A ameaça das tarifas

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Donald Trump acredita fortemente em tarifas protecionistas, e isso é uma péssima notícia para aqueles de nós que apoiam o livre mercado. Na opinião de Trump, as tarifas são uma ótima ideia. Aqui está o que ele disse sobre elas em uma entrevista no mês passado:

                  “Trump propôs uma tarifa geral de 10% sobre todas as importações e 60% sobre produtos da China. Durante os comentários de terça-feira, ele destacou taxas comerciais mais altas para os carros importados, dizendo que aplicaria uma tarifa de 100, 200 ou 300% sobre os carros fabricados no México. Ele também sugeriu a imposição de tarifas de 50% sobre mercadorias para forçar as empresas a realocar as operações para os EUA para evitar a penalidade.

‘Em primeiro lugar, quando você coleta 10%, são centenas de bilhões de dólares … tudo reduzindo nosso déficit’, disse ele. “Mas, na verdade, há duas maneiras de olhar para uma tarifa. Você pode fazer isso como um instrumento para ganhar dinheiro ou como algo para atrair as empresas. Agora, se você quer que as empresas se instalem aqui, a tarifa tem que ser muito maior do que 10%, porque 10% não é suficiente. Pessoal, eles não vão fazer isso por 10, mas você faz uma tarifa de 50%, eles vão se instalar aqui.”

Trump discute as tarifas como se fossem uma forma de melhorar o livre mercado. Na verdade, porém, como o grande economista Murray Rothbard aponta em Poder e Mercado, as tarifas atacam diretamente a essência do livre mercado, ou seja, o fato de que as pessoas ganham por meio de comércio mutuamente vantajoso. Rothbard prova isso por um brilhante argumento reductio ad absurdum: “O absurdo dos argumentos pró-tarifa pode ser visto quando levamos a ideia de uma tarifa à sua conclusão lógica – digamos, o caso de dois indivíduos, Jones e Smith.”

Você pode pensar que Rothbard foi longe demais – os indivíduos não são muito diferentes das nações? Uma discussão sobre comércio de duas pessoas não é irrelevante? Mas Rothbard tem uma resposta convincente. Muitas vezes um exemplo muito simples revela o princípio subjacente a um caso muito mais complicado. Como ele explica:

            “Este é um uso válido argumentação reductio ad absurdum porque os efeitos qualitativos são os mesmos quando uma tarifa é imposta a uma nação inteira assim como quando é imposta sobre uma ou duas pessoas; a diferença é apenas de grau. Suponhamos que Jones tenha uma fazenda, a “Jones’ acres”, e o Smith trabalhe para ele. ao se impregnar de ideias a favor das tarifas, Jones estimula Smith a “comprar” a “Jones’ acres”. “Mantenha o dinheiro na Jones’ acres”, “não seja explorado pela enxurrada de produtos feitos com mão de obra estrangeira que estão fora da Jones’ acres”, e máximas semelhantes se tornam o lema dos dois homens. Para ter certeza que o propósito deles seja alcançado, Jones cobra uma tarifa de 1.000% sobre as importações de todos os bens e serviços vindos “de fora”, ou seja, de outro lugar que não seja a fazenda. como resultado, Jones e Smith veem o tempo livre, ou os “problemas de desemprego” desaparecerem à medida que trabalham noite e dia para suprir a produção de todos os bens que desejam. Muitos bens não conseguem suprir de jeito nenhum; outros conseguem, depois de séculos de esforços. É verdade que colhem as promessas dos protecionistas: a “autossuficiência”, embora a “suficiência” seja mera subsistência e não um padrão de vida confortável.”

Em seguida, Rothbard aborda um ponto central de defensores pró-tarifas como Trump, a suposta necessidade de manter dinheiro em casa.

