O nazifascismo é de direita ou de esquerda?

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O consenso acadêmico a respeito do espectro político do fascismo e do nazismo, e das demais ideologias totalitárias que se espalharam pelo mundo após a explosão do Eixo antes da Segunda Guerra, é que ambos sejam ideologias conservadoras, ultranacionalistas, antiliberais, antimarxistas e, portanto, ideologias de extrema-direita. Em casos mais absurdos ainda, mídias de produto do ‘establishment’ globalista, como a “prestigiada” Wikipédia (brasileira), ainda é mais ousada com o seu revisionismo histórico e negacionismo, afirmando que o fascismo é uma ideologia contrária ao marxismo e socialismo.

Há cerca de 5 anos, o tema sobre o espectro político do fascismo ascendeu no Brasil quando o influenciador digital e ex-bolsonarista Fernando Moura (conhecido por Nando Moura) afirmou que o nazismo era de esquerda, utilizando-se da comparação que o próprio ‘führer’ Adolf Hitler fez em sua autobiografia, Mein Kampf, dizendo que seu regime era semelhante ao regime da União Soviética. O tema viralizou e inclusive chegou ao vosso ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, que replicou a afirmação, de que o nazismo era de esquerda.

A esquerda alemã teve que vir, pela sua embaixada, afirmar que o nazismo era de direita, usando o argumento de apelo à autoridade. Os ‘sites’ de “educação”, como Brasil Escola e Mundo Educação, nada tendenciosos, tiveram que fazer suas próprias postagens reforçando, novamente com apelo à autoridade, de que o nazismo era de direita sim. E a mídia do jornalismo criminoso, como BBC, CNN e The Intercept (esta última declaradamente criminosa), teve que vir também falar sobre o tema, sobre o que os historiadores da ONU pensam sobre o tema do espectro político do fascismo/nazismo.

Afinal, o que é o fascismo e o nazismo? E por que ele não é uma ideologia de direita como meu professor da escola e da universidade e o embaixador da Alemanha falou?

Definição dos termos nazismo e fascismo 

O fascismo e o nazismo são termos usados popularmente como sinônimos intercambiáveis (além de ser uma banalização do mal, tornando-os uma forma de xingamento), inclusive na área acadêmica. Porém, os acadêmicos também usam o termo “nazifascimo” para classificar os regimes autoritários que surgiram na Europa nas décadas de 1920 e 1930 e que (para boa parte dos historiadores) se espalharam pelo mundo, adaptando-se às condições locais.

O professor e cientista político João F. D. Eigen, dono do canal Cosmopolítica, prefere chamar esses regimes coletivamente de “nacional-socialismo”. Quando Hitler e Mussolini estavam juntos eles se denominavam coletivamente de nacional-socialistas, e quando estavam separados, um se denominava nazista ou socialista, e o outro fascista ou socialista.

O nacional-socialismo seria uma família de ideologias, como uma árvore genealógica, e essas ideologias seriam o fascismo (a ideologia nacional-socialista da Itália), o nazismo (a ideologia nacional-socialista da Alemanha) e outros movimentos, regimes e ideologias que seguiram a linha autoritária e ultranacionalista, como o getulismo (no Brasil), salazarismo (em Portugal), franquismo (na Espanha), peronismo (na Argentina) etc. Portanto, para ele, seria errado chamar, ou classificar, a ideologia do Estado Novo brasileiro, do Terceiro Reich, do Estado Novo português, do franquismo, do peronismo e quaisquer outros regimes que se encaixam nesta família de ideologias simplesmente de fascismo. Pois o fascismo é uma ideologia específica desta família, na Itália.

Nazismo e fascismo… socialismo?

O falecido professor e filósofo/sociólogo Olavo de Carvalho descreveu a ideologia do nazismo e do fascismo, ou seja, do nacional-socialismo, como, de forma bem resumida, “a revolução das nações proletárias contra as nações burguesas capitalistas”. Um italiano proletário ao ser transferido para o contexto de classes dentro dos EUA, Reino Unido, França ou Canadá (as plutocracias as quais os nacional-socialistas consideravam como nações burguesas capitalistas que falaremos mais à frente), não seria um proletário e sim um sem-teto, sem uma assistência social. Então as classes sociais são termos abstratos para os nacional-socialistas e para eles o problema eram as nações que estavam concentrando a renda das nações proletárias através do imperialismo. E por isso uma “revolução das nações proletárias”.

O economista e professor de filosofia Paulo Kogos, no podcast Inteligência Limitada em 2022, despertou esse tema polêmico e afirmou que o nazismo era de esquerda. Ao ser questionado por um dos argumentos que a esquerda frequentemente usa para afirmar que o nazismo era de direita por Vilela, ele afirmou que esta é a diferença entre o nazismo e o regime da URSS. Os soviéticos eram internacionalistas, e os nazistas eram nacionalistas.

E aliás, não é a questão de ser nacionalista ou internacionalista que faz o regime ser de esquerda ou de direita, visto que os regimes socialistas em Cuba, Uganda, China, Venezuela, Coreia do Norte, Camboja e dentre vários outros países que são ou eram ocupados por regimes de extrema-esquerda, ascenderam com uma base fortemente nacionalista. No caso da Coreia, Uganda, Camboja e da China, até ultranacionalista, e não deixaram de ser regimes de extrema-esquerda. No caso da URSS, Stalin, um internacionalista extremista, também usou o ultranacionalismo como uma vantagem.

O professor e historiador Marcelo Andrade muito bem explica que as nações e nacionalidades, para Karl Marx, eram conceitos abstratos, e que ele defendia o fim das nações por serem conceitos produtos de superestruturas do capitalismo, com base no materialismo histórico dialético. O professor Marcelo diz isso ao reagir a um trecho em que o comunista, especialista em China, Elias K. Jabbour defendia o nacionalismo, alegando que faz falta e não há nacionalismo no Brasil, mas o povo cubano, sob uma ditadura socialista, “preferia morrer de fome do que ser dominado por outro país, como os EUA”. O que mostra que o atual marxismo moderno é uma releitura da visão de Marx e de Engels. E o que prova também que não é por um determinado indivíduo pensar diferente de Marx em certos pontos que o fará ser contra a base da ideia de Marx, afinal muitos marxistas, que a esquerda não nega serem marxistas, falam coisas que Marx não falou e defendem o que não ele defendeu.

O nacional-socialismo é uma ideologia de esquerda nacionalista. Uma releitura do marxismo que se afasta do marxismo clássico, abominando o internacionalismo e o fim do Estado para adorar não só o nacionalismo, mas a forma mais bizarra e exagerada que é o ultranacionalismo, e para pregar um Estado totalitário, ao contrário da finalidade de Marx que seria uma sociedade comunista, onde não há estado ou moeda e a propriedade dominante é a propriedade comum. Marcelo Andrade e João Eigen fazem comentários em vídeos separados que até complementam-se. Enquanto Stalin pregou o fim do Estado em sua finalidade pelo menos em tese, e Mussolini pregou a totalidade e a firmeza do Estado totalitário; Stalin acabou com um Estado totalitário máximo, enquanto Mussolini acabou com um Estado cada vez mais fraco e finalmente destruído na Segunda Guerra.

A luta de classes do marxismo está na ideia das nações proletárias para um lado e das nações burguesas capitalistas para o outro no nacional-socialismo, em vez de dividir a sociedade entre o burguês e o proletário, enfraquecendo a nação, como foi no marxismo.

Além disso, diferente do que fala a esquerda, o nome “socialismo” não está presente nesses regimes apenas para tornar-se um movimento atraente. Tendo sido o socialismo e o marxismo a base para essas ideologias, como veremos adiante, apesar de a Wikipédia dizer que o nazismo e o fascsimo são contra o marxismo e o socialismo.

Antissemitismo

O antissemitismo chegou ao nacional-socialismo em grande parte por Hitler. No Mein Kampf, Hitler contou sua triste história com os judeus. Hitler, que era fruto da socialista República de Weimar, chegou à conclusão de que os judeus estavam concentrando a renda dos proletários alemães e de que era necessário distribuir essa renda por meio de um governo socialista depois de muito sofrer coincidentemente e não-propositalmente por ações de grupos judaicos e depois de preconceitos raciais e étnicos que predominavam na então humilhada Alemanha pelo Tratado de Versalhes.

