Capítulo II – Críticas keynesianas à teoria
II – Críticas keynesianas à teoria[1]
Existem duas críticas keynesianas mais comuns da teoria de Mises do ciclo econômico. Uma censura os seguidores de Mises por identificar poupança e investimento. Poupança e investimento, acusam os keynesianos, são dois processos inteiramente distintos, realizados por dois conjuntos de pessoas sem nenhuma ou quase nenhuma relação entre si; a identificação “clássica” de poupança e investimento é portanto ilegítima. A poupança “vaza” do fluxo consumo-gastos; os investimentos jorram de alguma outra fase dos gastos. Por conseguinte, o que o governo deve fazer numa depressão é, segundo os keynesianos, estimular os investimentos e desestimular a poupança, de modo que os gastos totais aumentem.
Poupança e investimento estão ligados indissoluvelmente. É impossível incentivar uma e desincentivar o outro. Tirando o crédito bancário, a única fonte de onde podem vir os investimentos é a poupança (e vimos o que acontece quando os investimentos são financiados pelo crédito bancário). Não só os consumidores poupam diretamente, mas também os consumidores em sua capacidade de homens de negócios independentes ou de proprietários de empresas. Mas será que a poupança não pode ser “entesourada”? Esse, porém, é um jeito artificial e enganoso de formular a questão. Consideremos as possíveis alocações que uma pessoa pode dar a seus ativos monetários:
Ela pode (1) gastar moeda consumindo; (2) gastá-la investindo; (3) acrescentando-a a seu saldo líquido ou subtraindo-a de saldos líquidos anteriores. É esse o total de alternativas. Os keynesianos presumem, da maneira mais artificiosa, que ela primeiro decide quanto consumir ou não, chamando esse não-consumo de poupança, e depois decide quanto investir e quanto “vazar” nos entesouramentos. (Isso, é claro, é o neo-keynesianismo e não a pura ortodoxia keynesiana, que expulsa o entesouramento pela porta da frente e o convida a entrar pela porta de trás.) Essa abordagem é demasiado artificial, confirmando a acusação de Sir Dennis Robertson de que os keynesianos são incapazes de “visualizar mais do que duas margens ao mesmo tempo”[2] Está claro que nosso indivíduo decide de um golpe só como alocar sua renda em três canais diferentes. Além disso, ele divide as alocações entre as diversas categorias a partir de duas utilidades abrangentes: suas preferências temporais decidem sua alocação entre consumo e investimento (entre gastar no presente ou consumir no futuro); sua utilidade monetária decide quanto ele manterá em seu saldo líquido. A fim de investir recursos no futuro, ele precisa restringir seu consumo e poupar recursos. Essa restrição é sua poupança, e por isso poupança e investimento sempre se equivalem. Os dois termos podem ser usados praticamente um como sinônimo do outro.
Essas diversas valorações individuais somadas resultam nas proporções sociais de preferências temporais e na demanda social por dinheiro. Se a demanda das pessoas por saldos líquidos aumenta, não dizemos que se trata de “poupança vazando para o entesouramento”; simplesmente dizemos que a demanda por moeda aumentou. No agregado, os saldos líquidos totais só podem subir na medida em que a oferta monetária total sobe, já que as duas coisas são idênticas. Mas os saldos líquidos reais só podem aumentar por meio de um aumento no valor do dólar. Se se permitir que o valor do dólar suba (permitindo-se que os preços caiam) sem impedimento, esse aumento na demanda não causará qualquer deslocamento, e as depressões não serão agravadas. A doutrina keynesiana presume artificialmente que a qualquer aumento (ou diminuição) nos entesouramentos corresponderá uma queda (ou um aumento) equivalente nos fundos investidos. Mas isso não está correto. A demanda monetária não tem qualquer relação com as proporções de preferências temporais que as pessoas venham a adotar; um aumento no entesouramento, portanto, poderia igualmente vir de uma redução no consumo reduzido ou no investimento. Em suma, as proporções entre poupança, investimento e consumo são determinadas pelas preferências temporais dos indivíduos; a proporção entre gastos e saldo líquido é determinada por suas demandas monetárias.
