A Grécia ilustra 150 anos de fracasso do socialismo na Europa

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Supporters of radical leftist Syriza party chant slogans and wave Greek national and other flags after winning elections in Athens, January 25, 2015. Greek Prime Minister Antonis Samaras has called Tsipras to congratulate him on winning Sunday's snap election, a spokesman for Syriza and an official of the ruling conservative party said. REUTERS/Alkis Konstantinidis (GREECE - Tags: POLITICS ELECTIONS)

A Grécia deu o calote em sua dívida com o Fundo Monetário Internacional, tornando-se assim o primeiro país “desenvolvido” a fazê-lo.

Após passar os últimos cinco anos sobrevivendo pendurada a empréstimos “de emergência”, uma dívida de 1,6 bilhão de euros, cujo prazo expirou à meia-noite de terça-feira, 30 de junho, não foi quitada.  Esse foi o maior calote já vivenciado pelo FMI em todos os seus 71 anos de vida.

De forma reveladora, o FMI se recusa a rotular o que houve pelo nome correto (“calote”), preferindo recorrer ao eufemismo “em atraso” (o qual, para os não-iniciados, é um termo financeiro complexo e altamente técnico que significa ‘calote’).

Após o calote, a Grécia agora está em companhia de países como Sudão, Zimbábue, Afeganistão, Haiti, Iugoslávia e Somália.

A dor grega já vinha se avolumando há um bom tempo, já que o país começou a depender de empréstimos de emergência há cinco anos.  Consequentemente, o calote de agora — embora tenha gerado ondas de choque em todo o mercado financeiro — foi quase que anti-climático.  No entanto, as linhas irregulares dos gráficos do mercado financeiro não mostram nada da carnificina que está acontecendo — ou que está por acontecer — na economia real.

Os problemas que a Grécia e o mundo enfrentam hoje são vários e diversos.  Para os gregos, a imposição de controle de capitais e de feriados bancários deixou a população sem acesso ao dinheiro de suas contas bancárias.  [N. do E.: em uma trágica reedição do Plano Collor e do Corralito argentino].

Enormes filas se formam nos caixas eletrônicos dos bancos durante todas as horas do dia, mesmo que os saques permitidos tenham sido limitados a 60 euros por dia.  A próxima arma a ser utilizada na guerrilha financeira:confisco de depósitos (mais especificamente, o governo irá utilizar o dinheiro que os cidadãos têm nos bancos para recapitalizar estes bancos, o que significa que o dinheiro será tomado dos cidadãos e entregue aos bancos, sem retorno).

Quando a Grécia recorreu aos financiamentos emergenciais, a Troika (o coletivo pejorativa utilizado para se referir à trinca formada por Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI) autorizou um pacote de ajuda de€110 bilhões de euros, em troca de promessas vagas e não-quantificadas de “austeridade“.  Os empréstimos mais recentes foram, na realidade, uma mera reutilização dos juros que a Grécia pagou aos outros países da zona do euro: os juros que a Grécia pagou foram emprestados novamente para o país.

Mesmo agora, após o calote, há poucas dúvidas no mercado financeiro de que a solução para essa crise da dívida será mais endividamento.

Como os gregos estão aprendendo, o FMI não irá aceitar calotes.  Nunca aceitou e nunca aceitará.  Dizer que a Grécia está “em atraso” não melhorará as coisas.  A mensagem é clara: os gregos pagarão.  Embora a Grécia tenha vivido confortavelmente por algum tempo, com um padrão de vida muito acima de suas reais posses, chegou a hora de pagar a fatura.

O fracasso socialista

No entanto, a Grécia não conseguirá pagar suas dívidas.  Jamais.  Na mesma situação estão vários outros países da União Europeia.  É por isso que as elites financeiras europeias estão fazendo de tudo, inclusive jogo semântico, para não classificar oficialmente a Grécia como ‘caloteira’.  Afinal, se a Grécia revogar sua dívida, por que os outros países da União Europeia (Portugal, Espanha, Itália e até mesmo França) deveriam pagar as suas?

As consequências financeiras de calotes maciços da maioria dos membros da União Europeia é difícil de prever, mas não serão belas.  A Europa, financeiramente, construiu um castelo de cartas, e a mais mínima perda de confiança bastará para desmoroná-lo.

