Teoria Austríaca, Ciclos e Deflação (Concurso IMB)

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Nota do IMB: o artigo a seguir faz parte do concurso de artigos promovidos pelo Instituto Mises Brasil (leia maisaqui).  As opiniões contidas nele não necessariamente representam as visões do Instituto e são de inteira responsabilidade de seu autor.

Introdução

A teoria austríaca não acredita nos efeitos positivos de políticas de estímulos econômicos. Isso se deve ao seu subjetivismo radical, onde se acredita que é impossível o estado conseguir alocar eficientemente os recursos. Utilidade e custos são imensuráveis, e qualquer tentativa de beneficiar o indivíduo por meio de políticas sociais provoca distorção na alocação dos recursos. Dentre as mais graves nós temos inflações, deflações e bolhas de crédito. Entretanto, é bom deixar claro que isso não quer dizer que todo tipo de deflação é ruim. Existem casos em que a deflação é apenas um reflexo da eficiência do capitalismo e das preferências dos indivíduos.

Preferência temporal

Os recursos na terra são finitos, por isso as pessoas devem escolher suas necessidades mais urgentes. Através de suas preferências as pessoas vão interagindo umas com as outras para atingir seus objetivos. Agindo em seu próprio interesse, o que não implica que todas as ações são egoístas, pois a preferência pode ser ajudar o outro, as pessoas são mais cuidadosas, já que sabem o custo de tomar determinada decisão. Tomamos cuidado nas nossas escolhas por conta da incerteza, não sabemos o que o futuro nos reserva, então o melhor a se fazer é procurar um caminho que diminua nossos riscos. E o mercado fornece essa diminuição: quanto mais interagimos uns com os outros, o problema da informação vai sendo resolvido e, consequentemente, atingimos nossos objetivos. Como o economista Friedrich von Hayek nos ensinou, a informação é dispersa no mercado, e para conseguirmos eficiência econômica devemos buscar o conhecimento que nos fará aumentar nossa satisfação.

A atividade empresarial desempenha um papel importante na economia. Os empresários ficam alertas às oportunidades de lucro, produzindo o que os consumidores determinam. Na economia de mercado, o soberano é o consumidor. Aqui entramos com um importante conceito: preferência temporal. Os consumidores podem escolher consumir mais no presente ou no futuro. Se escolherem mais no futuro, destinam boa parte da renda para poupança, e recebem uma recompensa enquanto o dinheiro estiver parado, ou seja, os juros. A taxa de juros é determinada pela preferência temporal dos agentes: se desejam consumir mais no presente, a taxa será alta, pois pegar dinheiro emprestado (tem pouco disponível) sairá caro, e as pessoas demonstram que não terão poder de compra alto no futuro, ou seja, não estimulam novos investimentos. Os empresários não vão investir em bens de capital se os agentes preferem consumir no presente, pois no futuro eles não teriam renda pra suprir a oferta, caso investissem. Já no caso inverso, com preferência para o futuro, os empresários se interessam em investir na produção, já que o consumo posterior vai crescer. No primeiro caso, a taxa de juros é alta, no segundo, baixa. E assim a preferência temporal ajusta a taxa de juros que envia os sinais corretos para os empresários.

Inflação e expansão de crédito

Os bancos centrais possuem o monopólio de emissão de moeda, e quando eles aumentam a quantidade de dinheiro em circulação, fazem diminuir o poder de compra da população. Essa diminuição do valor da moeda é prejudicial para a economia, principalmente para os mais pobres. Isso acontece porque os únicos beneficiados temporários são os primeiros que recebem a moeda, que tem seu poder de compra aumentado do nada. Os mais pobres só recebem o aumento de preço, e tem seu poder de compra reduzido por conta da política do banco central. Não é a toa que alguns economistas dizem que a inflação é o “imposto dos pobres”.

