O que os economistas sabem de economia

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0,,35888521-FMMP,00Vale muito a pena ler a íntegra da notícia a seguir e comprovar como os nossos economistas estão cada vez mais perdidos quando o assunto é teoria econômica. O excesso de keynesianismo que infectou suas mentes faz com que um marxista roxo subitamente adquira uma profundidade intelectual aristotélica.

Para contextualizar melhor a crítica, recorro ao artifício de comentar cada estrofe separadamente. O original vai de vermelho e eu vou de preto.

Moradores de SP e Rio perdem poder de compra em dez anos, diz pesquisa
Quem já não teve a sensação de que as coisas estão ficando cada vez mais caras, mesmo quando os dados oficiais de inflação indicam que os preços não subiram tanto assim?

Todo mundo tem essa sensação constantemente, e só se assustam com ela aqueles que confiam nas estatísticas divulgadas por agências do governo, cuja função principal é suavizar os efeitos da depreciação monetária premeditada feita pelo Banco Central, que age desta forma para benefício do governo, do sistema bancário que ele protege e de todos aqueles com boas conexões políticas.

Ou que muita coisa é bem mais barata quando comprada no exterior?

Porque a carga tributária é alta aqui e baixa lá fora. Além do protecionismo, que nos impede de importar produtos baratos para proteger a ineficiência de algumas indústrias nacionais.

Esse sentimento do brasileiro tem razão de ser, dizem especialistas.

Dados mostram que o poder de compra em São Paulo e no Rio de Janeiro teve queda nos últimos anos, ou seja, as pessoas têm que trabalhar mais para comprar os mesmos produtos.

A inflação monetária provocada pelo Banco Central faz com que os preços subam mais que os salários médios, o que provoca uma queda nos salários reais – aliás, se não fosse assim, o desemprego estaria muito maior. Eis aí uma das conseqüências deletérias da expansão monetária: queda do padrão de vida.

O banco suíço UBS faz a cada três anos uma pesquisa comparando o custo de vida em mais de 70 cidades do mundo. Mas, além de converter o preço de vários produtos e serviços para dólar e fazer um ranking das cidades mais caras, a pesquisa também faz comparações levando em conta quanto os trabalhadores do local ganham, em média. Assim, conseguem comparar o poder de compra dos cidadãos das várias cidades.

“Os preços medidos em reais subiram consideravelmente nos últimos dez anos em São Paulo e no Rio de Janeiro. O preço da nossa cesta de bens e serviços subiu aproximadamente 135% entre 2000 e 2009”, diz Thomas Berner, economista norte-americano que faz parte do grupo de pesquisa do UBS.

De 2000 a 2009, a base monetária aumentou 243% e o M1, 250%. Esse aumento de 135% nos preços acabou sendo pequeno, em comparação – o que significa que, caso a oferta monetária tivesse ao menos crescido a taxas menos bárbaras, tipo 2% ao ano, o que daria uns 20% em 9 anos (mais ou menos como cresce o estoque de ouro) – teria havido queda de preços dessa cesta de bens e serviços.

Mas como keynesianos e chicaguistas pensam que preços em queda geram recessão – o que significa, por lógica, que as indústrias de computadores, DVDs, câmeras, laptops e celulares nunca saíram da depressão profunda, dado que os preços só fazem cair desde que surgiram -, o BC, que está sob o comando dessa turma, está sempre expandindo a oferta monetária. E depois acham estranho que o padrão de vida cai porque o preço do feijão e do cabeleireiro só sobe.

“Como o rendimento médio não acompanhou a velocidade do aumento de preços, o poder de compra doméstico caiu e ainda está abaixo do que era em 2000, ou seja, as pessoas têm que trabalhar mais para comprar a mesma cesta de produtos. O Rio e São Paulo ficaram mais caros do ponto de vista de seus cidadãos”, explica o especialista.

Se a expansão monetária é maior que a produtividade – e convenhamos que não é fácil aumentar a produtividade em mais de 240% – os preços fatalmente crescerão mais que os salários. Algo a se estranhar?

Comparando o poder de compra nas diferentes cidades, São Paulo ficou em 45º lugar no ano passado, entre 73 cidades, enquanto o Rio de Janeiro ficou em 48º. Usando o poder de compra em Nova York como referência, com o valor de 100 pontos, em São Paulo esse número é menos da metade: 45,2 pontos.

No Rio, o valor encontrado é 38,6 pontos. Isso significa que um paulistano médio consegue, com seu rendimento, consumir menos da metade do que um nova-iorquino consegue.

