Durante minha vida, houve outra epidemia de gripe mortal. A gripe se espalhou de Hong Kong para os Estados Unidos, chegando em dezembro de 1968 e chegando ao auge um ano depois. Por fim, matou 100.000 pessoas nos EUA, a maioria com mais de 65 anos e um milhão em todo o mundo.
A expectativa de vida nos EUA naquela época era de 70 anos, enquanto hoje é de 78. A população era de 200 milhões, em comparação com 328 milhões hoje. Era também uma população mais saudável com baixa obesidade. Se fosse possível extrapolar os dados de óbitos com base na população e na demografia, poderíamos estar vendo hoje um quarto de milhão de mortes por esse vírus. Então, em termos de letalidade, foi tão mortal e assustador quanto o COVID-19, se não mais, embora tenhamos que esperar para ver.
“Em 1968/69”, diz Nathaniel L. Moir, na Natciona Interest “a pandemia do H3N2 matou mais indivíduos nos EUA do que o número total combinado de fatalidades americanas durante as guerras do Vietnã e da Coréia”.
E isso aconteceu durante a vida de todos os americanos com mais de 52 anos de idade.
Eu tinha 5 anos e não tenho nenhuma lembrança disso. Minha mãe lembra vagamente de ter cuidado e lavar as superfícies, e encorajar a mãe e o pai a serem cuidadosos. Fora isso, hoje praticamente ninguém lembra dela. Por que será?
Nada foi obrigado à fechar. Praticamente[1] todas as escolas permaneceram abertas. As empresas também. Você podia ir ao cinema. Você podia ir a bares e restaurantes. John Fund tem um amigo que relata ter assistido a um show do Grateful Dead. De fato, as pessoas não têm memória ou consciência de que o famoso festival de Woodstock de agosto de 1969 – planejado em janeiro durante o pior período da mortalidade – ocorreu de fato durante uma pandemia mortal de gripe nos EUA que atingiu o pico no resto do mundo apenas seis meses depois. Ninguém ficou pensando no vírus que, como o nosso de hoje, era perigoso principalmente para a parcela da população que não frequenta festivais de rock.
Os mercados de ações não despencaram por causa da gripe. O Congresso não criou nenhuma legislação. O Banco Central não fez nada. Nem um único governador agiu para impor o distanciamento social, o achatamento das curvas (apesar de centenas de milhares de pessoas terem sido hospitalizadas) ou a proibição de multidões. Nenhuma mãe foi presa por levar seus filhos na casa de amiguinhos. Nenhum surfista foi preso. Nenhuma creche foi fechada, embora houvesse mais mortes infantis com esse vírus do que a que estamos enfrentando agora. Não houve suicídios, desemprego, overdose de drogas atribuíveis à gripe.
A mídia cobriu a pandemia, mas nunca se tornou um grande problema.
Como Bojan Pancevski, do Wall Street Journal, observa: “Em 1968-70, os meios de comunicação dedicaram atenção superficial ao vírus enquanto focavam suas câmeras em outros eventos, como a chegada do homem a lua e a Guerra do Vietnã, e a agitação cultural dos movimentos de direitos civis, protestos estudantis e a revolução sexual”.
As únicas ações que os governos adotaram foram coletar dados, assistir e aguardar, incentivar testes e vacinas e assim por diante. A comunidade médica assumiu a responsabilidade primária pela mitigação da doença, como se poderia esperar. Supunha-se amplamente que as doenças requerem respostas médicas e não políticas.
Não é como se não tivéssemos governos dispostos a intervir em outros assuntos. Tivemos a Guerra do Vietnã, assistência social, habitação pública, renovação urbana e a ascensão do Medicare e Medicaid. Tínhamos um presidente jurando curar toda a pobreza, analfabetismo e doenças. O governo foi tão intrusivo quanto jamais foi na história. Mas, por alguma razão, não se pensou em quarentenas forçadas.
O que levanta a questão: por que foi diferente? Estaremos tentando descobrir isso por décadas.
A diferença foi hoje termos meios de comunicação invadindo nossas vidas com inúmeras notificações apitando em nossos bolsos? Houve alguma mudança na filosofia de tal forma que agora pensamos que a política é responsável por todos os aspectos existentes da vida? Foi um elemento político em que a mídia explodiu tão desproporcionalmente como vingança contra o presidente e seus apoiadores? Ou nossa adoração excessiva à modelagem preditiva ficou fora de controle a tal ponto que deixamos um físico com modelos ridículos amedrontar os governos do mundo fazendo-os violar os direitos humanos de bilhões de pessoas?
Talvez foram todos esses fossem fatores. Ou talvez haja algo mais sombrio e nefasto em ação, como os “teóricos da conspiração” dizem.
Independentemente disso, todos devem explicações.
A título de lembrança pessoal, minha mãe e meu pai faziam parte de uma geração que acreditava ter desenvolvido visões sofisticadas de vírus. Eles entenderam que as pessoas menos vulneráveis que os contraíam não apenas fortaleciam o sistema imunológico, mas também contribuíam para a mitigação da doença ao alcançar a “imunidade do rebanho”. Eles tinham um protocolo completo para fazer a criança se sentir melhor por estar doente. Eu ganhava um “brinquedo por doença”, sorvete ilimitado, Vick Vaporub esfregado no meu peito, um umidificador no meu quarto e assim por diante.
Eles constantemente me parabenizavam por criar imunidade. Eles fizeram o possível para parecerem felizes com meus vírus, enquanto faziam o possível para me curar deles.
Se aplicássemos os fechamentos do governo, como os aplicamos agora, Woodstock (que mudou a música para sempre e ainda ressoa hoje) nunca teria ocorrido. Quanta prosperidade, cultura, tecnologia, etc. estão se perdendo nessa calamidade?
O que aconteceu neste meio tempo? Havia algum tipo de conhecimento perdido, como aconteceu com o escorbuto, quando uma vez tivemos sofisticação e depois o conhecimento foi perdido e teve que ser re-encontrado? Para o COVID-19, voltamos aos entendimentos e políticas ao estilo medieval, mesmo no século XXI. É tudo muito estranho.
O contraste entre 1968 e 2020 não poderia ser mais impressionante. Eles eram espertos. Nós somos idiotas. Ou pelo menos nossos governos são.
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[1] Uma versão anterior dizia que não havia escolas fechadas. Mas um leitor me indicou um artigo acadêmico que diz que “23 [estados] enfrentaram o fechamento de escolas e faculdades”, mas implica que isso ocorreu devido ao absenteísmo. Isso ressalta ainda mais como as pessoas estavam cientes no momento da doença; a prática de permanecer aberta foi uma escolha deliberada.
Artigo original aqui.