Conclusão
Os defensores de um sistema socialista de produção alegam preferência por tal sistema em decorrência de sua suposta maior racionalidade em relação a uma economia constituída de forma a depender da propriedade privada dos meios de produção. Dentro do arcabouço do presente ensaio, não é necessário levar em consideração essa opinião, uma vez que ela recai na afirmação de que a atividade econômica racional necessariamente não pode ser perfeita, pois existem determinadas forças que impedem tal consumação. Consequentemente, devemos nos concentrar apenas nas razões técnicas e econômicas dessa opinião. Os seguidores desta doutrina possuem uma confusa concepção de racionalidade técnica, a qual é vista como a antítese da racionalidade econômica, sobre a qual eles também não são muito claros. Eles têm o hábito de ignorar o fato de que “toda a racionalidade técnica da produção é idêntica a um baixo nível de gastos específicos no processo de produção”.[33] Eles ignoram o fato de que o cálculo técnico não é suficiente para descobrir o “grau de conveniência geral e teleológica”[34] de um evento; que ele só pode qualificar eventos individuais de acordo com a significância destes, mas que ele jamais pode nos guiar naqueles julgamentos que são exigidos pelo sistema econômico como um todo. É somente em decorrência do fato de que considerações técnicas podem ser baseadas na lucratividade, que podemos superar a dificuldade que surge da complexidade das relações entre, de um lado, o poderoso sistema de produção vigente e, do outro, a demanda e a eficiência de empresas e unidades econômicas. Da mesma forma, é somente por causa de considerações técnicas para com a lucratividade que podemos obter o retrato completo da situação em sua totalidade, algo essencial para uma atividade econômica racional.[35]
As teorias socialistas são dominadas por uma confusa concepção quanto à primazia do valor objetivo. Com efeito, no que tange à administração da economia, o valor objetivo irá adquirir significância para a economia somente por meio da influência que ele deriva do valor subjetivo, o qual determina as relações de troca de bens econômicos. Uma segunda ideia confusa é inexplicavelmente incluída nessa primeira — a oposição entre o juízo de valor pessoal que um observador faz em relação à utilidade de determinados bens e o juízo de valor que todas as outras pessoas que participam nas transações econômicas também fazem desses bens. Se um indivíduo considera “irracional” gastar muito dinheiro com cigarros, bebidas e prazeres similares, então sem dúvida ele está certo do ponto de vista de sua própria escala pessoal de valores. Porém, ao fazer tal julgamento, ele está ignorando o fato de que a economia é apenas um meio, e que, quaisquer que sejam suas considerações racionais que influenciam seu padrão de preferências, a escala de fins supremos é uma questão de conação [tendência consciente para atuar] e não de cognição.
O fato de que a atividade econômica racional é impossível em uma sociedade socialista não pode, obviamente, ser utilizado como um argumento a favor ou contra o socialismo. Aquele que está disposto a adotar o socialismo por questões éticas e que sabe que a oferta de bens de consumo para os seres humanos sob um sistema de propriedade comum dos meios de produção será reduzida, ou aquele que é guiado por ideais ascéticos em seu desejo pelo socialismo, não irá deixar seus esforços serem influenciados por tudo o que foi dito neste ensaio. Menos ainda serão influenciados aqueles socialistas “culturais” que, como Muckle, esperam que o socialismo primariamente efetue “a dissolução da mais assustadora de todas as barbáries — a racionalidade capitalista.”[36] Porém, aquele que espera que o socialismo traga um sistema econômico racional será forçado a reexaminar suas noções.
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[33] Friedrich von Gottl-Ottlilienfeld, Wirtschaft und technik (Grundriss der Sozialökonomik, Section II; Tübingen: J.C.B. Mohr, 1914), p. 220.
[34] Friedrich von Gottl-Ottlilienfeld, Wirtschaft und technik (Grundriss der Sozialökonomik, Section II; Tübingen: J.C.B. Mohr, 1914), p. 219.
[35] Friedrich von Gottl-Ottlilienfeld, Wirtschaft und technik (Grundriss der Sozialökonomik, Section II; Tübingen: J.C.B. Mohr, 1914), p. 225.
[36] Friedrich Muckle, Das Kulturideal des Sozialismus (Munich and Leipzig: Duncker & Humblot, 1919), p. 213. Por outro lado, Muckle exige o “mais alto grau de racionalização da vida econômica com o intuito de reduzir as horas de trabalho e permitir que o homem se recolha a um ilha onde ele possa ouvir a melodia de seu ser.”