Outra comparação famosa feita pelo UBS é o chamado “índice Big Mac”, que mede quanto tempo uma pessoa tem que trabalhar para comprar o famoso sanduíche. Em Nova York, esse tempo é de 14 minutos; em São Paulo, são necessários 40 minutos, e no Rio, 51 minutos.

O UBS também fez uma comparação semelhante, calculando o tempo necessário para comprar um iPod Nano. Para o novaiorquino médio, são 9 horas de trabalho, enquanto o paulistano precisa de 46,5 horas e o carioca, 56 horas.

Tá, isso são estatísticas um pouco mais subjetivas e eu não quero entrar no mérito delas. Mas a melhor parte vem agora.

Os economistas acreditam que o próprio crescimento econômico é um dos vilões dos preços. “O crescimento econômico geralmente leva a preços mais altos. Então, a expansão forte da economia brasileira nos últimos anos deve ser uma das principais explicações para a alta dos preços”, diz Berner.

Como não rir? Crescimento econômico, por definição, significa que há uma disponibilidade maior de bens e serviços. E se há maior oferta, então a tendência é que o preço caia, e não que ele suba.

Quando os EUA estavam no padrão-ouro clássico, de 1814 a 1913, o preços caíam ano após ano. Aliás, até antes de Primeira Guerra Mundial, em 1914, inflação de preços era um fenômeno extremamente raro. A norma era que os preços caíssem constantemente. E por que caíam? Porque havia crescimento econômico e a base monetária (lastreada em ouro) crescia a taxas ínfimas – para deixar claro, os bancos praticavam reservas fracionárias desde aquela época, mas não podiam se entusiasmar muito justamente porque a base monetária era bastante rígida. Caso se entusiasmassem muito, eles facilmente poderiam se tornar insolventes.

Por causa desse arranjo monetário, 100 dólares em 1913 tinham o mesmo poder de compra que 177 dólares tinham em 1814. O que significa que algo que custava 177 dólares em 1814 passou a custar apenas 100 dólares em 1913. Ou seja: o americano guardava dinheiro e ele se valorizava com o tempo. E tudo isso com um crescimento econômico de 4% ao ano. (Você pode conferir todas as estatísticas aqui e aqui).

Portanto, crescimento econômico causa queda de preços, e não um aumento. Se está havendo crescimento e aumento de preços é porque a oferta monetária está crescendo a um ritmo maior do que o crescimento econômico. Um economista dizer que “crescimento econômico geralmente leva a preços mais altos” é de gerar impulsos homicidas num monge beneditino.

Para Robson Gonçalves, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio, um dos fenômenos que explica o fato de muitos produtos serem caros no Brasil é uma mudança no patamar de desenvolvimento do país. “Quando os países chegam a um nível médio de desenvolvimento, a vida urbana fica mais cara”, diz ele. “Muitos itens ainda são elitizados no Brasil. Um exemplo é o vinho, visto como um produto de elite, que por isso tem um sobrepreço.”

A vida é mais cara nos centros urbanos principalmente porque ali há um volume de dinheiro maior do que nas cidades do interior. O mesmo fenômeno pode ser observado entre as capitais. Um mesmo produto tende a ser mais caro em São Paulo do que em Belo Horizonte ou Porto Alegre, simplesmente porque há mais dinheiro em São Paulo (algo que por si só gera maior demanda, sem, no entanto, necessariamente gerar um equivalente aumento na produção).

Se não levássemos em conta esses fatores monetários, então os preços numa cidade do interior da Bahia, por exemplo, teriam de ser mais caros do que em Salvador, uma vez que as péssimas estradas de acesso ao interior elevariam em muito os custos desses produtos.

O especialista explica que isso acontece porque, com o crescimento econômico e uma maior mobilidade social, há um aumento rápido da demanda, já que as pessoas querem consumir produtos a que não tinham acesso antes.

Fenômeno idêntico aconteceu durante mais de um século nos EUA, só que em proporção muito maior que no Brasil, e os preços caíram anos após ano. Aumento na demanda em um cenário com oferta monetária rígida não causa elevação geral dos preços. Mesmo porque, para que uma pessoa possa demandar algo nesse cenário, ela precisa antes ter produzido algo – e isso elevaria a oferta de bens e serviços para toda a economia, reduzindo os preços.

Aumento da demanda só causa aumento de preços quando essa maior demanda surge em decorrência de um aumento da oferta monetária – nesse caso, a pessoa não precisa produzir nada para poder demandar algo; ela simplesmente utiliza o dinheiro recém-criado e já aumenta o seu consumo.

