Sobre a secessão da Escócia – é possível uma região pobre se separar de uma região rica?

0
Tempo estimado de leitura: 3 minutos

scotland-independenceNo dia 18 de setembro haverá um referendo na Escócia para decidir se o país irá se separar do Reino Unido e se tornar independente.

Parodiando o famoso ditado, nem todos os movimentos separatistas são criados iguais, pois algumas regiões separatistas são mais economicamente independentes do que outras.

Por exemplo, no caso de Veneza e sua região, a secessão seria bastante plausível, no médio e no longo prazo, por causa do longo histórico de sucesso econômico e de independência política de Veneza.  E o fato de a região ser atualmente uma das mais ricas da Itália também ajuda.

Nos EUA, as pessoas riem quando o Texas ameaça se separar e formar sua própria república (como já foi durante 10 anos, de 1836 a 1846), mas a verdade é que, em termos puramente econômicos, o Texas estaria ótimo caso realmente se tornasse independente.  O estado atualmente é um pagador líquido de impostos, o que significa que ele paga mais impostos federais do que recebe em repasses (exatamente como ocorre entre Veneza e o governo italiano).  A secessão significaria apenas que os texanos agora ficariam com mais dinheiro.

Coisas similares também podem ser ditas sobre o País Basco e a Catalunha, na Espanha, que são duas das regiões mais ricas e economicamente sólidas do país.

Por outro lado, se as observações econômicas feitas por vários críticos da secessão escocesa estiverem corretas, então a situação da Escócia parece ser bem diferente.

Em um editorial, a revista The Economist opina:

No quesito economia, os nacionalistas dizem que os escoceses ficarão £1.000 mais ricos, por ano e per capita, caso se separem do Reino Unido.  Esse número, no entanto, se baseia em suposições implausíveis sobre o preço do petróleo, sobre o fardo da dívida escocesa, sobre a demografia e sobre a produtividade.  Já as estimativas do governo britânico de que os escoceses estarão £1.400 melhores, por ano e per capita, caso continuem no Reino Unido são baseadas em hipóteses mais realistas.

A população da Escócia é mais velha e mais enferma do que a média britânica, e sua produtividade é 11% menor do que a do resto da Grã-Bretanha.  Como resultado, o estado gasta com os escoceses aproximadamente £1.200 per capita a mais do que gasta com o cidadão médio britânico.  Dependendo do que ocorra com o preço do petróleo, as extrações petrolíferas do Mar do Norte até poderiam cobrir parte desses custos que agora teriam de ser incorridos pelo governo autônomo da Escócia; mas o petróleo da região está acabando.

É claro que é possível que a independência acabe com a mentalidade assistencialista dos escoceses e ressuscite seu lado empreendedorial.  Isso seria mais plausível se os dois principais partidos da Escócia — o SNP e o Trabalhista — fossem discípulos de Adam Smith.  Mas ambos são declaradamente estatizantes.  O mais provável, portanto, é que a filosofia estatista desses partidos faça com que os gestores e corretores de Edimburgo, os engenheiros de Aberdeen e outros escoceses talentosos migrem para a Inglaterra.

A independência também imporia custos isolados: um novo estado escocês teria de criar seu próprio exército, seu próprio sistema assistencialista, uma nova moeda e muito mais.

Se realmente é verdade que a Escócia é uma recebedora líquida de impostos, então a secessão parece ser bem menos provável.  Os eleitores, e especialmente os mais idosos e aqueles que recebem auxílios governamentais, normalmente sabem quem passa a manteiga no seu pão.  Consequentemente, eles votam da maneira a manter a manteiga cremosa e o pão quentinho.

Toda essa situação ilustra perfeitamente a utilidade política de se ter estados assistencialistas.  Antigamente, os estados dependiam de exércitos invasores para manter o controle de seus territórios, províncias e colônias.  Nos tempos modernos, os estados descobriram que é muito mais fácil manter seu monopólio e seu controle em uma determinada região simplesmente comprando a lealdade de cada cidadão por meio da distribuição de benesses.  Os pagadores de impostos nas regiões mais ricas podem até reclamar de serem obrigados a manter o dinheiro fluindo, mas aquele território formado por eleitores beneficiados pelo assistencialismo fornecerá uma ótima base de apoio ao estado central.

Não importa se o governo é apenas em nível nacional e distribui benesses para determinados estados e regiões, ou se ele possui colônias além-mares: o assistencialismo garante a perpetuidade desse estado e dos políticos que o comandam.

Por outro lado, o fato de uma região ser economicamente atrasada nem sempre impede uma secessão.  Nos anos 1770, os EUA eram atrasados em relação à Inglaterra (embora usufruíssem um alto padrão de vida para aquela época), mas se separaram.  A Irlanda também se separou do Reino Unido não obstante sua grande pobreza à época.

Talvez a Escócia seja capaz de viver à custa de seu petróleo, como sugerem os vários defensores da secessão.  Mas a confortável situação gerada pelo estado assistencialista pode se mostrar um hábito arraigado demais para ser abolido.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.