         “O dinheiro é ‘mantido em casa’, e eles podem pagar uns aos outros salários e preços nominais muito altos, mas os homens descobrem que o valor real de seus salários, em termos de bens, despenca drasticamente. Estamos, na verdade, de volta à situação das economias de troca ou isoladas de Robinson Crusoé e Sexta-feira. e isso é, de fato, o que os princípios da tarifa representam. Tal princípio é um ataque ao livre mercado, e seu objetivo lógico é a autossuficiência de produtores individuais; é uma meta que, se realizada, espalharia a pobreza para todos, e a morte para muitos, da atual população mundial. Seria um regresso da civilização à barbárie. Uma tarifa leve em uma região maior, talvez seja apenas um impulso neste sentido, mas não deixa de ser um impulso, e os argumentos usados para justificar a tarifa aplicam-se da mesma maneira a um retorno para a “autossuficiência” selvagem.”

Trump disse em sua entrevista que as altas tarifas incentivarão as empresas estrangeiras a se mudarem para os Estados Unidos, para que possam evitar o pagamento das tarifas. O que esse argumento ignora é que não há benefício para os consumidores americanos em ter empresas localizadas nos EUA e não em países estrangeiros. O que importa para os consumidores é obter o preço mais baixo pelos bens e serviços que desejam; e se a empresa que oferece o preço mais baixo estiver na China e não nos EUA, e daí? Trump pode contrariar isso alegando que a localização nos EUA abre empregos para os americanos, mas essa alegação pressupõe que um número substancial de trabalhadores americanos não consegue encontrar empregos. Qual é a base para essa suposição? Nenhuma é oferecida. Além disso, quaisquer ganhos que os trabalhadores possam obter com novos empregos provavelmente serão apagados pelos preços mais altos que as tarifas trarão. Como disse o grande jornalista econômico Henry Hazlitt:

           “E isto nos traz às verdadeiras consequências de uma barreira tarifária. não é que simplesmente todos os seus ganhos visíveis sejam anulados por perdas menos óbvias, porém não menos reais. Resulta, de fato, em perda líquida para o país, pois, contrariamente à secular propaganda interessada e à confusão desinteressada, a tarifa reduz o nível americano de salários.

Observemos mais claramente como isso acontece. Vimos que o acréscimo no preço pago pelos consumidores por um artigo protegido por uma tarifa os priva de recursos, na mesma medida, para aquisição de todos os outros artigos. Não há, portanto, um acréscimo líquido na indústria como um todo. Porém, como resultado da barreira artificial imposta às mercadorias estrangeiras, o trabalho, o capital e a terra nos Estados unidos são desviados daquilo que pode ser feito com maior eficiência, para o que é feito com menos eficiência. Portanto, como resultado da barreira tarifária, a produtividade média do trabalho e do capital fica reduzida.

Se encararmos agora a questão do ponto de vista do consumidor, veremos que ele pode comprar menos com seu dinheiro. Tendo que pagar mais pelos suéteres e outros artigos protegidos por tarifas, compra menos de tudo o mais. o poder aquisitivo geral de seu rendimento ficou, portanto, reduzido. Se o efeito líquido da tarifa for o de baixar os salários nominais ou elevar os preços, tais alternativas dependerão da política monetária posta em prática. mas é evidente que a tarifa— embora possa aumentar os salários acima do que teriam sido nas indústrias protegidas—, na verdade, quando todas as ocupações são consideradas, reduz o salário real.

Somente espíritos corrompidos por constantes propagandas desnorteadoras é que podem considerar paradoxal essa conclusão. Que outro resultado poderíamos esperar de uma prática de usar deliberadamente nossos recursos de capital e de força de trabalho menos eficientemente, quando sabíamos como usá-los com maior eficiência? Que outro resultado poderíamos esperar erguendo, deliberadamente, obstáculos artificiais ao comércio e transportes?

Pois a criação de barreiras alfandegárias tem o mesmo efeito da criação de barreiras reais. É significativo que os protecionistas utilizem, habitualmente, a linguagem de guerra. Falam em “repelir uma invasão” de produtos estrangeiros. E os meios que sugerem, no campo fiscal, se assemelham aos do campo de batalha. as barreiras alfandegárias erguidas para repelir a invasão são como armadilhas contra tanques, trincheiras e emaranhados de arame farpado, para repelir ou dificultar a tentativa de invasão de um exército estrangeiro.”

Vamos fazer tudo o que pudermos para nos opor às tarifas. Elas nos tornam mais pobres.

 

 

 

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