Por que os conservadores devem se opor à polícia

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Caros conservadores:

Eu admiro o quanto você deve relutar para ler artigos sugestivos como este. Eles constantemente se dirigem a você como se você fosse estúpido, louco e/ou abominável. Eles geralmente afirmam que você não sabe o que é bom para você e invariavelmente afirmam que você é um racista – e que é alguém que nem é inteligente o suficiente para perceber isso. Se os insultos não são explícitos, eles são disfarçados em condescendência.

Como um escritor judeu do Brooklyn/NY com um corte de cabelo assimétrico, entendo por que você provavelmente não esteja muito receptivo ao que tenho a dizer. Mas sei que você tem a mente muito mais aberta do que meus vizinhos suspeitam, então peço que me ouça.

Como conservador, você vê o que está acontecendo com nosso país e nossa cultura e fica mortificado. Disseram a você que o Islã é uma religião de paz, enquanto o Cristianismo é um discurso de ódio. A mídia progressista diz que a Igreja Batista de Westboro representa todos os que seguem a Bíblia, mas o ISIS não representa ninguém que segue o Alcorão. Uma mulher que se casa com outra mulher é uma heroína, enquanto uma mulher que escolhe criar os filhos em casa é uma vergonha. Pior de tudo, seguir a lei é considerado uma piada tão grande que nem mesmo o presidente se dá ao trabalho de segui-la.

Por tudo isso, você agradece a Deus todos os dias pela polícia. Você acha que a polícia é a principal coisa entre nós e o colapso de nossa civilização. Você vê as filmagens de tumultos, de prédios sendo incendiados, e então você tem que ouvir que a culpa é sua. Você naturalmente conhece os perigos de incêndios e quer proteger seus filhos, mas é informado de que tais medos e desejos são irrelevantes e até mesmo errados. Deve ser uma coisa boa que você esteja com medo, porque você supostamente quer opressão e agora está aprendendo como é a opressão.

Você acha tudo isso absurdo. Você sabe perfeitamente bem que não quer opressão. E você admite abertamente que existem policiais ruins. Mas, em geral, você considera a polícia como gente boa fazendo um trabalho duro e ingrato. Você acha que a polícia precisa do nosso apoio, não dos nossos ataques. No mínimo, você acha absolutamente insano ficar do lado de pessoas cujas políticas só levarão a mais tumultos e anarquia.

Pode ser verdade que os esquerdistas sempre dão a resposta errada para todos os problemas. No entanto, isso não significa que esses problemas não existam. Às vezes, aquelas pessoas que você despreza, desdenha e discorda estão dizendo a coisa certa — mesmo que elas mesmas não saibam. Portanto, quando digo que você deve se opor à polícia, digo exatamente por causa de seus princípios, não dos deles. Se eu pudesse resumir o porquê em uma frase, seria esta: você deve se opor à polícia socializada pelas mesmas razões que se opõe à medicina socializada.

Uma das coisas que te deixa louco sobre os esquerdistas é a insistência deles de que as coisas não existiriam se não fosse pelo governo. Isso é algo que é comprovadamente falso. Haveria programas de TV sem TV Brasil? Haveria gasolina sem a Petrobras? Claro que sim. O mesmo princípio se aplica à polícia.

A polícia presta um serviço muito necessário: a segurança. Mas que serviço necessário o governo é bom em fornecer? Você viu nossos filhos ficarem cada vez mais burros, apesar de cada vez mais dinheiro sendo gasto em educação. Na verdade, que serviço desnecessário o governo presta bem? A UPS e a FedEx forneceram rastreamento gratuito de encomendas anos antes dos correios. Elas não foram forçadas a fazê-lo por causa da lei. Foi o correio que não teve outra opção, devido à concorrência de empresas privadas.

