O ponto de partida da praxeologia, ou seja, a lógica da ação humana, é uma verdade evidente. Como observou o economista Ludwig von Mises, essa verdade é “a consciência do fato de que existe algo como mirar conscientemente nos fins.” A praxeologia descreve as características invariantes e implicações da ação humana, independentemente do tempo e do lugar. Por exemplo, a necessidade inevitável do ator de escolher e o fato de que suas avaliações subjetivas determinam os meios e fins de suas ações.
O axioma de ação de Mises — o fato de que os homens agem — significa que a ação é um comportamento intencional. Significa que os homens agem mudando as coisas em seu ambiente percebido com o objetivo de alcançar um estado de maior satisfação do que antes de tal ação. Assim, a ação humana está sempre ligada ao desejo de influenciar o curso dos acontecimentos. E como o ator sempre prefere um resultado a outro, ele também tende naturalmente a ser não neutro diante da constelação de eventos que acontecem ao seu redor fora de seu controle. Na verdade, uma das razões pelas quais o homem busca explicações para os eventos ao seu redor vem de sua própria mente, que tem uma inclinação determinista. Como escreveu Mises:
“O homem não é capaz sequer de conceber a imagem de um universo indeterminado. Num mundo assim, não poderia existir qualquer consciência das coisas materiais e de suas mudanças … Nada poderia ser identificado e distinguido de qualquer outra coisa; nada poderia ser esperado ou previsto… Nenhuma ação poderia ser imaginada, muito menos posta em prática. O homem é o que ele é exatamente porque ele vive num mundo de regularidade, e tem o poder mental de conceber a relação entre causa e efeito.”
No entanto, é impossível para o homem alcançar todos os fins que estabelece para si mesmo. O homem não é onipotente e nunca poderá alcançar um estado de satisfação total e duradoura. Da mesma forma, o homem pode estar enganado sobre eventos e suas causas. Nesse sentido, como Jörg Guido Hülsmann aponta em um livro em homenagem a Mises, as cadeias causais pelas quais ideias e julgamentos de valor se conectam à ação são contingentes, e dar luz a essas correntes é a tarefa da pesquisa histórica:
“A análise social… deve explicar todos os fenômenos sociais como resultantes da ação individual, e a cadeia causal de eventos deve começar e terminar com as ideias e julgamentos de valor dos indivíduos… [História] é a disciplina que (1) descreve julgamentos de valor do ponto de vista da pessoa que age e (2) descreve como ações individuais e outros fatores relevantes se combinam em um determinado contexto objetivo para produzir um resultado definido. A história descreve, em retrospecto, como a pessoa que agia percebeu a situação em que precisava agir, o que ela almejava, o que acreditava serem os meios a sua disposição. E utiliza as leis gerais fornecidas pela economia e pelas ciências naturais para descrever o impacto objetivo que a pessoa que age teve por meio de seu comportamento.”
Mises enfatizou que as características dos indivíduos, assim como as ações guiadas por suas ideias e julgamentos de valor, não podem ser rastreadas a nada além do fato de que fizeram o que fizeram porque eram tais pessoas. Em outras palavras, as características e ações dos indivíduos são, em última análise, atribuídas, pois não podem ser rastreadas até algo que pareça ser a consequência necessária. E ainda assim, por meio da experiência e compreensão interpretativa, é possível identificar as características de certos grupos de homens, já que a única maneira de conhecer esses grupos como tais é analisando as ações de seus membros. Assim, esses grupos específicos existem apenas na medida em que seus membros são movidos por ideias e julgamentos de valor específicos a agir de forma semelhante. Quando se trata de conspirações, significa que dois ou mais indivíduos secretamente se unem contra uma ou mais pessoas para causar algum tipo de dano ou desvantagem e se beneficiar disso, agindo assim com o mesmo propósito.
Certamente, nenhum grupo de pessoas pode controlar completamente tudo o que acontece, pois os eventos dependem não apenas de suas ações, mas também de como os outros agem. Mesmo assim, conspirações sempre existiram. Como diz o filósofo e praxeólogo Hans-Hermann Hoppe, as conspirações são “uma característica sempre presente da realidade social.” De fato, guerras, assaltos a bancos e outros eventos particulares não passam de histórias de conspirações ou eventos que se originaram de alguma conspiração.
Como conspirações em si só podem ser atribuídas ao fato de que algumas pessoas fizeram o que fizeram porque eram conspiradoras, qualquer conspiração envolve não apenas preferências comuns entre os conspiradores correspondentes, mas também traços de personalidade semelhantes. Porque essas características, e mais geralmente o caráter dos indivíduos, devem, em última análise, ser consideradas como dadas no contexto de suas ações. No entanto, dado que o caráter permanece praticamente inalterado nas pessoas na maior parte do tempo, é possível classificá-las de acordo com a semelhança de seu caráter ou personalidade. Para explorar essa ideia mais a fundo, é assim que Hoppe discute o assunto ao citar Mises:
“… se estivermos preocupados com o comportamento futuro de grupos de indivíduos (em vez de com apenas o comportamento de um indivíduo único), não podemos deixar de classificar os indivíduos de acordo com a semelhança ou a dessemelhança do seu caráter ou da sua personalidade; ou seja, não podemos deixar de formar ideias de caracteres de grupo — tipos ideais — e classificar indivíduos conforme a sua aproximação a esses tipos. ‘Se um tipo ideal se refere às pessoas’, explica Mises, ‘isso significa que, em algum aspecto, essas pessoas estão valorando e agindo de forma uniforme ou semelhante’.”
Além disso, seguindo Mises, baseado em uma forma definida de entender o curso dos eventos, tipos ideais são construídos e usados para prever o futuro ou analisar o passado. Mas, como conspirações acontecem em um contexto que ninguém pode controlar completamente, podem surgir consequências tanto intencionais quanto não intencionais.
