[Reproduzido de Libertarian Forum 4, no. 6–7 (1972).]
O Poderoso Chefão é um dos grandes filmes dos últimos anos, e sua enorme popularidade é eminentemente merecida. Em primeiro lugar, é um filme decididamente da Velha Cultura, ou um “filme-filme”; é gloriosamente arrière-garde, e não há um traço dos artifícios avant-garde e truques de câmera que ajudaram a arruinar tantos filmes nos últimos anos. É um filme com heróis e vilões, mocinhos e bandidos; não há nenhum traço da preocupação recentemente em moda com a “alienação” de tolos e cretinos em uma busca incessante de um propósito na vida. O ritmo é fantástico, o suspense, o enredo, a direção e a atuação, todos excelentes. Muitas das falas são memoráveis, e “vamos fazer uma oferta que ele não pode recusar” já marcou de forma indelével a cultura americana.
O ponto crucial do filme é a primeira cena, quando um agente funerário idoso, tendo ido à polícia e aos tribunais para pedir justiça por sua filha estuprada e espancada, e falhando completamente em obtê-la, finalmente se volta para a Família Corleone para conseguir aquela preciosa qualidade, a justiça. Brando, como Don Vito Corleone, o “chefão”, repreende o agente funerário: “Por que você foi aos tribunais por justiça? Por que você não veio até mim?” E fica ainda gloriosamente evidente que o conceito de justiça da Família Corleone é realmente avançado. Quando o agente funerário pede a Don Corleone que mate os agressores de sua filha, Don Vito fica chocado: “Mas isso não é justiça. Eles não mataram sua filha.” Com um senso aguçado do conceito de justiça proporcional, de punição adequada ao crime, Dom Vito concorda em fazer os estupradores “sofrerem” como a filha sofreu.
O tema central da trama é o crescimento do filho Michael Corleone; originalmente um rapaz da faculdade que se afastou dos velhos hábitos da família siciliana, Michael assume sua posição na família quando seu pai é quase assassinado por outras famílias agressoras, e endurece no papel de sucessor de Don Vito. (Na verdade, a palavra godfather, “padrinho” em inglês, é uma tradução fraca da palavra italiana compare, que também tem conotações de: amigo, padrinho, patrono.)
Uma declaração política crucial aparece quando Michael está tentando explicar para sua desaprovadora namorada (protestante, anglo-saxã branca) do que se trata a Família: essencialmente seu empreendedorismo de bens e serviços ilegais, sua necessidade de fazer cumprir seus próprios contratos e (lamentavelmente para o libertário) sua propensão ao monopólio, no qual são um pálido reflexo do governo “respeitável” e “legítimo”. Michael diz a sua filha que seu pai é um homem de poder e influência, portanto, os métodos que ele emprega são “como os do presidente dos Estados Unidos”. A garota responde: “Mas o presidente não manda matar ninguém”, ao que Michael rebate: “Agora você está sendo ingênua” – uma obra-prima de eufemismo político.
Mas, acima de tudo, um filme-filme na grande tradição: um épico robusto e magnífico.