Mas dentro da filosofia do nacional-socialismo alemão, Hitler ainda explica, em sua obra Mein Kampf, do porquê o grupo étnico-religioso judaico, que, para Hitler, era uma raça, era completamente inferior aos alemães:

      “O ariano entende o trabalho como a base para a preservação da comunidade do povo, o judeu o vê como um meio de explorar outros povos… Não importa se esse indivíduo judeu é “decente” ou não. Ele traz dentro de si os traços do caráter que a natureza lhe deu, e nunca pode se livrar disso.”

Também complementa em Partei Politik und Judenfrage:

      “Hitler vê a principal diferença no caráter da raça germânico-ariana e da raça judaica em suas posições fundamentalmente diferentes em relação ao trabalho como um fim em si mesmo ou um meio para o fim. Ver o trabalho como um fim em si mesmo era, claro, a posição dos arianos, enquanto o trabalho como um meio e fim caracterizava os judeus.”

E em Hitler’s ethic, por Richard Weikart:

      “Segundo Hitler, portanto, os judeus então eram por natureza tímidos para o trabalho e exploravam os outros para sobreviver. Eles não fizeram nenhuma contribuição econômica real para a sociedade. Pelo contrário, usaram táticas inteligentes e astutas para forçar os outros a produzir para eles.”

“Hitler os pintava como os capitalistas gananciosos explorando o trabalho do homem comum, para que não tivessem que trabalhar por conta própria. Eles eram responsáveis por tudo que Hitler considerava opressivo no sistema econômico alemão.”

Como um darwinista social, Hitler acreditava que os judeus eram um grupo racial específico que tem em sua natureza biológica o egoísmo e o individualismo como característica e assim só viam o trabalho como uma forma de explorar os demais povos (arianos e judeus são povos diferentes para Hitler).

Fato é que os judeus sempre foram associados aos grupos que mais se beneficiavam com o capitalismo e, portanto, seria comum haver um sentimento antissemita partindo da esquerda socialista (pelo menos deveria ser comum, mas hoje em dia, preconceito é associado à direita erroneamente). E como realmente houve. Ao longo do século XVII ao século XX, socialismo e antissemitismo, como explica o professor João, sempre andaram juntos. Só após o descobrimento do holocausto e a rivalidade entre os soviéticos e os nacional-socialistas, a esquerda socialista fingiu ver os judeus como pessoas iguais a quaisquer outras. Por exemplo, o pseudo-historiador comunista Ian Neves, dono do canal História Pública, sempre defende os judeus quando trata do tema do nazismo, como se a ideologia socialista ou marxista não visse os judeus como um problema da sociedade e como se pregasse a igualdade ao judeu em relação aos outros povos. Porém, como citada por João, Karl Marx escreveu uma obra dedicada ao seu pensamento sobre os judeus, Sobre a Questão Judaica, de 1843. Nela, Marx defendeu acabar com o judaísmo ao afirmar que para emancipar o proletariado da exploração capitalista seria necessário emancipar a sociedade do judaísmo porque, para ele, o judaísmo tinha em sua essência o individualismo e o egoísmo. Sendo que ele defendeu isso enquanto tinha uma ancestralidade judaica.

Quanto ao darwinismo. Apesar de ser contestado por historiadores progressistas, o darwinismo, que é uma contraposição ao conservadorismo e ao cristianismo (ou seja, de esquerda), presente no nazismo é comprovado na autobiografia de Hitler e em seus discursos e outros materiais. Em Warum sind wir Antisemiten, podemos compreender o social-darwinismo de Hitler (da mesma forma que muitos intelectuais e autores do século XIX e XX, por meio do darwinismo ele chegou à conclusão de que existiriam “raças” superiores e inferiores) e com o seu socialismo e antissemitismo, em seu discurso:

     “Quando eu disse que este processo representa uma lenta, mas talvez também a maior de todas as revoluções na história da humanidade, então deve-se supor que também esta revolução teve que ter uma causa, e esta causa foi a maior Deusa desta Terra, aquela que é capaz de chicotear os homens ao máximo a Deusa da Dificuldade (natureza/processo de seleção natural).

Podemos ver essa dificuldade no início da pré-história sobretudo na parte norte do mundo, naqueles enormes desertos de gelo onde apenas a existência mais escassa era possível. Aqui, os homens foram forçados a lutar por sua existência, por coisas que estavam, no sorridente Sul disponíveis sem trabalho e em abundância.

O Norte forçou os homens a continuarem suas atividades – produção de roupas, construção de residências. Primeiro, eram cavernas simples, depois cabanas e casas. Em suma, ele criou um princípio, o princípio do trabalho.

Ao mesmo tempo, outro desenvolvimento se seguiu a terrível dificuldade tornou-se um meio de reprodução de uma raça. Quem estava fraco ou doente não conseguia sobreviver ao terrível período de inverno e morria prematuramente. O que restou foi uma raça de gigantes fortes e saudáveis. Mais uma característica desta raça nasceu.

Onde o homem é amordaçado externamente, onde seu raio de ação é limitado ele começa a se desenvolver internamente. Externamente limitado, internamente ele se torna ilimitado Quanto mais o homem, devido a forças externas, deve depender de si mesmo, mais profunda vida interna ele desenvolve mais ele se volta para dentro.

Essas três conquistas: 1) o princípio reconhecido do trabalho como um dever, a necessidade, não apenas por egoísmo, mas para a preservação de todo o grupo de pessoas; 2) a necessidade de saúde corporal e, portanto também de saúde mental normal; 3) a vida espiritual profunda Tudo isso deu às raças do norte a capacidade de ir ao mundo e construir Estados.

A luta contra os duros elementos nórdicos tornou uma ética de trabalho absolutamente necessária para a sobrevivência. Assim, ao longo dos tempos os arianos desenvolveram um amor hereditário pelo trabalho, portanto o arianismo significa a concepção moral do trabalho e através dela aquilo de que falamos tantas vezes hoje: socialismo, senso de comunidade e bem comum antes dos interesses individuais.”

Assim, podemos chegar à conclusão de que Hitler era um darwinista, mas sua visão pseudocientífica misturava-se com política, pensando que os arianos eram uma raça socialista, que pensava no bem comum e no uso do trabalho como sua forma de preservação, e os judeus eram uma raça capitalista, que tinha em sua essência o egoísmo e o individualismo e via o trabalho como uma forma de explorar os demais para não ter que trabalhar. Isto está longe de ser uma visão de direita, afinal, pregaria um direitista que os socialistas são superiores e que os capitalistas, inferiores, porque os capitalistas supostamente exploram os outros e os socialistas constroem civilizações?

O darwinismo é mais uma vez constatado quando Hitler opõe-se a levar os judeus à Sibéria, pois, como um darwinista, acreditava que o frio russo, tal como fez o frio nórdico com os arianos, poderia fazê-los se adaptar e desenvolver talentos superiores até tornar-se uma raça socialista abandonando os valores inferiores, valores imorais baseados em individualismo, egoísmo e na exploração de terceiros para sobreviver.

A história de Mussolini

Já falamos muito de Hitler, agora precisamos falar de Benito Mussolini, principal aliado do führer e que compõe a ideologia nazifascista.

Mussolini passou a sua juventude sendo um militante socialista. Durante sua infância, seu pai, Alessandro, lia-lhe todas as noites O Capital antes de dormir. Ele emigrou, em 1902, para a Suíça, onde conheceu revolucionários, socialistas e sindicalistas e inclusive sindicalistas italianos que colaborariam com a filosofia e ideologia do fascismo, como Sergio Panunzio e Angelo Olivetti. Lá ele contribuiu até com jornais de esquerda, da vertente sindicalista revolucionária. Ele também consome do sindicalismo do francês George Sorel, pelo qual muitos sindicalistas, principalmente italianos, eram inspirados na época. Por meio da absorção do sindicalismo soreliano, Mussolini afasta-se do materialismo do marxismo e torna-se adepto à criação de uma elite intelectual proletária por meio da corporação de sindicatos que doutrine e conscientize o proletário sobre a noção de classes, guiando-o à revolução, pois a Itália era atrasada industrialmente e levaria décadas para que o capitalismo gerasse suas contradições ao extremo, radicalizasse as massas proletárias e mobilizasse-as à revolução socialista como era previsto no materialismo.

