“A maioria dos cidadãos não está nos fazendo nenhum favor votando. Pedir a todos que votem é como pedir a todos que joguem lixo na rua”. —Jason Brennan, Against Democracy
Não, o título não é um erro de digitação: quero dizer o oposto do que muitas pessoas costumam dizer antes das eleições: “Se você não votar, não pode reclamar”.
A visão romântica do governo democrático é a ideia de que todos nos reunimos, expressamos nossos valores e damos nossa opinião, e através do milagre da junção recebemos um governo responsável que de alguma forma reflete esses valores. E pelos próximos quatro anos, podemos alegremente gastar nosso tempo com o que realmente importa na vida, enquanto nossos representantes nomeados cuidam e administram com cuidado e competência nossos bens públicos compartilhados no melhor interesse de nossa nação.
Se você não gargalhou enquanto lia o parágrafo anterior, ou nunca participou de uma democracia ou sofrerá um choque brutal quando perceber a verdade sobre essa visão de conto de fadas. Um crítico astuto da democracia, Jason Brennan, abre seu livro Against Democracy resumindo como sua visão difere da maioria dos outros:
Muitos de meus colegas têm uma visão um tanto romântica da política: a política nos une, nos educa e civiliza, e nos torna amigos cívicos. Eu vejo a política fazendo o oposto: ela nos separa, nos embrutece e corrompe, e nos torna inimigos cívicos.
A grande promessa da democracia e do sufrágio universal é que você — sim, você! — pode melhorar as coisas se apenas levantar a bunda do sofá, informar-se e votar. Em cada ciclo eleitoral nos dizem que é muito importante “ir votar” – o que é estranho, porque em muitos colégios eleitorais é completamente inútil votar e porque algum candidato diria “Vá votar!” a menos que eles quisessem dizer “Vá votar… em mim”?
O outro lado negligenciado da promessa da democracia é que você – sim, você – pode piorar as coisas. Pois o que você sabe sobre alíquotas ou legislação ambiental ou como estruturar as necessidades de saúde ou infraestrutura ou o que deveria ser ensinado nas escolas públicas? Como você poderia ter uma noção razoável de compras militares ou quanto o governo federal deveria gastar em x? (Bem, para a última tem uma resposta razoável: zero.)
Sempre achei curioso que os apaixonados pela democracia estejam sempre tão animados e sérios nos meses que antecedem uma eleição importante – e sempre tão desapontados depois. O candidato deles não venceu e agora eles devem conciliar essa consequência com sua própria visão de mundo (claramente equivocada). As pessoas não queriam o que estávamos vendendo — que estranho.
Três reações comuns são
- A oposição roubou a eleição. Embora a história da Rússia nos Estados Unidos ou na Grã-Bretanha em 2016 nunca tenha feito muito sentido, foi um bode expiatório conveniente para aqueles que não conseguiram compatibilizar sua devoção pela democracia com os resultados aterrorizantes.
- Precisamos de mais educação e “fazer a mensagem chegar a todos”. Claramente, nossos slogans de campanha não foram bons o suficiente ou nossos candidatos não combinaram com o eleitorado ou há alguma ignorância ou mal-entendido entre o público votante. Porque eles, como todas as pessoas boas e honestas, compartilham nossa convicção do que é importante. Não é possível que muitos outros discordem de nossa visão de mundo, dos valores que defendemos ou das políticas “óbvias” que dizemos que desejamos seguir?
- Eu odeio meus compatriotas! Como podem ser tão estúpidos? Eles não entendem que Trump/Hillary/Corbyn/Johnson/Macron/Le Pen/Bolsonaro/Lula é tão claramente incompetente, perigoso e burro e que uma Boa Sociedade™ exige que meu candidato progrida?
O que é tão interessante sobre todas essas reações é que elas traem a premissa fundamental da democracia – a junção da vontade do público em um todo. A ideia básica da democracia é que colocamos nossos valores em uma caixa (preta) e seguimos com o candidato da maioria. Isso implica, é claro, que haverá dissidentes e minorias, e o sistema exige que eles se sujeitem ao governo dessa maioria. Se você realmente apoiasse a democracia, ficaria igualmente contente, independentemente de qual lado vença.
Ainda estou para ver uma pessoa tão logicamente consistente – o que me diz que a devoção dos ativistas amantes da democracia à democracia é falsa, e seu desejo de governar os outros é tudo que há.
