Teoria e História

0

Capítulo 7. Materialismo Dialético

1. A Dialética e o Marxismo 

O MATERIALISMO DIALÉTICO, tal como ensinado por Karl Marx e Frederick Engels, é a doutrina metafísica mais popular de nossos tempos. É, atualmente, a filosofia oficial do império soviético e de todas as escolas de marxismo fora deste império. Ela domina a ideia de diversas pessoas que não se consideram marxistas e até mesmo de muitos autores e partidos que acreditam ser antimarxistas ou anticomunistas. É essa doutrina que a maior parte de nossos contemporâneos têm em mente quando se referem ao materialismo e ao determinismo.

Quando Marx ainda era um jovem, duas doutrinas metafísicas cujos ensinamentos eram incompatíveis entre si dominavam o pensamento alemão. Um deles era o espiritualismo hegeliano, doutrina oficial do estado e das universidades da Prússia, e o outro era o materialismo, a doutrina da oposição, determinada a derrubar, por meios revolucionários, o sistema político de Metternich, bem como a ortodoxia cristã e a propriedade privada. Marx tentou misturar os dois para provar que o socialismo estava fadado a chegar, “com a inexorabilidade de uma lei da natureza”.

Na filosofia de Hegel a lógica, a metafísica e a ontologia são essencialmente idênticos. O processo real de transformação é um aspecto do processo lógico do pensamento. Ao compreender as leis da lógica através do pensamento apriorístico, a mente adquire um conhecimento correto da realidade. Não há outro caminho para a verdade além daquele fornecido pelo estudo da lógica.

O princípio peculiar à lógica de Hegel é o método dialético. O pensamento passa por um caminho triádico; ele passa da tese para a antítese, isto é, a negação da tese, e da antítese para a síntese, isto é, a negação da negação. O mesmo princípio tríplice de tese, antítese e síntese se manifesta na transformação real, pois a única coisa real no universo é o Geist (mente ou espírito). A substância da matéria não está nela própria. As coisas naturais não são para si mesmas (für sich selber). O Geist, no entanto, é para si mesmo. O que — além da razão e da ação divina — é chamado de realidade é, sob a luz da filosofia, algo podre ou inerte (ein Faules), que pode até parecer, mas não é, de fato, real.[1]

Nenhum tipo de conciliação é possível entre este idealismo hegeliano e qualquer tipo de materialismo. No entanto, fascinados pelo prestígio que o hegelianismo gozava na Alemanha da década de 1840, Marx e Engels tiveram medo de desviar muito radicalmente do único sistema filosófico com o qual eles e seus compatriotas da época eram familiares. Não eram suficientemente audazes para descartar totalmente o hegelianismo, como seria feito alguns anos mais tarde até mesmo na própria Prússia; preferiram manter a aparência de continuadores e reformadores de Hegel do que se assumir como dissidentes iconoclastas. Gabavam-se de ter transformado e melhorado a dialética hegeliana, de tê-la colocado de ponta-cabeça — ou melhor, de tê-la colocado de cabeça para cima.[2] Não perceberam que não fazia sentido arrancar a dialética de seu solo idealista e transplantá-la para um sistema que foi rotulado como materialista e empírico. Hegel foi consistente ao presumir que o processo lógico seria refletido fielmente nos processos que ocorrem no que costuma ser chamado de realidade; ele não se contradisse ao aplicar o apriorismo lógico à interpretação do universo. No entanto, algo diferente se dá com uma doutrina que cede a um realismo, materialismo e empiricismo tão ingênuos. Para uma doutrina assim um esquema de interpretação que não derive da experiência, mas sim do raciocínio apriorístico não tem qualquer serventia. Engels declarou que a dialética é a ciência das leis gerais de movimento, do mundo externo e do pensamento humano; duas séries de leis que são substancialmente idênticas porém diferem em suas manifestações, na medida em que a mente humana pode aplicá-las de maneira consciente, enquanto que na natureza e, também, até certo ponto, na história humana — ao menos até agora — elas se afirmam de maneira inconsciente, como uma necessidade externa em meio a uma série infinita de eventos aparentemente contingentes.[3] O próprio Engels admitiu nunca ter tido qualquer dúvida a esse respeito. Sua preocupação intensa com a matemática e as ciências naturais, às quais ele confessa ter dedicado quase oito anos, foi, segundo ele próprio, incitada apenas pelo desejo de testar detalhadamente a validade das leis da dialética em casos específicos.[4]

Estes estudos levaram Engels a descobertas estarrecedoras. Foi assim que ele descobriu que “a geologia inteira é uma série de negações negadas”. As borboletas “nascem do ovo (…) por meio da negação do próprio ovo (…) e morrem por um novo ato de negação”, e assim por diante. A marcha normal da vida da cevada é descrita assim: “o grão de cevada (…) é negado, destruído, e, em seu lugar, brota a planta, que, nascendo dele, é a sua negação. (…) A planta cresce, floresce, é fecundada e produz, finalmente, novos grãos de cevada, devendo, em seguida ao amadurecimento desses grãos, morrer, ser negada e, por sua vez, ser destruída. E, como fruto desta negação da negação, temos outra vez o grão de cevada inicial, mas já não sozinho, porém ao lado de dez, vinte, trinta grãos.”[5]

Engels não se deu conta de que estava apenas brincando com as palavras. Aplicar a terminologia da lógica aos fenômenos da realidade é um passatempo desnecessário. As proposições que se referem a fenômenos, eventos e fatos podem ser confirmadas ou negadas, porém os próprios fenômenos, eventos e fatos não o podem. No entanto, se alguém estiver comprometido com este tipo inadequado e logicamente perverso de linguagem metafórica, não é menos sensato chamar a borboleta de afirmação do ovo do que chamá-la de negação dele; pois não seria o surgimento da borboleta a autoafirmação do ovo, o amadurecimento de seu propósito inerente, o aperfeiçoamento de sua existência meramente passageira, a realização de todas as suas potencialidades? O método de Engels consistia em substituir o termo “mudança” pelo termo “negação”. Não há, no entanto, necessidade de se demorar mais na falácia de se integrar a dialética hegeliana com uma filosofia que não endossa o princípio fundamental de Hegel, a identidade da lógica e da ontologia, e não rejeita radicalmente a ideia de que algo possa ser aprendido a partir da experiência; pois, na realidade, a dialética tem um papel apenas ornamental nas construções de Marx e Engels, sem influenciar significativamente o curso do raciocínio.[6]

 

2. As Forças Materiais Produtivas

 

O conceito essencial do materialismo marxista é o das “forças materiais produtivas da sociedade”. Estas forças são o poder impulsor responsável por produzir todas as mudanças e fatos históricos. Na produção social de sua subsistência, os homens estabelecem certas relações — relações de produção — que são necessárias e independentes de suas vontades, e correspondem ao estágio predominante do desenvolvimento das forças materiais produtivas. O total destas relações de produção forma “a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura política e jurídica e às quais correspondem formas específicas de consciência social”. O modo de produção da vida condiciona o processo social, político e espiritual (intelectual) da vida em geral (em cada uma de suas manifestações). Não é a consciência (ideias e pensamentos) dos homens que determina o seu ser (existência), mas, pelo contrário, é a sua existência social que determina a sua consciência. Numa determinada etapa de seu desenvolvimento as forças materiais produtivas da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes, ou — o que para eles é apenas uma expressão jurídica — com as relações de propriedade (o sistema social das leis de propriedade) em cuja estrutura elas vinham até então operando. Estas relações deixaram de ser formas de desenvolvimento das forças produtivas e tornaram-se seus grilhões. Inicia-se então um período de revolução social. Com a mudança na fundação econômica toda a imensa superestrutura se transforma,[7]lenta ou rapidamente. Ao analisar esta transformação,[8] deve-se sempre distinguir entre a transformação[9]material das condições econômicas de produção, que podem ser determinadas com precisão através dos métodos das ciências naturais, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas[10] ou filosóficas — em suma, ideológicas — através das quais os homens se tornam conscientes deste conflito e o combatem. Este período de transformação não pode ser julgado de acordo com sua própria consciência mais do que um indivíduo pode ser julgado a partir daquilo que ele próprio imagina ser; deve-se, em vez disso, explicar esta consciência a partir das contradições da vida material, do conflito existente entre as forças produtivas sociais e as relações de produção. Nenhuma formação social desaparece antes que tenham sido desenvolvidas forças produtivas suficientes para preencher toda a amplitude de sua estrutura, e relações de produção novas e superiores nunca aparecem antes que as condições materiais para a sua existência tenham sido incubadas no útero da sociedade antiga.

Logo, a humanidade nunca impõe a si mesmo tarefas que ela não consiga resolver, pois a observação atenta sempre descobrirá que a própria tarefa somente surge onde as condições materiais para a sua solução já estão presentes ou pelo menos em processo de formação.[11]

O fato mais notável a respeito dessa doutrina é que ela não fornece uma definição do seu conceito básico, o das forças materiais produtivas. Marx nunca nos contou o que ele tinha em mente quando se referiu às forças materiais produtivas. Temos que deduzir a partir de exemplificações históricas de sua doutrina. O mais eloquente destes exemplos incidentais pode ser encontrado em seu livro A Pobreza da Filosofia, publicado em francês em 1847. Lá, pode-se ler: o moinho mecânico vos dará a sociedade feudal, o moinho a vapor o capitalismo industrial.[12] Isto significa que o estado do conhecimento tecnológico prático ou a qualidade tecnológica das ferramentas e máquinas utilizadas na produção deve ser considerado uma característica essencial das forças materiais produtivas, que determinam singularmente as relações de produção e, por consequência, toda a “superestrutura”. A técnica de produção é a coisa real, o ser material que determina, no fim das contas, as manifestações sociais, políticas e intelectuais da vida humana. Esta interpretação é totalmente confirmada por todos os outros exemplos fornecidos por Marx e Engels e pela resposta que cada avanço tecnológico despertava em suas mentes. Eles recebiam-nos entusiasticamente, porque estavam convencidos de que cada uma destas novas invenções os levava para mais perto da realização de suas esperanças, a chegada do socialismo.[13]

Existiram, antes e depois de Marx, diversos historiadores e filósofos que enfatizaram o papel de destaque que a melhoria dos métodos tecnológicos de produção teve na história da civilização. Uma olhada nos livros-texto populares de história publicados nos últimos cento e cinquenta anos mostra que seus autores enfatizaram regularmente a importância das novas invenções e das mudanças pelas quais elas foram responsáveis. Eles jamais contestaram o truísmo de que o bem-estar material é a condição indispensável para as façanhas artísticas, intelectuais e morais de uma nação.

O que Marx diz, no entanto, é totalmente diferente. Em sua doutrina, as ferramentas e máquinas são o fator principal – um fator material, a saber: as forças materiais produtivas. Todo o resto é a superestrutura necessária para esta base material. A esta tese fundamental podem ser levantadas três objeções irrefutáveis.

Primeiro, uma invenção tecnológica não é algo material. É o fruto de um processo mental, do raciocínio e da concepção de novas ideias. As ferramentas e máquinas podem ser chamadas de materiais, porém o funcionamento da mente que as criou certamente é espiritual. O materialismo marxista não busca a origem dos fenômenos “superestruturais” e “ideológicos” em suas raízes “materiais”. Ele explica estes fenômenos como sendo causados por um processo essencialmente mental: a invenção, e atribui a este processo mental — que ele descreve, erroneamente, como um fato material original, fornecido pela natureza — o poder exclusivo de gerar todos os outros fenômenos sociais e intelectuais. Ele não tenta, no entanto, explicar como ocorrem as invenções.