É isso que vem acontecendo no Brasil.

A tendência, porém, é que isso mude conforme o país continuar crescendo. “Vai quebrar esse consumo esnobe. As pessoas vão passar a exigir qualidade e preço baixo”, diz Gonçalves.

De fato, qualidade só pode ser exigida quando há livre concorrência. Porém, mesmo nesse cenário, se estiver havendo expansão monetária – como sempre está -, o máximo que pode ser exigido é que os preços subam a um ritmo menor; nunca que eles caiam ou que pelo menos fiquem constantes.

No entanto, o economista faz a ressalva de que, nos grandes centros urbanos, os serviços são muito caros. “Essa pesquisa tem um viés, é muito influenciada pelo fato de São Paulo e o Rio serem cidades muito grandes. A pesquisa não retrata as cidades médias, no interior de São Paulo e norte do Paraná, por exemplo, que têm renda elevada e onde o custo de vida é muito mais baixo.”

Exatamente pelos fatores explicados duas estrofes acima.

Otto Nogami, professor do Insper (ex-Ibmec São Paulo), concorda que a vida nos grandes centros é mais cara. “Nas metrópoles existe um excesso de demanda e poucos produtos, porque falta infraestrutura”, diz ele.

A maior demanda, como já dito, está ligada à maior oferta monetária. Da maneira como a frase foi colocada, dá a impressão de que a falta de infraestrutura nas metrópoles leva a preços mais altos ao passo que no interior os preços são mais baixos porque há uma melhor infraestrutura. A infraestrutura da cidade de São Paulo é pior que a de Coronel Macedo? Cruzália? Emilianópolis? Guarani d’Oeste? Iporanga? No entanto, nessas cidades os preços são menores.

Ignorar a quantidade de dinheiro em cada lugar impossibilita qualquer análise sobre diferença de preços.

O economista do Insper acredita que uma das causas dos preços altos no país é o chamado “custo Brasil”. Para ele, as empresas brasileiras são muito menos produtivas que as estrangeiras e por isso o custo dos produtos é maior. Outros fatores como alta carga tributária e alto custo da mão-de-obra (devido a encargos trabalhistas) também influenciam, diz ele.

Isso, sim, é indiscutível.

“Nos Estados Unidos, por exemplo, um Honda Civic custa em torno de US$ 15 mil. Aqui custa R$ 65 mil. Existe uma desproporcionalidade que é reflexo desses fatores”, diz ele.

Mas essa desproporcionalidade não é só uma questão de carga tributária e custo da mão-de-obra. Tem também o protecionismo contra as importações. Se você pudesse importar BMW sem qualquer tarifa protecionista, pode apostar que o preço do Honda não seria esse.

Porém, como não há esse risco, as montadores seguem confortáveis. Suas altas margens de lucro – que num livre mercado imediatamente atrairiam concorrência de fora – estão devidamente protegidas pelo governo.

Muitos brasileiros já perceberam há tempos os preços bem mais baixos de certos produtos no exterior e tratam de fazer compras lá fora quando possível.
A securitária Flávia Lopes Pereira, 33 anos, foi aos Estados Unidos em setembro e comprou todo o enxoval de sua filha, que deve nascer no próximo dia 20. “Mega vale a pena. Comprei coisas lindas e baratas”, diz ela, que estima ter gasto cerca de US$ 3.500.

“Comprei roupinhas para quando a bebê tiver 3 meses até os 2 anos, além de carrinho com bebê conforto, brinquedos, acessórios”, conta ela. “Lá você compra um kit com macacão, babador, várias peças, por US$ 17, ou as peças avulsas por US$ 3, US$ 5. Aqui uma roupinha bonita custa R$ 80”, diz Flávia. O carrinho de bebê que ela queria custa cerca de R$ 2.000 aqui; ela achou por US$ 199 nos EUA.

O fisioterapeuta David Homsi, 33 anos, gosta de comprar roupas, sapatos, relógios e eletrônicos quando vai aos EUA, o que costuma fazer duas vezes ao ano. “Aqui custa cerca de 300% mais caro. Da última vez comprei dois sapatos Prada. Uma calça jeans, que você paga US$ 140 no SoHo, em Nova York, aqui custa R$ 1.200.”

Homsi diz que já comprou roupas e sapatos de grife no Brasil, mas só “na liquidação da Daslu”. Se não pudesse comprar no exterior, ele diz que consumiria os produtos de que gosta em menor quantidade.

Nem precisa comentar. Apenas sorria.

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