A “armadilha” de liquidez
A principal arma do arsenal keynesiano de explicações das depressões é a “armadilha de liquidez”. Ela não é exatamente uma crítica da teoria de Mises, mas é a última linha da defesa keynesiana de suas próprias “curas” inflacionárias para a depressão. Os keynesianos afirmam que a “preferência por liquidez” (demanda monetária) pode ser tão persistentemente alta que a taxa de juros não conseguiria cair o bastante para estimular investimentos suficientes para tirar a economia da depressão. Essa afirmação presume que a taxa de juros é determinada pela “preferência por liquidez” em vez da preferência temporal; e ela também presume, outra vez, que a ligação entre poupança e investimento é realmente muito tênue, exercendo-se apenas provisoriamente por meio da taxa de juros. Mas, pelo contrário, a questão não é a poupança e o investimento sofrerem cada um a ação da taxa de juros; na verdade, a poupança, o investimento e a taxa de juros são, individualmente e no conjunto, todos determinados simultaneamente pelas preferências temporais individuais no mercado. A preferência por liquidez não tem nada a ver com isso. Os keynesianos afirmam que se se a demanda “especulativa” por dinheiro subir durante uma depressão, isso elevará a taxa de juros. Mas uma coisa não decorre necessariamente da outra de jeito nenhum. O aumento no entesouramento pode vir ou de fundos consumidos anteriormente, de fundos investidos anteriormente, ou de uma mistura de ambos que deixa inalterada a antiga proporção entre consumo e investimento. A menos que as preferências temporais mudem, a última alternativa será aquela adotada. Assim, a taxa de juros depende exclusivamente da preferência temporal, e de jeito nenhum da “preferência por liquidez”. Na verdade, se o aumento dos entesouramentos vier principalmente do consumo, um aumento na demanda monetária fará com que as taxas de juros caiam — porque as preferências temporais caíram.
Com sua ênfase na armadilha de liquidez enquanto fator que contribui fortemente para agravar a depressão e perpetuar o desemprego, os keynesianos fazem muito barulho em torno do suposto fato de que as pessoas, numa crise financeira, esperam um aumento na taxa de juros, e portanto vão entesourar dinheiro em vez de comprar títulos e contribuir para taxas menores. É esse “entesouramento especulativo” que constitui a “armadilha de liquidez”, e que supostamente indicaria a relação entre a preferência por liquidez e a taxa de juros. Mas aqui os keynesianos são iludidos por seu tratamento superficial da taxa de juros, que eles veem apenas como o preço dos contratos de empréstimo. A taxa de juros crucial, como indicamos, é a taxa natural — a “margem de lucro” no mercado. Como os empréstimos nada mais são do que uma forma de investimento, a taxa sobre os empréstimos é só um pálido reflexo da taxa natural. O que, então, realmente significa uma expectativa de que as taxas de juros aumentem? Significa que as pessoas esperam um aumento na taxa de retorno líquido do mercado, com os salários e outros preços de bens de produção caindo mais rápido do que os preços dos bens de consumo. Mas isso não demanda qualquer explicação labiríntica; os investidores esperam quedas nos salários e em outros preços de fatores, e portanto seguram os investimentos em fatores até que a queda ocorra. Mas essa é a boa e velha especulação “clássica” sobre mudanças de preços. Essa expectativa, longe de ser um elemento perturbador, na verdade acelera o ajuste. Assim como toda especulação acelera o ajuste aos níveis adequados, também essa expectativa acelera a queda nos salários e em outros preços de fatores, acelerando a recuperação, e permitindo que a prosperidade normal volte bem mais rápido. O entesouramento “especulativo”, longe de ser um bicho-papão da depressão, é na verdade um bem-vindo estimulante para uma recuperação mais rápida.[3]
Neo-keynesianos inteligentes como Modigliani admitem que somente uma preferência por liquidez “infinita” (uma demanda ilimitada por moeda) impedirá o retorno ao equilíbrio de pleno emprego no livre mercado.[4]Mas, como vimos, uma demanda especulativa pesada por moeda acelera o processo de ajuste. Além disso, a demanda por moeda nunca poderia ser infinita porque as pessoas precisam sempre continuar a consumir, em algum nível, independentemente de suas expectativas. Como as pessoas precisam continuar a consumir, elas também têm de continuar a produzir, de modo que pode haver ajuste e pleno emprego independentemente do grau de entesouramento. A omissão da justaposição de entesouramento e consumo deriva, mais uma vez, da negligência keynesiana de mais de duas margens ao mesmo tempo e de sua crença errônea de que o entesouramento reduz o investimento, e não o consumo.
Num artigo brilhante sobre keynesianismo e flexibilidade de preços e salários, o professor Hutt observa que:
Creio que nunca jamais se reconheceu qualquer condição que se assemelhe distintamente a uma elasticidade infinita na demanda por ativos monetários porque as expectativas gerais sempre conceberam ou (a) que num futuro não muito distante uma certa escala de preços seria atingida, ou (b) um declínio tão gradual de preços que nenhum adiamento cumulativo de despesas pareceu lucrativo.