Segundo, apenas inventar e projetar implementos tecnologicamente novos não é suficiente para produzi-los. O que é necessário, além do planejamento e conhecimento tecnológico, é um capital acumulado anteriormente através da poupança. Cada passo dado no caminho rumo à melhoria tecnológica pressupõe o capital necessário. As nações chamadas hoje em dia de subdesenvolvidas sabem o que é necessário para melhorar o seu aparato atrasado de produção. Os projetos para a construção de todas as máquinas que eles querem adquirir estão prontos ou poderiam ser terminados num espaço muito curto de tempo. É apenas a falta de capital que os impede. As relações de produção, portanto, não são fruto das forças materiais produtivas mas, pelo contrário, são uma condição indispensável para que estas venham a existir.

Marx, obviamente, não tinha como não admitir que o acúmulo de capital é “uma das condições mais indispensáveis para a evolução da produção industrial”.[14] Parte de seu imenso tratado, Das Kapital, apresenta uma história — totalmente distorcida — do acúmulo de capital. Mas assim que ele chega à sua doutrina do materialismo, ele se esquece de tudo o que falou até então sobre o assunto; as máquinas e ferramentas parecem ter sido criadas por geração espontânea.

Além disso, deve-se lembrar que a utilização de máquinas pressupõe a cooperação social através de uma divisão de trabalho. Nenhuma máquina pode ser construída e utilizada sob condições nas quais não haja qualquer tipo de divisão de trabalho ou apenas um estágio rudimentar dela. Divisão do trabalho significa cooperação social, isto é, laços sociais entre os homens, sociedade. Como, então, é possível explicar a existência da sociedade examinando sua origem a partir das forças materiais produtivas se elas próprias só podem surgir dentro do esquema de um nexo social pré-existente? Marx não conseguia compreender este problema. Ele acusou Proudhon, que tinha descrito a utilização de máquinas como consequência da divisão de trabalho, de ignorar a história. É uma distorção factual, ele gritava, começar com a divisão de trabalho e lidar com as máquinas posteriormente; pois as máquinas são “uma força produtiva”, não uma “relação de produção social”, não uma “categoria econômica”.[15] Aqui nos deparamos com um dogmatismo teimoso que não recua diante de absurdo algum. Podemos resumir a doutrina marxista desta maneira: no início havia as “forças materiais produtivas”, isto é, o equipamento tecnológico dos esforços produtivos humanos, as ferramentas e máquinas. Não é lícito perguntar qualquer coisa a respeito de sua origem; elas existem, e isso basta. Devemos pressupor que elas caíram do céu. Estas forças materiais produtivas forçam os homens a fazer parte de relações de produção específicas que são independentes de suas vontades; e estas relações de produção determinam posteriormente tanto a superestrutura política e jurídica da sociedade quanto todas as ideias religiosas, artísticas e filosóficas.

 

3. A Luta de Classes

 

Como será mostrado mais adiante, qualquer filosofia da história deve demonstrar o mecanismo através do qual a autoridade suprema que guia o curso de todos os assuntos humanos induz os indivíduos a seguir os passos exatos necessários para levar a humanidade até a meta buscada. No sistema de Marx, a doutrina da luta de classes foi projetada para responder a essa pergunta.

A fraqueza inerente a esta doutrina está no fato de que ela lida com classes, e não com indivíduos. O que deve ser mostrado é como os indivíduos são induzidos a agir de tal modo que a humanidade consiga, por fim, atingir o ponto que as forças produtivas querem que elas atinjam. Marx responde que a consciência dos interesses de sua classe determina a conduta dos indivíduos. Ainda falta explicar por que os indivíduos dão preferência aos interesses de suas classes do que aos seus próprios interesses. Podemos, por ora, nos abster de perguntar como o indivíduo fica sabendo quais são os interesses genuínos de sua classe. Mas até mesmo Marx não podia deixar de admitir que existe um conflito entre os interesses de um indivíduo e os da classe à qual ele pertence.[16] Ele distingue entre os proletários aqueles que têm consciência de classe, isto é, colocam os interesses de sua classe acima de seus interesses individuais, e aqueles que não têm. Ele considera despertar a consciência de classe nos proletários que não a têm, espontaneamente, um dos objetivos de um partido socialista.

Marx ofuscou o problema ao confundir as noções de casta e classe. Onde quer que prevaleçam as diferenças de estratos e castas, todos os membros de todas as castas, com a exceção dos mais privilegiados, têm apenas um interesse em comum: eliminar as deficiências legais de sua própria casta. Todos os escravos, por exemplo, estavam unidos no interesse em abolir a escravidão. No entanto, conflitos deste gênero não estão presentes numa sociedade na qual todos os cidadãos são iguais perante a lei. Nenhuma objeção lógica pode ser feita contra a distinção de diversas classes entre os membros de uma sociedade assim. Qualquer classificação é possível, em termos lógicos, por mais arbitrário que seja o critério de distinção escolhido. É absurdo, entretanto, classificar os membros de uma sociedade capitalista de acordo com sua posição na estrutura da divisão social de trabalho e então identificar estas classes com as castas de uma sociedade estratificada.

Numa sociedade estratificada o indivíduo herda a sua condição de membro de uma casta de seus pais, permanece durante toda sua vida naquela casta, e seus filhos nascem pertencendo a ela. Apenas em casos muito excepcionais um homem pode, através da sorte, ser elevado a uma casta superior; pois para a imensa maioria o nascimento determina de modo inalterável a sua posição na vida. As classes que Marx distingue na sociedade capitalista são diferentes. Seus membros não são fixos; a afiliação a uma classe não é hereditária. Cada indivíduo é atribuído a uma determinada classe através de um plebiscito repetido diariamente, por assim dizer, realizado com todas as pessoas. O público, ao comprar e gastar, determina quem deve ser o proprietário e gerir as fábricas, quem deve desempenhar os papéis nas performances teatrais, quem deve trabalhar nas fábricas e nas minas. Os ricos se tornam pobres, e os pobres se tornam ricos. Os herdeiros, assim como aqueles que adquiriram riquezas por conta própria, devem tentar se manter, defendendo seus bens contra a competição de firmas já estabelecidas e recém-chegados ambiciosos. Numa economia de mercado onde não existam obstáculos, não existem privilégios, proteções de interesses estabelecidos e barreiras que impeçam qualquer um de lutar por qualquer recompensa. O acesso a qualquer uma das classes marxistas é livre para todos. Os membros de cada uma dessas classes competem entre si; eles não estão unidos por um interesse de classe comum e não se opõem aos membros de outras classes aliando-se aos seus semelhantes em defesa de um privilégio comum que aqueles que foram lesados por ele querem ver abolido, ou para tentar abolir uma deficiência institucional que aqueles que obtêm dessa deficiência algum tipo de vantagem querem ver preservada.

Os liberais do laissez-faire afirmaram: se as antigas leis que estabeleceram privilégios e deficiências estratificantes forem revogadas e nenhumas novas práticas semelhantes — como tarifas, subsídios, taxação discriminatória, indulgências concedidas para agências não-governamentais como igrejas, sindicatos, e assim por diante, para utilizarem-se da coerção e da intimidação — forem introduzidas, haverá igualdade de todos os cidadãos perante a lei. Ninguém terá suas aspirações e ambições obstruídas por quaisquer obstáculos legais. Todos são livres para competir por qualquer função ou posição social para as quais suas capacidades pessoais o qualificarem.

Os comunistas negaram que a sociedade capitalista, tal como organizada de acordo com o sistema liberal de igualdade perante a lei, esteja funcionando desta maneira. Em seu ponto de vista, a propriedade privada dos meios de produção transfere aos proprietários — os burgueses ou capitalistas, na terminologia de Marx — um privilégio que é virtualmente o mesmo que era concedido antigamente aos senhores feudais. A “revolução burguesa” não aboliu os privilégios e a discriminação contra as massas; segundo o marxista, ela apenas substituiu a antiga classe dominante e exploradora de nobres por uma nova classe dominante e exploradora, a burguesia. A classe explorada, os proletários, não se beneficiou com esta reforma. Eles mudaram de senhores, porém continuam oprimidos e explorados. O que é necessário é uma revolução nova e derradeira, na qual a abolição da propriedade privada dos meios de produção estabelecerá uma sociedade sem classes.

Esta doutrina socialista ou comunista não leva em conta a diferença essencial entre as condições de uma sociedade estratificada ou de castas e as de uma sociedade capitalista. A propriedade feudal surge ou através da conquista ou através da doação por parte de um conquistador. Ela deixa de existir ou através da revogação de uma doação ou através de uma conquista feita por um conquistador mais poderoso. Era propriedade “pela graça de Deus”, pois acabava sendo derivada de uma vitória militar, na qual a humildade ou a arrogância dos príncipes atribuíam a uma intervenção especial divina. Os donos da propriedade feudal não dependiam do mercado, não serviam aos consumidores; no escopo de seus direitos de propriedade eram, de fato, senhores. Mas algo totalmente diferente ocorre com os capitalistas e empreendedores de uma economia de mercado. Eles adquirem e expandem sua propriedade através dos serviços que prestam aos consumidores, e apenas conseguem mantê-la ao servir diariamente, da melhor maneira possível. Esta diferença não pode ser erradicada ao se chamar, metaforicamente, um fabricante bem-sucedido de espaguete de “rei do espaguete”.

Marx nunca se aventurou na vã tarefa de refutar a descrição feita pelos economistas do funcionamento da economia de mercado. Em vez disso, ele ansiava por mostrar que o capitalismo, no futuro, deverá levar a condições muito insatisfatórias. Ele se incumbiu de demonstrar que o funcionamento do capitalismo resulta inevitavelmente na concentração de riqueza nas mãos de um número cada vez menor de capitalistas, por um lado, e no empobrecimento progressivo da imensa maioria, por outro. Ao executar esta tarefa, ele começou a partir da espúria lei de ferro dos salários, de acordo com a qual a taxa média dos salários é aquela quantidade de meios de subsistência absolutamente necessária para permitir ao trabalhador uma subsistência mínima e que lhe permita criar seus descendentes.[17] Esta suposta lei desde então foi desacreditada, e até mesmo os marxistas mais parciais a abandonaram. Porém mesmo que se esteja preparado, para efeitos de argumentação, a se afirmar que ela seja correta, é óbvio que de maneira alguma ela pode servir como base para uma demonstração de que a evolução do capitalismo leva a um empobrecimento progressivo dos trabalhadores assalariados. Se as taxas salariais no capitalismo forem sempre tão baixas que, por motivos fisiológicos, elas não possam ser mais reduzidas sem que toda a classe de trabalhadores assalariados seja varrida do mapa, é impossível sustentar a tese do Manifesto Comunista de que o trabalhador “afunda cada vez mais” à medida que a indústria progride. Como todos os outros argumentos de Marx, esta demonstração é contraditória e autodestrutiva. Marx se gabava de ter descoberto as leis inerentes à evolução capitalista. A mais importante destas leis, segundo ele, era a lei do empobrecimento progressivo das massas assalariadas. Seria o funcionamento desta lei que provocaria o colapso final do capitalismo e a ascensão do socialismo.[18] Quando se constata que esta lei é espúria, removem-se os alicerces tanto do sistema econômico de Marx quanto de sua teoria da evolução capitalista.

Incidentalmente, temos que estabelecer o fato de que nos países capitalistas o padrão de vida dos trabalhadores assalariados melhorou de uma maneira impensável e sem precedentes desde a publicação doManifesto Comunista e do primeiro volume de Das Kapital. Marx conseguiu deturpar todos os aspectos do funcionamento do sistema capitalista.

