Warren G. Harding (1921-1923) foi o único que soube como acabar com uma depressão
Quando Barack Obama exigiu rapidez na aprovação de mais um pacote de estímulo em fevereiro – atitude essa que vem sendo emulada por quase todos os países do mundo – ele afirmou que somente uma ação ousada do governo iria impedir que a economia caísse em uma profunda depressão. Ao fazer esse argumento, ele estava apenas papagaiando o pensamento convencional dominante, o qual afirma que os mercados não se autocorrigem – exceto em um prazo muito longo – e que a intervenção estatal é necessária para reativar a atividade econômica.
Nós, os seguidores da sólida teoria econômica (isto é, a teoria austríaca), sabemos por que esse pensamento é errôneo, bem como também sabemos por que mesmo uma eventual aparente prosperidade que tais medidas possam produzir causam danos ainda maiores e levam a uma correção ainda mais severa no longo prazo.
Mas para aqueles que não se contentam apenas com a teoria – e por isso exigem exemplos práticos – podemos mostrar um testemunho da história. Em particular, a depressão americana de 1920-1921, sobre a qual a maioria das pessoas nunca ouviu falar, é um ótimo exemplo de retomada de prosperidade na ausência de estímulos governamentais. Se, como dizem os bem-pensantes, uma economia não pode se recuperar na ausência de intervenções estatais, então o que ocorreu em 1920-1921 não poderia ter sido possível. Mas foi.
Durante e após a Primeira Guerra Mundial, o Federal Reserve (o Banco Central americano) inflacionou a oferta monetária substancialmente. Quase toda a economia americana estava voltada para o esforço da guerra. Com o fim desta – e com os preços em alta – a economia precisava se reorganizar. E foi aí que começou o período de correção (recessão). O Fed passou a aumentar a taxa de redesconto – a taxa à qual ele fazia empréstimos para os bancos – e a economia desacelerou, começando a se reajustar para a realidade. Já em meados de 1920, arecessão havia se tornado severa, com a produção caindo 21% durante os doze meses seguintes. O número de pessoas desempregadas saltou de 2,1 milhões em 1920 para 4,9 milhões em 1921. A taxa de desemprego subiu de 5,2% em 1920 para 12% em 1921.
De 1929 em diante, Herbert Hoover e depois Franklin Roosevelt tentaram combater uma depressão econômica encarecendo os custos da mão-de-obra. Warren G. Harding, por outro lado, disse em 1920, durante seu discurso de aceitação após ser confirmado como o candidato Republicano à presidência dos EUA: “Eu estaria cego às responsabilidades que marcam esse momento decisivo se eu não advertisse os assalariados americanos de que aumentos salariais conjugados com o declínio da produção podem levar apenas à ruína econômica e industrial”. Em outro momento, Harding explicou que salários, assim como os preços, precisariam cair para refletir as realidades econômicas do pós-bolha.
Poucos presidentes americanos são mais impopulares entre historiadores do que Harding, que é rotineiramente retratado como um bobo desajeitado que caiu de pára-quedas na presidência. Entretanto, quaisquer que tenham sido suas deficiências intelectuais – e elas foram grotescamente exageradas, como recentes estudiosos vêm admitindo – e quaisquer que tenham sido seus defeitos morais (seu gabinete sofreu acusações de corrupção), ele compreendeu os fundamentos da expansão econômica, da recessão e da recuperação melhor do que qualquer outro presidente do século XX.
Harding semelhantemente condenava a inflação: “A brutal expansão da moeda e do crédito levaram a uma depreciação do dólar assim como a expansão e a inflação desgraçaram as moedas do resto do mundo. Inflacionamos precipitada e apressadamente, e agora precisamos deflacionar cautelosamente. Enfraquecemos o dólar com políticas monetárias negligentes, agora precisamos recuperá-lo honestamente”.
E ao invés de prometer gastar somas inauditas, ele defendia o corte de gastos:
Tentaremos uma deflação inteligente e corajosa, e atacaremos a prática do endividamento governamental, algo que só aumenta o infortúnio e a nocividade, e atacaremos o alto custo do governo com todos meios e energia inerentes à capacidade republicana. Prometemos o alívio que advirá da interrupção do gasto e da extravagância, e a renovação da prática da economia política, não apenas porque isso irá aliviar o fardo tributário, mas também porque será um exemplo para se estimular a poupança e a economia na esfera privada.
A economia, explicou Harding em seu discurso de posse no ano seguinte, “sofreu os choques e tremores relativos à demanda anormal, à inflação do crédito e ao distúrbio nos preços.” E agora o país estava sofrendo o inevitável processo de ajuste. Nenhum atalho era possível:
As penalidades não serão leves e tampouco serão igualmente distribuídas. E não há como fazer com que assim o seja. Não há uma transição instantânea da desordem para a ordem. Precisamos enfrentar uma realidade amarga, dar baixa em nossos prejuízos e começar novamente. Esta é a lição mais antiga da civilização… Nenhuma modificação no sistema poderá operar um milagre. Qualquer experimento aventureiro irá apenas adicionar mais confusão. Nossa melhor garantia jaz na administração eficiente de nosso já fundamentado sistema.
Harding foi fiel às suas palavras, executando cortes orçamentários que haviam começado sob o debilitado governo de Woodrow Wilson. Os gastos federais declinaram de $6,3 bilhões em 1920 para $5 bilhões em 1921 e $3,3 bilhões em 1922. Simultaneamente, os impostos também foram cortados – para todos os grupos de renda. E durante o curso da década de 1920, a dívida nacional americana foi reduzida em 33%.