Mas, mesmo que surgisse essa demanda improvável:
Se se conseguir imaginar seriamente [essa situação]… com a inflação do valor agregado real da moeda, e com os preços catastroficamente reduzidos, então se poderia, de maneira igualmente legítima (e igualmente extravagante) imaginar uma coordenação de preços contínua que acompanhasse a emergência dessa posição. Podemos conceber, isso é, os preços caindo rapidamente, acompanhando as expectativas de mudanças nos preços, mas nunca chegando a zero, com a plena utilização dos recursos persistindo o tempo todo.[5]
Salários e desemprego
Os keynesianos sofisticados agora admitem que a teoria keynesiana de “equilíbrio do sub-emprego” não se aplica realmente (como se acreditava de início) ao mercado livre e desimpedido: admitem que, de fato, ela presume que os salários são rígidos para baixo. Os economistas “clássicos” sempre afirmaram que a causa do desemprego está em impedir que os salários caiam livremente; mas, no sistema keynesiano, esse pressuposto foi enterrado embaixo de uma multidão de equações irrelevantes. O pressuposto continua lá, porém, e tem importância crucial.[6] A receita keynesiana para o desemprego se baseia na persistência de uma “ilusão monetária” entre os trabalhadores, isso é, na crença de que, se eles, por meio dos sindicatos e do governo, impedirem que os salários monetários caiam, também aceitarão uma queda nos salários reais vinda da alta de preços. A inflação governamental, portanto, eliminaria o desemprego produzindo uma queda no salário real. Hoje em dia, que há um foco tão intenso no índice de custo de vida, essa duplicidade é impossível, e não precisamos repetir aqui as diversas consequências indesejáveis da inflação.[7]
É curioso que mesmo economistas que aceitam uma teoria geral de preços hesitem sempre que a teoria é aplicada logicamente aos salários, os preços dos serviços de trabalho. A teoria da produtividade marginal, por exemplo, pode ser aplicada estritamente a outros fatores; mas, na hora de discutir os salários, subitamente ouvimos falar de “zonas de indeterminação” e de “barganhas”.[8] Igualmente, muitos economistas logo admitiriam que manter o preço de qualquer bem acima da quantidade que equilibraria o mercado faria que os excedentes não vendidos se acumulassem. Contudo, eles relutam em admitir que o mesmo vale para o trabalho. Se eles dizem que o “trabalho” é um bem geral, e que portanto cortes salariais prejudicarão o poder de compra geral, é preciso responder que não se vende “trabalho geral” no mercado; que são certos trabalhos específicos que costumam ser mantidos artificialmente elevados e que esse trabalho ficará desempregado. É verdade, porém, que, quanto maior a extensão da faixa de salários artificialmente elevados, mais provável será o desemprego em massa. Se, por exemplo, apenas algumas categorias conseguirem, por meio da coerção sindical ou governamental, elevar os salários em suas áreas acima do livre mercado, os trabalhadores deslocados passarão para um área de trabalho mais pobre, e ali encontrarão emprego. Nesse caso, os trabalhadores sindicalizados que ficaram ganharam seu aumento salarial às custas dos salários mais baixos em outras áreas, e de uma má alocação geral dos fatores produtivos. Quanto mais ampla a faixa dos salários rígidos, porém, menos oportunidade haverá para movimento, e maior será a extensão e a duração do desemprego.
Num mercado livre, os salários tendem a ajustar-se de modo que não existe desemprego involuntário, isso é, de modo que aqueles que desejam trabalhar consigam achar empregos. De modo geral, os salários só podem ser mantidos acima dos valores de pleno emprego por meio da coerção governamental, sindical, ou ambas. Ocasionalmente, porém, os salários altos são mantidos por uma escolha voluntária (ainda que essa escolha ignore as consequências) ou pela coerção suplementada pela escolha voluntária. Pode acontecer, por exemplo, que ou as empresas ou os próprios trabalhadores convençam-se de que manter seus salários artificialmente altos é seu sacrossanto dever. Essa crença é na verdade a raiz de grande parte do desemprego em nossa época, e isso valeu particularmente para a depressão de 1929. Os trabalhadores, por exemplo, ficaram convencidos de que era muito importante preservar a mística do sindicato: da solidariedade sindical de “não furar um piquete”, ou de não trabalhar por menos que o valor oficial do sindicato. Os sindicatos quase sempre reforçam essa mística com violência, mas não há como negar a amplitude de sua influência. Na medida em que os trabalhadores, dentro e fora do sindicato, sintam-se obrigados por essa mística, nessa medida eles se recusarão a ter os salários reduzidos, mesmo se estiverem desempregados. Se eles agem assim, somos forçados a concluir que eles estão desempregados voluntariamente, e que a maneira de pôr fim a seu desemprego é convencê-los de que a mística do sindicato e moralmente absurda.[9] Contudo, se esses trabalhadores estão desempregados voluntariamente como consequência de sua devoção ao sindicato, é altamente provável que os trabalhadores não compreendam plenamente as consequências de suas ideias e ações. A massa geralmente ignora as verdades econômicas. É altamente possível que, uma vez que eles descubram que seu desemprego foi resultado direto de sua devoção à solidariedade sindical, boa parte dessa devoção simplesmente definhe e morra.