O corolário do suposto empobrecimento progressivo dos trabalhadores assalariados é a concentração de todas as riquezas nas mãos de uma classe de exploradores capitalistas cujo número está continuamente sendo diminuído. Ao lidar com esta questão, Marx não levou em conta o fato de que a evolução das grandes unidades empresariais não envolve necessariamente a concentração de riqueza em poucas mãos. As grandes empresas são, quase sem exceção, corporações, exatamente porque elas são grandes demais para que um indivíduo seja o seu único proprietário. O crescimento das unidades empresariais ultrapassou em muito o crescimento das fortunas individuais. Os bens de uma corporação não equivalem à riqueza dos seus acionistas. Uma parte considerável destes bens, o equivalente aos títulos e ações preferenciais emitidos e empréstimos concedidos, pertence virtualmente – se não no sentido do conceito legal de propriedade — a outras pessoas, a saber, os proprietários dos títulos e das ações preferenciais e os credores. Quando estes títulos estão em posse de bancos de poupança e companhias de seguros, e estes empréstimos foram concedidos por estes bancos e companhias, os proprietários virtuais são as pessoas que têm obrigações a seu favor. Do mesmo modo, as ações comuns de uma corporação não estão concentradas, via de regra, nas mãos de um só homem. Geralmente, quanto maior a corporação, mais distribuídas estarão suas ações.

O capitalismo é, essencialmente, produção em massa para satisfazer às necessidades das massas. Marx, no entanto, sempre trabalhou partindo do conceito equivocado de que os trabalhadores estão labutando apenas para o benefício de uma classe alta de parasitas ociosos. Ele não se deu conta que os próprios trabalhadores consomem, de longe, a maior parte de todos os bens de consumo produzidos. Os milionários consomem uma parte praticamente desprezível daquilo que é chamado de produto nacional. Todos os ramos das grandes empresas servem direta ou indiretamente às necessidades do homem comum. As indústrias que fabricam produtos de luxo nunca se desenvolvem a ponto de serem mais que empresas de pequeno ou médio porte. A evolução das grandes empresas é, por si só, prova de que os principais consumidores são as massas, e não os nababos. Aqueles que lidam com o fenômeno das grandes empresas sob o prisma da “concentração de poder econômico” não conseguem perceber que o poder econômico está nas mãos do público consumidor, de cuja clientela depende a prosperidade das fábricas. Em sua qualidade de comprador, o trabalhador assalariado é o cliente que está “sempre certo”. Mas Marx declara que a burguesia não pode “assegurar a existência de seu escravo, mesmo no quadro de sua escravidão”.

Marx deduziu a excelência do socialismo a partir do fato de que a força motriz da evolução histórica, as forças materiais produtivas, levaria inevitavelmente ao socialismo. Como ele estava tomado pela variante hegeliana do otimismo, não havia em sua mente qualquer necessidade de se demonstrar os méritos do socialismo; era óbvio, para ele, que o socialismo, ao representar um estágio histórico posterior ao capitalismo, também era um estágio melhor.[19] Seria pura blasfêmia duvidar de seus méritos.

O que ainda precisava ser mostrado era o mecanismo através do qual a natureza faria a transição do capitalismo para o socialismo. O instrumento da natureza é a luta de classes. À medida que os trabalhadores se afundam cada vez mais, com o progresso do capitalismo, à medida que sua miséria, sua opressão, sua escravidão e sua degradação aumentam, eles são levados a se revoltar, e esta sua revolta estabeleceria o socialismo.

Toda esta cadeia de raciocínio é implodida pelo fato de que o progresso do capitalismo não empobrece cada vez mais os trabalhadores assalariados mas, pelo contrário, melhora o seu padrão de vida. Por que as massas seriam inevitavelmente levadas a se revoltar quando  podem obter alimentos, casas, roupas, carros, geladeiras, rádios, televisores, nylon e outros produtos sintéticos, em maior quantidade e de melhor qualidade? Ainda que, para efeitos de argumentação, admitíssemos que os trabalhadores fossem levados a se revoltar, por que o seu ímpeto revolucionário teria como meta apenas o estabelecimento do socialismo? O único motivo que lhes motivaria a clamar pelo socialismo seria a convicção de que eles próprios estariam numa situação melhor sob o socialismo do que sob o capitalismo. Os marxistas, no entanto, na ânsia de evitar ter que lidar com os problemas econômicos de uma comunidade socialista, nada fizeram para demonstrar a superioridade do socialismo sobre o capitalismo, além do raciocínio circular que diz o seguinte: o socialismo está fadado a chegar, como a próxima etapa da evolução histórica. Na qualidade de estágio histórico posterior ao capitalismo, ele é necessariamente superior e melhor que o capitalismo. Por que ele está fadado a chegar? Porque os trabalhadores, condenados ao empobrecimento progressivo sob o capitalismo, se revoltarão e implementarão o socialismo. Mas que outro motivo poderá impeli-los a ter como meta a implementação do socialismo, além da convicção de que o socialismo é melhor que o capitalismo? E esta preeminência do socialismo é deduzida por Marx do fato de que a vinda do socialismo é inevitável. O círculo está fechado.

No contexto da doutrina marxista, a superioridade do socialismo é provada pelo fato de que os proletários têm como meta o socialismo. O que os filósofos, os utopistas, pensam, não deve ser levado em conta. O que importa são as ideias dos proletários, a classe a quem a história confiou a tarefa de moldar o futuro.

A verdade é que o conceito de socialismo não se originou da “mente proletária”. Nenhum proletário ou filho de proletário contribuiu com qualquer ideia significativa para a ideologia socialista. Os pais intelectuais do socialismo foram membros da intelligentsia, descendentes da “burguesia”. O próprio Marx era filho de um advogado próspero. Frequentou um Gymnasium alemão, um tipo de instituição escolar que todos os marxistas e outros socialistas denunciaram como principal ramificação do sistema burguês de educação, e sua família o sustentou durante todos os seus anos de estudo; ele não trabalhou enquanto cursava a universidade. Casou-se com a filha de um membro da nobreza alemã; seu cunhado era ministro do interior da Prússia e, como tal, chefe da polícia prussiana. Teve uma empregada, Helene Demuth, que nunca se casou e que seguiu a família Marx em todas as suas diferentes residências, o modelo perfeito da criada explorada cuja frustração e vida sexual atrofiada foram retratados inúmeras vezes nos romances “sociais” alemães. O pai de Friedrich Engels era um rico industrial, assim como ele próprio; Engels recusou-se a se casar com sua amante, Ary, porque ela não tinha educação e tinha uma origem “inferior”;[20] desfrutava das diversões da nobreza britânica, tais como a caçada a cavalo.

Os trabalhadores nunca se entusiasmaram com o socialismo. Eles apoiavam o movimento sindical que lutava por salários mais altos, e que Marx desprezava por julgar inútil.[21] Eles clamavam por todas aquelas medidas de interferência governamental que Marx chamava de bobagens pequeno-burguesas. Opunham-se às melhorias tecnológicas, no início destruindo as novas máquinas, e, posteriormente, através da pressão dos sindicatos a favor do feather-bedding. O sindicalismo — a apropriação das empresas pelos trabalhadores que nelas trabalham — é um programa que os trabalhadores desenvolveram espontaneamente. O socialismo, no entanto, foi levado às massas por intelectuais de origem burguesa. Comendo e bebendo nas casas de Londres e nas mansões do campo da “sociedade” vitoriana tardia, damas e cavalheiros trajando roupas sociais da última moda bolavam esquemas para converter o proletariado britânico ao credo socialista.

 

4. A Impregnação Ideológica do Pensamento

 

A partir do conflito supostamente irreconciliável de interesses de classe Marx deduz a sua doutrina da impregnação ideológica do pensamento. Numa sociedade de classes o homem é inerentemente incapaz de conceber teorias que sejam uma descrição significativamente verdadeira da realidade. Como a classe à qual ele pertence, seu ser social, determinam seus pensamentos, os frutos de seu esforço intelectual estão manchados e distorcidos, intelectualmente. Não são verdades, mas ideologias. Uma ideologia no sentido marxista do termo é uma doutrina falsa que, no entanto, exatamente por sua falsidade, serve aos interesses da classe de onde se origina o seu autor.

Podemos omitir aqui os diversos aspectos desta doutrina da ideologia. Não precisamos refutar novamente a doutrina do polilogismo, segundo a qual a estrutura lógica da mente é diferente nos membros das diferentes classes.[22] Poderíamos, ademais, admitir que a principal preocupação de um pensador seja unicamente promover os interesses de sua classe, ainda que eles entrem em conflito com os seus interesses enquanto indivíduo. Poderíamos até mesmo nos abster de questionar o dogma de que não existe uma procura imparcial pela verdade e pelo conhecimento, e que toda investigação humana é guiada exclusivamente pelo propósito prático de fornecer ferramentas mentais para uma ação bem-sucedida. A doutrina da ideologia continuaria a ser insustentável, mesmo se todas as objeções irrefutáveis que podem surgir do ponto de vista destes três aspectos pudessem ser rejeitadas.

O que quer que se pense acerca da adequação da definição pragmática de verdade, é óbvio que pelo menos um dos traços característicos de uma teoria verdadeira é que uma ação baseada nela obtém sucesso ao atingir o resultado esperado. Neste sentido a verdade funciona, enquanto a inverdade não. E exatamente se presumirmos, como preconizam os marxistas, que a finalidade da atividade teórica é sempre o sucesso de uma ação, deve-se perguntar por quê e como uma teoria ideológica (isto é, uma teoria falsa, no sentido marxista) deveria ser mais útil a uma classe do que uma teoria correta? Não há dúvida de que o estudo da mecânica foi motivado, pelo menos até certo ponto, por considerações práticas. As pessoas queriam utilizar os teoremas da mecânica para resolver diversos problemas de engenharia. Foi exatamente a busca por estes resultados práticos que fez com que eles procurassem uma ciência correta, e não meramente ideológica (falsa), da mecânica. Não importa o prisma através do qual se enxergue o assunto, não é possível que uma teoria falsa possa ter mais utilidade a um homem ou uma classe ou a toda a humanidade do que uma teoria correta. Como Marx chegou a ensinar esta doutrina?

Para responder a esta pergunta devemos nos lembrar do motivo que impeliu Marx a todas as suas empreitadas literárias. Ele foi movido por uma paixão — lutar pela adoção do socialismo. Mas ele estava plenamente consciente de sua incapacidade de apresentar qualquer objeção convincente às críticas devastadoras dos economistas a todos os projetos socialistas. Ele estava convencido de que o sistema de doutrina econômica desenvolvido pelos economistas clássicos era inexpugnável, e continuou ignorando as sérias dúvidas que alguns teoremas essenciais deste sistema já haviam suscitado em algumas mentes. Assim como o seu contemporâneo John Stuart Mill, ele acreditava que “não há nada nas leis de valor que ainda precise ser esclarecido por algum autor presente ou futuro; a teoria deste assunto está completa.”[23]Quando, em 1871, os escritos de Carl Menger e William Stanley Jevons inauguraram uma nova era nos estudos econômicos, a carreira de Marx como escritor sobre problemas econômicos já estava virtualmente terminada. O primeiro volume de Das Kapital havia sido publicado em 1867; o manuscrito dos volumes seguintes estava bastante avançado. Não há indicação de que Marx tenha chegado a compreender o significado da nova teoria. Os ensinamentos econômicos de Marx são, essencialmente, uma versão requentada e deturpada das teorias de Adam Smith e, principalmente, de Ricardo. Smith e Ricardo não tiveram qualquer oportunidade de refutar as doutrinas socialistas, já que elas foram aventadas apenas após suas mortes. Marx, portanto, deixou-os em paz. Mas ele expressou toda a sua indignação contra seus sucessores, que tentaram analisar o projeto socialista de maneira crítica. Ele os ridicularizou, chamando-os de “economistas vulgares” e “sicofantas da burguesia”. E, como para ele era um imperativo difamá-los, ele projetou o seu esquema ideológico.