Na Guerra Ítalo-Turca, um casal da elite socialista italiana, Margherita e Casare Sarfatti, conheceu Mussolini, que foi preso durante a guerra por 5 meses. Maravilhados com os ideais e bravura de Mussolini, os dois praticamente adotaram-no. Mussolini foi apresentado à elite socialista italiana da época, expandindo seu networking socialista na Itália ainda mais. Uma das pessoas foi Anna Kuliscioff, a fundadora russa bolchevique do Partido Socialista Italiano, de base marxista-leninista. Mussolini e o casal tornaram-se basicamente um trisal no qual havia um relacionamento aberto entre os dois, porém, Casare não sabia que estava sendo corno e continuava incentivando a relação entre os dois e ajudando Mussolini, por exemplo, entregando-lhe a diretoria do jornal do Partido Socialista Italiano.

Mussolini, além de ser influenciado pelos sindicalistas revolucionários, que inclusive muitos faziam parte do partido, passou a ser influenciado por Margherita. Podemos dizer que Margherita formou a base nacionalista, expansionista e militarista, enquanto os sindicatos o sindicalismo e o elitismo do fascismo. Mussolini era contra a entrada da Itália na Primeira Guerra, mas Margherita era a favor e a sua pressão o fez mudar de opinião, fazendo-o um ativista pela entrada italiana na guerra, inclusive, há fotos capturadas do discurso ativista de Mussolini no congresso do Partido. Já os sindicalistas revolucionários já usavam o símbolo ‘fachio littori’ da Roma antiga, porém, com a interpretação de que a corporação de varas era uma corporação organizada de trabalhadores. E não o que alega a esquerda de que a corporação de varas são a nação, diferentes classes sociais em harmonia, sob o Estado totalitário que é representado pelo Machado.

O grupo sindicalista revolucionário de Mussolini e Margherita sai do Partido Socialista Italiano por achar que o partido estava cedendo à burguesia com uma base reformista e eles fundam o Partido Nacional Fascista após a criação da ideologia que o grupo já compartilhava que parece ter sido obra de Margherita, que viu que seria necessário a criação de uma nova ideologia até por sensacionalismo e se distanciar muito do marxismo clássico e descreveu o fascismo como “a realização do socialismo revolucionário”, igualmente àquela ideia de que a Itália era atrasada industrialmente e o capitalismo, que não estava se desenvolvendo, não estava gerando suas supostas “contradições” para mobilizar as massas à revolução socialista.

Nas eleições de 1919, Mussolini propôs um plano que ele mesmo descreveu sendo “decididamente esquerdista”, baseado em políticas de esquerda, em impostos altos sobre herança e de ganhos de capital e promovendo a derrubada da monarquia. Algo que só a direita defenderia. É claro, o fascismo é de extrema-direita. Risos. E ele até propôs uma coalizão com partidos de esquerda, como o Partido Italiano Socialista. Entre 1921 e 1922 ele toma o poder com o grupo paramilitar Camisas Negras, após a monarquia ter sido forçada a nomeá-lo chefe de governo. Depois, Mussolini conhece Hitler e compra sua ideia de que judeus estavam concentrando a renda dos demais povos. E depois isso mistura-se com a visão nacionalista anti-Aliados, formalizando a ideologia coletiva e revolucionária de Hitler e Musssolini que as nações burguesas estavam concentrando a renda das nações proletárias, e os judeus eram um instrumento dessas plutocracias.

Em 1941, Mussolini reforçou a distribuição de renda de Hitler:

      “Quando a guerra terminar, na revolução social mundial que seguirá uma distribuição mais justa das riquezas da terra, será necessário levar em conta os sacrifícios e a disciplina mantidos pelos trabalhadores italianos. A revolução fascista dará mais um passo decisivo para encurtar as distâncias sociais.”

Uma visão claramente de “extrema-direita”, não acham?

Ao fundar a República Social Italiana, Mussolini explica ainda mais o fascismo:

      “O Estado que queremos estabelecer será nacional e social no sentido mais amplo da palavra: isto é, será fascista no sentido de nossas origens. Enquanto esperamos que o movimento se desenvolva até que se torne irresistível, nossos postulados são os seguintes: (…)”

Para Mussolini, um governo nacionalista e que se preocupa com o bem estar social de sua população e a ajuda com assistencialismo é sinônimo de fascismo.

Agora, mais radicalizado do que nunca depois de ter perdido seu governo no Reino da Itália, ele voltou a condenar a monarquia, uma opinião claramente de “extrema-direita”:

    “A Assembleia Constituinte, potência soberana de origem popular, será convocada para declarar a abolição da Monarquia e a condenação solene do último rei como traidor e desertor e, uma vez proclamada a República Social, nomeará o seu Chefe.”

“O objetivo essencial da política externa deve ser a unidade, independência e integridade territorial da pátria nos limites marítimos e alpinos indicados pela natureza, pelo sacrifício de sangue e pela história, limites ameaçados pelo inimigo com a invasão e com as promessas ao governo que se refugia em Londres. Outro propósito essencial será tornar indispensável a necessidade de espaços vitais para um povo de 45 milhões de habitantes, localizada em área suficiente para alimentá-la. Tal política também será adotada para a realização de uma comunidade europeia, com a federação de todas as nações que aceitam os seguintes princípios fundamentais: a) Eliminação das seculares intrigas britânicas em nosso continente. b) Abolição do sistema capitalista interno e luta contra as plutocracias mundiais. c) Valorização, em benefício dos povos europeus e autóctones, dos recursos naturais da África, com absoluto respeito por aqueles povos, especialmente os muçulmanos, que, como o Egito, já estão civil e nacionalmente organizados.”

Pois, é, como um extrema-direita, Mussolini era a favor de uma comunidade de povos europeus ao lado do Eixo, mas essas nações deveriam atender a vários requisitos como o de ser a favor de “eliminar o capitalismo”. E ele ainda respeitava as minorias sociais, como os muçulmanos!

     “- A base e objeto primário da República Social é o trabalho manual, técnico e intelectual em todas as suas manifestações.

– A propriedade privada, fruto do trabalho e da poupança individual, integração da personalidade humana, é garantida pelo Estado. Entretanto, não pode se tornar um desintegrador da personalidade física e moral de outros homens, através da exploração de seu trabalho.

– Dentro da economia nacional, tudo o que, pelas suas dimensões ou funções, ultrapasse os limites particulares para entrar na esfera do interesse nacional, recai na intervenção do Estado. Os serviços públicos e, consequentemente, a produção de guerra, devem ser administrados pelo Estado por meio de entidades paraestatais.”

Como não podia ser mais de extrema-direita, os serviços públicos, isto é, tudo o que o público necessitasse de serviço como um coletivo, deveria ser uma função do Estado.

E ele ainda criou o termo de “socialização da economia”, que segundo ele seria uma “realização italiana, romana, nossa, viável do socialismo”.

      “Em cada empresa (industrial, privada, estatal, paraestatal) os representantes dos técnicos e dos trabalhadores cooperam intimamente (através de um conhecimento direto da administração) na fixação justa dos salários, assim como na distribuição justa dos lucros, entre o fundo de reserva, o fruto do capital social e a participação dos próprios trabalhadores nos lucros. Em algumas empresas, isto poderia ser implementado concedendo amplas prerrogativas às atuais comissões de fábrica. Em outros casos, substituindo os Conselhos de Administração por Conselhos de Gestão compostos por técnicos e trabalhadores e um representante do Estado. Finalmente, também pode ser realizada por meio de uma cooperativa parassindical.”

Veja, quantos elementos de extrema-direita!