Tanto trabalhadores quanto empresários podem logo convencer-se da ideia equivocada de que a elevação artificial dos salários é benéfica. Esses fator desempenhou um grande papel na depressão de 1929. Já na década de 1920, os “grandes” empresários foram movidos pelo “esclarecimento” e pelas ideias “progressivas”, uma das quais era o equívoco de que a prosperidade americana era causada pelo pagamento de altos salários (de altas taxas salariais?) e não o contrário. Como se os demais países tivessem um padrão de vida mais baixo porque seus empresários burramente se recusassem a quadruplicar ou quintuplicar os salários! Assim, à época da depressão, os empresários estavam mais do que dispostos a acreditar que a redução dos salários diminuiria o “poder de compra” (consumo) e pioraria a depressão (doutrina que os keynesianos depois tomaram para si e embelezaram). Na medida em que os empresários estão convencidos desse erro econômico, eles são responsáveis pelo desemprego, mas responsáveis, note-se bem, não por que estejam agindo de maneira “egoísta” e “gananciosa”, mas precisamente porque estão tentando agir de maneira “responsável”. Na medida em que o governo reforça essa convicção com adulações e ameaças, o governo é o primeiro culpado pelo desemprego.
Porém, e o argumento keynesiano de que uma queda nos salários não ajudaria a curar a depressão, porque diminuiria o poder de compra e assim privaria a indústria da necessária demanda por seus produtos? Esse argumento pode ser respondido em diversos níveis. Em primeiro lugar, à medida que os preços caem numa depressão, os salários reais não apenas são mantidos, como ainda aumentam. Se isso ajuda o emprego por elevar o poder de compra, por que não defender aumentos drásticos de salários? Suponhamos que o governo decretasse, por exemplo, um salário mínimo que fosse o triplo do salário corrente? O que aconteceria? Por que os keynesianos não defendem essa medida?
É claro que o efeito desse decreto seria o total desemprego em massa e uma para absoluta das engrenagens da produção. A menos que… a menos que a oferta monetária fosse aumentada, permitindo que os empregadores pagassem aquelas somas, mas nesse caso os salários reais não teriam aumentado em nada! Também não seria adequando responder que essa medida “iria longe demais”, porque os salários são simultaneamente custos para os empreendedores e rendas para os trabalhadores. A questão é que o salário de livre mercado é precisamente aquele que ajusta os salários — custos e rendas — à posição de pleno emprego. Qualquer outro salário distorce a situação econômica.[10]
O argumento keynesiano confunde salários com rendas — erro comum na literatura econômica, que com frequência fala vagamente em “salários” sem especificar taxas ou rendas.[11] Na verdade, a renda salarial é igual ao salário multiplicado pelo tempo em que a renda é recebida. Se o salário é por hora, por exemplo, o salário será igual à renda salarial total dividida pelo número de horas trabalhado. Mas assim a renda salarial total dependerá do número de horas trabalhado e também do salário. O que defendemos aqui é que uma queda no salário levará a um aumento no número total de empregados; se o total de horas-homem trabalhadas aumentar o suficiente, isso também pode levar a um aumento na conta salarial total, ou nas folhas de pagamento. Uma queda nos salários, portanto, não leva necessariamente a uma queda nas rendas salariais totais; na verdade, pode levar exatamente ao oposto. No mínimo, porém, ela vai levar a uma absorção dos desempregados, e é essa a questão que se está discutindo. Como ilustração, suponha-se que simplifiquemos a questão (mas não muito drasticamente) e presumamos a existência de um “fundo salarial” fixo com que os empregadores paguem os trabalhadores. Assim fica claro que uma redução salarial permitirá que o mesmo fundo de pagamentos abranja um número maior de pessoas. Não há razão para presumir que a folha total de pagamentos vá reduzir-se.