Estes “economistas vulgares” são, devido à sua origem burguesa, incapazes, constitucionalmente, de descobrir a verdade. Tudo o que seu raciocínio produzir só poderá ser ideológico, isto é, de acordo com o uso que Marx fazia do termo “ideologia”, uma distorção da verdade a serviço dos interesses de classe da burguesia. Não há necessidade de refutar a sua cadeia de argumentação através do raciocínio discursivo e da análise crítica; basta desmascarar sua origem burguesa e, por consequência, o caráter necessariamente “ideológico” de suas doutrinas. Eles estão errados porque são burgueses. Nenhum proletário deve dar qualquer importância às suas especulações.

Para esconder o fato de que este esquema foi claramente inventado para desacreditar os economistas, foi necessário elevá-lo à dignidade de uma lei epistemológica geral, válida por todos os tempos e para todos os ramos do conhecimento. Assim, a doutrina da ideologia se tornou o núcleo da epistemologia marxista. Marx e todos os seus discípulos concentraram seus esforços na justificativa e exemplificação deste conceito improvisado. Eles não recuaram diante de absurdo algum; interpretaram todos os sistemas filosóficos, todas as teorias físicas e biológicas, toda a literatura, música e arte a partir do ponto de vista “ideológico”. Porém, claro, não foram suficientemente consistentes para atribuir às suas próprias doutrinas um caráter meramente ideológico. Os princípios marxistas, segundo eles, não são ideologias. São um antegosto do conhecimento da futura sociedade sem classes que, livre dos grilhões dos conflitos de classe, estará numa posição que lhe permitirá conceber o conhecimento puro, livre das máculas ideológicas.

Desta maneira podemos compreender os motivos timológicos que levaram Marx à sua doutrina da ideologia. No entanto, isto não responde a seguinte pergunta: por que uma distorção ideológica da verdade seria mais vantajosa para os interesses de uma classe que uma doutrina correta? Marx nunca tentou explicar isso, provavelmente sabendo que qualquer tentativa o deixaria preso num emaranhado inextricável de absurdos e contradições.

Não é necessário enfatizar o ridículo da afirmação de que uma doutrina ideológica física, química ou terapêutica pode ser mais vantajosa para qualquer classe ou indivíduo do que uma doutrina correta. Pode-se ignorar solenemente as declarações dos marxistas a respeito do caráter ideológico das teorias desenvolvidas por burgueses como Mendel, Hertz, Planck, Heisenberg e Einstein; já é suficiente examinar atentamente o suposto caráter ideológico da economia burguesa.

No ponto de vista de Marx, a origem burguesa dos economistas clássicos impeliu-os a desenvolver um sistema a partir do qual se seguia logicamente uma justificativa para as reivindicações injustas dos exploradores capitalistas. (Neste ponto ele se contradiz, já que extraiu justamente do mesmo sistema as conclusões opostas.) Estes teoremas dos economistas clássicos, dos quais a aparente justificativa para o capitalismo podia ser deduzida, foram os teoremas que Marx atacou com mais furor: que a escassez dos fatores materiais de produção, dos quais o bem-estar do homem depende, é uma condição inevitável e natural da existência humana; que nenhum sistema de organização econômica da sociedade pode criar um estado de abundância no qual todos possam receber de acordo com suas necessidades; que a recorrência de períodos de depressões econômicas não é inerente ao próprio funcionamento de uma economia de mercado sem obstáculos, mas, ao contrário, é o resultado necessário da interferência do governo nos negócios com o propósito espúrio de baixar as taxas de juros e estimular um boom econômico através da inflação e da expansão de crédito. Mas, devemos nos perguntar, que serventia teria para os capitalistas esta justificativa do capitalismo, de acordo com o ponto de vista marxista? Eles próprios não precisavam de qualquer justificativa para um sistema que — de acordo com Marx — embora prejudicasse os trabalhadores, beneficiava a eles próprios. Eles não precisavam aplacar suas próprias consciências já que, mais uma vez de acordo com Marx, toda classe abre mão de seus escrúpulos quando se trata da busca por seus próprios interesses egoístas de classe.

Tampouco é lícito presumir, do ponto de vista da doutrina marxista, que o serviço que a teoria ideológica – que se originou de uma “consciência falsa” e, portanto, distorce o verdadeiro estado das coisas — prestou à classe exploradora foi o de enganar a classe explorada e torná-la maleável e subserviente, podendo assim preservar ou, pelo menos, prolongar o sistema injusto de exploração; pois, de acordo com Marx, a duração de um sistema definido de relações de produção não depende de qualquer fator espiritual. Ele é determinado exclusivamente pelo estado das forças materiais produtivas. Se as forças materiais produtivas forem alteradas, as relações de produção (isto é, as relações de propriedade) e toda a superestrutura ideológica também serão alteradas. E esta transformação não pode ser acelerada por qualquer esforço humano; pois, como disse Marx, “nenhuma formação social desaparece antes que todas as forças produtivas tenham sido suficientemente desenvolvidas, e relações de produção novas e superiores nunca aparecem antes que as condições materiais para a sua existência tenham sido incubadas no útero da sociedade antiga”.[24]

Esta não é, de modo algum, uma observação incidental de Marx. É um dos pontos essenciais de sua doutrina. É o teorema sobre o qual ele fundamentou sua pretensão de denominar sua própria doutrina de socialismo científico, para distingui-la do socialismo meramente utópico de seus antecessores. O traço característico dos socialistas utópicos, segundo seu ponto de vista, era que eles acreditavam que a realização do socialismo dependia de fatores espirituais e intelectuais. Você teria que convencer as pessoas de que o socialismo é melhor que o capitalismo e então eles substituirão o socialismo pelo capitalismo. Aos olhos de Marx este credo utópico era absurdo. A chegada do socialismo não dependia de maneira alguma dos pensamentos ou da vontade dos homens; ela é uma consequência do desenvolvimento das forças materiais produtivas. No devido tempo, quando o capitalismo tiver atingido a sua maturidade, o socialismo chegará. Ele não pode surgir nem antes nem depois. O burguês poderá elaborar as ideologias mais inteligentes — em vão; eles não poderão adiar o dia do colapso do capitalismo.

Talvez algumas pessoas, visando salvar o conceito marxista de “ideologia”, possam argumentar da seguinte maneira: os capitalistas têm vergonha de seu papel na sociedade. Eles se sentem culpados por ser “barões ladrões, usurários e exploradores”, e por embolsar os lucros. Precisam de uma ideologia de classe para recuperar sua autoafirmação. Mas por que deveriam se ruborizar? Do ponto de vista da doutrina marxista, não há nada em sua conduta do qual deveriam se envergonhar. O capitalismo, segundo a visão marxista, é um estágio indispensável na evolução histórica da humanidade. É uma ligação necessária na sequência de eventos que resulta, ao fim, no êxtase do socialismo. Os capitalistas, ao serem capitalistas, são meras ferramentas da história; executam aquilo que deve ser feito, de acordo com o plano determinado para a evolução da humanidade. Obedecem às leis eternas que são independentes da vontade humana; não podem evitar agir da maneira com que agem. Não precisam de qualquer ideologia, de qualquer “consciência falsa”, para lhes dizer que estão certos; estão certos à luz da doutrina marxista. Se Marx fosse consistente, teria exortado desta maneira os trabalhadores: não culpem os capitalistas; ao “explorar” vocês, eles estão fazendo o que é melhor para vocês mesmos; estão abrindo o caminho para o socialismo.

Não importa como se examine a questão, é impossível descobrir algum motivo pelo qual uma distorção ideológica da verdade seria mais útil para a burguesia do que uma teoria correta.

 

5. O Conflito de Ideologias

 

A consciência de classe, segundo Marx, produz ideologias de classe. A ideologia de classe fornece à classe uma interpretação da realidade e, ao mesmo tempo, ensina a seus membros como agir de modo a beneficiar esta classe. O conteúdo da ideologia de classe é determinado exclusivamente pelo estágio histórico do desenvolvimento das forças materiais produtivas e pelo papel que a classe em questão desempenha neste estágio da história. A ideologia não é uma invenção arbitrária do cérebro; ela é o reflexo da condição material da classe do pensador tal como ela é refletida em sua cabeça. Não é, portanto, um fenômeno individual que depende dos caprichos do pensador. Ela é imposta à mente pela realidade, isto é, pela situação de classe do homem que pensa. Por consequência, é idêntica à de todos os outros membros da mesma classe. Obviamente, nem todo companheiro de classe é um escritor e publica aquilo que pensou. Mas todos os escritores que pertencem à mesma classe pensam as mesmas ideias e todos os outros membros da classe as aprovam. Não há espaço no marxismo para a presunção de que os diversos membros de uma mesma classe possam ter sérias discordâncias ideológicas; para todos os membros de uma mesma classe existe apenas uma ideologia.

Se um homem exprimir opiniões discordantes com a ideologia de uma classe específica, isto significa que ele não pertence a esta determinada classe. Não é necessário refutar suas ideias através do raciocínio discursivo; basta desmascarar sua origem e sua afiliação de classe. Isto resolve a questão.

Mas se um homem cuja origem proletária não possa ser contestada e que pertença indiscutivelmente à classe trabalhadora se distancie do credo marxista correto, ele é um traidor. É impossível presumir que ele seja sincero em sua rejeição ao marxismo. Como proletário, ele deve necessariamente pensar como um proletário. Uma voz interna lhe diz, de maneira inequívoca, qual é a ideologia proletária correta. Ele está sendo desonesto se ignorar esta voz e professar publicamente opiniões heterodoxas. Ele estará sendo um tratante, um Judas, uma serpente na relva. No combate a um traidor como esse, tudo é permitido.

Marx e Engels, dois homens de inquestionável origem burguesa, incubaram a ideologia de classe proletária. Nunca se atreveram a discutir sua doutrina com dissidentes como cientistas, por exemplo, discutem os prós e contras das doutrinas de Lamarck, Darwin, Mendel e Weismann. Em seu ponto de vista, seus adversários só poderiam ser idiotas burgueses[25] ou traidores proletários. Assim que um socialista se afastasse um centímetro sequer do credo ortodoxo, Marx e Engels o atacavam furiosamente, ridicularizando-o e insultando-o, representando-o como um patife e um monstro perverso e corrupto. Depois da morte de Engels o cargo de árbitro supremo do que é e o que não é o marxismo correto passou a ser ocupado por Karl Kautsky. Em 1917 ele passou para as mãos de Lenin e se tornou uma função do chefe do governo soviético. Enquanto Marx, Engels e Kautsky tinham que se contentar em assassinar a reputação de seus oponentes, Lenin e Stalin podiam assassiná-los fisicamente. Passo a passo, eles baniram aqueles que haviam sido considerados por todos os marxistas — incluindo os próprios Lenin e Stalin — os grandes defensores da causa proletária: Kautsky, Max Adler, Otto Bauer, Plechanoff, Bukharin, Trotsky, Riasanov, Radek, Sinoviev e muitos outros. Aqueles que eles conseguiram capturar foram presos, torturados e, por fim, assassinados. Apenas aqueles que tiveram a felicidade de morar em países dominados por “reacionários plutodemocráticos” sobreviveram e puderam morrer em suas camas.