Ao ser capturado pela Resistência Italiana e condenado à pena de morte, diria Mussolini em seu testamento:

     “Ninguém que seja um verdadeiro italiano, seja qual for sua fé política, se desesperará no futuro. Os recursos do nosso povo são imensos… Depois da derrota, eles me cobrirão furiosamente com saliva, mas depois serei purificado com veneração. Então sorrirei, porque meu povo estará em paz consigo mesmo… Os trabalhadores são infinitamente superiores a todos os falsos profetas que afirmam representá-los… Por isso fui e sou socialista! A alegação de inconsistência é infundada. Minha conduta sempre foi correta no sentido de olhar a substância das coisas e não a forma… Como a evolução da sociedade refutou muitas das profecias de Marx, o verdadeiro socialismo retrocedeu do possível para o provável… O único socialismo que pode ser implementado socialisticamente é o corporativismo, ponto de confluência, equilíbrio e justiça de interesses em relação ao interesse coletivo… Vinte anos de fascismo, ninguém será capaz de apagá-los da história da Itália. Não tenho ilusões sobre meu destino. Eles não vão me julgar, porque sabem que se fosse acusado eu me tornaria um acusador público. Eles provavelmente vão me matar e depois dizer que cometi suicídio por remorso. Aqueles que temem a morte nunca viveram, e eu vivi muito. A vida é apenas uma seção de conjunção entre duas eternidades: o passado e o futuro. Enquanto minha estrela brilhasse, eu era o suficiente para todos; Agora que acabou, nem tudo seria o suficiente para mim. Irei para onde o destino me quiser, porque fiz o que o destino mandou…”

Exatamente. Mussolini encerra sua vida enaltecendo os trabalhadores, assim como Hitler os exaltava e exaltava o trabalho, e dizendo-se ser socialista até lá e que morrerá o sendo. Mussolini deixa explícito que o corporativismo, que, para ele, era sinônimo intercambiável de fascismo, era o “único socialismo que poderia ser implementado socialisticamente” e diz o que tinha a ver com o coletivismo:  “(corporativismo), ponto de confluência, equilíbrio e justiça de interesses em relação ao interesse coletivo…”

Mas é claro, o fascismo continua sendo extrema-direita!

Anticomunismo

O argumento mais usado para classificar o fascismo ou nazismo como de extrema-direita é o fato de Hitler ter perseguido comunistas. O professor Marcelo Andrade explica muito bem este fenômeno. Na verdade, a revolução tende a se radicalizar quando os socialistas e comunistas tomam o poder e então eles tendem a se matar por ele.

Além disso, Stalin foi o responsável por mais matar comunistas. Apenas dentro do Partido Comunista, Stalin matou 200 mil camaradas. E isto não fez Stalin deixar de ser comunista ou de extrema-esquerda. O próprio comunista fundador do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa, reafirmou no podcast “À Deriva” que Stalin foi o cara que mais matou comunistas.

Não foi só Hitler e Mussolini que perseguiram comunistas. Mao Tsé-Tung orientou os estudantes comunistas a matar os professores comunistas que há pouco tempo eram camaradas, mas agora eram contra-revolucionários por terem pedido a “igualdade” que Mao prometera antes da revolução. Os próprios trotskistas são perseguidos pelos leninistas atualmente pelos comunistas de iPhone twitteiros. O Rui Costa também se opôs fortemente à política de desarmamento 2003 do PT porque, como ele sabe que quem está no poder são os leninistas, ele e sua esquerda sairia perdendo.

Uma outra explicação que dou ao anticomunismo é o fato de os nacional-socialistas serem declaradamente totalitários. Os marxistas tradicionais fingem querer o fim do Estado, vendo o Estado máximo e ditatorial proletário apenas como um meio para atingir essa finalidade, que é o comunismo, que para Marx seria a superação do sistema capitalista, uma sociedade a qual não existiria o Estado, não existiria a hierarquia social, e a propriedade dominante seria a propriedade comum. Os nacional-socialistas por terem uma origem marxista veem que comunistas e marxistas têm em sua finalidade o fim do Estado e a propriedade comum, ao contrário (e inclusive uma contradição do marxismo) do sistema socialista, que prega um Estado cada vez mais máximo e poderoso, exercendo importante função social na sociedade.

E assim, voltemos ao tema de nacionalismo e internacionalismo. O marxismo opõe-se às nações e quer um mundo internacionalizado no fim das contas. Assim, para os nacional-socialistas, os comunistas pregam um internacionalismo, principalmente com o fim do Estado que prega o comunismo – o Estado é o delimitador territorial das nações. Assim, o anticomunismo, o ódio ao comunismo, é realmente ódio ao comunismo da visão marxista e não ao comunismo que restou na realidade, que foi o socialismo.

Outra explicação que tenho para o anticomunismo é algo que parte da própria ideologia de Hitler. Com Hitler é que acontece o maior destaque do anticomunismo. Após o estabelecimento do comunismo na URSS, os bolcheviques estatizaram várias empresas estrangeiras dentre as quais estavam as empresas alemãs. O que deve ter feito Hitler iniciar seu ódio aos bolcheviques. Aliás, o ódio de Hitler mesmo era expressamente aos bolcheviques. E assim ele também perseguiu os comunistas na Alemanha, pois se espelhavam nos comunistas russos, bolcheviques. Tenho que recordar alguns outros fatos históricos que fizeram Hitler odiar tanto os soviéticos. A Alemanha tinha retirado a Rússia da guerra e ajudado no financiamento da Revolução Russa. Após isso, os bolcheviques incentivaram e promoveram um nacionalismo russo antialemão. E além disso boa parte do Partido Bolchevique era composta por judeus. Isso tudo, adicionalmente às questões anteriores sobre as ideologias, são motivos que devem ter feito Hitler se tornar um antibolchevique.

Religião

Muitos usam a religiosidade do fascismo e do nazismo como um argumento também de que era um movimento de extrema-direita.

Em parte, é uma meia-verdade que Mussolini foi apoiado por conservadores e impôs o catolicismo como a religião oficial de Estado. Talvez o argumento seja feito levando em conta que o rei da França nomeou Mussolini a primeiro-ministro, e os Camisas Negras eram paramilitares ex-soldados da Primeira Guerra. Porém, Mussolini só chegou ao poder ao ter obrigado a monarquia a nomeá-lo primeiro-ministro depois de fazer a Marcha sobe Roma com os Camisas Negras, um grupo formado por ex-soldados da Primeira Guerra descontentes com as condições sociais e econômicas da época – a Itália apesar de vitoriosa saiu completamente prejudicada em crise econômica, política e social. E Mussolini na época tinha formado os Camisas Negras com o intermédio da nacionalista Margherita entre os dois.

A instituição do catolicismo como religião de Estado também foi uma forma de comprar o apoio da Igreja Católica. Que não serviu de nada inclusive, porque Mussolini cometeu heresias, fazendo uma interpretação herética do catolicismo de forma a adaptá-lo à sua ideologia fascista, que ia contra os preceitos originais cristãos. E assim ele acabou sendo condenado pela Igreja Católica. E adivinha? Mussolini perseguiu a Igreja Católica. Assim como Hitler perseguiu-a também

Hitler, aliás, de tão conservador que ele era, instituiu a mitologia/religião nórdica como ideologia de Estado, sendo que seus três países de origem (Polônia, Áustria e Alemanha) eram predominantemente cristãos, e sendo que a Alemanha foi trono da monarquia mais católica e conservadora da história, Dinastia dos Habsburgo, na época do Sacro-Império Romano Germânico. E isso porque ele era da extrema-direita conservadora! Além disso, ele também adaptou a mitologia nórdica com o seu darwinismo e socialismo, tal como Mussolini o fez com o catolicismo e o fascismo.

Financiamento por capitalistas

Outro argumento utilizado é de que o nazismo e o fascismo foram financiados por grandes corporações capitalistas e assim gerou-se a interpretação marxista de que o fascismo é um movimento da burguesia para defender o capitalismo, direcionando os problemas da sociedade, mediante uma crise que faz os trabalhadores se radicalizarem, a um grupo específico, como um grupo étnico, religioso ou sexual.

