As Corporações e a Esquerda

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Um distinto economista conhecido meu, Carl Horowitz, realizou um estudo penetrante, que está disponível na última edição do Social Contract, em “A aliança do Capitalismo Corporativo com o Radicalismo Político”. Carl demonstra que nacionalistas negros, socialistas revolucionários e feministas esquisitas contam com colaboradores leais na diretoria de empresas de tecnologia e em corporações mais tradicionais como Citibank e Pepsi-Cola. Os exemplos de Carl são nítidos e chocantes, e sua narrativa bem construída me levou a duas questões suscitadas por suas evidências.

Uma: Carl descreve seus alvos como pessoas que estão traindo o sistema de livre mercado que permitiu que eles prosperassem, mas podemos perguntar se isto procede. Não poderíamos argumentar que alguém como Mark Zuckerberg, o bilionário socialmente radical fundador do Facebook, está sendo racional economicamente mesmo quando entrega-se a suas infantis fantasias esquerdistas e usa uma camiseta do Che Guevara? Muitos usuários da invenção de Zuckerberg possuem o mesmo pensamento político e cultural. Não sei nem dizer se a decisão tomada pelo Facebook e Google nos EUA e na Europa Ocidental de mandar embora conservadores é uma má estratégia de negócios. Talvez a maioria dos usuários destas conveniências da internet aprovem a intolerância politicamente correta. Eles podem ser como aqueles universitários que estão exigindo “espaços seguros” e que aplaudem manifestantes antifascistas que impedem que opiniões “intolerantes” sejam expressadas nos seus campi. Pressões políticas vêm quase que exclusivamente da esquerda cultural, e pode fazer todo sentido para os negócios satisfazer estes consumidores engajados politicamente.

Capitalistas de cem anos atrás estavam geralmente na direita política. Mas isto se devia a circunstâncias bem diferentes das nossas. Diferentemente de Mark Zuckerberg e Bill Gates, Cornelius Vanderbilt, John D. Rockfeller e Andrew Carnegie eram protestantes devotos, e viviam em sociedades onde era esperado que tanto ricos quanto pobres observassem certas regras de comportamento burguesas que mal existem mais. De qualquer maneira, a velha moralidade “sexista, homofóbica, racista” foi substituída por padrões politicamente corretos igualmente rigorosos, e não pode haver nenhuma dúvida que essas figuras que Carl detona sejam obsessivamente escrupulosas na observância de nossa moralidade social pós e anti burguesa. Também, estamos vivendo em uma era de capitalismo global e corporações multinacionais, onde a exaltação da diversidade pode possuir um considerável valor publicitário. Porque a direita tradicional (da qual Carl e eu fazemos parte) possa não valorizar a destruição cultural que vemos acontecer por toda nossa volta, isto não significa que ela seja ruim para os negócios.

Há aqueles mais abaixo na ordem hierárquica capitalista – e.g., empresas puramente americanas dirigidas por cristãos sérios, como a Hobby Lobby (ou, como o recente caso brasileiro do supermercado Hirota Food – N.T.) – que tentam defender valores culturais tradicionais, geralmente a um preço muito alto. Estes capitalistas de níveis menores suportam boicotes amplamente divulgados pela esquerda e a pressão do estado para permaneceram fieis a seus princípios. Devemos notar também a presença de negócios familiares muito menores, ideologicamente independentes. Os donos destas empresas realmente não precisam se importar se estão sendo politicamente incorretos a não ser que estejam localizados em um território esquerdista como o Greenwich Village ou Haight-Ashbury. Porém aqueles no topo da pirâmide econômica exibem suas posições culturalmente esquerdistas porque isto os ajuda comercialmente. Isto também os protege de boicotes de uma esquerda ativista, cuja força coletiva não se compara a nada existente na direita. Alguém teria que ser deficiente visual para não ver que quando representantes da esquerda depredam monumentos Confederados não há nenhuma reação física efetiva do outro lado. Como na Europa Ocidental, a esquerda antifascista se revolta, através de boicotes e manifestações violentas, sem evocar uma resposta equivalente por parte de seus supostos adversários.

Duas: Fico imaginando se o vilão de Carl, o “marxismo”, tem muita relação com suas lamentações. Os slogans marxistas podem servir de fachada para alguns da esquerda com que nossos capitalistas globais estão se associando, e este ismo pode ainda ser tentado em uma catastrófica moda seletiva em alguns países sul-americanos. Mas feministas, nacionalistas negros, transexuais, e outras vítimas escolhidas que Carl menciona raramente são socialistas obsessivos. Elas são em sua maioria radicais anti-burguesia, anti-cristão, anti-brancos que estão tentando conseguir benefícios do estado burocrático moderno. É impossível que seus promotores políticos e culturais dos EUA e da Europa outrora tenham sido marxistas ou membros de partidos comunistas. Mas esta continuidade não é tão ideológica quanto é pessoal. Aqueles que odiavam ou temiam a ordem social hereditária ou, no caso dos ex-comunistas europeus, desejavam permanecer relevantes para uma esquerda em mutação, se adaptaram a uma nova era. Eles foram de marxistas para esquerdistas pós-marxistas. Carl nota esta transformação quando explica: “Mais importante, os marxistas mudaram seu foco principal de classe para raça e sexo. Isto não quer dizer que eles desistiram da luta de classes. Mas sua identificação mais passional nas últimas décadas foi com ‘pessoas de cor’, mulheres e minorias transexuais.”

A pergunta que deveria ser feita é se, uma vez que se tenha reinventado o marxismo, a esquerda moderna ainda é reconhecidamente marxista. Na minha opinião, a atual esquerda perdeu esta identidade. Marxistas e marxistas-leninistas estão corretos ao denunciar esta reformulação multicultural da crítica sócio-econômica de Marx ao capitalismo. Um executivo de uma grande corporação que insiste em banheiros trans nos escritórios ou que exige uma linguagem inclusiva de gênero no ambiente de trabalho não se torna um marxista ou um simpatizante do marxismo ao tomar estas posições culturais. Ao contrário, ele mostra o que ele é: um capitalista facilmente intimidável ou sem princípios morais.

 

Tradução de Fernando Chiocca

Artigo original aqui.

4 COMENTÁRIOS

  1. No que tange a questão de principio moral eu concordo, mas não seria essa uma maneira de não se tornar um alvo dessa perseguição da esquerda cultural que é dominante nos dias atuais?

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