenção de fazê-la funcionar de acordo com um modelo rígido que dizia haver um equilíbrio compensatório entre inflação e desemprego. Se o desemprego ficasse muito alto em decorrência de um crescimento econômico lento, a solução preconizada era simples: aumentar os gastos e a inflação monetária. Se o desemprego, por outro lado, ficasse muito baixo durante a recuperação econômica — levando a um “sobreaquecimento” da economia, como dizia o linguajar da época —, a solução era reduzir os gastos e a inflação monetária.
O objetivo desse simples equilíbrio era reunir todas as obscuras ideias defendidas por Lord Keynes e condensá-las à sua essência, a saber: o planejamento centralizado da economia. Com essa nova roupagem científica, seria possível fazer um planejamento centralizado ao mesmo tempo em que se evitava todos os emaranhados legislativos que aporrinharam o New Deal. Os keynesianos afirmavam que as tentativas de Franklin Roosevelt de adotar políticas contracíclicas não funcionaram bem porque não foram bem planejadas e tampouco cientificamente ministradas. Mas graças à clareza desse novo e simples modelo criado no pós-guerra, os keynesianos desta vez acertariam.
E eles certamente fizeram tudo à sua maneira em termos de políticas. Em 1971, Richard Nixon aboliu os últimos vestígios do padrão-ouro, finalmente desvencilhando o dólar de qualquer relação com o ouro físico, permitindo que a moeda americana flutuasse como uma pipa presa a uma linha — ou talvez sem a linha. Esse supostamente era o ideal keynesiano. Nada de restrições à moeda. Nada de apegos à relíquia bárbara. Nada de limitações àquilo que os planejadores científicos do governo poderiam fazer. Agora eles poderiam fazer o que fosse necessário para promover a combinação socialmente ótima de inflação e desemprego. Nirvana!
É importante ter em mente que tudo isso era uma proposição testável. Se de fato houvesse esse equilíbrio entre inflação e desemprego, e se de fato o governo pudesse controlá-lo, então seria impossível vivenciarmos, por exemplo, o desemprego e a inflação de preços aumentando ao mesmo tempo. É verdade que, durante a maior parte da história, isso não realmente não ocorreu. Durante a Grande Depressão, os preços caíram — e ainda bem, pois esse fato foi a única ocorrência positiva de todo aquele período. Pior do que desemprego em massa, apenas desemprego e inflação de preços. Já na década de 1950, houve um pequeno aumento da inflação, mas não em um nível suficiente para soar os alarmes.
E então vieram os anos 1973—1974. O desemprego nos EUA estava alto e subindo, chegando a 6% — sim, naquela época, isso era considerado alto. Ao mesmo tempo, a inflação de preços havia subido vertiginosamente para os dois dígitos, algo que não ocorria desde 1947, quando os controles de preços da época da guerra foram abolidos. E assim surgiu a recessão inflacionária, também chamada de estagflação — uma besta que supostamente não deveria existir, pelo menos de acordo com o modelo econômico seguido à época.
Escrevendo sobre isso, Murray Rothbard explicou:
Esse curioso fenômeno de inflação em alta ocorrendo simultaneamente a uma aguda recessão simplesmente não poderia ocorrer, de acordo com a visão keynesiana do mundo. Os economistas afirmavam que ou economia deveria apresentar uma expansão, sendo que nesse caso os preços estariam subindo, ou a economia deveria apresentar uma recessão com grande desemprego, sendo que nesse caso os preços estariam caindo. Durante o período da expansão econômica, o governo keynesiano deveria “enxugar o excessivo poder de compra”, elevando impostos — de acordo com a teoria keynesiana, isso reduziria os gastos da economia. Por outro lado, durante uma recessão, o governo deveria aumentar seus gastos e seu déficit orçamentário, com o intuito de estimular o nível de gastos da economia. Mas e se a economia apresentasse ao mesmo tempo inflação e recessão com alto desemprego, o que o governo deveria fazer? Como poderia ele pisar no acelerador e no freio da economia ao mesmo tempo?