Eu poderia desmantelar este argumento simplesmente pegando exemplos da própria esquerda. Como afirma Paulo Kogos, todos os regimes econômicos precisam de um grau de livre-mercado para se sustentarem. E não poderia ser diferente numa república socialista. Existe um grau de livre-mercado em qualquer que seja o Estado socialista. Na Coreia do Norte, país mais isolado e centralizado socialisticamente do mundo, não existe imposto. Como a economia é a mais socialista possível, o Estado é responsável por fornecer alimentação, educação, saúde, justiça, segurança, defesa etc. E acaba que o Estado norte-coreano sustenta esta estrutura através da arrecadação do empreendimento, da troca por produtos. Quase como um anarcocapitalismo, excetuando a parte que quem faz isso é uma única entidade monopolista, como o Estado, em vez de inúmeras empresas para competirem entre si. O Estado norte-coreano acaba tendo que agir como uma empresa para se sustentar através do empreendedorismo principalmente na área de alimentação. Mas obviamente há problemas, como o isolacionismo indireto e direto e a falta de um preço do mercado para se basear por conta da inexistência de um mercado privado. E aí a Coreia do Norte precisa de um modelo totalitário para mandar não só um suposto criminoso, mas toda a sua família para um campo de concentração de trabalho forçado do Estado. E não precisamos nem falar que há agora empresas estrangeiras na Coreia do Norte sob intensas regulações. Empresas produtos do capitalismo, do livre-mercado. E além disso, países membros da ONU, como o Brasil, fazem doações para conter a crise humanitária na Coreia. Boa parte das sanções da Coreia é em virtude dos calotes que o país faz também contra outros países, não só por causa do programa nuclear. O país tem uma dívida de 330 milhões de dólares. Em 1974, por exemplo, o governo norte-coreano importou mil carros do modelo sueco Volvo 144 custando 1 bilhão de reais e não pagou à Volvo, o que foi reportado ao governo sueco, e a Suécia cobra até hoje o país. A Coreia do Norte foi de várias formas financiada pelo capitalismo e não deixou de ser o país mais socialista do mundo.

Queria me especificar no caso da URSS agora. Como explica o professor Marcelo Andrade, Lênin impôs o comunismo na Rússia em 1917 e viu que isso na prática não passava de baboseiras e negacionismo econômicos, então começou a abrir o mercado soviético em 1922 por meio da Nova Política Econômica (NEP), adaptando o modelo socialista para um socialismo de mercado. A partir disso, os EUA começaram a financiar industrialmente a URSS, fornecendo equipamentos e a intelectualidade de engenharia industrial americana, que foi assimilada pelos soviéticos. Além da participação da intelectualidade de engenharia de outros países como a Alemanha e a Suécia que também financiaram a URSS, mas numa porcentagem de 30% (os americanos investiram 70%). E Lênin ficou obcecado com a indústria americana a ponto de dizer algo que os leninistas modernos jamais dirão:

     “A combinação da mentalidade revolucionária russa com a eficiência americana é a essência do leninismo.”

Como podemos ver, a URSS foi financiada pelo capital enquanto era um Estado socialista, e isto por acaso transgrediu a Rússia para um capitalismo? Claramente não.

Da mesma forma, o capital americano financia a indústria petrolífera da Venezuela atualmente, tendo aliviado até as sanções, e há um grau de livre-mercado interno na Venezuela, como mercadinhos, padarias e comércios ambulantes sob intensa regulação. E isso não fez a Venezuela transgredir para um governo de centro-direita, ou, pior ainda, de extrema-direita.

A China, com seu socialismo de mercado, é uma produtora em larga escala de bilionários e é financiada também pelo comércio com o capitalismo externo. Além disso, Hong Kong e Macau, que são países extremamente capitalistas, estão sob a tutela da China, dentro do princípio constitucional chinês de “um país, dois sistemas”. Acredito que a afirmação de “dois sistemas” esteja relacionada ao socialismo da China continental e o capitalismo de Hong Kong e Macau. E a China por conta disso não tornou-se um país capitalista ou de extrema-direita.

Mas o que prova exatamente que o fascismo não foi financiado pelo capitalismo, no sentido marxista (de que bilionários financiaram o movimento nazista e fascista para que eles chegassem ao poder e usassem a máquina pública para atenderem aos interesses da burguesia), foi a vitória dos Aliados na Segunda Guerra. Não encontraram nenhum material e documento que provasse que existiam bilionários por trás de Hitler e Mussolini, fazendo-os de marionete para seus próprios interesses financeiros. O que encontraram e depois foi disposto aos acadêmicos foi justamente materiais que comprovaram que o fascismo e o nazismo eram regimes socialistas.

Em 1937, Hermann Göring, ministro da economia nazista, criou a Reichswerke Hermann Göring, uma indústria siderúrgica estatal responsável por incorporar as empresas privadas que estavam indo contra as regras e exigências do regime nazista.

Peter Temis explica em Soviet and Nazi content planning in the 1930s:

      “Goring queria aumentar a oferta doméstica de bens para promover a autarquia alemã, manter os preços baixos aumentando a pressão competitiva sobre a indústria privada e aumentar a credibilidade de suas ameaças de nacionalizar empresas.

Aquisições, como a fábrica de aviões Junkers, e ameaças de aquisições foram usadas para encorajar o cumprimento dos planos de produção do governo.”

Quando uma grande siderúrgica a Gutehoffnungshiutte, se recusou a usar minérios domésticos de baixo teor porque não eram lucrativos, Goring ameaçou e incorporou partes da empresa a seu grupo estatal. O CEO, Karl Hermann Reusch, que havia repetidamente protestado contra a intervenção política na administração da empresa, renunciou ao conselho em 1942 sob pressão do regime. E em uma declaração Hitler chegou a chamá-lo de “reacionário”, tal como a esquerda comunista chama qualquer um que discorda dela. Sim. Hitler xingou um empresário bilionário de reacionário por não querer obedecer a intervenção do regime na sua empresa. Isso porque ele é de extrema-direita.

E existem duas formas de regimes socialistas, de extrema-esquerda: ou o regime estatiza todos os meios de produção de uma vez passando o controle drasticamente ao Estado, como houve na Rússia, ou ele mantém os meios de produção no setor privado sob as condições e exigências contínuas do regime socialista, como há na China e houve na Alemanha Nazista. Na Alemanha, a propriedade privada era uma concessão estatal para fins coletivos e de interesse nacional e não para fins capitalistas, de querer apenas fazer dinheiro. Mas essa concessão não podia ser feita a um judeu, por mais “decente” que ele fosse, porque ele em sua essência é capitalista, individualista e explora os outros. Só podia ser feita a um ariano, que tem em sua essência o coletivismo, o socialismo e o sindicalismo, como já vimos na visão ética de Hitler. Basicamente o Hitler planificou a economia da Alemanha. Criou estatais que empregaram trabalho escravo. E controlou as empresas privadas, retirando a essência capitalista, e colocando fiscais estatais que regulavam a sua administração, produção e investimentos. Se você fosse um empresário e não seguisse as orientações de administração e produção do regime nazista na sua empresa, você perdia sua empresa. Se você usasse seu poder econômico para criticar o regime, você perderia a sua concessão de propriedade, seria preso e talvez executado. Igualmente como é feito na China. De vez em quando desaparece um bilionário que “abusa do poder econômico”, após criticar o regime. Se você monta um podcast e começa a crescer, o governo manda um fiscal estatal para administrar seu negócio, retirando uma parcela do seu lucro pro Partido Comunista e certificando-se se você não está criticando o regime ou falando algo que o regime não goste. E também era o que ocorria na URSS durante a NEP, mas em um grau menor.

Ultranacionalismo e militarismo

O polêmico, parcial e raso vídeo sobre fascismo do Felipe Castanhari, dono do Canal Nostalgia, de 2020, usou o fato de que o fascismo exaltava o militarismo e o antipacifismo, deixando subtendido que, portanto, desarmamentistas estariam longe de serem fascistas ou nazistas. E a esquerda também costuma classificar pessoas antipacifistas e armamentistas, militaristas de direita, de nazistas ou fascistas. A realidade é justamente o contrário. Tanto Hitler quanto Mussolini aplicaram políticas de desarmamento, e em seus Estados clientes na Europa Oriental chegaram a proibir até armas brancas. O desarmamento foi uma das principais políticas de repressão do nazifascismo e das demais vertentes do nacional-socialismo. Getúlio Vargas desarmou os brasileiros, ajudando as milícias criminosas do sertão nordestino, o Cangaço. Salazar desarmou os portugueses. Franco desarmou os espanhóis. Chiang Kai-Shek, cujo governo nacional-socialista era o Kuomintang (nome de seu partido), desarmou os chineses. Pavelic desarmou os croatas. Nedic desarmou os sérvios. E eu posso citar vários outros casos.