Existem bons argumentos, do ponto de vista marxista, a favor de uma decisão pela maioria. Se surgir uma dúvida a respeito do conteúdo correto da ideologia proletária, as ideias sustentadas pela maioria dos proletários são consideradas as que melhor refletem a ideologia proletária genuína. Como o marxismo pressupõe que a imensa maioria das pessoas seja formada por proletários, isto seria equivalente a atribuir a competência de tomar as decisões finais em conflitos de opiniões aos parlamentos eleitos por adultos. No entanto, embora recusar-se a fazê-lo equivaleria a destruir por completo a doutrina de ideologia, nem Marx nem seus sucessores estiveram preparados para submeter suas opiniões ao voto da maioria. Ao longo de sua carreira, Marx jamais confiou no povo e alimentou uma desconfiança profunda acerca dos procedimentos parlamentares e das decisões tomadas por meio do resultado das urnas. Foi um grande entusiasta da revolução ocorrida em Paris em junho de 1848, na qual uma pequena minoria de parisienses se rebelou contra o governo, que tinha o apoio de um parlamento eleito através do sufrágio universal masculino. A Comuna de Paris da primavera de 1871, na qual os socialistas parisienses novamente combateram o regime devidamente estabelecido pela imensa maioria dos representantes do povo francês, foi ainda mais de seu agrado. Nela, ele viu realizado o seu ideal de ditadura do proletariado, a ditadura de um grupo de líderes autonomeados. Tentou então convencer os partidos marxistas de todos os países da Europa Central e Ocidental a não depositar suas esperanças nas campanhas eleitorais, mas sim nos métodos revolucionários. Neste ponto, os comunistas russos foram seus discípulos fiéis. Menos de 25% dos integrantes do parlamento russo, eleito em 1917 sob os auspícios do governo de Lenin por todos os cidadãos adultos – apesar da violência imposta sobre os eleitores pelo partido governista — eram comunistas. Três quartos da população haviam votado contra os comunistas. Lenin, no entanto, dissolveu à força o parlamento e estabeleceu firmemente o governo ditatorial de uma minoria. O chefe de estado soviético tornou-se o sumo pontífice da seita marxista; seu título para este cargo derivou a partir da derrota de seus rivais numa sangrenta guerra civil.

Como os marxistas não admitem que diferenças de opinião possam ser resolvidas através da discussão e da persuasão, ou decididas através do voto majoritário, nenhuma solução pode existir além da guerra civil. O traço característico da boa ideologia, isto é, da ideologia apropriada para os interesses de classe genuínos dos proletários, é o fato de que seus defensores foram bem-sucedidos ao conquistar e liquidar seus oponentes.

 

6. Ideias e Interesses

 

Marx pressupõe, tacitamente, que a condição social de uma classe determina de maneira exclusiva os seus interesses, e que não pode haver dúvida sobre que tipo de política serve mais adequadamente a seus interesses. A classe não tem que escolher entre diversas políticas; a situação histórica é que impõe a ela uma política específica. Não há alternativa. Por consequência, a classe não age, uma vez que agir implicaria em escolher entre diversos modos de proceder. As forças materiais produtivas atuam por intermédio dos membros da classe.

Mas Marx, Engels e todos os outros marxistas ignoraram este dogma fundamental de seu credo assim que saíram dos limites da epistemologia e começaram a comentar sobre questões políticas e históricas. Acusaram então as classes não-proletárias não só de serem hostis aos proletários, mas também criticaram suas políticas por não serem conducentes à promoção dos interesses genuínos de suas próprias classes.

O panfleto político mais importante de Marx é o seu Discurso sobre a Guerra Civil na França (1871), no qual ele ataca furiosamente o governo francês que, apoiado pela imensa maioria da nação, tencionava reprimir a rebelião da Comuna de Paris. Nele, Marx calunia de forma irresponsável todos os membros mais importantes daquele governo, chamando-os de trapaceiros, falsários e corruptos. Jules Favre, segundo ele, estaria “vivendo em concubinato com a esposa de um alcóolatra”, e o general de Gallifet estaria lucrando com a suposta prostituição de sua esposa. Em suma, o panfleto forneceu o padrão para as táticas de difamação adotadas pela imprensa socialista, as mesmas que os marxistas condenaram, indignados, como uma das piores excrescências do capitalismo, quando adotadas pelos tabloides de circulação diária. Todas estas mentiras caluniosas, no entanto, por mais que sejam repreensíveis, podem ser interpretadas como estratagemas partidários dentro de uma guerra implacável contra a civilização burguesa. Pelo menos não são incompatíveis com os princípios epistemológicos marxistas. Outra coisa, no entanto, é questionar a eficácia da política burguesa do ponto de vista dos interesses de classe da burguesia. O Discurso sustenta que a política da burguesia francesa teria desmascarado os ensinamentos essenciais de sua própria ideologia, cujo único propósito é o de “retardar a luta de classes”; a partir de então, será impossível para o domínio de classe da burguesia “esconder-se sob um uniforme nacionalista”. A partir de então, não haverá qualquer chance de paz ou armistício entre os trabalhadores e seus exploradores. A batalha será constantemente retomada, e não se pode duvidar da vitória final dos trabalhadores.[26]

Deve-se observar que essas considerações foram feitas a respeito de uma situação na qual a maioria do povo francês tinha apenas que escolher entre a rendição incondicional a uma pequena minoria de revolucionários ou combatê-los. Nem Marx, nem qualquer outra pessoa, jamais esperaria que a maioria de uma nação pudesse se render sem resistência à agressão armada por parte de uma minoria.

Ainda mais importante é o fato de que Marx, nestas considerações, atribui às políticas adotadas pela burguesia francesa uma influência decisiva no curso dos acontecimentos. Com isto, ele entra em contradição com todos os seus outros escritos. No Manifesto Comunista ele havia anunciado uma luta de classes implacável e inexorável, independente das táticas de defesa às quais a burguesia pudesse vir a recorrer. Ele havia deduzido a inevitabilidade desta luta a partir da situação de classe dos exploradores e daquela dos explorados. Não há espaço, no sistema marxista, para a suposição de que as políticas adotadas pela burguesia pudessem, de alguma forma, afetar o surgimento da luta de classes e o seu desfecho.

Se é verdade que uma classe, a burguesia francesa de 1871, estava numa posição que lhe permitia escolher entre políticas alternativas e, através de sua decisão, influenciar o curso dos acontecimentos, o mesmo pode ser dito sobre outras classes em outras situações históricas. Logo, todos os dogmas do materialismo marxista caem por terra. Não é, portanto, verdade que a situação de classe ensina a uma determinada classe quais são os seus interesses genuínos de classe e que tipo de política é mais adequado a estes interesses. Não é verdade que apenas as ideias que conduzem aos interesses reais de uma classe são recebidas com aprovação por parte daqueles que coordenam as políticas daquela classe; pode ocorrer que diferentes ideias orientem estas políticas e, assim, consigam influenciar o curso dos acontecimentos. Não é, portanto, verdade que o que conta, na história, são apenas os interesses, e que as ideias são apenas uma superestrutura ideológica, determinada unicamente por estes interesses. Torna-se imperativo examinar minuciosamente as ideias para identificar aquelas que realmente são benéficas aos interesses da classe em questão e separá-las das que não o são. Torna-se necessário discutir as ideias conflitantes através do método do raciocínio lógico. Desmorona assim o expediente através do qual Marx queria banir esta comparação imparcial dos prós e contras de ideias específicas; o caminho para uma investigação dos méritos e deméritos do socialismo, que Marx quis proibir por “não ser científico”, é, portanto, reaberto.

Outra obra importante de Marx foi seu manuscrito de 1865 intitulado Salário, Preço e Lucro. Neste documento Marx critica as políticas tradicionais dos sindicatos trabalhistas; eles deveriam abandonar seu lema conservador, “Um salário justo por uma jornada de trabalho justa!”, e escrever em seu lugar, em sua bandeira, a divisa revolucionária: “Abolição do sistema de trabalho assalariado!”[27] Este é, evidentemente, um ponto controverso sobre que tipo de política tem mais serventia aos interesses de classe dos trabalhadores. Marx, neste caso, se desvia de sua atitude costumeira de tachar todos os seus oponentes proletários de traidores; ele admite, implicitamente, que pode existir discórdia até mesmo entre defensores honestos e sinceros dos interesses de classe dos trabalhadores, e que estas diferenças devem ser resolvidas através do debate. Talvez, ao refletir melhor sobre o tema, ele tenha descoberto que a maneira com que ele vinha lidando com o problema em questão era incompatível com todos os seus dogmas, pois ele não chegou a imprimir este seu texto, que foi apenas lido por ele em 26 de junho de 1865 no Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores. Em 1898,foi publicado pela primeira vez, por uma de suas filhas.

Porém o tema que estamos analisando não é a incapacidade de Marx em se ater de maneira consistente à sua própria doutrina, e a maneira como  adotava modos de pensar que eram incompatíveis com ela. Temos que examinar a sustentabilidade da doutrina marxista, e, portanto, devemos nos voltar à conotação peculiar que o termo “interesses” tem no contexto desta doutrina. Todo indivíduo – ou todo grupo de indivíduos – tem como meta de suas ações substituir um estado de coisas que julga menos satisfatório por outro que considere mais apropriado para si. Sem levar em conta uma qualificação feita sobre estas duas situações a partir de qualquer outro ponto de vista, podemos dizer que, neste sentido, ele está indo atrás de seus interesses. Mas a questão a respeito do que é mais ou menos desejável é decidida pelo agente homem. É o resultado de sua escolha entre diversas soluções possíveis. É um julgamento de valor; é determinado pelas ideias do indivíduo acerca dos efeitos que estas diferentes situações terão sobre o seu próprio bem-estar. Depende, no fim das contas, do valor que ele atribui a estes efeitos antecipados.

Com isto em mente, não é sensato declarar que as ideias são um produto dos interesses. As ideias dizem a um homem quais são os seus interesses. Posteriormente, ao examinar suas ações passadas, o indivíduo poderá formar a opinião de que errou e que outra maneira de agir teria sido mais adequada aos seus próprios interesses. Ele agiu de acordo com o que ele, naquele momento, acreditava que serviria melhor aos seus interesses.

Se um observador imparcial vê a ação de outro homem, ele poderá pensar: este sujeito está errando; o que ele está fazendo não servirá àquilo que ele considera ser do seu interesse; outra maneira de agir seria mais adequada para a obtenção dos fins que ele tem como meta. Neste sentido, um historiador, hoje em dia, ou um contemporâneo sensato, em 1939, poderiam afirmar: ao invadir a Polônia, Hitler e os nazistas cometeram um erro; a invasão prejudicou aquilo que consideravam ser seus interesses. Esta forma de crítica é sensata na medida em que lida apenas com os meios, e não com os fins últimos de uma ação. A escolha dos fins é um juízo de valor que depende unicamente da avaliação do indivíduo que está fazendo este julgamento. Tudo o que outro homem pode afirmar sobre isto é: eu teria feito uma escolha diferente. Se um romano tivesse dito a um cristão condenado a ser dilacerado por feras selvagens no circo: você serviria melhor aos seus interesses caso se ajoelhasse e cultuasse a estátua de nosso divino imperador, o cristão responderia: meu interesse primordial é cumprir os preceitos da minha fé.

Mas o marxismo, enquanto filosofia da história que alega conhecer os fins que os homens estão fadados a atingir, utiliza o termo “interesses” com uma conotação diferente. Os interesses aos quais o marxismo se refere não são aqueles escolhidos pelos homens com base em julgamentos de valor. São os fins que as forças materiais produtivas têm como meta. Estas forças têm como meta o estabelecimento do socialismo, e utilizam-se dos proletários como meio para a realização deste fim. As forças materiais produtivas sobre-humanas perseguem seus próprios interesses, independentemente da vontade dos homens mortais; a classe proletária é apenas uma ferramenta em suas mãos.As ações da classe não são as suas próprias ações, mas aquelas que as forças materiais produtivas executam utilizando-se da classe como um instrumento sem vontade própria. Os interesses de classe aos quais Marx se refere são, na realidade, os interesses das forças materiais produtivas que querem ser libertadas dos “grilhões que impedem o seu desenvolvimento”.

Interesses assim, claro, não dependem das ideias dos homens comuns. São determinados exclusivamente pelas ideias do homem Marx, que gerou tanto o fantasma das forças materiais produtivas como a imagem antropomórfica de seus interesses.

No mundo real, da vida e da ação humana, não existem interesses independentes das ideias que os antecederam, temporal e logicamente. Aquilo que um homem considera seu interesse é fruto de suas ideias.