A resposta, obviamente, é que o governo e suas autoridades políticas e econômicas não poderiam fazer tal coisa. Ao constatarem isso, o pânico se alastrou entre os economistas. E foi aí que as mais insensatas e ridículas teorias já concebidas pelo homem foram implementadas para tentar reduzir o desemprego e a inflação de uma só vez. Mas havia um problema. Autoridades econômicas, sempre e em todo lugar, são completamente avessas a admitir culpa por qualquer coisa. Certamente a culpa pelo descalabro não era da política monetária e nem da política fiscal, diziam eles. É claro que a culpa era da ganância dos empresários, da voracidade da classe consumidora e do pânico que havia tomado conta da população geral — tudo era culpa dos outros, menos do próprio governo.
Assim, embora o paradigma keynesiano houvesse fracassado fragorosamente, quem no governo estaria disposto a assumir a responsabilidade por esse fracasso? Ninguém. Consequentemente, as coisas só pioraram e a recessão inflacionária tornou-se um estilo de vida dos americanos, até culminar na indignação e na revolta do final da década de 70, o que levou Ronald Reagan à presidência.
Reagan havia conduzido sua campanha em uma plataforma antikeynesiana. Ele até chegou a cogitar a reinstituição do padrão-ouro. Ele disse que iria cortar impostos e permitir que a economia funcionasse livremente. Suas promessas não se concretizaram, mas ao menos naquela época parecia haver alguma consciência de que o governo não era capaz de se posicionar eternamente contra o mercado. As coisas boas do governo Reagan devem ser creditadas, obviamente, a Paul Volcker, presidente do Fed nomeado por Jimmy Carter em agosto de 1979. Como presidente do Fed, ao invés de apenas reduzir o ritmo da expansão da oferta monetária, ele chegou a implantar, em 1980—1982, uma genuína redução da oferta monetária total, algo inédito na história do Fed. Com isso, ele quebrou a espinha dorsal da inflação de preços e da crise econômica que afligia os EUA. Pense nele como uma espécie de anti-Greenspan ou anti-Bernanke.
Hoje, no entanto, reinam as doutrinas de Greenspan e Bernanke, e essa é a real tragédia de nossa época. O Fed, o Tesouro, o presidente, os reguladores e o Congresso americano fizeram todo o possível para tentar estimular, reflacionar, estabilizar e contra-atacar as forças de mercado. Como esperado, perderam a batalha. O desemprego nos EUA continua escandalosamente alto e a inflação de preços já começa a ficar explícita — algo que keynesianamente não poderia ocorrer em uma economia com alto desemprego e em recessão.
Mas há um problema ainda mais sério. Em suas tentativas de estimular a economia, o Fed criou um volumeinacreditável de dinheiro, o qual está guardado como “reservas em excesso” nos cofres de seus protegidos no sistema bancário. Quando esse dinheiro represado vazar para a economia, será inevitável uma horrenda onda de inflação de preços.
Aqueles que culpam Obama pela atual situação da economia deveriam ser mais honestos e considerar se algum republicano (exceto Ron Paul) não teria feito exatamente a mesma coisa. A receita de Obama para a recuperação econômica começou na realidade ainda sob George W. Bush — exatamente assim como foi Hoover quem começou o New Deal. É claro que o sujeito que está na Casa Branca é um problema, mas ele não é o único problema. O cerne da questão é que (1) nós temos um sistema monetário e bancário que é socialista por natureza, e que, portanto, é utilizado pela elite que está nos círculos do poder para enriquecer-se a si própria às nossas custas, e (2) a elite política se agarra à pretensão keynesiana de que o governo é capaz de empreender uma guerra contra as forças de mercado. Isso, e o fato de que o keynesianismo delega todo o poder à elite que controla o estado, explicam por que essa patética e perigosa história vive se repetindo à (nossa) exaustão.
Em uma economia de mercado, há uma tendência de que, no longo prazo, os erros sejam corrigidos e substituídos por práticas diferentes, as quais trazem melhorias às vidas das pessoas. Já no governo, as coisas funcionam às avessas. A tendência é que, no longo prazo, ele continue tentando as mesmas ideias, incorrendo seguidas vezes nos mesmos erros, não importa o quão frequentemente as coisas fracassem e nem o quão ruim seja quando isto acontece. Afinal, como disse Joseph Salerno, o keynesianismo foi inventado para dar poder ao estado. E esse é realmente o problema fundamental: a entidade monopolista que controla e devasta a sociedade para benefício próprio.
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