Fato é que o desarmamentismo do nacional-socialismo é o que o faz ser completamente expulso do espectro político da direita, especialmente o nazismo e o fascismo. Mas espera, aí! Os trotskistas do PCO são armamentistas, então eles não são de extrema-esquerda? Na verdade, como já foi admitido por seu fundador Rui Costa, os trotskistas são a favor do armamento porque eles não estão no poder. Eles associam a esquerda leninista com a burguesia. Eles mesmos fizeram protestos quando o PT promulgou o Estatuto do Desarmamento, porque o PT é a extrema-esquerda leninista. Mas Rui ainda afirma que ele é a favor do armamento porque ele é a favor da revolução do proletariado e é impossível fazer isso sem armas. A direita é a favor do armamentismo como um direito à defesa da propriedade e não como um direito a fazer revoluções, confiscar a propriedade dos outros, promover terrorismo e o caos. Da mesma forma que Rui Costa defende o armamentismo para um fim revolucionário, Lenin também defendeu o armamentismo antes da Revolução Russa, e após tomar o poder, promoveu uma política de desarmamento, para consolidá-lo.

Para consolidar seu poder, os nacional-socialistas são contra o armamento. Um comunista já veio falando-me que eles só eram desarmamentistas para manter o poder. Como se isso não fosse uma política de esquerda, ou devo recordar-me de Mao Tsé-Tung? Em Obras Escolhidas de Mao Tsé-Tung, Mao diz sobre o armamento:

     “Os comunistas não lutam pelo poder militar pessoal (eles não devem, em nenhuma circunstância, fazer isso, e nunca mais deixar ninguém seguir o exemplo de Chang Kuo-tao), mas eles devem lutar pelo poder militar para o Partido, pelo poder militar para o povo. E agora que uma guerra nacional de resistência está em curso, devemos também lutar pelo poder militar para a nação. Se houver ingenuidade na questão do poder militar, não chegaremos a resultado algum. É muito difícil para o povo trabalhador, que durante vários milênios foi enganado e intimidado pelas classes dominantes reacionárias, chegar a adquirir a consciência da importância de ter as armas nas suas próprias mãos. Agora que a opressão do imperialismo japonês e a resistência a escala nacional empurraram o povo trabalhador para a arena da guerra, os comunistas devem mostrar-se os dirigentes mais conscientes nessa guerra. Todo comunista deve compreender a verdade: “O poder político cresce do cano de uma arma”. O nosso princípio é o seguinte: o Partido comanda a arma, e jamais permitiremos que a arma comande o Partido. Todavia, possuindo-se as armas, podem efetivamente criar-se as organizações do Partido, como prova a poderosa organização do Partido que o Exército da Oitava Rota criou no Norte da China. Do mesmo modo, é possível formar quadros, criar escolas, desenvolver a cultura e organizar movimentos de massas. Tudo o que existe em Yan’an foi criado com a ajuda das armas. Com o cano de uma arma pode obter-se tudo. Do ponto de vista da teoria marxista do Estado, o exército é o principal componente do poder de Estado. Todo aquele que quiser conquistar e manter o poder de Estado deverá possuir um forte exército. Algumas pessoas ironizam a nosso respeito, tratando-nos de partidários da “teoria da onipotência da guerra”. Sim, nós somos defensores da teoria da onipotência da guerra revolucionária; isso não é mau, é bom, isso é marxista. As armas do Partido Comunista Russo criaram o socialismo. Nós criaremos a república democrática. A experiência da luta de classes na era do imperialismo ensina-nos que só com o poder das armas a classe operária e as massas trabalhadoras podem derrotar a burguesia e os senhores de terras que estão, ambos, armados. Nesse sentido, é correto dizer-se que só com as armas se pode transformar o mundo. Nós somos partidários da abolição da guerra; nós não queremos a guerra. Contudo, a guerra só pode abolir-se com a guerra. Para acabar com as armas há que pegar em armas.”

Declaradamente, Mao afirma que os comunistas são contra a autodefesa individual (“não lutam pelo poder militar pessoal”), principalmente dando o exemplo do desertor comunista Chang Kuo-Tao, que seguiu seus interesses individuais em vez dos interesses coletivos, e que são a favor da autodefesa do Partido (“mas eles devem lutar pelo poder militar para o Partido, pelo poder militar para o povo.”). Isso sem contar que Mao já era um revolucionário golpista descarado e não se importava em dizer que ele achava que o seu partido deveria ter o monopólio das armas e não o povo (“Todo comunista deve compreender a verdade: ‘O poder político cresce do cano de uma arma’. O nosso princípio é o seguinte: o Partido comanda a arma, e jamais permitiremos que a arma comande o Partido.) – é óbvio que quem quer um Estado totalitário, inchado, socialista, não quer se sentir ameaçado ou pensar na possibilidade de que o povo possa ameaçá-lo ou servir de obstáculo a uma de suas ordens –, enquanto a esquerda moderna passa a imagem de querer apenas a segurança pública ou impedir uma guerra civil (que nunca ocorreu em nenhum ponto da história de política armamentista) porque o povo deveria ter a capacidade técnica comprovada com cursos, com burocracias, para poder atirar e só pessoas de confiança  deveriam ter a concessão pública para ter uma pistolinha ou um revólver, que ainda deveriam ser vigiados pelo Estado para certificar-se se estão bem armazenados em um local seguro. Esta mesma desculpa utilizaram os fascistas e nazistas para justificar suas políticas desarmamentistas. Afinal, como a propriedade privada era uma concessão pública, o direito à sua defesa que poderia ameaçar o Partido seria uma concessão ainda mais rara.

No que tange às questões nacionalistas e internacionalistas, realmente o nacionalismo é uma opinião do conservadorismo. Eu considero três níveis de sentimento em relação à pátria e nacionalidade:

O  internacionalismo, que  é a completa incapacidade de sentir um sentimento positivo em relação à sua pátria. O extremo do fanatismo esquerdista no tocante à nacionalidade.

O ultranacionalismo é o esquerdismo fanático no tocante a algum sentimento positivo em relação à sua própria pátria e nacionalidade. Um sentimento de amor bizarro e exagerado e, portanto, um amor falso, pela pátria. Na verdade, o seu amor verdadeiro é pelo Estado que ocupa a sua pátria.

O patriotismo é algum sentimento positivo, de base liberal, em relação à pátria e nacionalidade. Um sentimento travestido de “amor”, que mostra-se falso em médio prazo, diante de pautas políticas de soberania nacional.

O nacionalismo é o único e verdadeiro sentimento e, portanto, conservador, no tocante à nacionalidade e à pátria. Respeita o regionalismo e o localismo que são frutos da diversidade de sua nação para torná-la cada vez mais unida e defende uma indústria forte, desenvolvida e independente e uma política de governo estratégica que não interfira nos interesses da economia privada nacional.

O nacional-socialismo é ultranacionalista por ser totalitário. Os nacional-socialistas, ao contrário dos marxistas tradicionais, admitem o seu amor pelo Estado. Os dois amam o Estado, mas os nacional-socialistas admitem seu bizarro sentimento. E os marxistas fingem que não amam o Estado e, em sua finalidade, fingem querer o seu fim. Mas à vista disso, o nacional-socialismo tem um amor pelo Estado e por isso é ultranacionalista. Getúlio Vargas queimou todas as bandeiras dos estados brasileiros, desrespeitando e negando o regionalismo e o localismo brasileiro. Francisco Franco incentivou racismo contra os espanhóis da Catalunha, uma contraposição ao nacionalismo espanhol. Hitler instituiu a religião nórdica (mitologia) como religião de Estado. Fora o fato de todos os regimes nacional-socialistas terem tirado o direito de defesa à propriedade do seu próprio povo por meio do desarmamentismo, uma política ultranacionalista e feita para defender a intervenção estatal na vida de seus cidadãos. Além das políticas econômicas dos regimes nacional-socialistas que eram todas ultranacionalistas e não nacionalistas. Todos aplicaram protecionismos, políticas inflacionárias e keynesianas, além de planificação econômica. Qualquer nacionalista irá querer seu setor privado desenvolvido e independente e, não, incomodado e gerando péssimos produtos para sua pátria por causa da proteção do Estado. Nenhum nacionalista seria a favor de desvalorizar a moeda nacional em detrimento dos mais pobres de sua nação para um pequeno setor econômico exportar produtos e conseguir manter uma porcentagem alta de PIB, que não influencia na vida da maioria dos cidadãos. O nacionalista, por exemplo, iria querer uma moeda forte para facilitar o acesso dos cidadãos mais pobres de sua pátria a produtos de fora que, consequentemente, incentivam a competição nacional e, destarte, desenvolvem a economia nacional para, assim, elevar o padrão social nacional.