Se existe algum sentido na afirmação de que os interesses dos proletários seriam melhor servidos pelo socialismo, seria este: os fins que os proletários, enquanto indivíduos, têm como meta, seriam melhor alcançados através do socialismo. Uma afirmação como esta precisa de prova; é vão recorrer, no lugar desta prova, a um sistema de filosofia da história concebido arbitrariamente.

Tudo isto nunca poderia ocorrer a Marx, porque ele estava tomado pela ideia de que os interesses humanos são única e inteiramente determinados pela natureza biológica do corpo humano. O homem, segundo ele, está interessado exclusivamente na obtenção da maior quantidade possível de bens tangíveis. Não existe um problema qualitativo, apenas um problema quantitativo, na oferta de bens e serviços; os desejos não dependem de ideias, mas apenas de condições fisiológicas. Cego por esta preconcepção, Marx ignorou o fato de que um dos problemas da produção é decidir que tipos de bens devem ser produzidos.

Entre os animais e homens primitivos à beira da inanição, certamente é verdade que nada importa além da quantidade de coisas comestíveis que eles podem obter. É desnecessário apontar o fato de que as condições são totalmente diferentes para os homens, até mesmo aqueles em seus estágios civilizatórios mais primitivos. O homem civilizado se depara com o problema de ter que escolher entre a satisfação de diversas necessidades e entre as diferentes maneiras de satisfazer uma mesma necessidade. Seus interesses são diversificados, e determinados pelas ideias que influenciam suas escolhas. Não se pode servir aos interesses de um homem que quer um casaco novo dando-lhe um par de sapatos, ou aos de um homem que quer ouvir uma sinfonia de Beethoven dando-lhe ingressos para uma luta de boxe. São as ideias que são responsáveis pelos interesses dos indivíduos serem diferentes.

Incidentalmente, pode-se mencionar que esta interpretação errônea dos desejos e interesses humanos impediu que Marx e outros socialistas compreendessem a distinção entre liberdade e escravidão, entre a condição de um homem que decide por conta própria como gastar sua renda e a de um homem que recebe de uma autoridade paternal as coisas que, segundo esta autoridade, ele precisa. Na economia de mercado os consumidores escolhem e, por consequência, determinam a quantidade e a qualidade dos bens produzidos; sob o socialismo a autoridade assume o controle destes assuntos. Aos olhos de Marx e dos marxistas, não há diferença significativa entre estes dois métodos de satisfação de desejos; não importa quem faz a escolha: o indivíduo “insignificante”, para si próprio, ou a autoridade, para todos os seus subordinados. Eles não conseguem perceber que a autoridade não dá a aqueles que estão sob a sua tutela aquilo que eles querem, mas sim aquilo que, de acordo com a opinião da autoridade, eles devem receber. Se um homem quer obter a Bíblia mas recebe em seu lugar o Corão, ele deixa de ser livre.

Ainda que, a título argumentativo, admitíssemos que não existe qualquer incerteza a respeito do tipo de bens que as pessoas desejam ou acerca dos métodos tecnológicos mais eficazes para produzi-los, restaria ainda o conflito entre os interesses de curto prazo e os interesses de longo prazo. Aqui, novamente, a decisão depende de ideias. São os julgamentos de valor que determinarão a taxa de preferência temporal associada ao valor dos bens presentes, em comparação a dos bens futuros. Deve-se consumir ou acumular capital? E até que ponto deve ir o gasto ou o acúmulo de capital?

Em vez de lidar com todos estes problemas, Marx se contentou com o dogma de que o socialismo será um paraíso terrestre no qual todos receberão tudo aquilo que necessitam. É claro que, partindo-se deste dogma, pode-se declarar que os interesses de todos — quaisquer que eles sejam — serão melhor atendidos sob o socialismo. No país da Cocanha[28] as pessoas não mais precisarão de quaisquer ideias, não mais precisarão recorrer a quaisquer julgamentos de valor, nem tampouco precisarão pensar e agir; bastará apenas abrir suas bocas e deixar os pombos assados voarem para dentro delas.

No mundo da realidade, cujas condições são o único objeto da procura científica pela verdade, as ideias determinam o que as pessoas consideram ser seus interesses. Não há interesses que não dependam de ideias. São as ideias que determinam o que as pessoas consideram ser seus interesses. Homens livres não agem de acordo com seus interesses; eles agem de acordo com o que eles acreditam favorecer seus interesses.

 

7. Os Interesses de Classe da Burguesia

 

Um dos pontos de partida do pensamento de Karl Marx era o dogma de que o capitalismo, embora totalmente prejudicial à classe trabalhadora, favorece os interesses de classe da burguesia, e que o socialismo, enquanto frustra apenas as reivindicações injustas da burguesia, é altamente benéfico a toda a humanidade. Estas ideias foram desenvolvidas pelos socialistas e comunistas franceses, e reveladas ao público alemão em 1842 por Lorenz von Stein em seu livro volumoso, Socialismo e Comunismo na França Contemporânea. Marx adotou sem qualquer escrúpulo esta doutrina e tudo o que ela implicava. Nunca lhe ocorreu que o seu dogma fundamental precisava ser demonstrado, e que os conceitos utilizados por ela precisavam de uma definição. Ele jamais definiu os conceitos de classe social, de interesses de classe e seus conflitos. Ele nunca explicou por que o socialismo serve melhor aos interesses de classe dos proletários e aos verdadeiros interesses de toda a humanidade do que qualquer outro sistema. Esta atitude tem sido, até os dias de hoje, o traço característico de todos os socialistas. Eles simplesmente tomam como um fato consumado que a vida sob o socialismo será paradisíaca. Quem quer que ouse perguntar as razões disso será desmascarado, apenas por fazê-lo, como um apologista vendido aos interesses de classe dos exploradores.

A filosofia marxista da história ensina que o que trará o advento do socialismo será o funcionamento das leis inerentes à própria produção capitalista. Com a inexorabilidade de uma lei da natureza, a produção capitalista produzirá a sua própria negação.[29] Como nenhuma formação social desaparece antes que sejam desenvolvidas todas as forças produtivas que ela é capaz de sustentar,[30] o capitalismo deve se desenvolver integralmente antes que chegue o momento da emergência do socialismo. A evolução livre do capitalismo, desimpedida por qualquer interferência política é, portanto, do ponto de vista marxista, altamente benéfica para os interesses de classe — teríamos que dizer “corretamente entendidos” ou de longo prazo — dos proletários. De acordo com o Manifesto Comunista, à medida que o progresso do capitalismo leva-o à sua maturidade e, por consequência, ao seu colapso, o trabalhador “afunda cada vez mais” e “se torna um indigente”. Mas, visto sub specie aeternitatis, do ponto de vista do destino da humanidade e dos interesses de longo prazo do proletariado, esta “massa de miséria, opressão, escravidão, degradação e exploração” é, na realidade, tida como um passo adiante no caminho rumo à felicidade eterna. Parece, portanto, não apenas vão, mas claramente contrário aos interesses — corretamente entendidos — da classe trabalhadora empreender tentativas — necessariamente vãs — de se melhorar as condições dos assalariados através de reformas dentro da estrutura do capitalismo. Logo, Marx rejeitava os esforços dos sindicatos trabalhistas de aumentar os salários e diminuir as jornadas de trabalho. O mais ortodoxo de todos os partidos marxistas, os Social-Democratas alemães, votou durante a década de 1880, no Reichstag, contra todas as medidas da célebre Sozialpolitik de Bismarck, incluindo sua característica mais espetacular, a previdência social. Da mesma maneira, na opinião dos comunistas, o New Deal americano era apenas um plano – fadado ao fracasso – que visava salvar o capitalismo, moribundo, ao adiar o seu colapso e, por consequência, a aparição do milênio socialista.

Se os empregadores se opuserem ao que costuma ser chamado de legislação “trabalhista”, não estarão sendo, consequentemente, culpados por combater aqueles que Marx considerava serem os reais interesses da classe proletária. Pelo contrário; ao praticamente libertar a evolução econômica dos grilhões através dos quais os pequeno-burgueses ignorantes, burocratas e pseudo-socialistas utópicos e humanitários como os fabianos, pretendem retardá-la, eles acabam servindo à causa trabalhista e ao socialismo. O próprio egoísmo dos exploradores se transforma num benefício para os explorados e para toda a humanidade. Será que Marx — caso tivesse sido capaz de seguir suas próprias ideias até as suas últimas consequências lógicas — não teria ficado tentado a dizer, juntamente com Mandeville, “vícios privados, benefícios públicos”, ou, com Adam Smith, que os ricos “são guiados por uma mão invisível” a tal ponto que “sem tencioná-lo, sem sabê-lo, eles estão promovendo os interesses da sociedade”?.[31]

Marx, no entanto, estava sempre ávido por concluir seu raciocínio antes do ponto no qual suas contradições inerentes acabariam por ficar evidentes. Neste ponto seus seguidores copiaram a atitude do mestre.

Os burgueses, tanto capitalistas quanto empresários, afirmam estes discípulos inconsistentes de Marx, estão interessados na conservação do sistema de laissez-faire. Opõem-se a toda e qualquer tentativa de aliviar o fardo da classe mais numerosa, mais útil e mais explorada dos homens; estão empenhados em interromper o progresso; são reacionários comprometidos com a tarefa — obviamente impossível — de atrasar o relógio da história. O que quer que se possa pensar acerca destes desabafos apaixonados, repetidos cotidianamente por jornais, políticos e governos, não se pode negar que eles são incompatíveis com os princípios essenciais do marxismo. De acordo com um ponto de vista marxista consistente, os defensores daquela legislação que é chamada de trabalhista são pequeno-burgueses reacionários, enquanto aqueles que os marxistas chamam de provocadores dos trabalhadores[32] são arautos progressivos da bem-aventurança que está por vir.

Em sua ignorância a respeito de todos os problemas econômicos, os marxistas não se deram conta de que o burguês dos dias de hoje, aqueles que já são capitalistas e empresários ricos, na sua condição de burgueses, não têm um interesse egoísta na conservação do laissez-faire. Sob o sistema de laissez-faire sua posição eminente é ameaçada diariamente pelas ambições dos recém-chegados que têm menos dinheiro que eles. Leis que colocam obstáculos diante de novatos talentosos são prejudiciais aos interesses dos consumidores, enquanto protegem aqueles que já têm uma posição econômica consolidada contra a competição dos intrusos. Ao tornar mais difícil para um homem de negócios a obtenção de lucro, e ao cobrar impostos sobre a maior parte destes lucros obtidos, eles acabam por impedir o acúmulo de capital por parte dos recém-chegados e eliminam, assim, o incentivo que impulsionaria as empresas mais antigas a se esforçar, da melhor maneira possível, em servir aos consumidores. Medidas que protegem os menos eficientes contra a competição dos mais eficientes e leis que têm como meta a redução ou o confisco de lucros são conservadoras, ou até reacionárias, do ponto de vista marxista; elas tendem a impedir as melhorias tecnológicas e o progresso econômico, e preservar a ineficiência e o atraso. Se o New Deal tivesse sido implementado em 1900, e não em 1933, o consumidor americano teria sido privado de muitas coisas que são fornecidas, nos dias de hoje, por empresas que tiveram seu crescimento nas primeiras décadas do século, e que partiram de um começo insignificante até atingir uma importância nacional e uma produção de massa.

O ápice desta falta de compreensão dos problemas industriais é a animosidade mostrada contra as grandes empresas e contra os esforços das pequenas em se tornarem grandes. A opinião pública, sob a influência do marxismo, considera a “grandeza” de uma empresa como um dos piores vícios do mundo dos negócios e apoia todo tipo de plano projetado para impedir ou prejudicar as grandes empresas através de ações governamentais. Não há qualquer tipo de compreensão do fato de que é apenas isso – a grandeza nos negócios – que torna possível fornecer às massas todos aqueles produtos que o americano médio da atualidade não consegue viver sem. Bens de luxo para os poucos podem ser produzidos em estabelecimentos pequenos. Bens de luxo para os muitos precisam de grandes indústrias. Os políticos, professores e líderes sindicais que amaldiçoam as grandes empresas estão lutando por um padrão de vida mais baixo. Seguramente não estão defendendo os interesses dos proletários. E, no final das contas, são eles — exatamente do ponto de vista da doutrina marxista — os reais inimigos do progresso e das melhorias das condições dos trabalhadores.

