1) Da forma mais imediatista, na qual a pessoa se limita apenas a ver se sua vida melhorou durante esse período, sem se preocupar com os fundamentos econômicos que tal governo está deixando para o futuro. Os integrantes desse grupo tendem a olhar apenas para o comportamento da sua renda na vigência do governo em questão, sem qualquer análise mais profunda sobre se tais efeitos foram artificiais e passageiros ou reais e duradouros; e
2) Da forma mais arguta e discernente, na qual a pessoa dá mais ênfase aos fundamentos econômicos que tal governo está deixando para o futuro, bem como quais eram os fundamentos que ele herdou do governo antecessor. Os integrantes desse grupo tendem a possuir um conhecimento um pouco mais profundo de economia.
No Brasil, exemplos clássicos do primeiro grupo são os admiradores de Juscelino Kubitschek e dos generais Médici e Geisel, homens cujos governos trouxeram alguma melhora ao padrão de vida das pessoas, mas ao custo de anos seguintes de inflação e severo descontrole econômico.
JK, que por um lado fomentou a industrialização, principalmente do setor automotivo, por outro, resolveu construir Brasília por meio da pura e simples impressão de dinheiro, legando uma economia desarrumada e com inflação ascendente (25% em 1960, 43% em 1961, 55% em 1962 e 81% em 1963), que levou à ascensão de um populista demagogo e o consequente golpe militar.
Já os generais supracitados também não fizeram diferente com suas obras faraônicas, seus endividamentos externos, suas criações de dezenas de estatais (méritos de Geisel) e, obviamente, suas emissões de dinheiro, uma combinação que gerou a década perdida de 1980.
Já no segundo grupo, os principais exemplos são os admiradores do Marechal Castelo Branco (cujas reformas econômicas permitiram que a folia dos anos 1970 pudesse durar mais do que o normal), do sociólogo Fernando Henrique Cardoso e até mesmo do malucão Fernando Collor, cuja abertura às importações inegavelmente trouxe sensíveis melhoras à economia brasileira, principalmente no setor automotivo.
Em termos mundiais, o exemplo ainda insuperável é o do general chileno Augusto Pinochet, exemplo único de ditador militar não estatizante, cujas reformas econômicas foram inteiramente mantidas pelos governos democráticos que o sucederam, para o grande benefício do Chile. Margaret Thatcher também legou uma grande herança para a economia britânica, dado que suas reformas estruturais foram indiscutivelmente modernizadoras.
Feitos esses prolegômenos, chego à pergunta-título desse tópico: o que dizer do governo Lula? Seus defensores pertencem ao primeiro grupo ou ao segundo? Seu governo deixa algo de novo ou moderno?
Fazendo uma análise desideologizada e considerando os fundamentos econômicos que ele recebeu, os que ele soube manter e os que ele alterou, e considerando principalmente os fundamentos que ele deixa para o governo seguinte, o que dizer do seu governo?
Em termos puramente econômicos, é válido dizer que seu governo teve bons acertos na área macroeconômica, o que foi algo esquisito, pois foi um sucesso paradoxal: quanto mais o governo fazia o contrário daquilo que seus integrantes passaram a vida inteira prometendo, melhor era. Ou seja, foi um governo que era tanto mais elogiável quanto mais fazia o contrário do que havia prometido.
No fundo, o governo atual copiou o software econômico do governo anterior e apenas deixou o HD funcionando, ao mesmo tempo em que fazia bravatas de efeito puramente retórico.
Porém, todos estes acertos macroeconômicos se limitaram ao primeiro mandato, o que já foi suficiente para fazer com que a folia do crédito do segundo mandato só venha estourar mais à frente, já em outro governo. Do segundo mandato propriamente dito, nada se salva. Os fundamentos que estão sendo deixados, além de não serem nada auspiciosos, são piores do que aqueles que foram herdados em 2003, embora eles só venham a se manifestar no longo prazo (não é algo já para o ano que vem).
Comparando o cenário herdado com o cenário legado, a performance só se torna elogiável se considerarmos que tudo poderia ter sido muito pior — afinal, essa turma poderia ter aplicado aquele programa de governo que ela sempre havia defendido até meados de 2002.
Porém, se considerarmos o cenário róseo por que passou a economia mundial de 2003 a 2008, e constatarmos a total ausência de reformas estruturais (reforma tributária, trabalhista e previdenciária, além das várias desburocratizações e desregulamentações que nunca ocorreram), e se considerarmos também os péssimos fundamentos econômicos que estão sendo deixados (inchaço do funcionalismo, criação de estatais para mero cabide de emprego para a companheirada, aumento ininterrupto dos gastos, superávit primário perto de zero, dívida bruta em relação ao PIB na casa dos 70%, melhor apenas que Índia e Hungria no grupo dos países em desenvolvimento, uso do BNDES para fomentar empresas com boas conexões políticas, dinheiro público para grupos terroristas, inflação da oferta monetária e do crédito artificial etc.), o desempenho foi sim desanimador.
Isso para não falar do culto à personalidade do presidente, algo que o próprio soube estimular como nunca antes na história deste país, tomando exclusivamente para si méritos que são dos outros, um comportamento típico de ditadores populistas.
Mas tudo isso é uma opinião totalmente pessoal. Para evitar complicações desnecessárias — e também para não entrarmos em áreas mais espinhosas, porquanto subjetivas — considerei aqui apenas as questões de cunho econômico. As questões de cunho moral estão muito além do escopo pretendido nessa postagem, mesmo porque moralidade e governo caminham em mãos opostas.
A minha nota final, de 0 a 10, para os oito anos de governo é: zero para as oportunidades perdidas (cujo resultado é um legado muito aquém do que poderia ter sido) e dez para tudo o que podia ter sido feito de ruim, mas que não foi.
Nota final: 5
Se os leitores — bem como os outros integrantes do IMB — tiverem a bondade, convido-os a fazerem a enorme gentileza de compartilharem suas opiniões nos comentários.