Capítulo X. O redescobrimento
Ludwig von Mises morreu na cidade de Nova Iorque em 10 de outubro de 1973, aos 92 anos. Após sua morte, seus escritos e sua influência conheceram um verdadeiro redescobrimento, só empanado pelo fato de que ele já não o podia presenciar. A nova alvorada foi sem dúvida inaugurada pelo prêmio Nobel que Hayek recebeu em 1974 exatamente por ter apenfeiçoado, nas décadas de 20 e 30, a teoria misesiana do ciclo econômico. Tendo sido conferido após à premiação de uma longa série de keynesianos e econometristas, esse Nobel despertou interesse pela teoria misesiana, pouco conhecida e esquecida. É também indubitáveI que o renovado interesse por Mises e pela Escola Austríaca redobrou com a crise permanente em que mergulhou a economia keynesiana, em decorrência da profunda recessão de 1973-75. Esta crise se caracterizou tanto pela inflação como pelo desemprego, fenômeno progressivo que viola todos os cânones da teoria keynesiana.
Seguiram-se três simpósios sobre economia “austríaca” realizados no Royalton College, na Universidade de Hatford e no Castelo de Windsor, Inglaterra, que resultaram todos em volumes publicados. Em 1974, numa mesa redonda realizada na Southern Economic Association, apresentaram-se ensaios sobre Ludwig von Mises, mais tarde reunidos num volume. Posteriormente, realizaram-se vários seminários didáticos, bem como dois simpósios “ampliados” em que economistas misesianos e neoclássicos se degladiaram. O mais recente teve lugar na New York University em setembro de 1981, por ocasião da passagem do centenário do nascimento de Mises.
Hoje, os economistas misesianos se espalham por todo os Estados Unidos, tendo, com outros seguidores da Escola Austríaca, constituído seus principais núcleos na New York University, na George Mason University e na Auburn University; todas com cursos de doutorado. Uma enorme quantidade de artigos, livros e dissertaçôes de doutorado veio à luz, trazendo importantes contribuições a numerosos aspectos da economia misesiana: a metodologia, a teoria monetária, o capital e o juro, a história do pensamento econômico, a crítica da economia do estado provedor e da teoria dos “custos sociais”, as aplicações no campo do Direito e da Teoria Jurídica, a análise da inflação da década de 20 e da depressão de 1929, a impossibilidade de previsão econômica no socialismo, os direitos de propriedade e a crítica da intervenção governamental. Em 1982, foi fundado em Washington o Ludwig von Mises Institute for Austrian Economics, Inc., com a finalidade específica de promover os estudos misesianos. Em 1983 o Instituto se associou à Auburn University.
A inspirada e infatigável dedicação de sua viúvá, Margit von Mises, foi fundamental na redescoberta de Mises de 1974 em diante. Com inquebrantável dedicação, ela supervisionou e preparou a edição dos numerosos escritos do falecido marido, conseguiu editoras que os reeditassem, editassem ou traduzissem e traduziu suas obras para outras línguas. Após a morte do mestre, ela se tornou a única grande divulgadora da obra de Mises.
Em 1976, Margit publicou ternas e comoventes memórias de sua vida conjugal, My Years with Ludwig von Mises. Além disso, mandou traduzir e publicar uma reveladora autobiografia intelectual que Mises escrevera nos dias sombrios da década de 40 e confiara a seus cuidados, com as palavras: “Isto é tudo que as pessoas precisam saber a meu respeito”. O livro foi publicado em 1978 com o título Notes and Recollections[17]. O tradutor, o Professor Hans F. Sennholz, comentou mais tarde que nunca havia sido, em toda a sua vida, tão atentamente supervisionado.
[17] Margit von Mises, My Years with Ludwig von Mises (New Rochelle, N.Y.: Arlington House, 1976); Ludwig von Mises, Notes and Recollections (South Holland, I11.: Libertarian Press, 1978).