 

8. Os Críticos do Marxismo

 

O materialismo de Marx e Engels difere radicalmente das ideias do materialismo clássico. Apresenta os pensamentos, as escolhas e as ações humanas como determinados pelas forças materiais de produção — ferramentas e máquinas. Marx e Engels não conseguiram ver que as ferramentas e máquinas são, elas próprias, produtos do funcionamento da mente humana. Ainda que suas tentativas sofisticadas de descrever todos os fenômenos espirituais e intelectuais, que chamam de superestruturais, como produtos das forças materiais de produção, tivessem sido bem-sucedidas, elas teriam apenas identificado a origem destes fenômenos em algo que, por si só, é um fenômeno espiritual e intelectual. Seu raciocínio é circular. Seu suposto materialismo não é, na realidade, um materialismo; ele apenas fornece uma solução verbal aos problemas em questão.

Por vezes até mesmo Marx e Engels tiveram consciência de quão fundamentalmente inadequada era a sua doutrina. Quando Engels, diante da sepultura de Marx, resumiu o que ele considerava ser a quintessência dos feitos de seu amigo, ele sequer mencionou as forças materiais produtivas. Nas palavras de Engels: “Assim como Darwin descobriu a lei da evolução da natureza orgânica, Marx descobriu a lei da evolução histórica da humanidade, que consiste no simples fato — até então oculto sob uma espessa camada ideológica — de que todos os indivíduos precisam, acima de tudo, comer, beber, se abrigar e se vestir antes de poderem se dedicar à política, à ciência, à arte e à religião, e que, consequentemente, a produção dos alimentos cuja necessidade é mais imediata e, consequentemente, o estágio de evolução econômica atingido por um determinado povo ou época constitui a base a partir da qual as instituições governamentais, as ideias acerca do que é certo ou errado, a arte, e até mesmo as ideias religiosas do homem, foram desenvolvidas, e é através disto que elas devem ser explicadas — e não, o contrário, como vinha sendo feito até então.”[33]Certamente ninguém possuía maior competência do que Engels para fornecer uma interpretação confiável do materialismo dialético. No entanto, se Engels estava certo neste obituário, então todo o materialismo marxista desaparece; é reduzido a um truísmo conhecido por todos desde tempos imemoriais e jamais contestado por alguém. Ele não diz nada a mais do que aquele aforismo já tão gasto: Primumvivere, deinde philosophari.

Como truque erístico, a interpretação de Engels teve um bom resultado. Assim que alguém começa a desmascarar os absurdos e contradições do materialismo dialético, os marxistas respondem: você nega que os homens devem, acima de tudo, comer? Você nega que os homens estão interessados na melhoria das condições materiais de sua existência? Como ninguém quer contestar estes truísmos, eles concluem que todos os ensinamentos do materialismo marxista são incontestáveis. E uma multidão de pseudo-filósofos não é capaz de enxergar através deste non sequitur.

O principal alvo dos ataques rancorosos de Marx era o estado prussiano da dinastia Hohenzollern. Ele odiava este regime, não porque ele se opunha ao socialismo, mas exatamente porque ele estava inclinado a aceitá-lo. Enquanto seu rival Lassalle cogitava a ideia de implementar o socialismo em cooperação com o governo da Prússia, liderado por Bismarck, a Associação Internacional dos Trabalhadores de Marx buscava derrubar os Hohenzollern. Como na Prússia a Igreja Protestante estava subordinada ao governo e era administrada por funcionários governamentais, Marx também nunca se cansou de vilificar a religião cristã. O anticristianismo se tornou um dogma ainda maior do marxismo na medida em que os países cujos intelectuais primeiro se converteram ao marxismo foram a Rússia e a Itália. Na Rússia, a igreja era ainda mais dependente do governo que na Prússia. Aos olhos dos italianos do século XIX, o preconceito anticatólico era a característica de todos aqueles que se opunham à restauração do domínio secular do Papa e à desintegração da unidade nacional recém-conquistada.

As igrejas e seitas cristãs não combateram o socialismo. Passo a passo, aceitaram suas políticas essenciais e ideias sociais. Hoje em dia elas são, com algumas poucas exceções, francas em sua rejeição ao capitalismo e na defesa do socialismo ou das políticas intervencionistas que inevitavelmente resultam no estabelecimento do socialismo. Mas é claro que nenhuma igreja cristã jamais poderá aceitar ou se sujeitar a um tipo de socialismo que seja hostil ao cristianismo e tenha como meta a sua extinção. As igrejas se opõem de maneira implacável aos aspectos anticristãos do marxismo; elas tentam fazer uma distinção entre seu próprio programa de reforma social e o programa marxista. Consideram que a perversidade inerente ao marxismo está em seu materialismo e em seu ateísmo.

No entanto, ao combater o materialismo marxista, os apologistas da religião erraram totalmente o alvo. Muitos deles vêem o materialismo como uma doutrina ética que ensina que os homens deveriam apenas buscar a satisfação das necessidades de seus corpos e uma vida de prazer e de diversão, e que não deveriamjamais se preocupar com qualquer outra coisa. O que eles propõem contra este materialismo ético não faz qualquer referência à doutrina marxista e não tem relação alguma com o assunto em questão.

Tampouco são mais sensatas as objeções antepostas ao materialismo marxista por aqueles que escolhem determinados eventos históricos — como a ascensão do credo cristão, as cruzadas, as guerras religiosas — e afirmam, triunfantes, que é impossível se fazer qualquer interpretação materialista deles. Toda alteração nas condições afeta a estrutura de demanda e oferta de diversas coisas materiais e, por consequência, os interesses de curto prazo de alguns grupos de pessoas. É, portanto, possível demonstrar que alguns grupos de fato foram beneficiados, no curto prazo, assim como outros foram prejudicados. Logo, os defensores do marxismo estão sempre numa posição que lhes permite indicar quais interesses de classe estavam envolvidos e, assim, anular as objeções que forem feitas. É claro que este método de se demonstrar a correção da interpretação materialista da história está totalmente errado. A questão não é quais interesses de grupo foram afetados; eles sempre são necessariamente  afetados, pelo menos no curto prazo. A questão é se foi a busca pelo lucro por parte dos grupos envolvidos que causou o evento que está sendo discutido. Por exemplo, teriam sido os interesses de curto prazo da indústria armamentista fundamentais para o surgimento da belicosidade e das guerras atuais? Ao lidar com estes problemas, os marxistas nunca mencionam que onde há interesses a favor também existem, necessariamente, interesses contrários. Eles teriam que explicar por que estes não prevaleceram sobre aqueles. Os críticos “idealistas” do marxismo, entretanto, não tiveram a perspicácia necessária para expor qualquer uma das falácias do materialismo dialético. Eles sequer se deram conta de que os marxistas recorriam à sua interpretação de interesses de classe apenas para lidar com fenômenos que eram geralmente considerados maus, e nunca para lidar com fenômenos aprovados por todos. Quando se atribui as guerras às maquinações do capital armamentista e o alcoolismo às maquinações do comércio de bebidas, seria consistente atribuir a limpeza aos esquemas dos fabricantes de sabão e o florescimento da literatura e da educação às manobras das editoras e indústrias de impressão. Mas nem os marxistas nem os seus críticos jamais pensaram nisso.

O fato relevante em tudo isso é que a doutrina marxista de transformação histórica nunca recebeu qualquer tipo de crítica criteriosa. Ela pôde triunfar porque seus adversários nunca expuseram suas falácias e contradições inerentes.

Uma forma de se ver como as pessoas entenderam de uma maneira totalmente errada o materialismo marxista está na prática comum de se associar o marxismo à psicanálise freudiana. Na realidade, é impossível imaginar contraste maior do que o existente entre essas duas doutrinas. O materialismo tem como meta reduzir os fenômenos mentais a causas materiais. A psicanálise, por outro lado, lida com fenômenos mentais como um campo autônomo. Enquanto a neurologia e a psiquiatria tradicional tentaram explicar todas as condições patológicas que estudam como causadas por condições patológicas específicas de determinados órgãos corpóreos, a psicanálise conseguiu demonstrar que estados anormais do corpo são, por vezes, produzidos por fatores mentais. Esta descoberta foi o grande feito de Charcot e Josef Breuer, e o grande êxito de Sigmund Freud foi construir sobre estes alicerces uma disciplina sistemática abrangente. A psicanálise é o oposto de todos os tipos de materialismo. Se a encararmos não como um ramo do conhecimento puro, mas como um método de tratamento de doentes, temos que denominá-la um ramo timológico (geisteswissenschaftlicher Zweig) da medicina.

Freud era um homem modesto. Ele não tinha pretensões extravagantes sobre a importância de suas contribuições. Tinha bastante cautela ao abordar problemas filosóficos e ramos do conhecimento para cujo desenvolvimento ele não tinha contribuído. Ele não ousou atacar qualquer uma das proposições metafísicas do materialismo; chegou até mesmo a admitir que um dia a ciência poderia conseguir fornecer uma explicação puramente fisiológica para os fenômenos abordados pela psicanálise. No entanto, enquanto isto não acontecesse, a psicanálise parecia, para ele, cientificamente sólida, e indispensável, na prática. Ele não foi menos cauteloso ao criticar o materialismo marxista, admitindo sem restrições sua incompetência no campo.[34] Tudo isto, no entanto, não altera o fato de que a abordagem psicanalítica é, essencial e substancialmente, incompatível com a epistemologia do materialismo.

A psicanálise enfatiza o papel que a libido, o impulso sexual, desempenha na vida humana. Este papel havia sido negligenciado até então, tanto pela psicologia quanto por todos os outros ramos do conhecimento. A psicanálise também explica os motivos desta negligência. No entanto, em momento algum afirma que sexo seja o único impulso humano que procura ser satisfeito ou que todos os outros fenômenos psíquicos sejam induzidos por ele. Sua preocupação com os impulsos sexuais veio do fato de que a psicanálise teve seu início como um método terapêutico, e que a maior parte das condições patológicas com as quais ela teve de lidar são causadas pela repressão dos impulsos sexuais.

O motivo pelo qual alguns autores associaram a psicanálise com o marxismo foi por considerarem que ambos estavam em desacordo com as ideias teológicas. No entanto, com o passar do tempo, escolas teológicas e grupos de diversas denominações têm adotado uma avaliação diferente dos ensinamentos de Freud; eles não apenas abandonaram sua oposição radical, como haviam feito anteriormente com relação às descobertas astronômicas e geológicas modernas, e às teorias das alterações filogenéticas nas estruturas dos organismos, mas passaram a tentar integrar a psicanálise no sistema e na prática da teologia pastoral. Eles passaram a ver o estudo da psicanálise como uma parte importante da formação sacerdotal.[35]

Nas condições atuais, muitos dos defensores da autoridade da Igreja estão perdidos e desorientados na sua atitude em relação aos problemas filosóficos e científicos. Eles condenam aquilo que poderiam ou até mesmo deveriam apoiar. Ao combater doutrinas espúrias, eles recorrem a objeções insustentáveis que, nas mentes daqueles que conseguem identificar a falácia das objeções acabam por fortalecer a tendência a crer que as doutrinas que estão sendo atacadas são, na realidade, sensatas. Incapazes de descobrir o verdadeiro erro nestas falsas doutrinas, estes apologistas da religião acabam por aprová-las. Isto explica o fato curioso de que existem escritos cristãos, nos dias de hoje, que tendem a adotar o materialismo dialético marxista. Assim, um teólogo presbiteriano, o professor Alexander Miller, acredita que o cristianismo “pode reconhecer a verdade do materialismo histórico e  da luta de classes”. Ele não só sugere, como muitos líderes eminentes de diversas denominações cristãs fizeram antes dele, que a Igreja deveria adotar os princípios essenciais da política marxista; ele acredita que a Igreja deveria “aceitar o marxismo” como “a essência de uma sociologia científica”.[36] Quão estranho é reconciliar com o Credo Niceno uma doutrina que ensina que as ideias religiosas constituem a superestrutura das forças materiais produtivas?