Na verdade, o que as pessoas frequentemente chamam de “teorias da conspiração” não passam de hipóteses conspiratórias que tentam explicar eventos específicos em termos de tentativas de conspiração, assumindo que são fruto de tentativas bem-sucedidas. Em princípio, essas hipóteses não podem ser descartadas de imediato, pois isso seria contrário à realidade. Hoppe esclarece esse ponto da seguinte forma:
“… Falando realisticamente, a maioria, senão todos, os eventos históricos são mais ou menos exatamente o que algumas pessoas ou grupos identificáveis de pessoas agindo em conjunto pretendiam que fossem. De fato, assumir o oposto é assumir, incrivelmente, que a história não passa de uma sequência de acidentes ininteligíveis.”
Curiosamente, porém, por tanto tempo, o termo “teórico da conspiração” tem sido usado para desacreditar e rejeitar praticamente qualquer alegação sobre eventos históricos que vá contra a narrativa disseminada pelos poderes estabelecidos. Dessa forma, a atenção é desviada da investigação e da descoberta do que poderia ser verdade.
Murray N. Rothbard, também conhecido como Sr. Libertário, foi um grande estudioso de Mises, e falou da importância, para o estado, de incutir aversão a teorias da conspiração, pois uma busca por conspirações é “uma busca por motivos e uma atribuição de responsabilidade por atos históricos.” Além disso, uma teoria da conspiração que revela verdades pode fazer o público duvidar da narrativa das elites governantes em mais histórias também. Na verdade, foi Rothbard quem ensinou Hoppe a nunca confiar na história oficial—sempre escrita pelos vencedores—e a conduzir sua pesquisa como um detetive investigando um crime:
“Sempre, em primeiro lugar e como primeira aproximação, siga o dinheiro em busca de um motivo. Quem deve ganhar, seja em termos de dinheiro, imóveis ou poder absoluto por meio dessa medida ou daquela? Na maioria dos casos, responder a esta pergunta irá levá-lo diretamente ao próprio agente ou grupo de agentes responsáveis pela medida ou política em consideração. Por mais simples que seja fazer esta pergunta, contudo, é muito mais difícil e frequentemente requer árdua pesquisa para respondê-la e desenterrar … os fatos e os indicadores … para provar de fato um crime e para identificar e ‘expor’ seus perpetradores. … E para fazer esse trabalho de detetive, como eu aprendi com Murray, você deve ir além dos documentos oficiais, da mídia mainstream, dos nomes grandes e famosos, das ‘estrelas’ acadêmicas e dos periódicos ‘prestigiosos’ – em suma: tudo e todos considerados ‘respeitáveis’ ‘e’ politicamente corretos’. Você deve também, e em particular, prestar atenção ao trabalho de pessoas de fora, extremistas e marginalizados, ou seja, para pessoas ‘desrespeitáveis’ ou ‘deploráveis’ e canais de publicação ‘obscuras’ que você deveria ignorar ou sequer saber a respeito.”
A população em geral geralmente não tem objetivos que envolvam violar os direitos dos outros ou causar sofrimento. Mas conspiradores têm. E eles têm todos os motivos para esconder suas atividades e nunca enfrentar as consequências de seus crimes. No entanto, apenas alguns têm o poder ou o dinheiro necessários para se safar. Para isso, podem assassinar, ameaçar, subornar ou chantagear indivíduos nas áreas da sociedade que mais favorecem seus interesses, seja na academia, na mídia, na política e assim por diante.
Embora teóricos da conspiração pensem como praxeólogos quando acreditam que as pessoas agem com propósito, isso sozinho não necessariamente torna nenhum teórico da conspiração bom em sua arte. O trabalho tanto de historiadores comuns quanto dos chamados teóricos da conspiração pode exigir não apenas pesquisa factual e compreensão dos protagonistas envolvidos, mas também algum conhecimento de outras disciplinas, como a ciência econômica, para evitar explicações erradas de causa e efeito. Além disso, conspiradores podem ter sucesso ou fracassar. E a probabilidade de harmonia entre seus interesses diminui à medida que o número de supostos conspiradores aumenta, tornando certas conspirações ainda menos prováveis, especialmente porque pode haver rivalidade entre diferentes conspirações. Portanto, é irrealista assumir a eficácia de um único grupo todo-poderoso para governar o mundo sozinho como parte de uma grande conspiração global, como se todos ou quase todos os eventos históricos tivessem sido escritos praticamente antecipadamente por esse grupo. Em relação a isso, Rothbard afirmou o seguinte:
“… o mau analista conspiratório parece possuir uma compulsão de juntar todas as conspirações, todos os blocos de poder de caras maus, em uma única conspiração gigante. Ao invés de ver que existe vários blocos de poder tentando obter o controle do governo, algumas vezes em conflito e outras vezes em aliança, ele tem que pressupor – novamente sem evidências – que um pequeno grupo de pessoas controla a todos, e apenas simula coloca-los em conflito.”
De qualquer forma, zombar de pessoas que discordam da narrativa oficial, como se acreditassem em unicórnios, não é uma forma sensata de estar certo sobre qualquer evento. Pelo contrário, se há um grupo de pessoas vivendo em uma fantasia recorrente, são aqueles que rejeitam teorias da conspiração em geral, especialmente se forem libertários. Porque se o estado é uma organização criminosa, como a maioria dos libertários afirma, essa é toda a razão pela qual alguém precisa acreditar que as elites governantes estão constantemente envolvidas em todo tipo de conspiração. E, de fato, alguma vez na história criminosos já informaram suas vítimas sobre seus planos antes de cometer um crime ou contaram como as vitimizaram quando as vítimas nem sequer sabiam quem são seus agressores?
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