Como conservador, você se lembra de quantos morreram por falta de atendimento em hospitais públicos. Quando o governo se envolve em serviços cruciais, as pessoas acabam morrendo. Você pode imaginar o que aconteceria com o atendimento médico de emergência se o governo administrasse todos os prontos-socorros? Não há razão para que a emergência de segurança seja diferente. Você está sendo alimentado com uma falsa alternativa. A escolha não é entre a polícia ou o caos. A escolha é entre o caos governamental ou a ordem privada.

Você não precisa acreditar na minha palavra. Veja o que ocorre quando você se desentende com um restaurante. Se você não gostar da comida, pode devolvê-la. Veja o que ocorre quando você se desentende com uma loja de departamentos. Você pode devolver a camisa que comprou, amassada e manchada, para ser reembolsado – ou pelo menos, receber crédito na loja. Em alguns lugares você não precisa ter um motivo ou mesmo um recibo. O processo é rápido, eficiente e está a seu favor. É simples e ordenado. Agora veja o que ocorre quando você tem algum desentendimento com alguma coisa que envolva a polícia – ou, que Deus o ajude, com a própria polícia. Existe alguma dúvida de que todo o processo não será uma dor de cabeça, sem qualquer garantia de uma resolução equitativa?

A polícia é sindicalizada. Como conservador, você percebe o que isso significa: proteger funcionários ruins evitando que eles enfrentem as consequências de seus atos. Quando os sindicatos administram a educação, por exemplo, o resultado são alunos analfabetos funcionais. Mas com uma polícia incompetente, as consequências são muito mais terríveis. Isso significa inocentes sendo assediados e culpados ficando livres.

Veja programas de TV em que alguém é assaltado. Mesmo nesses cenários imaginários, a polícia nunca recupera a propriedade de um personagem – prestando seu serviço conforme prometido. Fazer com que a polícia reestabeleça toda a integridade de sua propriedade é uma coisa impossível de retratar, mesmo na ficção. Agora olhe para o site de vendas Mercado Livre, onde todos têm automaticamente proteção gratuita contra fraudes, mantendo você protegido de pessoas que você nunca conheceu ou viu.

Uma ida a um cinema escuro é diversão para a família, enquanto uma ida a um beco escuro causa medo em todos. Um bar cheio de bêbados e um hotel cheio de estranhos ainda é infinitamente mais seguro do que uma rua noturna da cidade. Ou seja, as áreas mais perigosas são justamente aquelas sob proteção policial, enquanto as mais seguras são justamente aquelas sob gestão privada. Isso é o que significa segurança do governo.

Sim, você pode querer que a polícia reprima as áreas “críticas”. Mas, como conservador, você também entende que os programas do governo sempre dão errado da mesma forma que “aumentos de impostos para os ricos” acabam prejudicando você. Em breve, suas áreas é que serão reprimidas.

Não precisa ser assim.

Uma redução dos serviços policiais permitiria mais agentes de segurança privada licenciados em todos os lugares. Se as pessoas achassem isso muito perturbador – como certamente é uma intensa presença policial –, esses funcionários privados poderiam trabalhar disfarçados. Eles poderiam se limitar a manter a paz em vez de aplicar leis tributárias estúpidas que apenas ajudam o governo às custas dos pobres e marginalizados. Vizinhos e lojistas poderiam ser contratados para atuar como vigias em tempo parcial. A segurança não precisa estar vinculada a um local, assim como os telefones fixos. Você pode assinar um serviço e fazer com que ele o siga onde quer que você vá. É praticamente a mesma transição do fixo para o celular.

Diferentes indivíduos, organizações e comunidades podem ter várias medidas de segurança sobrepostas. Quantos tipos de detergente existem? Não há razão para que a segurança não funcione da mesma maneira. Não há limite para as possíveis soluções de mercado – exceto para o governo, como é atualmente.