Contrariamente ao Japão, que incorreu em uma maciça intervenção governamental em 1920 que paralisou sua economia e contribuiu para uma severa crise bancária sete anos depois, os EUA permitiram que sua economia se reajustasse. “Em 1920-21,” disse o economista Benjamin Anderson,
Encaramos nossos prejuízos, reajustamos nossa estrutura financeira, suportamos nossa depressão, e em agosto de 1921 recomeçamos nosso crescimento. … A reação ocorrida na produção e no emprego, que começou em agosto de 1921, foi solidamente baseada em uma limpeza drástica do crédito malfeito, em uma drástica redução nos custos de produção, e na livre concorrência da iniciativa privada. A reação não se baseou em nenhuma política governamental criada para subsidiar os negócios.
Eis os números: o PIB real – que foi de $146.4 bilhões em 1919, depois caindo para $140.0 em 1920 e finalmente despencando para $127.8 em 1921 – subiu para $148.0 em 1922 e $165.9 em 1923. A taxa de desemprego – que havia sido de 1.4% em 1919, 5,2% em 1920 e 11,7% em 1921% – caiu para 6,7% em 1922 e 2,4% em 1923. Tudo isso concomitante a um aumento nos juros (veja mais aqui).
Isso supostamente não poderia acontecer – ou pelo menos não tão rápido – na ausência de estímulos fiscais e monetários. Mas em quem você vai acreditar: em Paul Krugman ou nos seus próprios olhos?
Naturalmente, alguns economistas modernos que analisaram o assunto ficaram estupefatos. Como pode ter ocorrido uma recuperação econômica na ausência de suas estimadas propostas? Robert Gordon, um keynesiano, admite que “as políticas governamentais para moderar a depressão e acelerar a recuperação foram mínimas. As autoridades do Federal Reserve foram amplamente passivas. … Apesar da ausência de uma política governamental de estímulo, a recuperação não demorou.” Kenneth Weiher, um historiador econômico, observa que “não obstante a severidade da contração, o Fed não utilizou seus poderes para aumentar a oferta a monetária e lutar contra a contração.” Daí ele rapidamente concede que “a economia recuperou-se rapidamente da depressão de 1920-1921 e adentrou um período de crescimento bastante vigoroso.” Porém (assim como a maioria desses historiadores), ele prefere não se estender muito nesse fenômeno e nem extrair dele qualquer aprendizado.
Na realidade, Weiher, com ares superiores, diz que “isso foi em 1921, muito antes do conceito de política anticíclica ser aceito ou mesmo compreendido”. Hum… sim, e desprovida destas ferramentas ‘indispensáveis’, a economia americana recuperou-se mesmo assim.
O leitor provavelmente já notou que as recomendações e as ações de Harding são exatamente opostas à sabedoria convencional reinante nos círculos políticos, midiáticos e acadêmicos de hoje. “O governo precisa fazer algo!”, gritam todos. Obama, o líder da turma, disse que declínios econômicos degeneram-se em depressões duradouras porque os governos deixam de agir com o vigor suficiente para impedi-los.
Não se trata de uma mera coincidência que a economia tenha retornado à normalidade de modo relativamente rápido após a depressão de 1920, ao passo que, diferentemente desta, as condições depressivas persistiram durante toda a década de 1930, uma década de intenso ativismo governamental. Foi exatamente porque medidas de estímulos fiscais e monetários não foram tentadas, que a recuperação e o posterior e sólido progresso econômico ocorreram no início dos anos 1920. E essa foi a última vez que um governo se absteve de intervir na economia em épocas de recessão.
A ideia de que estímulos fiscais e monetários são necessários para se curar uma depressão advém de um diagnóstico equivocado das causas das depressões econômicas. Consequentemente, os remédios ministrados são completamente errados. Por exemplo, a causa da recessão não é a ocorrência de um nível inadequado de gastos, mas sim o fato de que, no rastro de uma expansão econômica artificial induzida pelo banco central, a estrutura do capital fica em desacordo com as demandas dos consumidores. A recessão é o período em que esse descompasso é retificado através da realocação do capital para empreendimentos mais apropriados. Estímulos fiscais e monetários irão apenas interferir nesse rearranjo, atrasando esse processo de limpeza (dos investimentos errados) e reajuste (da estrutura do capital).
Harding, ao contrário da classe política atual, de fato entedia isso. Desta forma, um dos mais odiados presidentes do século XX permitiu que os EUA enfrentassem uma recessão bem pior do que a atual pela qual estamos passando simplesmente deixando que o livre mercado fizesse os ajustamentos necessários. E Harding, como seus comentários indicam, seguiu sua política de não fazer nada não por uma questão de inércia ou por ser incapaz de conceber abordagens alternativas; essa figura menosprezada era de fato um economista muito melhor do que a maioria dos gênios que presunçosamente querem nos instruir atualmente.
Atualmente, políticos de todos os cantos do mundo insistem que devemos aprender as lições da história – e de fato há lições para serem aprendidas. Mas para o estado e seus intelectuais comprados, a história é um mero instrumento a ser colocado a serviço das propagandas exigidas pelo momento, e não uma fonte imparcial de sabedoria ou instrução.
É por isso que observar o desenvolvimento dos eventos atuais é como observar um trem indo vagarosamente para o precipício. Você sabe que vai acabar em desastre, mas você é incapaz de fazer algo para pará-lo. Sabemos que os políticos não irão aprender absolutamente nenhuma lição econômica que a história venha a ensinar. Mas se eles não irão aprendê-las, nós teremos de. Nem que seja para nos prepararmos para o desastre vindouro.
___________________________________________________
Leituras recomendadas:
Depressões econômicas: a causa e a cura
Por que os bancos devem aumentar os juros em uma recessão
Explicando a recessão japonesa
Hoover e a fraudulenta história da Grande Depressão
O New Deal ridicularizado (novamente)