O Caminho da Servidão

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PREFÁCIO DA EDIÇÃO INGLESA DE 1944

Quando um estudioso das questões sociais escreve um livro político, seu primeiro dever é declará-lo francamente. Este é um livro político. Não quero disfarçar tal fato atribuindo-lhe – como talvez pudesse ter feito – o nome mais elegante e ambicioso de ensaio de filosofia social. Mas, seja sob que rótulo for, permanece a questão central de que tudo o que deverei dizer deriva de determinados valores fundamentais. Espero ter cumprido no próprio livro uma segunda e não menos importante obrigação: deixar claro, acima de qualquer dúvida, quais são esses valores fundamentais de que depende toda a argumentação. Há no entanto algo que desejaria acrescentar. Embora este seja um livro político, tenho a máxima certeza de que as convicções que nele se expressam não são ditadas por meus interesses pessoais. Não consigo descobrir nenhuma razão para que o tipo de sociedade que me parece desejável deva oferecer maiores vantagens a mim do que à grande maioria do povo deste país. Na verdade, estou sempre ouvindo de meus colegas socialistas que, na qualidade de economista, eu ocuparia uma posição de muito maior relevo no tipo de sociedade a que me oponho desde que, é claro, me resolvesse a aceitar suas concepções. Sinto-me igualmente convencido de que minha oposição a tais concepções não se deve a serem elas diferentes daquelas em que fui educado, já que são as mesmíssimas ideias que sustentei quando jovem, e que me levaram a fazer do estudo da economia a minha profissão. Àqueles que, como é uso hoje em dia, procuram motivos interesseiros em toda declaração de opinião política, talvez me seja permitido acrescentar que tenho todas as razões possíveis para nãoescrever ou publicar este livro. Ele certamente ofenderá muitas pessoas com quem gostaria de manter relações amigáveis; forçou-me a pôr de lado a atividade para a qual me sinto melhor qualificado e a que atribuo maior importância a longo prazo; e, acima de tudo, sem dúvida prejudicará a acolhida aos resultados do trabalho mais estritamente acadêmico a que me impelem todas as minhas inclinações.

Se, apesar disso, passei a considerar a elaboração deste livro como um dever a que não me posso furtar, tal atitude decorreu, sobretudo, de uma característica peculiar das atuais discussões acerca dos problemas da futura política econômica, problemas sobre os quais a população não está de modo algum suficientemente informada. Refiro-me ao fato de que a maioria dos economistas esteve, no correr dos últimos anos, absorvida pela máquina da guerra e silenciada por seus cargos oficiais, de modo que a opinião pública no que se refere a esses problemas é, numa medida alarmante, orientada por amadores e visionários, por gente que tem um interesse próprio a defender ou uma panaceia a vender. Em tais circunstâncias, alguém que ainda disponha de tempo ocioso para escrever teria pouco direito de guardar para si apreensões que as tendências do momento por certo criam no espírito de muitos que não as podem expressar publicamente – embora, em outras circunstâncias, eu devesse ter deixado de bom grado a discussão de questões de política nacional àqueles que estão ao mesmo tempo mais autorizados e melhor qualificados para a tarefa.

A tese central deste livro foi esboçada pela primeira vez num artigo intitulado “Freedom and the Economic System” (A Liberdade e o Sistema Econômico), publicado na Contemporary Review de abril de 1938, e posteriormente reimpresso, numa versão ampliada, como um dos “Public Policy Pamphlets” (Panfletos de Política Governamental) editados pelo professor H. D. Gideonse para a University of Chicago Press (1939). Devo agradecer aos editores de ambas as publicações a permissão para reproduzir aqui alguns trechos das mesmas. London School of Economics Cambridge, dezembro de 1943.

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