Meu interesse pela Economia, além da influência do meu pai, diretor de uma agência bancária, provavelmente veio a raiz da crise das subprimes, a qual afetou profundamente a Espanha da minha juventude. A economia espanhola tinha crescido consideravelmente na década dos 80 e 90. O turismo e a construção eram os motores do país. A adoção do euro em 2002 facilitou o comércio com o resto da Europa e trouxe maior estabilidade econômica. O ímpeto econômico era tanto que se discutia se Espanha deveria formar parte do G7 no lugar de Itália. Ninguém duvidava disso não acontecer antes de 2010. Internacionalmente Espanha era conhecida por seu milagre econômico. Entretanto, em 2008 veio a crise das subprimes. Todo esse frenesi econômico foi pelo ralo em questão de meses. Pais de família perderam seus empregos, suas casas, e ainda ficaram com as dívidas hipotecárias. O desemprego juvenil disparou até quase o 50%. O país, que meses antes era o exemplo a seguir mundialmente, tornou-se um caos econômico.
A partir daí Espanha jamais voltou a ser o que era. As cifras do desemprego foram maquiadas: o povo que não procurava emprego, por haver perdido a esperança, deixou de ser contabilizado, forçando uma falsa sensação de melhora sem nenhum sentido; a realidade estava nas ruas. A Espanha da minha juventude se converteu repentinamente num país sem futuro; um país que perdia seus jovens. A maioria dos meus amigos qualificados e outros tantos conhecidos acabaram emigrando. Eu mesmo sofri essa realidade, pois acabei emigrando para o Brasil.
Efetivamente, a crise das subprimes fez com que muitas famílias perdessem tudo ou quase tudo: suas casas, seus trabalhos e até a proximidade de seus filhos. A crise marcou minha vida e a de outros muitos. Muitas perguntas surgiram naquela época. Por que mudou tudo tanto e tão rápido? Como se originou essa crise? Por que uma crise iniciada nos EUA acabaria afetando tanto a Espanha? Como um país que parecia o espelho mundial se tornou de repente um clamoroso fracasso?
Entretanto, naquele momento não tinha nem respostas, nem tempo para achá-las. Meu objetivo era outro: acabar meu doutorado, encontrar um emprego e me dedicar a estudar esses assuntos assim que puder no futuro. Esse futuro chegou e agora me sinto humildemente capaz de escrever sobre muitas das coisas que aprendi no caminho.
Este livro está dedicado a Alanne. Sem ela jamais teria sido possível. Este trabalho é tanto meu quanto dela.
“Nada é tão reconfortante para um homem quanto a companhia de uma mulher inteligente.” Leo Tolstói