Nossos supostos líderes não passam de crianças

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As atitudes e opiniões da chamada “elite” de hoje – aqueles formadores de opinião pública que Deirdre McCloskey chama de “os clérigos” – são infantis. A maioria dos jornalistas e escritores que trabalham para a maioria das principais empresas de mídia e entretenimento, juntamente com a maioria dos professores e intelectuais públicos, pensam, falam e escrevem sobre a sociedade com uma visão de alunos do jardim de infância.

Essa triste verdade é mascarada pela única característica que distingue o clero das crianças pequenas: o virtuosismo verbal. No entanto, sob as belas palavras, belas frases, metáforas cativantes e alusões afetadas, há uma notável imaturidade de pensamento. Acredita-se que todo problema social e econômico tem uma solução, e essa solução é quase sempre superficial.

Ao contrário das crianças, os adultos entendem que viver bem começa com a aceitação da inevitabilidade de trade-offs. Ao contrário do que você pode ter ouvido por aí, você não pode “ter tudo”. Você não pode ter mais dessa coisa a menos que esteja disposto a ter menos daquela outra coisa. E o que é verdade para você como indivíduo é verdade para qualquer grupo de indivíduos. Nós não podemos fazer com que nosso governo aumente artificialmente o custo de produção e uso de combustíveis de carbono, a menos que estejamos dispostos a pagar preços mais altos na bomba e, portanto, tenhamos menos renda para gastar na aquisição de outros bens e serviços. Não podemos usar a criação de dinheiro para aliviar a dor dos lockdowns sem suportar a dor maior gerada pela inflação que posteriormente virá.

Enquanto as crianças batem seus pezinhos no chão, em protesto, quando confrontadas com a necessidade de fazer trade-offs, a necessidade de trade-offs é aceita como uma coisa natural pelos adultos.

Não menos importante, os adultos, ao contrário das crianças, não são seduzidos pelo superficial.

Preste muita atenção em como os clérigos (em sua maioria, embora não exclusivamente, progressistas) se propõem a “resolver” quase qualquer problema, real ou imaginário. Você descobrirá que a “solução” proposta é superficial; que está enraizada na suposição ingênua de que a realidade social além daquela que é imediatamente observável não existe ou não é afetada por tentativas de reorganizar os fenômenos superficiais. Na visão dos clérigos, a única realidade que importa é a realidade que é facilmente vista e que parece facilmente manipulada com o uso da coerção. As “soluções” propostas pelos clérigos, portanto, envolvem simplesmente reorganizar, ou tentar reorganizar, fenômenos superficiais.

Algumas pessoas usam armas para matar outras pessoas? Sim, infelizmente. A “solução” superficial dos clérigos para esse problema real é proibir as armas. Algumas pessoas têm patrimônios financeiros líquidos substancialmente mais altos do que outras pessoas? Sim. A “solução” juvenil dos clérigos para esse problema falso é tributar pesadamente os ricos e transferir os rendimentos para os menos ricos. Alguns trabalhadores recebem salários muito baixos para sustentar uma família no mundo moderno? Sim. A “solução” simplista dos clérigos para esse problema falso – “falso” porque a maioria dos trabalhadores que ganham salários tão baixos não são chefes de família – é fazer com que o governo proíba o pagamento de salários abaixo de um mínimo estipulado.

Algumas pessoas sofrem danos materiais substanciais, ou até mesmo perdem suas vidas, por causa de furacões, secas e catástrofes climáticas? Sim. A “solução” preguiçosa dos clérigos para esse problema real se concentra em mudar o clima, reduzindo as emissões de um elemento, o carbono, que agora (um pouco simplista demais) acredita-se que determina fortemente o clima.

Os preços de muitos bens e serviços “essenciais” aumentam significativamente logo após os desastres naturais? Sim. A “solução” contraproducente dos clérigos para esse problema falso – “contraproducente” e “falso” porque esses altos preços refletem e sinalizam com precisão as realidades econômicas subjacentes – é proibir a cobrança e o pagamento desses altos preços. Quando as pressões inflacionárias se acumulam devido ao crescimento monetário excessivo, essas pressões são liberadas na forma de preços crescentes? Sim, de fato. A “solução” infantil dos clérigos para o problema muito real da inflação é culpar a ganância enquanto aumenta os impostos sobre os lucros.

O vírus SARS-CoV-2 é contagioso e potencialmente perigoso para os seres humanos? Sim. A “solução” simplória dos clérigos para esse problema real é impedir forçosamente que as pessoas se aproximem umas das outras.

Muitos ainda não recebem educação escolar de qualidade mínima aceitável? Sim. A “solução” preguiçosa dos clérigos para esse problema real é aumentar os salários dos professores e gastar mais dinheiro com a burocracia escolar.

Alguns trabalhadores perdem empregos quando os consumidores compram mais produtos importados? Sim. A ‘solução’ dos clérigos é obstruir a capacidade dos consumidores de comprar importados. Algumas pessoas são preconceituosas e apresentam uma antipatia irracional ou medo de negros, gays, lésbicas e bissexuais? Sim. A “solução” dos clérigos para este problema real é proibir o “ódio” e obrigar as pessoas preconceituosas a se comportarem como se não fossem preconceituosas.

Muitas pessoas que poderiam votar nas eleições políticas abstêm-se de votar? Sim. A “solução” defendida por pelo menos parte dos clérigos para esse problema falso – “falso” porque em uma sociedade livre cada pessoa tem o direito de se abster de participar da política – é tornar o voto obrigatório.

A lista acima de “soluções” simplistas e superficiais para problemas reais e imaginários pode ser facilmente expandida.

Os clérigos, confundindo palavras com realidades, supõe que o sucesso em descrever verbalmente realidades mais ao seu gosto prova que essas realidades imaginadas podem se tornar reais simplesmente reorganizando os fenômenos superficiais relevantes. Os membros do clero ignoram consequências não intencionais. E eles ignoram o fato de que muitas das realidades sociais e econômicas que eles abominam são o resultado, não de vilania ou de imperfeições corrigíveis, mas de trade-offs complexos feitos por inúmeros indivíduos.

A engenharia social parece factível apenas para aquelas pessoas que, vendo apenas relativamente poucos fenômenos superficiais, estão cegas para a espantosa complexidade que está sempre se agitando abaixo da superfície para criar esses fenômenos superficiais. Para tais pessoas, a realidade social aparece como para uma criança: simples e facilmente manipulável para se alcançar quaisquer que sejam os desejos que motivam os manipuladores.

O clero está repleto de pessoas simplórias que confundem sua felicidade com palavras e suas boas intenções com pensamento sério. Eles transmitem uns aos outros, e ao público inocente, a aparência de serem pensadores profundos enquanto raramente pensam com mais sofisticação e nuance do que se pensa diariamente nos jardins de infância.

 

 

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Donald J. Boudreaux
é membro sênior do American Institute for Economic Research e do F.A. Hayek Program for Advanced Study in Philosophy, Politics and Economics no Mercatus Center da George Mason University; é Membro do Conselho do Mercatus Center; e um professor de economia e ex-chefe do departamento de economia da George Mason University. Ele é o autor dos livros The Essential Hayek, Globalization, Hypocrites and Half-Wits, e seus artigos aparecem em publicações como o Wall Street Journal, New York Times, US News & World Report, bem como numerosos jornais acadêmicos. Ele escreve um blog chamado Café Hayek e uma coluna regular sobre economia para o Pittsburgh Tribune-Review. Boudreaux é PhD em economia pela Auburn University e bacharel em direito pela University of Virginia.

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