A capitulação do arrogante populismo do Syriza – e por que a extrema-esquerda europeia está acabada

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150702112934-tsipras-crumbling-economy-780x439O primeiro-ministro grego Alexis Tsipras, do partido de extrema-esquerda Syriza, e seu ex-ministro das finanças, Yanis Varoufakis, acreditavam ser jogadores mais hábeis do que realmente são.

A estratégia de ambos, desde sua ascensão ao governo grego no início de 2015, era a de chantagear a Alemanha e toda a União Europeia, ameaçando darem o calote da dívida e com isso destruindo todo o arranjo do euro caso não obtivessem, de um lado, o perdão das dívidas do governo, e de outro, mais pacotes de ajuda sem contrapartidas.

Varoufakis, mais especificamente, estava plenamente convencido de que Angela Merkel e seus pares acabariam cedendo às chantagens para evitar um possível desmembramento da moeda única.

Para mostrar que tal postura tinha apoio popular, ambos convocaram um referendo para perguntar à população grega se ela aceitava as condições impostas pela Troika (União Europeia, Banco Central Europeu e FMI).  A população grega, dando amplo respaldo ao governo, votou maciçamente no ‘não’.

Mas a Troika, com a União Europeia à frente, não apenas não cedeu às chantagens, como ainda se mostrou disposta a fazer com que o governo grego se enforcasse com a própria corda.  E foi aí que toda a estratégia grega se desmoronou: Tsipras revelou que estava sem rumo e sem estratégia após sua vitória no referendo; que o próprio referendo havia sido uma farsa; e que ele nunca desejou sair do euro (óbvio, pois sabe que as consequências seriam ainda piores).

Neste genuíno jogo da galinha, Tsipras foi o primeiro covarde a gritar “arrego!”.  E, após todas as bravatas e bazófias, ele teve de recuar e ceder em praticamente tudo: a estratégia de Varoufakis o havia colocado em uma ratoeira e Tsipras optou por não “morrer matando”, o que o obrigou a capitular com desonras.

Consequentemente, menos de uma semana após a vitória de Tsipras no referendo, a Troika não apenas conseguiu fazer com que Tsipras entregasse a cabeça de Varoufakis, como ainda o humilhou ainda mais, obrigando-o a votar no Parlamento grego um acordo muito mais rigoroso do que aquele que havia sido proposto antes do referendo.

Ou seja: Tsipras não apenas capitulou e recuou, como ainda, em troca de suas bravatas, acabou sendo obrigado a aceitar um acordo muito mais duro do que o original em troca de um novo pacote de socorro.

Para manter o apoio financeiro ao país e estender um novo pacote de socorro no valor de € 86 bilhões de euros, a União Europeia impôs várias exigências drásticas à Grécia, dentre elas: novo aumento de impostos, reformas no sistema de aposentadorias e pensões (elevando a idade de aposentadoria para 67 anos; atualmente, é de 50 anos para as mulheres e de 55 anos para os homens), privatização do setor elétrico (a menos que se encontre medidas alternativas com o mesmo efeito), e criação de leis que assegurem “cortes de gastos automáticos” caso o governo não cumpra as metas de superávit fiscal.

E, como garantia a esse novo empréstimo de € 86 bilhões de euros, a Troika impôs que o governo grego transfira € 50 bilhões em ativos estatais para fundos independentes supervisionados pela Troika.

A derrota do Syriza foi absoluta, por mais que seus partidários se apeguem à desesperada justificativa de que Tsipras conseguiu um compromisso de reestruturação da dívida grega.  Nem isso procede.  Vale recordar que semelhante compromisso por parte do Eurogrupo já existia, condicionado — como agora — a que a o governo grego cumprisse seus compromissos.  Eis a mensagem publicada pelo Eurogrupo no dia 27 de novembro de 2011, meses após o acordo do segundo pacote de socorro:

Os países da zona do euro estão dispostos a tomar as seguintes medidas: diminuir em 1 ponto percentual as taxas de juros cobradas pelos empréstimos feitos à Grécia (…); ampliação dos prazos dos empréstimos em 15 anos e um prolongamento do pagamento de juros para 10 anos (…).  Todavia, o Eurogrupo enfatiza que a dívida grega somente irá se beneficiar destas reformas de maneira gradual e condicionada a uma completa implantação das reformas às quais o país subscreveu.

Tsipras, portanto, não apenas não logrou nada de novo, como ainda piorou demasiadamente a situação do país.  A péssima estratégia de negociação desenhada por Varoufakis, além de não ter logrado nenhum dos objetivos ambicionados — muito pelo contrário: acabou levando a Grécia a aceitar condições muito mais rígidas que as iniciais —, acabou impondo brutais custos sociais para o país.

Em primeiro lugar, a economia grega chega à metade de 2015 completamente paralisada como consequência das incertezas quanto ao futuro geradas pelo Syriza.

