[Reproduzido de The Free Market 10, no. 11 (novembro de 1992).]
O cartel internacional de diamantes, o cartel mais bem-sucedido da história, muito mais bem-sucedido do que a demonizada OPEP, está finalmente passando por dificuldades. Por mais de um século, a poderosa DeBeers Consolidated Mines, corporação sul-africana controlada pelo Rothschild Bank em Londres, conseguiu organizar o cartel, restringindo a oferta de diamantes e elevando o preço muito acima do que seria a níveis de mercado.
Não é simplesmente que a DeBeers extrai grande parte dos diamantes do mundo; a DeBeers convenceu os mineradores de diamantes do mundo a comercializar praticamente todos os seus diamantes por meio da Central Selling Organization (CSO) da DeBeers, que classifica, distribui e vende todos os diamantes brutos para lapidadores e revendedores mais adiante no caminho percorrido até o consumidor.
Mesmo um cartel incontestado, é claro, não controla totalmente seu preço ou seu mercado; mesmo ele está à mercê da demanda do consumidor. Uma das razões pelas quais os preços e os lucros dos diamantes estão caindo é a atual recessão mundial. A demanda mundial, e particularmente a demanda do consumidor nos EUA, caiu drasticamente, com os consumidores comprando menos diamantes e rebaixando suas compras para gemas mais baratas, o que obviamente atinge particularmente o mercado das pedras caras.
Mas como esse grau de sucesso do cartel poderia ocorrer em um mercado livre? Tanto a teoria econômica quanto a história nos dizem que manter um cartel, por qualquer período, é quase impossível no livre mercado, pois as empresas que restringem sua oferta são desafiadas por membros do cartel que secretamente cortam seus preços para expandir sua participação no mercado, bem como por novos produtores que entram na briga seduzidos pelos maiores lucros obtidos pelos cartelistas. Então, como a DeBeers poderia manter um cartel tão próspero no livre mercado por mais de um século?
A resposta é simples: o mercado não tem sido realmente livre. Em particular, na África do Sul, o principal centro de produção mundial de diamantes, não houve livre iniciativa na mineração de diamantes.
O governo há muito tempo nacionalizou todas as minas e quem encontra uma mina de diamantes em sua propriedade descobre que a mina imediatamente se torna propriedade do governo. O governo sul-africano, então, licencia os operadores que arrendam as minas do governo e, eis que, os únicos licenciados eram a própria DeBeers ou outras empresas que estavam dispostas a entrar no esquema do cartel DeBeers. Resumindo: o cartel internacional de diamantes só se manteve e só prosperou porque foi imposto pelo governo sul-africano.
E foi imposto ao máximo, pois havia sanções severas contra quaisquer mineradores e comerciantes independentes que tentassem produzir diamantes “ilegais”, mesmo que fossem extraídos de locais que costumavam ser propriedade privada. O governo sul-africano investiu recursos consideráveis em embarcações que patrulham constantemente a costa, atirando e apreendendo os supostos perniciosos “contrabandistas”.
De volta à era pré-Gorbachev, foi anunciado que a Rússia havia descoberto recursos consideráveis de diamantes. Por um tempo, houve medo entre DeBeers e os cartelistas de que os russos quebrassem o cartel internacional vendendo no mercado aberto no exterior. Um medo descabido, no entanto. O governo soviético, como um monopolista profissional, ficou feliz em fechar um acordo com a DeBeers e receber uma alocação de sua própria cota de diamantes para vender à CSO.
Mas agora a CSO e DeBeers estão em apuros. O problema não é apenas a recessão; a própria estrutura do cartel está em jogo, com o problema centrado no país africano de Angola.
Não que o governo comunista (ou governo anteriormente comunista, mas agora semi comunista) se recuse a cooperar com o cartel. Eles sempre cooperam. O problema é triplo. Em primeiro lugar, embora a guerra civil angolana tenha acabado, os resultados deixaram o governo impotente para controlar a maior parte do país. Em segundo lugar, o fim da guerra deu aos exploradores independentes acesso ao rio Cuango, no norte de Angola, um território rico em diamantes. E terceiro, a seca africana secou o Cuango, junto com outros rios, deixando os ricos depósitos de diamantes aluviais nos leitos e nas margens do Cuango acessíveis aos ávidos garimpeiros.
Com os depósitos de diamantes disponíveis e livres de guerra, e o governo central incapaz de fazer cumprir o cartel, 50.000 garimpeiros desembarcaram alegremente no Vale do Cuango, em Angola. Além disso, os garimpeiros estão sendo protegidos por um exército privado de soldados angolanos desmobilizados, mas armados. Como um corretor de Joanesburgo apontou: “Se você sobrevoar a província, poderá ser abatido por um míssil. E é um rio de 100 milhas. Você não pode colocar uma cerca em torno dele.”
Até agora, a DeBeers tem mantido a linha comprando o “excesso de oferta” causado pelo influxo de diamantes angolanos; este ano, o cartel pode ser obrigado a comprar nada menos que 500 milhões de dólares em diamantes angolanos “ilegais”, o dobro da produção oficial daquele país. Consequentemente, a DeBeers está tendo grandes perdas; como resultado, Julian Ogilvie Thompson, o arrogante e aristocrático presidente da DeBeers, foi forçado a anunciar que a empresa estava cortando seus dividendos, apenas pela segunda vez desde a Segunda Guerra Mundial. Imediatamente, as ações da DeBeers caíram um terço, levando consigo grande parte da Bolsa de Valores de Joanesburgo.
No geral, a CSO da DeBeers teve que comprar US$4,8 bilhões em diamantes brutos em 1992, enquanto conseguia vender apenas US$3,5 bilhões. Esse enorme acúmulo de estoque poderia quebrar o preço do cartel; para evitar tal presumível desastre, a DeBeers ordenou aos membros que reduzissem 2,5% nos diamantes que já haviam contratado para comercializar através do cartel. Um corte tão grande prepara o terreno para empresas individuais entrarem furtivamente no mercado e escaparem das restrições do cartel.
Não é de admirar que Sir Harry Oppenheimer, o octogenário chefe da DeBeers, tenha decidido tirar “férias” na Rússia no final de agosto, presumivelmente para persuadir os russos a resistir a qualquer tentação de se engajar na competição de livre mercado no mercado de diamantes. Com sorte, no entanto, as forças da livre concorrência – assim como os consumidores mundiais de diamantes – poderão triunfar.