Tudo isso vem à mente quando Viktor Orbán, o mais antigo chefe de Estado europeu e garoto-propaganda do populismo e da democracia iliberal, mais uma vez derrotou seus adversários políticos em uma eleição esmagadora na Hungria. Para cada pessoa erudita, bem-educada e de pensamento correto dentro e fora daquele país da Europa Central, é um golpe em sua visão de mundo – uma dissonância cognitiva esperando para ser desvendada.
A mídia ocidental chama a vitória de “trágica” e “derrota esmagadora” – o que, pode-se pensar, deveria ser comemorado como uma boa notícia por todos os democratas do mundo: um mandato claro do povo, com participação eleitoral recorde, o oposto de uma “eleição suspeita”.
Claro, ninguém vê dessa forma, e apontam para todas as maneiras pelas quais Orbán e seus comparsas corruptos minaram as instituições democráticas, aparelharam os tribunais, provocaram brigas com corporações supranacionais e manipularam seus eleitores para obter o máximo de influência. Os perdedores reclamaram que os vencedores espalharam “ódio e mentiras”. Será que isso soa familiar para outras democracias mais próximas de casa?
A principal objeção que resta é a de que a Hungria não é uma “democracia real”, uma objeção que é particularmente irônica em um ex-país comunista que há muito considera a sandice de dizer que “A União Soviética não era o comunismo real!” como um insulto à sua história coletiva.
Pelo contrário, esta é a representação mais real da democracia que se pode imaginar – personagens populares abusando do sarcasmo contra seus oponentes, reunindo massas contra inimigos (imaginários?) estrangeiros e domésticos, e dizendo coisas que não são verdadeiras. Mais uma vez, diga-me quais democracias não fazem todas essas coisas. A diferença entre a desastrosa democracia da Hungria e as de suas conturbadas congêneres ocidentais é meramente de graus – e o fato de termos uma enorme desvantagem para a versão inglesa, americana ou escandinava de deficiências semelhantes.
Todas as democracias seguem o caminho húngaro, mais cedo ou mais tarde, pois a democracia é um sistema que seleciona a estupidez e a crueldade: os piores chegam ao topo, a lógica do intervencionismo aumenta cada vez mais a intrusão do Estado e as liberdades são devoradas. Sobre isso, observei recentemente que
O que é curioso sobre a democracia é que, de alguma forma, os piores chegam ao topo. Apesar dos eloquentes discursos, das campanhas em massa, dos debates públicos, da peregrinação em massa às cabines de votação e das muitas promessas sobre mundos mais verdes, mais equitativos, melhores e mais justos, de alguma forma acabamos com burocracias inchadas, políticas injustas, desperdício de recursos – e não tão raramente em valas comuns. O estado, Robert Higgs nos ensinou, é simplesmente perigoso demais para ser tolerado.
Sim, a democracia é a ilusão de que todos podem viver à custa de todos os outros, mas o problema maior para aqueles que apoiam genuinamente a democracia é manter dois princípios contraditórios ao mesmo tempo: sua própria visão do que é uma boa política e qual é o melhor candidato, e sua suplantada crença de que o voto democrático resulta na melhor governança. Quando seus candidatos preferidos perdem para tipos verdadeiramente desprezíveis, é preciso uma convicção muito forte (e coragem) para dizer: “Meu país quer, então está tudo bem!”
Coisas terríveis acontecem quando a democracia morre, concordo; mas coisas terríveis também acontecem enquanto a democracia vive.
Se você realmente acha que a democracia é o melhor de todos os sistemas possíveis, participar dela (ou seja, votar) deve resolver a questão: as o povo determinou, o milagre da junção fez sua mágica. Como, então, você pode reclamar do resultado?
Artigo original aqui
O artigo é excelente. Mas a tradução tem alguns errinhos bobos de ortografia que incomodam, prestem mais atenção com isso aí.
Mas porque você não aponta quais erros você acha que tem?
Ou melhor… Porque você não pega um artigo que você gostou e traduz para o instituto!
Vai ser um grande favor, uma chance de ajudar, ao invés de ficar cornetando!
Pode enviar os erros que achar para [email protected] que eu corrijo.
Este artigo é uma excelente refutação à bolsonaristas de plantão, li ele no mises.org.