Concretamente falando, não existe um fundo fixo para os salários, mas na verdade um “fundo de capital” fixo com que as empresas pagam todos os fatores de produção. Em última instância, não existe retorno dos bens de capital, já que seus preços são integralmente absorvidos por salários e por aluguéis de terras (e pelos juros, que, sendo o preço do tempo, permeiam a economia). Portanto, o que as empresas como um todo têm em qualquer dado momento é um fundo fixo para salários, aluguéis e juros. O trabalho e a terra são competidores perenes. Como as funções de produção não estão fixadas ao longo da economia, uma redução generalizada de salários levaria as empresas a trocar a terra pelo trabalho, porque agora o trabalho seria mais atraente do que era em comparação com a renda. Por conseguinte, as folhas de pagamento agregadas não seriam as mesmas; elas iriam aumentar, por causa do fator substituição em favor do trabalho e não da terra. A demanda agregada por trabalho portanto seria “elástica”.[12]
Suponha-se, por exemplo, que ocorra o “pior” altamente improvável, e que a demanda por trabalho revele-se inelástica, isso é, os pagamentos totais diminuam como resultado do corte salarial. E então? Primeiro, essa inelasticidade só poderia ser explicada se as empresas estivessem segurando o investimento em trabalho para ver se os salários não cairiam ainda mais. Mas o modo de lidar com essa especulação é permitir que os salários caiam tão rápido quanto possível. Uma queda rápida no salário de livre mercado demonstrará aos empresários que os salários caíram até a quantidade máxima viável. Não apenas isso não levará as empresas a esperar ainda mais antes de investir em trabalho, como estimulará as empresas a apressar-se e investir antes que os salários subam de novo. Deve-se evitar a tendência comum de considerar a especulação uma força preponderante por si própria; quanto mais astutos forem os empresários em seus prognósticos e previsões da economia, mais “especularão”, e mais sua especulação apressará as forças de equilíbrio natural do mercado, em vez de atrasá-las. Afinal, quaisquer erros especulativos — a venda ou a compra de serviços rápido demais, ou cedo demais — prejudicará diretamente os próprios empresários. A especulação não se autoperpetua; ela depende integralmente, e em última análise, das forças subjacentes de oferta natural e de demanda do consumidor, e promove o ajuste a essas forças. Se os empresários especulam excessivamente com o estoque de um certo bem, por exemplo, o excesso de mercadorias não-vendidas provocará perdas e uma correção célere. Igualmente, se os empresários esperarem demais para comprar trabalho, “carências” de mão de obra se desenvolverão e os empresários rapidamente elevarão os salários até seus “verdadeiros” valores de livre mercado. Os empreendedores, como lembramos, são treinados para prever corretamente o mercado; eles só cometem erros em massa quando a intervenção governamental ou bancária distorce os “sinais” do mercado e os ilude quanto à verdadeira condição da oferta e da demanda subjacentes. Aqui não há engano intervencionista: pelo contrário, estamos discutindo um retorno ao livre mercado após a eliminação de uma intervenção anterior.
Se uma rápida queda nos salários faz com que a tendência de evitar a compra de trabalho estacione e até se inverta, uma queda lenta e arrastada dos salários vai piorar a situação, porque (a) vai perpetuar os salários acima dos níveis de livre mercado, e assim perpetuará o desemprego; e (b) vai estimular que se segure a compra de trabalho, tendendo assim a agravar ainda mais o problema do desemprego.
Em segundo lugar, quer essa especulação aconteça ou não, não há razão pela qual o desemprego não possa ser rapidamente eliminado. Se os trabalhadores não ficarem esperando um valor de reserva por causa das crenças ou das pressões sindicais, o desemprego desaparecerá mesmo que a folha total de pagamentos tenha diminuído.
O diagrama a seguir ilustrará esse processo: (ver Figura 1). A quantidade de Trabalho está no eixo horizontal; a de Salário está no eixo vertical. DT DT é a demanda agregada por Trabalho; IE é o estoque total de trabalho na sociedade, isso é, a oferta total de trabalho em busca de emprego. A oferta de trabalho é representada pela linha vertical OT OT e não pela linha de oferta comum, inclinada para a direita, porque a queda nos salários permite que nos abstenhamos de fazer qualquer corte de horas e, mais importante, porque estamos investigando o problema do desemprego involuntário, e não do desemprego voluntário. Não se pode realmente considerar que aqueles que desejarem diminuírem seu número de horas, ou simplesmente parar de trabalhar quando o número de horas cair, representem um “problema de desemprego” para a sociedade, e por isso podemos omiti-los aqui.
FIGURA 1: Salários e Desemprego
Num mercado livre, o salário será definido pela interseção da curva OTOT com a curva DTDT, ou no ponto E, ou no salário 0I. O estoque de trabalho IE estará plenamente empregado. Suponha-se, porém, que por causa da coerção ou da persuasão, o salário permaneça rígido, de modo que não cai abaixo de 0A. A curva da oferta de trabalho agora mudou: é horizontal, ficando acima de AC, e depois cresce verticalmente para cima, CSL. Em vez de fazer a interseção com a demanda por trabalho no ponto E, a nova curva de oferta de trabalho faz a interseção com ela no ponto B. Esse ponto de equilíbrio agora marca o salário mínimo de 0A, mas emprega apenas trabalhadores AB, deixando BC desempregados. Fica claro que o remédio para o desemprego é remover o suporte artificial que mantém a curva da oferta de trabalho em AC, e permitir que os salários caiam até que o equilíbrio de pleno emprego seja atingido.[13]
Um crítico poderia perguntar: suponha que haja não apenas especulação que vá acelerar o ajuste, mas especulação que erre o alvo. A “demanda especulativa por trabalho” pode então ser considerada DEDE, ou a compra de menos trabalho por cada salário menor do que os demandados pela “verdadeira” curva de demanda. O que acontece? Não o desemprego, mas o pleno emprego a uma salário menor, 0J. Agora, como o salário cai abaixo dos níveis de mercado subjacentes, a verdadeira demanda por trabalho fica cada vez maior do que a oferta de trabalho; no novo salário de “equilíbrio” a lacuna é igual a GH. A enorme pressão dessa demanda verdadeira faz com que os empreendedores enxerguem a lacuna, e eles começam a elevar os salários a fim de superar a “carência de trabalho” resultante. A especulação corrige a si própria em vez de agravar a si própria, e os salários elevam-se ao salário de livre mercado subjacente 01.