O economista Ludwig von Mises diferencia a inflação “simples” da expansão de crédito[1]. No primeiro caso, há apenas realocação de recursos do setor público para o privado. No segundo, temos a manipulação da taxa de juros pelo estado, que provoca os ciclos econômicos. Com o objetivo é facilitar o crédito para os empresários, a preferência temporal dos agentes não é levada em conta. Por exemplo, se a taxa de juros do mercado fosse de 6% e o banco central manipulasse para baixar para 4%, investimentos que não seriam feitos antes, agora serão. Contudo, esses investimentos não levam em conta que a preferência temporal dos agentes é de 6%, então, no futuro, não haverá demanda para tanta produção. Assim, os empresários endividados irão à falência. Ou seja, a manipulação dos juros feita pelo estado é a causa dos ciclos econômicos.

Um crescimento que respeite a preferência temporal dos agentes é sustentável, pois os recursos estão sendo alocados de forma que as pessoas querem. Se os juros são baixados artificialmente, os recursos não vão ser alocados segundo a escolha original dos agentes, pois, os empresários vão investir esperando demanda futura, e os consumidores resolveram gastar mais no presente. O único resultado possível é a crise e quebra geral de empresas e bancos. E quando isso acontece é necessário que o governo não tente salvá-los, pois se os investimentos foram incorretos, ajudá-los só seria criar uma bola de neve: num primeiro momento a economia voltaria a crescer, para depois a quebradeira se tornar mais profunda.

Deflação

Apesar de o mainstream acadêmico demonstrar o contrário, a deflação não é necessariamente ruim. Deflação é quando a moeda se torna mais valiosa e mais escassa em relação à demanda. Segundo Joseph Salerno, existem quatro tipos de deflação[2]: Growth Deflation, Cash-Building Deflation, Bank-Credit Deflation e Confiscatory Deflation.

Growth Deflation.

O aumento da produção, maior que a desvalorização da moeda (causada pelo governo), causa a valorização relativa da mesma. Isso é o que temos visto durantes vários anos. Por exemplo, o preço de aparelhos eletrônicos baixou com o tempo devido ao ganho de produtividade e avanço tecnológico. Então a moeda ganhou poder de compra para esses produtos. Esse tipo de deflação é benéfico, pois aumenta a satisfação das pessoas.

Cash-Building Deflation

É o aumento da demanda por moeda com o intuito de poupá-la. Essa deflação não é ruim, pois está de acordo com a preferência temporal dos agentes. Os indivíduos resolvem poupar mais para consumir no futuro. É uma deflação de acordo com as leis de mercado.

Bank-Credit Deflation

Essa deflação ocorre devido às reservas fracionárias. Quando os depositantes vão sacar seu dinheiro do banco e percebem que não há para todo mundo, a corrida pela moeda aumenta seu valor. Isso pode causar ainda uma crise sistêmica, pois as pessoas ficarão desconfiadas dos demais bancos, e podem fazer o mesmo. O resultado será uma demanda crescente por moeda, que causa sua valorização. Como está claro, essa deflação não é boa, pois ocorre pela errada percepção dos agentes de que os bancos realmente têm toda a moeda que diz ter.

Confiscatory Deflation

Os governos usam como desculpa a inflação para confiscar a poupança dos indivíduos. Essa ação desrespeita o direito de propriedade das pessoas, pois elas não podem usar o que lhes pertence. E toda agressão à propriedade causa ineficiência econômica, então esse tipo de deflação não é desejável.

Conclusão

Pudemos perceber que qualquer tentativa de manipulação da moeda por parte de uma entidade coercitiva causa distorções no mercado e perda de bem-estar dos indivíduos. A solução, como para as demais áreas, é deixar que o mercado cuide do fornecimento de moeda, que é a única forma de gerar eficiência para as pessoas.

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Notas:

[1] Ver Larry J. Sechrest, Explaining Malinvestment and Overinvestment.

[2] Ver Joseph T. Salerno, An Austrian Taxonomy of Deflation.

 

Referências:

KAZA, Greg, Deflation and Economic Growth. The Quarterly Journal of Austrian Economics, Vol. 9, Nº 2, 2006.

SALERNO, Joseph T. An Austrian Taxonomy of Deflation. The Mises Institute, 2002.

SECHREST, Larry J. Explaining Malinvestment and Overinvestment. The Quarterly Journal of Austrian Economics, Vol. 9, Nº 4, 2006.

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