O atual momento da economia global

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stock-market-chartMeninos, aumentem o som, pois os bons tempos estão de volta!  Os dados recém-divulgados sobre a economia americana, incluindo desemprego, renda média, venda de imóveis e gastos empresariais, os quais foram inequivocamente horrendos em fevereiro e março, agora estão apenas trivialmente péssimos.  Mas isso aparentemente já é o suficiente para animar a todos.  Bastam as coisas piorarem a um ritmo menor do que o anterior, e todo mundo já comemora como sinal de que o pior já passou.

Portanto, posto que a Bruxa da Depressão foi aparentemente esmagada pela economia e sabedoria obâmica, os anões de Wall Street gritaram “está tudo em ordem!”, e a Dow Jones já subiu 25% desde o seu pior nível.  E as bolsas de todo mundo parecem estar seguindo a batuta do maestro da Casa Branca.

Porém, a prematura conclusão desses otimistas – a saber, que o colapso de 2008/2009 é agora apenas uma lembrança desvanecida – é algo tão ilusório quanto a total incapacidade que eles demonstraram de prever esse colapso.

Mais uma vez, os fatos não sustentam a euforia.  Durante os últimos meses, o governo americano literalmente destroçou a economia, jogando nela trilhões de novos dólares criados do nada.  Que esse “estímulo” tenha devolvido um pouco de gás a uma economia totalmente baseada no consumo e tenha dado impulso a um mercado de ações cujos preços haviam caído mais do que os próprios fundamentos econômicos sugeriam, dificilmente é uma evidência de que os problemas foram resolvidos.  Trata-se simplesmente de uma ilusão – e uma ilusão nada boa.  Ao jogar dinheiro no problema, tudo o que o governo americano está criando é inflação.  Embora isso possa ser confundido com crescimento, sua capacidade de criar riqueza é igual à capacidade que uma sala de espelhos tem de criar pessoas.

Os EUA estão atualmente sofrendo de uma overdose causada por estímulos anteriores.  Uma dose maior agora irá apenas piorar as condições.  O estímulo criado pela dupla Greenspan-Bush em 2001, para combater a recessão deixada pelo governo Clinton, impediu uma correção que era extremamente necessária, legando aos americanos sete anos de crescimento artificial [este website fornece dados calculados por uma entidade privada, e mostra – em linhas azuis – que o crescimento econômico real desse período Bush foi negativo].

A conta multitrilionária deixada por essa negação da realidade econômica chegou em 2008.  O estímulo de 2001 deu o pontapé inicial a uma inédita farra consumista totalmente baseada no endividamento, o que debilitou a economia – sendo que a intenção do governo era fortalecê-la.  E agora, embora o recente estímulo tenha sido ministrado em uma dose bem maior, provavelmente teremos uma reação econômica muito menor do que aquela.  Podemos apenas especular sobre quanto tempo a mais este estímulo irá nos comprar e qual será seu custo quando a conta chegar.

Meu palpite é que, na melhor das hipóteses, esse estímulo criado pela dupla Bernanke/Obama irá nos dar mais dois anos, depois dos quais a ressaca recomeçará.  Entretanto, como essa mais recente dose foi extremamente colossal, o revés econômico será igualmente horrível.  Meu temor é que, quando a droga diminuir seu efeito, iremos correr até aquela seringa monetária uma última vez.  Essa última dose poderá ser letal, e a economia americana irá morrer de hiperinflação.

Como sempre, os operadores otimistas (altistas ou bulls) são incapazes de entender que os investidores podem perder riqueza mesmo quando os preços nominais das ações estão subindo.  Como corolário, a postura dos pessimistas (baixistas ou bears) não fica desacreditada por causa de um aumento nos preços das ações.  Embora haja alguns baixistas que erroneamente aderem à ideia de que a atual deflação de preços irá fazer com que o dólar se valorize, aqueles de nós que acreditam em uma futura inflação de preços entendem que o oposto irá ocorrer.

Ademais, as ações não estão subindo por causa de uma melhora nos fundamentos de longo prazo da economia americana.  No mínimo, o aumento nos preços globais das ações se deve ao fato de os investidores estarem percebendo que manter dinheiro guardado é ainda mais arriscado do que investi-lo em ações.  A maciça inflação monetária que é a fonte desse estímulo inevitavelmente se tornará uma punição para aqueles que estiverem guardando dólares.  Por isso, para preservar seu poder de compra, os investidores têm de buscar reservas de valores alternativas, tais como ações.

É importante observar que, apesar dessa impressionante reação, as ações americanas se apreciaram substancialmente menos do que as ações estrangeiras.  Nos últimos dois meses, enquanto a Dow Jones subiu 30%, o índice Hang Seng de Hong Kong e o DAX alemão subiram mais de 50% em termos de dólares americanos.  [O Ibovespa já subiu 57,5% desde 6 de março, também em termos de dólares americanos].  Os preços das commodities também estão subindo, com o petróleo atingindo o maior valor dos últimos 5 meses.  O ouro também está brilhando, e o índice HUI já subiu mais de 30% nos últimos dois meses, sendo que 2/3 desses ganhos ocorreram apenas no mês passado.  Se toda essa reação ocorrida nos preços se devesse a uma melhora nos fundamentos econômicos, as ações do ouro não estariam entre as líderes.

Mais ainda: durante esses últimos dois meses, o índice do dólar americano [sua cotação em relação a uma cesta de 6 moedas: euro, iene, libra, dólar canadense, franco suíço e coroa sueca] caiu 7%, sendo que as moedas de países exportadores de commodities, como a Austrália e a Nova Zelândia, valorizaram-se 20%.  [O real valorizou-se 14,3% nesse mesmo período].

Para mim, a relativa robustez das ações e moedas estrangeiras indica que, talvez, a economia global não esteja tão debilitada quanto muitos temiam.  Desde o início, minha visão sempre foi a de que, após o choque inicial se dissipar, o mundo estará melhor do que antes – pois não mais estará subsidiando a economia americana, dando-lhe produtos baratos em troca de dólares depreciados, como sempre fez.

O encolhimento do déficit em conta-corrente dos EUA é uma evidência de que essa tendência já está acontecendo.  Essa revigorada força demonstrada pelas ações estrangeiras, em conjunto com a derrocada do dólar, pode ser um indício de que o mundo não apenas está se descolando dos EUA, como também está se beneficiando disso.

Portanto, deixemos os anões de Wall Street dançarem um pouco, por enquanto.  Mas lembre-se: a Bruxa não está morta; ela está apenas temporariamente embevecida pela avalanche de dinheiro fácil.

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