Em segundo lugar, a credibilidade e a confiança do governo grego, bem como de boa parte de seus cidadãos, perante o resto da Europa se esvaiu e demorará muito tempo para ser reconstruída.

Em terceiro lugar, é bem provável que a coalizão governante esteja ferida de morte, uma vez que sofreu uma desnecessária humilhação.  Fez bravatas mas acabou cedendo a tempo, deixando como consequência um executivo debilitado e instável.

E, por último, o corralito bancário imposto pelo Syriza (os saques estão limitados a 60 euros por dia) foi o golpe fatal desferido à economia: as transações econômicas e bancárias foram paralisadas — e vão continuar paralisadas — pelas próximas semanas, as empresas estão descapitalizadas, as importações estão congeladas (o que levou à suspensão das operações de várias empresas gregas), e o próprio sistema bancário grego está vivenciando prejuízos extraordinárias, que abriram um buraco de 25 bilhões de euros no capital dos bancos.

Em definitivo, a estratégia de negociação do Syriza, desde que chegou ao poder, se resumiu a um arrogante disparate, típica de iluminados vaidosos que acreditavam nos embustes que proferiam para enganar seus eleitores.  A um elevadíssimo custo político, social e econômico, tudo o que conseguiram foi um acordo muito pior do que aquele que já existia desde o início.

“Queremos dignidade”, é o que diziam. Perderam também a moral.

O fim da extrema-esquerda na Europa

Em todo caso, o partido político de Tsipras foi dizimado.  E, junto com ele, a extrema-esquerda europeia.  Somente crentes inflexíveis irão levar a sério, novamente, qualquer um da extrema-esquerda que tenha como plataforma de campanha peitar o Banco Centra Europeu, o FMI e a União Europeia.

Acabamos de testemunhar o que aconteceu com o mais vociferante político de extrema-esquerda que chegou a gerenciar um governo na União Europeia.  Ele chegou rosnando e latindo com um rottweiler e hoje chora como um poodle.  A Troika o domesticou completamente.  Deixaram-no apenas com sua retórica, mas isso é tudo que lhe resta atualmente.

Foi uma vitória simbólica de grande importância para a União Europeia.  Tsipras era o líder de um governo pertencente à União Europeia.  Ele foi eleito com a promessa de se opor aos programas de austeridade impostos pela Troika ao governo grego, o que significa que ele não iria capitular à Troika.  Só que, no último momento, ele se vergou.

A retórica de Tsipras era linha dura e empedernida.  Quando ele estava em campanha fazendo promessas para ser eleito, ele não hesitava nem vacilava.  Tampouco seu ministro das finanças.  No entanto, há duas semanas, ele se livrou do seu ministro das finanças.  Este nem sequer teve a coragem de romper com Tsipras e se opor ao acordo.  Ele simplesmente renunciou e saiu de férias.  Ele não apareceu na sexta-feira para participar da votação do acordo.  Consequentemente, o acordo piorou ao longo do fim de semana.

Os eleitores que elegeram Tsipras foram traídos.  Os eleitores que votaram ‘não’ no referendo foram traídos.  Com o apoio dessa maioria de 61%, Tsipras os traiu.  Consequentemente, não é de se esperar que eles formem barricadas — literalmente e figurativamente — para defendê-lo e para reelegê-lo (ou reeleger seu partido).  Por que fariam isso?

Com a aprovação do acordo, pelos próximos três anos, a União Europeia (ou seja, os pagadores de impostos dos outros países) dará dinheiro ao governo grego para que este pague juros sobre os títulos gregos que estão em posse de várias agências da União Europeia (80% da dívida grega está em posse de organismos oficiais).  Ao final desses três anos, o ciclo será reiniciado.  É uma jornada sem fim.  Ambos os lados empurrarão com a barriga enquanto puderem.

Tendo em vista esses acontecimentos, fica a pergunta: por que, de agora em diante, algum eleitor de esquerda irá doar dinheiro e tempo para mobilizar tropas em apoio de outro político de extrema-esquerda?  Os eleitores já sabem que o próximo político de extrema-esquerda também irá traí-los.  Não importa quão boa seja sua retórica; não importa que ele submeta a aprovação de acordos a referendos.  Ele irá traí-los.

Esta foi uma derrota simbólica, mas de enormes proporções, para a esquerda europeia.  O mais conhecido e mais combativo representante da esquerda europeia é Tsipras.  Ele teve toda a publicidade que quis.  E agora ele traiu seu eleitorado.  Será difícil a extrema-esquerda voltar a ter tração na Europa.

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Autores:

Juan Ramón Rallo, diretor do Instituto Juan de Mariana e professor associado de economia aplicada na Universidad Rey Juan Carlos, em Madri.  É o autor do livro Los Errores de la Vieja Economía.

Gary North, ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história.

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