O militarismo, por sua vez, está presente no nacional-socialismo no sentido de enaltecer as forças armadas, os exércitos e grupos armados pela defesa do governo, do Estado. O exército é a principal força de coerção do Estado (e como disse Mao: “Do ponto de vista da teoria marxista do Estado, o exército é o principal componente do poder de Estado”). Portanto, como ultranacionalistas, obcecados pelo Estado, não seria raro que o militarismo legalista fosse uma característica desse socialismo. Assim o militarismo nada mais é que um resultado do ultranacionalismo.

As vertentes nacional-socialistas

Não encontrei nenhum especialista no tema, nem mesmo um “especialista” de esquerda, que definisse corretamente as características em comum do peronismo, getulismo, salazarismo, nazismo, fascismo, franquismo etc. Apesar do professor João ter caracterizado o fascismo nos seguintes elementos: sindicalismo revolucionário, idealismo filosófico e nacionalismo.

Eu discordo do professor em relação à simplificação que ele decidiu usar para caracterizar o fascismo. Existem mais coisas que definem o fascismo. Militarismo e ultranacionalismo seriam as características a mais que eu usaria para definir o fascismo. Sendo que eu substituiria o nacionalismo por ultranacionalismo porque, como expliquei anteriormente, no tocante à nacionalidade, os nacional-socialistas estavam (“MIL VEZES!”, como diria Bolsonaro) mais preocupados com o Estado do que com a pátria e existem diferenças grotescas entre nacionalistas e ultranacionalistas. O idealismo filosófico para mim é uma característica do sindicalismo revolucionário (como o próprio João admite) e, por conseguinte, não deveria ser citado como uma característica isolada do fascismo. Sindicalismo revolucionário eu substituiria por “sindicalismo soreliano”, do francês Sorel, mencionado no tópico da história de Mussolini. Eu também adicionaria o socialismo, o totalitarismo e o supremacismo.

Também temos a questão do populismo, que seria uma característica que eu também elencaria para classificar não só o fascismo mas todo o nacional-socialismo. Interessante que a esquerda analisa somente o populismo para classificar o regime de direita e ignora completamente a economia e a política social nacional-socialista. Afinal ela sabe muito bem que seria descredibilizada e comparada como uma irmã do fascismo. Um descarado maconheiro anti-intelectualista conhecido pelo seu canal do YouTube, Chavoso da USP, teve a cara-de-pau de usar a obra (que eu prefiro chamar de “lixo”) Como Nasce e Morre o Fascismo – da revolucionária e feminista alemã Clara Zetkin, que merecia ter morrido no lugar do jovem comunista Marinus van der Lubbe no Incêndio de Reichstag – para fazer sua própria definição do fascismo e assim classificar Trump e Bolsonaro de fascistas, em seu vídeo COMO NASCE E MORRE O FASCISMO.

A interpretação marxista de que o nacional-socialismo (que eles chamam apenas de “fascismo” coletivamente) surge diante de uma crise do capitalismo e como uma estratégia da burguesia (ou seja, completamente financiada e programada pela burguesia) para cooptar os proletários e impedir a destruição do sistema capitalista vem dessa mulher, que, diferentemente do que como o maconheiro classificou, não é uma intelectual. Ela ignora completamente os intelectuais do fascismo na Itália, a tendência leninista de Josef Goebbels e os materiais e discursos marxistas dos fascistas e nazistas, além de ignorar a economia e a política social desses regimes e destaca certos detalhes como se fosse toda a ideologia nacional-socialista, que na verdade são detalhes quase que completamente irrelevantes, e fala que o nacional-socialismo é um movimento conservador, proporcionado pela burguesia. E os macacos de imitação modernos usam obras desprestigiadas como a de Clara, que não é intelectual, muito menos socióloga, economista ou historiadora (não que um pedaço de papel significasse alguma coisa, mas pra esquerda isso é relevante e significa bastante), para definir o fascismo. A esquerda usa principalmente esta parte do populismo, que é superficialmente conservadora, para associar o movimento à direita.

Sim, o populismo é uma parte um pouco importante do nacional-socialismo, simplesmente está presente em todos os regimes nacional-socialistas. O triste é que pseudo-direitistas estão usando o populismo para também associar o Bolsonaro e o Trump ao fascismo, classificando-os de “neofascistas” ou “protofascistas”, porque ambos possuem discursos conservadores e antidemocráticos e controlam massas populares – como se o discurso fascista fosse conservador ou religiosamente cristão. Mas não trata-se de um discurso de direita o discurso e a atuação populistas do fascismo. Hitler, por exemplo, usou o discurso populista de que os judeus estavam concentrando a renda da sociedade trabalhadora alemã. E o professor João Eigen muito bem explica que, principalmente, o fascismo precisou fazer jogos de interesses com instituições conservadoras para consolidar seu poder. Mussolini chegou a se classificar como extrema-direita após o fracasso de sua campanha socialistica de 1919 e, depois de ser finalmente nomeado, voltou aos discursos esquerdistas e finalmente implementou seu socialismo na Itália (inicialmente, enquanto primeiro-ministro, Mussolini teve que manter uma política de austeridade fiscal para agradar os conservadores e inclusive instituir o catolicismo como religião de Estado como disse anteriormente até o Partido Nacional Fascista conseguir boa parte das bancadas em 1923, mas gradualmente transgrediu a Itália para um sistema socialista baseado em sindicatos até o final da década de 1920). Há algo mais populista de esquerda do que um socialista se ver como o extremo do extremo da esquerda, perder uma eleição por causa de sua oposição a um partido de extrema esquerda, do qual ele queria fazer uma aliança temporária, e depois adotar um discurso conservador para conseguir ganhar uma próxima eleição?

Eu diria que o populismo nem mesmo está nisso. Mas sim no fato de o comunismo ser um movimento populista de fato, e por isso o fascismo, como socialista, é populista. A esquerda consegue voto falando bem dos pobres e atacando os ricos. Este era basicamente o discurso de Hitler e Mussolini. Distribuição de renda. Revolução. Programas sociais. Estado isso, Estado aquilo, tudo Estado. Trabalhador isso, trabalhador aquilo. Tudo trabalhador. E após consolidarem o poder, mobilizaram as massas ao seu movimento. Vemos os alemãs apoiando o movimento socialista de Hitler em clips da Segunda Guerra. Nessa época, vemos Mussolini recebendo um apoio menor das massas em comparação a Hitler, mas ainda assim tinha um apoio devido à sua figura caricata. Vemos Getúlio Vargas sendo enaltecido como pai dos pobres e recebendo culto de personalidade das classes mais pobres da sociedade brasileira. Vemos Franco tabelando preços na Espanha, e Franklin Roosevelt (pois é, até os EUA tiveram um regime socialista sem-vergonha) com a mesma pretensão. Por isso que eu acho que o populismo é uma característica inerente do nacional-socialismo, apesar de não achá-la a principal como a esquerda considera.

Assim, ficaria a minha definição de características de fascismo:

  • Totalitarismo
  • Socialismo
  • Sindicalismo soreliano
  • Ultranacionalismo
  • Militarismo
  • Corporativismo
  • Anticomunismo (no sentido teórico marxista)
  • Supremacismo

Em relação ao nacional-socialismo, o gênero, eu consegui, por conta própria, defini-las (as características), analisando cada regime. Podemos definir as características do nacional-socialismo como:

  • Totalitarismo
  • Ultranacionalismo
  • Militarismo
  • Populismo
  • Socialismo
  • Sindicalismo
  • Antibolchevismo
  • Supremacismo

Basicamente, estas são as ideias que saem da Europa e chegam ao Brasil, à Argentina, a Portugal, à Espanha e dentre vários outros países como até os EUA, através de Franklin Roosevelt.

