Bancos Centrais afirmam preservar o valor do dinheiro por meio da inflação

0
Tempo estimado de leitura: 4 minutos

Pode parecer uma piada de mau gosto, mas vários bancos centrais afirmam isso. No site do banco central da Suécia, o Riksbank um comunicado diz: “O Riksbank é o banco central da Suécia. Garantimos que o dinheiro retenha seu valor ao longo do tempo”.

O banco central da Inglaterra, o Bank of England, faz uma declaração semelhante em seu site, dizendo: “Preservamos o valor do seu dinheiro mantendo os preços estáveis”.

Depois, temos o Bank of Canada: “Somos o banco central do Canadá. Trabalhamos para preservar o valor do dinheiro mantendo a inflação baixa e estável.”

O site do banco central do Brasil traz o lema: “Garantir a estabilidade do poder de compra da moeda, zelar por um sistema financeiro sólido, eficiente e competitivo, e fomentar o bem-estar econômico da sociedade.”

Enviei um e-mail para o Riksbank sobre isso e perguntei como eles poderiam fazer tal declaração e como eles definem o termo “valor”. Uma semana depois, recebi uma resposta onde diziam que por “dinheiro retendo seu valor” eles queriam dizer que o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) deveria aumentar constantemente em um ritmo “lento” (2% ao ano).

“A maioria dos outros bancos centrais, como o FED, definem a estabilidade de preços dessa maneira”, acrescentaram. Claro, a maioria dos bancos centrais tenta nos enganar e nos fazer pensar que precisamos da inflação para sobreviver e que os preços devem subir para manter a economia funcionando.

O que há de errado com as declarações dos bancos centrais

Como você pode ver, eles afirmam que, à medida que o IPC aumenta devido ao aumento da oferta de moeda, a moeda mantém seu valor (preço). Mas se o IPC aumenta, então logicamente o valor da unidade marginal da moeda cai. A estabilidade de preços é definida pela maioria dos bancos centrais como um aumento do IPC em aproximadamente 2% ao ano.

No entanto, os preços de vários bens e serviços não aumentam uniformemente quando a oferta monetária é inflacionada. Os preços da laranja podem subir 1%, enquanto os preços das casas podem subir 15%. Alheios ao fato de que o uso de qualquer bem é subjetivo, deve-se notar que a maioria dos países não inclui as casas no IPC por considerá-las como bens de capital.

O fato de a moeda não ser neutra beneficia os primeiros recebedores de dinheiro novo em detrimento dos últimos recebedores. O dinheiro recém-injetado na economia, portanto, cria aumentos de preços maiores onde eles são injetados pela primeira vez, conhecido como efeito Cantillon.

Os bancos centrais também confundem valor com preço e o preço do dinheiro com o preço do IPC. Não surpreendentemente, os bancos centrais são criados com base na teoria econômica errônea. É comum no discurso cotidiano se referir ao preço como valor, mas são duas coisas diferentes.

Preço é uma relação de troca atual entre bens e/ou serviços e dinheiro sendo negociado. Carl Menger explicou brilhantemente o conceito de valor em seu livro Princípios de Economia Política: “Valor é um julgamento que os homens que economizam fazem sobre a importância dos bens à sua disposição para a manutenção de suas vidas e bem-estar. Portanto, o valor não existe fora da consciência dos homens”.

Conclusão

Reis e governos descobriram há muito tempo que podiam expandir seu poder e aumentar sua riqueza monopolizando a emissão de moeda. Assim, ao fazer da moeda dos governantes a única moeda legal, mesmo a moeda fiduciária ainda era valorizada pela maioria, já que as alternativas eram ilegais.

Após a suspensão do padrão-ouro, os governos normalmente mantinham o ouro e deixavam o papel-moeda circular sem ser resgatável. Como a moeda fiduciária irresgatável ainda é a única moeda legal, muitas pessoas não pensam duas vezes sobre isso.

De certa forma, pode-se dizer que os bancos centrais em conluio com os governos preservam o valor do dinheiro. Mas a única maneira de preservar o valor é forçando as pessoas a não usar quaisquer alternativas e, assim, a grande maioria valoriza o dinheiro do governo, não importa o quê.

Se as pessoas realmente pensassem sobre isso, elas dariam valor a moeda que subiu de preço ao longo do tempo ou a moeda que caiu de preço? Considere os preços (aproximados) dessas commodities durante os últimos cem anos:

– O preço (o poder de compra) do dólar americano caiu 94,34%

– A coroa sueca caiu 96,61%

– O dólar canadense caiu 94,05%

– A libra britânica 97,08%

Enquanto isso, o preço à vista da prata subiu 3.033% e o preço à vista do ouro subiu 8.591%.

Deve-se notar que os preços do ouro e da prata aumentam devido à inflação monetária, assim como qualquer outra mercadoria. No entanto, em termos de medição do IPC, os dois metais servem como “hedge contra a inflação”. Os metais preciosos são valorizados há milhares de anos por suas vantagens monetárias, beleza e fins industriais. A moeda fiduciária, por outro lado, é valorizada porque é a única opção legal como dinheiro e porque a maioria das pessoas não entende de economia básica.

Tudo isso dito, uma declaração mais apropriada de todos os bancos centrais deveria ser: “Somos um banco central e garantimos que a moeda ainda seja valorizada ao monopolizar a emissão de moeda”.

Mas isso, é claro, é uma ilusão.

 

 

 

Artigo original aqui

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.