Se a especulação não apresenta problema nenhum e até ajuda quando se permite que os salários caiam livremente, ela acentua os males do desemprego enquanto os salários forem mantidos acima dos níveis de livre mercado. Manter os salários elevados ou apenas permitir que eles caiam lenta e relutantemente numa depressão cria entre os empresários a expectativa de que em algum momento se permitirá que os salários caiam. Essa especulação reduz a curva de demanda agregada por trabalho para DEDE, digamos. Mas com a curva de trabalho ainda horizontal em AC, o salário de equilíbrio é empurrado mais para a esquerda, em F, e a quantidade empregada é reduzida a AF, e a quantidade desempregada aumentada para FC.[14]
Assim, mesmo que as folhas de pagamento totais caiam, salários que possam cair livremente sempre trarão um fim célere ao desemprego involuntário. A correlação keynesiana entre emprego total e demanda monetária total por produtos presume implicitamente salários rígidos para baixo; assim, ela não pode ser usada para criticar a política de salários que podem cair livremente. Mas, mesmo que se mantenha o pleno emprego, será que a demanda em queda não vai deprimir ainda mais a economia? Há duas respostas para isso. Em primeiro lugar, o que aconteceu com a oferta monetária existente? Estamos presumindo o tempo todo que existe uma certa quantidade de moeda na sociedade. Essa moeda não desapareceu. A propósito, nem o gasto monetário total necessariamente caiu. Se as folhas de pagamento totais caíram, alguma outra coisa deve ter subido: o total retido pelos empreendedores, ou pelos investidores, por exemplo. De fato, considerando a oferta monetária total, o fluxo total de gastos monetários só vai cair se a demanda social por moeda tiver aumentado. Em outras palavras, se o “entesouramento” tiver aumentado. Mas um aumento no entesouramento, na demanda total por moeda, como vimos, não é nenhuma calamidade social. Em resposta às necessidades e às incertezas da depressão, as pessoas desejam aumentar seus saldos líquidos reais, e só conseguem fazer isso, tendo uma certa quantidade total de dinheiro, diminuindo os preços. O entesouramento, portanto, diminui os preços de maneira geral, mas não necessariamente exercem qualquer efeito depressivo sobre as empresas.[15] A lucratividade das empresas, como vimos, dependem dos diferenciais de preço entre preços de fatores e de venda, não dos níveis gerais de preços.[16] A diminuição ou o aumento no gasto monetário total é, portanto, irrelevante para a lucratividade geral das empresas.
Por fim, há o argumento keynesiano de que os trabalhadores assalariados consomem uma proporção maior de suas rendas do que os proprietários ou os empreendedores, e que portanto uma redução na conta salarial total é uma calamidade, porque o consumo vai cair e a poupança aumentar. Em primeiro lugar, nem sempre isso é exato. O argumento presume que (1) os trabalhadores são relativamente “pobres” e os não-trabalhadores relativamente “ricos”, e (2) que os pobres consomem uma proporção maior de sua renda do que os ricos. O primeiro pressuposto não é necessariamente correto. O presidente da General Motors é, afinal, um trabalhador, assim como Mickey Mantle[17]; por outro lado, existem muitos proprietários, fazendeiros e varejistas pobres. Manipular as relações entre os assalariados e os outros é um modo muito desajeitado e ineficaz de manipular as relações entre os pobres e os ricos (se é que queremos alguma manipulação). O segundo pressuposto é verdadeiro muitas vezes, mas não necessariamente, como vimos acima. Como também vimos, porém, o estudo empírico de Lubell indica que uma redistribuição de renda entre ricos e pobres pode não afetar consideravelmente as proporções sociais entre consumo e poupança. Mas suponhamos que todas essas objeções sejam postas de lado por ora, e admitamos, apenas para manter a discussão, que uma redução na folha de pagamentos total deslocará a proporção social, aumentando a poupança e reduzindo o consumo. Mas e daí? Eis precisamente um efeito que deveríamos valorizar muito. Afinal, como vimos, qualquer mudança nas preferências temporais sociais que aumente a poupança e reduza o consumo irá acelerar o advento da recuperação, e reduzirá a necessidade de um período longo de reajuste depressivo. Qualquer deslocamento do consumo para a poupança contribuirá para a recuperação. Na medida em que essa temida queda no consumo efetivamente resulte num corte salarial, a depressão será curada muito mais rapidamente.
Uma nota final: a “quantidade de trabalho” excedente causada pelos salários artificialmente altos é uma quantidade excedente de horas trabalhadas. Isso pode significar (1) o desemprego real dos trabalhadores, e/ou (2) uma redução no tempo de trabalho para os trabalhadores empregados. Se há um certo excedente de número de horas de trabalho, os trabalhadores podem ser dispensados imediatamente, ou muitos mais podem ter suas horas de trabalhos semanais reduzidas e seus pagamentos proporcionalmente reduzidos. Esse último arranjo costuma ser proposto durante uma depressão, sendo chamado de “espalhar o trabalho”. Na verdade, ele só faz espalhar o desemprego. Em vez de a maioria dos trabalhadores ficarem plenamente empregados e os outros desempregados, todos ficam sub-empregados. A adoção universal dessa proposta tornaria absurda a manutenção artificial dos salários, porque ninguém efetivamente se beneficiaria dos salários altos. Para que serve manter altos os salários por hora se os salários por semana são menores? O arranjo de redução de horas, além disso, perpetua o sub-emprego. Uma massa de completos desempregados tem mais chances de pressionar para baixo os salários artificialmente altos, e vencer pela competição os trabalhadores empregados. A preservação de uma massa maior de sub-empregados impede essa pressão — e essa, de fato, é uma das principais razões por que os sindicatos preferem esse arranjo. Em muitos casos, claro, o pleito por menos horas é acompanhado de um pedido de salários maiores por hora “para manter igual o salário semanal”; isso, é claro, é uma clara demanda por salários reais maiores, acompanhada de uma redução na produção real, assim como de mais desemprego.
A redução de horas para “dividir o trabalho” também reduzirá o salário real e o padrão de vida de todos, porque a produção não apenas será menor, como sem dúvida será muito menos eficiente, e todos os trabalhadores serão menos produtivos. Isso vai ampliar ainda mais a lacuna entre o salário mantido artificialmente e o salário de livre mercado, agravando assim ainda mais o problema do desemprego.
[1] F. A. Hayek submeteu o Treatise on Money [Tratado sobre a Moeda] de J. M. Keynes (o entusiamo por sua Teoria Geral fez com que o Treatise ficasse relativamente esquecido) a uma crítica séria e profunda, e boa parte dela se aplica ao volume posterior. Assim, Hayek observou que Keynes simplesmente presumia que um lucro agregado igual a zero era suficiente para manter o capital, ao passo que lucros nos estágios interiores combinados com perdas iguais nos estágios superiores reduziriam a estrutura do capital; Keynes ignorou os vários estágios da produção; ignorou as mudanças no valor do capital e negligenciou a identidade entre empreendedores e capitalistas; não deu a devida importância à substituição da estrutura de capital; não levou em conta que os diferenciais de preço nos estágios de produção são a origem dos juros; e não percebeu que, em última instância, a questão com que os empresários se deparam não é se devem investir em bens de consumo ou investir em bens de capital, mas se devem investir em bens de capital que renderão bens de consumo numa data mais próxima ou mais distante. Em geral, a opinião de Hayek era que Keynes ignorava a teoria do capital e a teoria dos juros reais, particularmente a de Böhm-Bawerk, crítica confirmada pelas observações de Keynes sobre a teoria de Mises sobre os juros. Ver John Maynard Keynes, The General Theory of Employment, Interest and Money (Nova York: Harcourt, Brace, 1936 [Tradução brasileira por Mário Ribeiro da Cruz, A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Atlas, 1982]), pp. 192–93; F. A. Hayek, “Reflections on the Pure Theory of Money of Mr. J. M. Keynes”, Economica (agosto de 1931): 270–95; e idem, “A Rejoinder to Mr. Keynes”, Economica (novembro de 1931): 400–02.
[2] Dennis H. Robertson, “Mr. Keynes and the Rate of Interest”, em Readings in the Theory of Income Distribution (Filadélfia: Blakiston, 1946), p. 440. Ver também o artigo de Carl Landauer, “A Break in Keynes’s Theory of Interest”, American Economic Review (junho de 1937): 260–66.
[3] Para saber mais sobre os efeitos equilibradores das reduções salariais durante a depressão, ver a seção seguinte.
[4] Alguns dos golpes mais certeiros dados no sistema keynesiano vieram de fontes neokeynesianas amigas, mas implacáveis, como Franco Modigliani, “Liquidity Preference and the Theory of Interest and Money”, em Henry Hazlitt, ed., The Critics of Keynesian Economics (Princeton, NJ: D. Van Nostrand, 1960), pp. 131–84; Erik Lindahl, “On Keynes’ Economic System”, Economic Record (maio e novembro de 1954): 19–32; 159–71. Como sintetiza Hutt:
[A] aparente revolução feita por Keynes após 1936 foi revertida por uma contra-revolução incruenta guiada inconscientemente por críticos superiores que fizeram um grande esforço para ser fiéis. Se algum benefício para nossa ciência terá compensado a destruição deixada pela revolução, é algo que caberá aos historiadores econômicos do futuro dizer.
W. H. Hutt, “The Significance of Price Flexibility”, em Hazlitt, The Critics of Keynesian Economics, p. 402.
[5] W. H. Hutt, “The Significance of Price Flexibility”, pp. 397n. e 398.
[6] Ver Modigliani, “Liquidity Preference and the Theory of Interest and Money”, e Lindahl, “On Keynes’ Economic System”, ibid.
[7] Ver L. Albert Hahn, The Economics of Illusion (Nova York: Squier, 1949), pp. 50ss, 166ss.
[8] Na verdade, as zonas de indeterminação tendem a ser largas quando se trata de apenas duas ou três pessoas numa ilha deserta, e vão estreitando progressivamente à medida que a população cresce e que o sistema econômico progride. Nenhuma zona especial adere ao contrato de trabalho.
[9] É irrelevante para o argumento se o presente autor crê que a mística é moralmente absurda.
[10] Controles de salários máximos, como aqueles que eram comuns em séculos anteriores e na Segunda Guerra Mundial, criavam carências artificiais de trabalho por toda a economia – o inverso do efeito dos salários mínimos.
[11] Ver Hutt, “The Significance of Price Flexibility”, pp. 390ss.
[12] Diversos estudos empíricos sustentam a tese de que a demanda agregada por trabalho é extremamente elástica durante uma depressão, mas o argumento aqui não se baseia neles. Ver Benjamin M. Anderson, “The Road Back to Full Employment”, em Paul T. Homan e Fritz Machlup, eds., Financing American Prosperity (Nova York: Twentieth Century Fund, 1945), pp. 20–21.
[13] Ver Hutt, “The Significance of Price Flexibility”, p. 400.
[14] Note-se que, na Figura 1, a linha EL EL para antes de chegar ao eixo horizontal. Na verdade, a linha deve parar no salário que oferece a renda para a subsistência mínima. Abaixo desse salário, ninguém vai trabalhar, e, portanto, a curva de oferta de trabalho na verdade ficará horizontal, no livre mercado, no ponto de subsistência mínima. Certamente não será possível reduzir os salários ao nível de subsistência por meio de retenção especulativa, por três razões: (a) essa retenção especulativa quase sempre resulta em entesouramento, o que reduz os preços de modo geral e que portanto reduzirá o salário monetário de equilíbrio sem reduzir o salário real de equilíbrio – o salário necessário para o nível de subsistência, (b) os empresários perceberão que suas especulações erraram o alvo bem antes que o nível de subsistência seja alcançado; e (c) isso é particularmente verdadeiro numa economia capitalista avançada, em que os salários ficam bem acima do nível de subsistência.
[15] Por outro lado, os salários mantidos acima do nível de livre mercado desincentivarão o investimento, e assim tenderão a aumentar o entesouramento às custas de poupança-investimento. Essa redução na proporção entre investimento e consumo agrava ainda mais a depressão. Salários que caiam livremente permitiriam que os investimentos retornassem as suas proporções anteriores, acrescentando assim outro importante ímpeto à recuperação. Ver Frederic Benham, British Monetary Policy (Londres: P. S. King and Son, 1932), p. 77.
[16] Muitas vezes se disse que um nível de preços em queda prejudica as empresas porque agrava o ônus da dívida monetária fixa. Contudo, os credores de uma empresa são seus proprietários tanto quanto seus acionistas. Os acionistas têm menos capital na empresa na medida de suas dívidas. Os proprietários de títulos (credores de longo prazo) são só tipos diferentes de proprietários, um tanto como proprietários de ações comuns ou de preferenciais exercem seus direitos de propriedade de maneira diferente. Os credores poupam dinheiro e o investem numa empresa, exatamente como os acionistas. Assim, por si mesma, nenhuma mudança no nível de preços ajuda ou atrapalha uma empresa; os proprietários de créditos e os proprietários de débitos podem simplesmente dividir seus ganhos (ou perdas) em proporções diferentes. Isso tudo são apenas controvérsias entre os proprietários.
[17] N. do T.: Lenda do beisebol americano.
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