Entretanto, a ideologia e filosofia socialista, ultranacionalista e antissemita entre Hitler e Mussolini fica apenas no bloco nazifascista e a ideia da revolução das nações proletárias contra as plutocracias burguesas capitalistas não avança chegando ao Sul da Europa, à América do Norte, à América do Sul e à Ásia. E sim, chegando apenas os elementos do totalitarismo, antibolchevismo (ou anticomunismo no sentido de ser contra a finalidade marxista, em tese, do comunismo, que é a destruição do Estado), militarismo, socialismo, sindicalismo, ultranacionalismo e da supremacia de uma raça ou etnia.

Para mim, é perceptível que, porque sua filosofia não se dispersa pelo mundo junto com os elementos que se dispersaram, o nazifascismo seja um bloco específico de ideologias que compartilham mais conexões em comum e por isso se distanciam do getulismo, salazarismo, franquismo etc.

Para representar isto, eu compreendo que o nacional-socialismo, assim como o socialismo e o marxismo, é um fruto do progressismo. O progressismo é uma árvore genealógica baseada no slogan de que “a história sempre evolui”, e assim ele tem três ramos de frutos, o liberalismo, positivismo e o marxismo/socialismo/comunismo. Cada ramo gerando frutos com características próprias, mas todos unidos pela ideia de que a história sempre evolui. Mas como fica o surgimento do nacional-socialismo nesta árvore? Ele é um fruto do marxismo? O professor Marcelo Andrade caracteriza o marxismo como um gênero e dele surgem ideias com suas próprias características. E daí surge o nazismo, o fascismo, o marxismo-leninismo etc.

Ao meu ver, o nacional-socialismo não é um fruto deste ramo do socialismo, encaixado dentro desse gênero. Ele é uma árvore que cresceu a partir da origem do ramo do socialismo que tem ligações íntimas com o socialismo e o marxismo e que gera seus próprios frutos (getulismo, salazarismo, franquismo etc.). Entretanto, também da árvore do nacional-socialismo emerge um ramo diferente dos demais que é o bloco nazifascista.

E quando digo nazifascismo não é apenas o nazismo e o fascismo, mas também os regimes e movimentos fantoches, clientes ou aliados a Hitler, ou Mussolini, ou inspirados neles em sua maioria na Europa Oriental.

Na Croácia, tivemos o regime ustashe, liderado por Ante Pavelic. No regime ustashe, o catolicismo e o islamismo foram abraçados como religiões nacionais dos croatas e abraçaram principalmente um sentimento antissérvio e antissemita, discriminando serviços, judeus e ciganos e levando-os a um genocídio no holocausto sérvio.

A Sérvia foi ocupada pela Alemanha como um Estado cliente chamado Governo de Salvação Nacional, sob a liderança de Milian Nedic. Além de todo o pacote nazifascista, Nedic direcionou um supremacismo sérvio-ariano e um sentimento antibritânico.

A Romênia teve como força nazifascista o regime da Guarda de Ferro. Ao contrário dos demais regimes nazifascistas, o Estado Legionário Nacional (como foi nomeada oficialmente a então Romênia) foi governado por uma coalizão, entre o militar Ion Antonescu e o partido Guarda de Ferro. A Guarda de Ferro teve um regime muito mais focado em religiosidade, misticismo e nacionalidade romena.

E dentre vários outros regimes como o Vaterländische Front da Áustria, baseado no fascismo.

Também precisamos destacar que o caráter imperialista e expansionista é exclusivo do nazifascismo e não está presente predominantemente nas demais vertentes do nacional-socialismo. Podemos usar o exemplo do getulismo, que além de ter sido um ultranacionalista, socialista, sindicalista, militarista e totalitário, tinha como características exclusivas o positivismo e a teoria sociológica do insolidarismo, que é tema para outro artigo. Mas o Brasil tem uma longa história de imperialismo na América do Sul, e o Estado Novo não preocupou-se em reanexar o Uruguai, que era uma província brasileira, anexar o Peru para ter acesso ao Oceano Pacífico ou anexar o Paraguai por causa da Guerra do Paraguai.

Conclusão

Como podemos ver, os nacional-socialistas estão muito longe da extrema-direita. Socialismo jamais será uma ideologia ou um sistema da direita política, pelo menos no campo econômico e social. Assim como o sindicalismo. O antissemitismo veio do próprio socialismo e é até presente no marxismo. A política econômica foi completamente de esquerda, por ser um sistema socialista. O nazismo é darwinista, uma oposição ao conservadorismo. Além de darwinista, também é misticista, novamente uma oposição ao conservadorismo ocidental. E o que faz os nacional-socialistas serem definitivamente de esquerda é o fato de serem desarmamentistas para manter essa estrutura totalitária por meio do ultranacionalismo. Há apenas pequeníssimas características de direita no nacional-socialismo, como a antidemocracia, a anticriminalidade e uma certa ideia de ordem social. Mas é apenas um espectro dentro de todo um espectro político, o que é insuficiente para caracterizá-lo de direita, muito menos de extrema-direita. Logo, a afirmação de que o nazismo e o fascismo sejam de extrema-direita não passa de argumentos de apelo à autoridade e revisionismo histórico. Está claro quando a esquerda não consegue contra-argumentar quando falamos sobre temas do fascismo e nazismo, como a economia planificada, o assistencialismo, as leis trabalhistas, o desarmamentismo, o progressismo, o darwinismo, o misticismo do nacional-socialismo e os próprios ídolos da esquerda que em sua maioria são inspirados por nacional-socialistas. E quando raríssimamente consegue, é sobre temas que não são o suficiente para fazer o nacional-socialismo ser de direita, como o fato de pregar uma ditadura. Assim, o espectro político do nacional-socialismo está à esquerda. Talvez seja de “centro-esquerda” ou apenas “esquerda” no espectro político ideológico. Agora, caso apliquemos o autoritarismo do espectro político, o nacional-socialismo, que são ideologias totalitárias, acaba virando um movimento de extrema-esquerda. Afinal, não existe somente o extremismo ideológico (no sentido de você concordar apenas 100% de um lado e discordar 100% do outro lado), mas também o extremismo de eliminar a oposição, o extremismo do autoritarismo do espectro político.

2 COMENTÁRIOS

  1. Excelente texto.
    Vou apontar umas falhas apenas como sugestão de melhora.
    -Há um erro de texto, a dada altura ê dito que o “rei de França” nomeou Mussolini.
    -Darwinismo social ê apontado como “socialista” quando foi amplamente usado pela extrema direita capitalista liberal para justificar a desigualdade social.
    Agora, de um ponto de vista da utilidade deste texto para contrariar a narrativa comunista.
    Existem falhas que prejudicam não só este mas a maioria dos textos anticomunistas.

    -Em muitos casos não são apresentadas referências das obras e páginas de onde são retirados exertos.
    A primeira coisa que um comunista vai fazer é negar a autenticidade de quaisquer citações incómodas. E o debatente vai ficar com as calças na mão à procura perdendo tempo e momentum na discussão. Eventualmente desistido por cansaço.

    -Existe uma falta de arregimentação de nomes académicos para contrariar a narrativa marxista.
    Olavo é citado aqui como sociólogo quando não tinha qualquer formação superior e até tinha sido astrólogo.
    Ora se perante uma questão sociológica apresenta a opinião de um astrólogo e o comunista apresenta facilmente 50 sociólogos marxistas… Os sociólogos comunistas podem só dizer merda que o comunista já ganhou a discussão anyway.
    Sei porque acontece comigo.
    Deito abaixo facilmente no plano da lógica e dos factos qualquer argumento marxista estúpido.
    A resposta é que isso é a minha opinião, mas o que interessa é a “ciência” porque 50 sociólogos marxistas dizem que estou errado.
    O que estou a dizer é também um pedido de ajudam…
    Por amor de deus arranjem meia dúzia de nomes na academia para dar lastro formal não só neste assunto mas também nas questões do marxismo cultural, a narrativa do racismo estrutural etc.
    Não há nomes académicos para contrariar isto?

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