No cerne dessa tragédia europeia está o ideal socialista.  A Europa vem flertando com o socialismo desde o final do século XIX.  O socialismo bismarckiano, que começou no final daquele século, produziu duas guerras mundiais.  O socialismo leninista, até o seu eventual colapso, dizimou e escravizou centenas de milhões de indivíduos.  Sem se sentirem afetados, tão logo a Segunda Guerra Mundial terminou, os socialistas europeus embarcaram em um novo sonho socialista.  Afinal, se o socialismo havia fracassado em um país, certamente ele funcionaria em outros.  E, se ele fracassasse em outros, então certamente ele funcionaria se toda a Europa fosse arregimentada sob uma organização socialista supra-nacional.

É claro que eles não chamam de “socialismo” o arranjo que surgiu desse sonho, mas é um socialismo ainda assim.

O socialismo jamais irá funcionar, seja em um único país, seja em uma região formada por vários países, como a Europa, ou até mesmo no mundo como um todo.  Ludwig von Mises, ainda em 1920, já explicou por que o socialismo não é um sistema econômico alternativo.  O socialismo nada mais é do que um programa de consumo.  O socialismo nada diz sobre a produção.  O socialismo não tem uma teoria sobre a produção econômica.

Dado que, no socialismo, a produção de cada indivíduo será redistribuída para toda a humanidade, não há incentivo econômico para se produzir nada.  Por outro lado, haverá vários incentivos para a coerção, para ameaças de violência e, em última instância, para a escravização completa.

Inversamente, o capitalismo de livre mercado é um sistema econômico voltado para a produção, no qual cada indivíduo é o proprietário dos frutos do seu trabalho e, consequentemente, possui grandes incentivos econômicos para produzir tanto para si próprio e sua família quanto para trocar seus bens excedentes pelos bens excedentes produzidos por terceiros.

Já sob um arranjo socialista, tanto o trabalhador quanto seu supervisor, mesmo sob constantes ameaças de morte, jamais saberiam o que produzir, como produzir, em que quantidade produzir e com que qualidade.  Essas direções econômicas são produtos do capitalismo de livre mercado e do sistema de preços, ambos abolidos sob o socialismo.

Sob o capitalismo, o indivíduo se especializa em produzir bens que podem ser livremente trocados pelos bens produzidos por terceiros.  Essa é apenas uma maneira de ilustrar a Lei de Say: a produção tem necessariamente de anteceder o consumo, e a própria produção cria uma demanda por outros produtos.

Por exemplo, um agricultor pode cultivar milho para a sua própria família ou para alimentar seu rebanho, mas ele irá vender a maior parte do seu milho no mercado em troca de dinheiro.  E ele utilizará esse dinheiro para satisfazer todas as suas necessidades e desejos.  Sua plantação de milho, portanto, representou sua demanda por outros bens e serviços, e o dinheiro foi simplesmente o meio de troca que ele utilizou para satisfazer sua demanda.

 

Keynes tentou refutar a Lei de Say alegando que a demanda, por si só — criada artificialmente por meio da impressão de dinheiro pelo Banco Central —, iria estimular a produção. Ele tentou, de maneira ilógica e sem êxito, colocar o consumo antes da produção [N. do E.: exatamente como fez o governo brasileiro ao adotar a Nova Matriz Econômica]. Isso gera apenas inflação de preços e endividamento.

Até hoje, Keynes é extremamente popular entre políticos adeptos da gastança, aos quais ele concedeu a teoria intelectual e o imperativo moral de gastar o dinheiro que não têm.

Estamos testemunhando hoje, em tempo real, o resultado de 150 anos de socialismo europeu chegando ao seu estágio final na Grécia. Os cidadãos europeus dos países produtores de riqueza — e que sustentam todo o arranjo da União Europeia por meio de seus impostos — estão começando a perceber que foram, todo esse tempo, espoliados pela UE, que, ao garantir explicitamente não deixaria nenhum governo quebrar, criou um risco moral irreversível: qual governo adotaria uma política fiscal cautelosa sabendo de antemão que, se quebrasse, seria socorrido pelos pagadores de impostos de outros países?

A Grécia simplesmente acreditou piamente nessa garantia, e adotou políticas fiscais expansionistas que levaram o país à falência. Outros países da UE não estão muito atrás.

Passou de hora de dar uma chance ao capitalismo de livre mercado na Europa: ele funcionou todas as vezes em que foi adotado.

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Autores:

Patrick Barron, consultor privado da indústria bancária.  Leciona na pós-graduação da Universidade de Winsconsin, Madison, na área de sistema bancário, além de ensinar economia austríaca na Universidade de Iowa, onde vive com sua mulher.  Já fez diversas apresentações para o Parlamento Europeu.

Ian Daily, graduando em direita pela UCLA, estudou economia e ciência política na Universidade do Sul da Califórnia (USC).  É também veterano da Marinha.

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