Sim, há críticas óbvias a essa abordagem. Uma coisa que os conservadores vão se ressentir é que os pobres provavelmente obteriam segurança de graça ou por um custo altamente subsidiado. Como conservador, você pode achar injusto que alguns não estejam fazendo sua suposta parte. Mas “equidade” deveria ser uma preocupação dos progressistas, não sua. Seu principal problema é manter todos seguros. Os telefones celulares são baratos o suficiente para que instituições de caridade possam distribuir. Fornecer segurança adicional aos pobres custaria muito menos do que o que o governo gasta agora com sindicatos de policiais.

Mas o que acontece se você for um assinante da empresa de segurança A e tiver uma discussão com alguém que é assinante da empresa de segurança B? Veja os dados reais. Não tenho ideia do que acontece, tecnicamente, quando um chamador da Tim liga para um cliente da Claro. Não tenho ideia porque não preciso ter ideia. As pessoas que sabem do que estão falando — não aquelas pessoas marchando na TV que você abomina — resolveram o problema. Era uma preocupação tão óbvia que as empresas a resolveram antes mesmo de alguém tomar conhecimento dela. O mesmo vale para ambulâncias em coordenação com hospitais ou cartões de crédito negociados com todo tipo de empresa imaginável. Em todos esses casos, o mercado antecipou o problema e coordenou uma solução. Segurança é a mesma coisa.

Como conservador, você entende intuitivamente que os mercados representam a paz e a ordem, enquanto o governo e os políticos prosperam em distúrbios e conflitos.

 

 

Artigo original aqui

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Michael Malice
é o autor de "Dear Reader: The Unauthorized Autobiography of Kim Jong Il" e "The New Right: A Journey to the Fringe of American Politics" , e organizador do "The Anarchist Handbook" . Ele também é o tema da história em quadrinhos Ego & Hubris , escrita pelo falecido Harvey Pekar, famoso por American Splendor. Ele é o apresentador do programa “YOUR WELCOME”. Malice é co-autor de livros com várias personalidades proeminentes, incluindo "Made in America" (a autobiografia mais vendida do New York Times do UFC Hall of Famer Matt Hughes), "Concierge Confidential" (um dos 5 livros de celebridades mais vendidos do ano pela NPR) e "Black Man, White House" (o olhar satírico do comediante DL Hughley sobre os anos Obama, também um do New York Times best-seller ). Ele também é o editor fundador de “Overheard in New York”.

1 COMENTÁRIO

  1. A polícia não é amiga, mas sim inimiga. E pode até ser pior que bandido.

    E o motivo é simples: o braço do estado que impinge o desarmamento do cidadão de bem é justamente a polícia.

    Sim, políticos fazem as leis do desarmamento, mas quem impinge a lei é o braço armado do estado. Se eu quiser comprar uma arma no mercado negro, a minha maior preocupação será a polícia me flagrar e me jogar em cana. Ou seja, paradoxalmente, é a polícia quem garante o sossego da bandidagem; é a polícia quem garante à bandidagem que o cidadão comum está desarmado. É a polícia a maior responsável pelo desarmamento.

    Quem é pró-armas simplesmente não pode ver a polícia como aliada. É ela quem faz o confisco das armas. Ela é aliada da bandidagem, isso sim.

    Xandão e os excelentíssimos políticos só têm papel e caneta, quem impinge as leis autoritárias e sem sentido é a polícia.

    Durante a fraudemia, se um comerciante pai de família quisesse abrir o seu comércio, a polícia iria lá prendê-lo e soldar as portas do seu estabelecimento, impedindo-o assim de ganhar o seu sustento.
    Logo a polícia o condenava à mendicância assim como condenou a população toda.

    A missão da polícia é uma só, a manutenção da ordem pública; leia-se, proteger o aparato estatal, não é proteger o cidadão mas se proteger do cidadão.

    Essa de que a polícia só cumpre ordens é outro desespero argumentativo.
    As SS nazistas, soldados do Japão imperial, etc… Também só estavam cumprindo ordens.

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