 

9. Socialismo e Materialismo Marxista

 

Como tantos intelectuais frustrados e quase todos os nobres, funcionários públicos, professores e autores prussianos contemporâneos, Marx foi guiado por um ódio fanático contra os negócios e os homens de negócio. Ele se voltou ao socialismo por considerá-lo a pior punição que poderia ser infligida sobre a odiosa burguesia. Ao mesmo tempo, ele percebeu que a única esperança para o socialismo era evitar as discussões a respeito de seus prós e contras. As pessoas deveriam ser induzidas a aceitá-lo emocionalmente, sem questionar os seus efeitos.

Para conseguir isto, Marx adaptou a filosofia da história de Hegel, o credo oficial das escolas onde ele havia se formado. Hegel tinha arrogado para si a prerrogativa de revelar os planos secretos do Senhor para o público. Não havia motivo algum para que o Doutor Marx deixasse por menos e escondesse do povo as boas novas que ele havia recebido de uma voz interior. O socialismo, anunciou esta voz, está fadado a chegar porque este é o curso para o qual se dirige o destino. Não há necessidade de se realizar um debate sobre as bênçãos ou males que devem ser esperados de um modo de produção socialista ou comunista; estes debates só fariam sentido se os homens tivessem a liberdade de escolher entre o socialismo e qualquer outra alternativa. Além disso, por ser o último numa sucessão de estágios da evolução histórica, o socialismo também é, necessariamente, um estágio superior e melhor, e todas as dúvidas sobre os benefícios advindos dele são vãos.[37]

O esquema da filosofia da história que descreve a história humana como tendo seu ápice e fim no socialismo é a essência do marxismo, é a principal contribuição à ideologia pró-socialista. Como todos os esquemas semelhantes, incluindo o de Hegel, ele foi gerado pela intuição. Marx o chamou de ciência,Wissenschaft, porque em sua época nenhum outro epíteto poderia dar a uma doutrina maior prestígio. Nas épocas pré-marxistas não se costumava chamar de científicas as filosofias da história. Ninguém jamais utilizou o termo “ciência” para as profecias de Daniel, a Revelação de São João, ou os escritos de Joaquim de Fiore.

Marx chamou, pelos mesmos motivos, sua doutrina de materialista. No ambiente do hegelianismo de esquerda no qual Marx viveu antes de se estabelecer em Londres, o materialismo era a filosofia aceita. Era algo tido como certo que a filosofia e a ciência não admitiam qualquer tratamento do problema mente/corpo além do que era ensinado pelo materialismo. Qualquer autor que não quisesse ser anatematizado por seus pares tinha que evitar ser suspeito de qualquer concessão ao “idealismo”. Assim, Marx prontamente chamou sua filosofia de materialista. Na realidade, como foi indicado acima, sua doutrina não lida em absoluto com o problema mente/corpo; ela não levanta a questão de como as “forças materiais produtivas” surgiram e como e por que elas sofrem mudanças. Sua doutrina não é materialista, mas sim uma interpretação tecnológica da história. Mas, de um ponto de vista político, Marx fez bem em chamá-la de científica e materialista. Estes predicados deram a ela uma reputação que jamais teria adquirido de outra maneira.

Incidentalmente, deve ser notado que Marx e Engels não fizeram esforço algum para consolidar a validade de sua interpretação tecnológica da história. Nos primeiros dias de suas carreiras como autores, eles enunciaram seus dogmas em formulações claras e desafiadoras, tais como o dito citado acima a respeito do moinho manual e do moinho a vapor.[38] Nos anos posteriores, no entanto, eles se tornaram mais reservados e cautelosos; após a morte de Marx, Engels até fez, ocasionalmente, concessões notáveis ao ponto de vista “burguês” e “idealista”. Porém nem Marx, nem Engels, nem qualquer um de seus inúmeros seguidores jamais tentaram fornecer qualquer tipo de especificação acerca do funcionamento de um mecanismo que faria surgir, a partir de um estado específico das forças materiais produtivas, uma superestrutura jurídica, política e espiritual específica. Sua célebre filosofia nunca avançou além da enunciação abrupta de um vislumbre mordaz.

Os truques erísticos do marxismo foram muito bem-sucedidos, e trouxeram multidões de pseudo-intelectuais para as fileiras do socialismo revolucionário. Porém eles não servem para desacreditar o que os economistas haviam afirmado a respeito das consequências desastrosas de um modo socialista de produção. Marx havia considerado um tabu a análise do funcionamento de um sistema socialista por ser utópica, isto é, em sua terminologia, não-científica, e ele, assim como seus sucessores, difamou todos os autores que desafiaram este tabu. No entanto, estas táticas não alteraram o fato de que tudo o que Marx fez para contribuir para a discussão sobre o socialismo foi revelar o que uma voz interior havia dito para ele, a saber, que o fim e a meta da evolução histórica da humanidade é a expropriação dos capitalistas.

De um ponto de vista epistemológico, deve-se enfatizar que o materialismo marxista não consegue realizar o que uma filosofia materialista alega fazer. Ele não explica como pensamentos e julgamentos de valor específicos se originam na mente humana.

Expor uma doutrina como insustentável não equivale a confirmar uma doutrina que se opõe à primeira. Não há necessidade de se afirmar este fato óbvio apenas porque muitos se esqueceram disso. Refutar o materialismo dialético implica, obviamente, na invalidação da justificativa marxista para o socialismo. Mas apenas isso não demonstra a verdade nas afirmações de que o socialismo é impossível de ser realizado, que ele destruiria a civilização e teria como resultado a miséria para todos, e que a sua chegada não é inevitável. Estas proposições só podem ser estabelecidas através da análise econômica.

Marx e todos aqueles que simpatizaram com suas doutrinas tiveram consciência que uma análise econômica do socialismo mostrará inevitavelmente a falácia dos argumentos pró-socialistas. Os marxistas se apegam ao materialismo histórico e se recusam, com teimosia, a ouvir seus críticos porque querem o socialismo por razões emocionais.



[1] Ver Hegel, Vorlesungen über die Philosophie der Weltgeschichte, ed. Lasson (Leipzig, 1917), p. 31-4, 55.

[2] Engels, Ludwig Feuerbach und der Ausgang der klassischen deutschen Philosophie (5ª ed.,Stuttgart, 1910), p. 36-9.

[3] Ibid, p. 38.

[4] Prefácio, Engels, Herrn Eugen Dührings Umwälzung der Wissenschaft (7ª ed., Stuttgart, 1910), p. xiv e xv.

[5] Ibid, p. 138-9 (tradução para o português obtida online em Engels, Obras Seletas (Centaur Editions, 2013).

[6] E. Hammacher, Das philosophisch-ökonomische System des Marxismus (Leipzig, 1909), p. 506-11.

[7] O termo usado por Marx, umwälzen, Umwalzung, é o equivalente a “revolução” na língua alemã.

[8] Idem

[9] Idem

[10] O termo alemão Kunst abrange todos os ramos da poesia, ficção e dramaturgia.

[11] K. Marx, Zur Kritik der politischen Oekonomie, ed. Kautsky (Stuttgart, 1897), prefácio, p. x-xii.

[12] “Le moulin à bras vous donnera la société avec le souzerain; Le moulin à vapeur, la société avec le capitaliste industriel.”  Marx, La Misère de la philosophie (Paris e Bruxelas, 1847), p. 100.

[13] Marx e alguns de seus seguidores ocasionalmente também incluíam os recursos naturais no seu conceito de forças produtivas materiais. Estes comentários, no entanto, foram feitos apenas de maneira incidental, sem serem elaborados – obviamente porque isso lhes teria levado à doutrina que explica a história da maneira que ela é determinada pela estrutura do meio geográfico das pessoas.

[14] Marx, La Misère de la philosophie, trad. para o inglês, The Poverty of Philosophy (Nova York, International Publishers, n.d.), p. 115.

[15] Ibid, p. 112-13.

[16] Como podemos ler no Manifesto Comunista: “A organização do proletariado em classe, e, com o correr do tempo, em partido político, pode ser destruída pela concorrência que os próprios operários fazem entre si.” (tradução para o português extraída de Marx, Engels, Manifesto Comunista (Editora Garamond, 1998), p. 61.

[17] Obviamente, Marx não gostava do termo alemão “das eherne Lohngesetz“, pois ele havia sido cunhado pelo seu rival, Ferdinand Lassalle.

[18] Marx, Das Kapital, I, 728.

[19] Sobre a falácia implicada por este raciocínio, ver p. 175ss.

[20] Após a morte de Mary, Engels tomou como amante Lizzy, irmã de Mary. Casou-se com ela em seu leito de morte, “para lhe proporcionar um último prazer”. Gustav Mayer, Frederick Engels (Haia, Martinus Nijhoff, 1934), 2, 329.

[21] Marx, Value, Price and Profit, ed. E. Marx Aveling (Chicago, Charles H. Kerr & Co. Cooperative), p. 125-6. Ver abaixo, p. 137.

[22] Mises, Ação Humana, 103-24.

[23] Mill, Principles of Political Economy, livro IlI, cap. 1, §1.

[24] Marx, Zur Kritik der politischen Oekonomie, p. xii (ver acima, p. 107 s).

[25] Por exemplo, “estupidez burguesa” (sobre Bentham, Das Kapital, I, 574), “cretinismo burguês” (sobre Destutt de Tracy, ibid, II, 465), e assim por diante.

[26] Marx, Der Bürgerkrieg in Frankreich, ed. Pfemfert (Berlim, 1919), p. 7.

[27] Marx, Value, Price and Profit, p. 126-7.

[28] Nome de um país imaginário medieval onde tudo existiria em abundância e a dureza da vida camponesa não existia. (N.T.)

[29] Marx, Das Kapital, I, 728

[30] Ver acima, p. 107 e 128.

[31] Adam Smith, The Theory of Moral Sentiments, parte IV, cap. 1 (Edimburgo, 1813), I, 419ss.

[32] “labor-baiters“, no original. (N.T.)

[33] Engels, Karl Marx, Rede na seinem Grab, muitas edições. Reproduzido em Franz Mehring, Karl Marx (2ª ed., Leipzig, 1919, Leipziger Buchdruckerei Aktiengesellschaft), p. 535.

[34] Freud, Neue Folge der Vorlesungen zur Einführung in die Psychoanalyse (Viena, 1933), p. 246-53.

[35] É claro que poucos teólogos estariam preparados a apoiar a interpretação do eminente historiador católico da medicina, professor Petro L. Entralgo, segundo o qual Freud teria “desenvolvido plenamente algumas das possibilidades oferecidas pelo cristianismo”. P. L. Entralgo, Mind and Body, trad. de A. M. Espinosa, Jr. (Nova York, P. J. Kennedy and Sons, 1956), p. 131.

[36] Alexander Miller, The Christian Significance of Karl Marx (Nova York, Macmillan, 1947), p. 80-1.

[37] Ver abaixo, p. xx..

[38] Ver acima, p. xx.

 

Artigo anteriorTeoria e História
Próximo artigoTeoria e História
Ludwig von Mises
Ludwig von Mises foi o reconhecido líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico. Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política. Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico. Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de 'praxeologia'.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui