Os políticos sabem que têm um poder imenso para regular e punir as empresas que não entram no seu jogo. Os líderes do setor também sabem disso. Portanto, é provável que ambos os lados acabem realmente “jogando juntos”.
Os democratas no Congresso querem uma forte regulamentação da mídia social que, em última análise, permitirá que os reguladores do regime decidam o que é e o que não é “desinformação”. Isso se tornou muito claro quando o Congresso realizou uma série de audiências destinadas a pressionar os líderes das empresas de tecnologia a se esforçarem ainda mais para silenciar os críticos do regime e de suas narrativas preferidas de centro-esquerda.
Em fevereiro, por exemplo, Glen Greenwald relatou:
Pela terceira vez em menos de cinco meses, o Congresso dos EUA convocou os CEOs de empresas de mídia social a comparecerem diante deles, com a intenção explícita de pressioná-los e coagi-los a censurar mais conteúdo em suas plataformas.
Os democratas da Câmara não esconderam seu objetivo final com esta audiência: exercer controle sobre o conteúdo dessas plataformas online. “A autorregulação da indústria falhou”, eles disseram, e, portanto, “devemos começar o trabalho de mudar os incentivos que levam as empresas de mídia social a permitir e até mesmo promover a desinformação e a informação falsa”. Em outras palavras, pretendem usar o poder do Estado para influenciar e coagir essas empresas a alterar os conteúdos que elas permitem e não permitem que sejam publicados.
(A audiência de fevereiro não foi só o começo. As Big Techs foram convocadas novamente em 25 de março)
Greenwald provavelmente está certo. O resultado deste jogo provavelmente criará uma “parceria” permanente entre as grandes empresas detecnologias na qual os reguladores do governo decidirão em última instância o quanto essas plataformas irão excluir o usuário e deletar o conteúdo que entra em conflito com as mensagens do regime.
Muitos leitores podem achar estranho que isso seja mesmo necessário. Já está claro que as grandes mídias sociais estão longe de serem inimigas das principais forças pró-regime em Washington. Muito pelo contrário.
Jack Dorsey, por exemplo, é exatamente o típico membro do partidão apparatchik que se espera do Vale do Silício de hoje. Por exemplo, durante outubro do ano passado, o Twitter bloqueou a conta do New York Post, porque o Post relatou uma história sobre Hunter Biden que ameaçava prejudicar as chances de Biden ser eleito. Mais de 90% do dinheiro de doações políticas que saem do Facebook e do Twitter vão para os democratas.
No entanto, é importante ter em mente que isso não será suficiente para convencer os políticos a fazer as malas e decidir deixar as empresas de mídia social em paz. É improvável que o regime fique satisfeito com outra coisa senão o controle estatal total das mídias sociais por meio de órgãos reguladores permanentes que podem, em última instância, colocar o setor de joelhos. Independentemente das inclinações ideológicas dos participantes da indústria envolvidos, é provável que eles vejam o que está escrito na parede. Como acontece com qualquer regime em que os reguladores e legisladores detêm um poder imenso – como é o caso em Washington hoje – o regime geralmente será capaz de ganhar a “cooperação” dos líderes da indústria, que acabarão aceitando uma posição “se você não consegue vencer-los, junte-se a eles”.
O Vale do Silício é ideologicamente aliado do regime. Mas isso não é o suficiente.
Está bastante claro há pelo menos uma década que, ideologicamente falando, o Vale do Silício é politicamente totalmente mainstream. A velha noção do início dos anos 2000 de que o Vale do Silício abriga tendências libertárias e antiestablishment secretas foi refutada dezenas de vezes.
Além disso, Washington tem uma longa história de cooptar “gênios” da tecnologia para servir aos caprichos do regime. Já em 2013, Julian Assange já notava a “união cada vez mais estreita” entre os agentes do governo e o Vale do Silício. Assange apontou como as agências federais estavam contratando trabalhadores do Vale do Silício como “consultores” e viu para onde a “parceria” estava indo. Ele concluiu “O avanço da tecnologia da informação sintetizado pelo Google anuncia a morte da privacidade para a maioria das pessoas e leva o mundo ao autoritarismo”.
Mas mesmo que o Vale do Silício esteja cheio de fantoches da NSA – como parece ser o caso – isso ainda não significa que as empresas do Vale do Silício estão dispostas a entregar alegremente suas propriedades ao governo federal. Afinal, os CEOs, gerentes e acionistas do Vale do Silício ainda estão nisso, pelo menos em parte, pelo dinheiro. Com tudo o mais sendo igual, eles preferem o lucro à perda e querem liberdade para tomar decisões livres de controle regulatório. Eles provavelmente não se preocupam com a liberdade em abstrato, mas se preocupam com isso para si próprios.
A ameaça da regulação cria apoio para o regime
Por outro lado, uma vez que os legisladores federais e reguladores começam a fazer ameaças, o jogo muda completamente. De repente, faz muito sentido buscar relações “amigáveis” com o estado como uma questão de autopreservação. Se Washington tem a capacidade de destruir seu negócio – e se tornou impossível “passar despercebido” – então faz muito sentido fazer de Washington seu amigo.
Nessas circunstâncias, há pouco a ganhar com a oposição geral à regulamentação federal, e muito a se ganhar com a adoção da regulamentação enquanto apenas trabalhamos para garantir que a regulamentação beneficie você e seus amigos.
Grandes empresas versus pequenas empresas
Portanto, nunca devemos nos surpreender quando uma grande empresa acaba se aliando ao regime. Seria tolice não fazê-lo, especialmente se alguém tiver os meios para contratar lobistas, advogados e consultores de relações públicas que podem ajudar as grandes empresas a negociar de forma eficaz com os reguladores. Desnecessário dizer que os resultados dessas negociações provavelmente acabarão ajudando os grandes jogadores às custas dos menores, que nem mesmo estão presentes na mesa de negociações.
Para pequenas empresas que têm pouca esperança de influenciar a política federal, ainda faz sentido simplesmente se opor ao ativismo federal por completo e esperar pelo melhor. Mas se sua empresa consegue um lugar “à mesa”, é melhor aproveitar a oportunidade. Para citar um velho ditado entre os lobistas: “se você não está à mesa, está no menu”.
Mas não nos esqueçamos de que, mesmo quando as empresas privadas podem trazer imensos recursos para influenciar as políticas públicas e negociar com os burocratas: o próprio regime, em última análise, detém a vantagem. Nenhuma empresa privada no mundo tem recursos para ignorar ou vetar os desejos do exército de reguladores, promotores públicos e coletores de impostos do regime. Nenhuma empresa privada desfruta de algo que se aproxime do poder de monopólio coercitivo do Estado.
Mas isso não significa que essas empresas não possam compartilhar esse poder. E é isso que acontece com frequência. Diante de um ultimato “junte-se a nós ou seja destruído” por parte dos reguladores federais ou legisladores, a maioria das empresas privadas escolhe a opção “junte-se a nós”. É claro que muitas empresas menores nem mesmo têm a opção de escolher.
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