Pelo destravamento do mercado de capitais brasileiro

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A exitosa abertura de capital da XP não poderia passar sem que fossem feitos alguns comentários.

  • A empresa é a grande responsável pela expansão da base de investidores em ações no Brasil, algo que por muito tempo foi tentado por antigas e tradicionais corretoras e que a B3 buscava foi conseguido pela XP com uma junção de propósito, empreendedorismo e timing ou como alguns dizem, alinhamento de astros. Sim, a disrupção tecnológica da internet, smartphones, e negociação eletrônica deram as ferramentas que as antigas corretoras, que tentaram ampliar sua base de pessoas físicas, não tinham antes e a XP soube usar isso à seu favor.
  • Me causa estranheza esse papo que a abertura de capital se deu no exterior por que os controladores ficaram com classes especial de ações que dão direito a voto. Oras bolas, minha vida inteira ouvi que o problema do mercado brasileiro era por que existia ON e PN e isso afastava investidores, até por isso foi criado o segmento do “Novo Mercado” onde o salto de governança era exatamente só haver ações ON. Esse argumento é esdrúxulo e anacrônico.
  • Se a XP quer realmente revolucionar o mercado de capitais brasileiro vai ter muito trabalho e que vai muito além de suas paredes de vidro. A ampliação da base de pessoas físicas, ainda que louvável e estando apenas no início, é o menor dos desafios. Diante dessa avalanche que potenciais investidores que ainda estão represados e ávidos para entrarem nesse mercado há o grave problema de oferta, sim, isso mesmo, não existe produto suficiente para tanto cliente. O que vai ser oferecido para esse universo de 10/15 milhões de pessoas físicas potenciais imediatas? Mais um follow on de MGLU3? Itausa, Weg, Mdias e Ambev? Oras, para alocar capital de forma eficiente na economia brasileira é mister que empresas de porte compatível com o tamanho da economia brasileira tenham acesso ao mercado de ações. Para isso só havendo uma forte desregulamentação e queda de custos nos entraves, públicos e privados.
  • Com isso eu quero dizer que não bastam as mudanças regulatórias, elas não acontecem sem que se quebrem os oligopólios privados envolvidos nas aberturas de capital. A citar, os bancos de investimento, as bancas de advogados, as empresas de auditoria e os veículos de imprensa que já citei em outro artigo. Em cada um desses oligopólios atuam não mais do que 5 ou 6 empresas e os custos são exorbitantes para empresas não bilionárias e são exatamente as médias empresas que representam mais a economia brasileira. A concentração em poucas empresas vai causar uma distorção na taxa de retorno para os investidores; com poucas opções os múltiplos de retorno das empresas listadas vão ficando cada vez maiores à medida que novos investidores participam do mercado enquanto empresas fora da bolsa, que precisam de capital para projetos lucrativos, poderiam prover múltiplos mais baixos enriquecendo toda a cadeia de investidores e investimentos de forma mais equilibrada. Não adianta nada ter 1, 2, 10 milhões de investidores se o mercado continuar com 350 empresas listadas. Julgando pela horripilante reação do congresso diante da MP que extinguia a exigência de publicar balanços em jornais a dificuldade desse  destravamento será enorme.
  • Por ultimo, e aí sim talvez a XP tenha um papel relevante, será derrubar os custos para que famílias possam ter fundos exclusivos. Hoje a praxe do mercado é que apenas com mais de R$40 milhões de patrimônio seja viável abrir um fundo; Oras, para ampliar esse mercado é necessário que esse custo caia pelo menos 10 vezes para que famílias e investidores com pouco mais de R$3 milhões possam ter fundos que sirvam de veículos de investimentos.
  • Toda indústria de fundos, IPO, bancos de investimento, precisa passar pela queda de custos que o mercado bancário está passando com os bancos e fintechs zerando tarifas.

Há muito a ser feito, muitas XPs podem surgir melhorando a alocação de capital da economia como um todo.

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