Uma “judia que odeia a si mesma” explica por que Israel não tem direito a…

1
Tempo estimado de leitura: 9 minutos

[Este artigo é a transcrição de um brilhante vídeo da influencer libertária Carey Wedler sobre a situação no Oriente Médio envolvendo o estado de Sião/Israel. Em negrito, aparecem as falas de uma sionista histérica interpretada pela própria influencer. A ideia dessas falas é demonstrar as falhas do raciocínio da defesa incondicional do estado (aparato institucionalizado de coerção) — no caso, da defesa incondicional do estado de Sião. Depois dessa atuação, a influencer discorre sobre a natureza profundamente maléfica dos estados (e dos grupos criminosos que almejam se tornar estados — como o grupo terrorista Hamas) e sobre o apoio ideológico que acabam recebendo dos indivíduos e das populações que se identificam com eles. Como se trata de uma transcrição, o texto apresenta um tom coloquial. Os trechos que aparecem entre colchetes são comentários do tradutor para esclarecer o contexto de algumas partes.]

 

O meu coração se condói pelas vítimas dos ataques de 7 de outubro — e pelas vítimas da resposta do governo israelense.

“Parece que temos outra antissemita amante de terroristas.”

Na verdade, sou judia do lado que pertence ao judaísmo tradicional.

“Então você é uma judia que odeia a si mesma.”

Não, mas eu gostaria de explicar por que motivo o estado de Israel não tem o direito de existir; e isso nada tem a ver com o antissemitismo.

“Por quê? Porque Israel tem bombardeado Gaza? Estamos nos defendendo! Estes selvagens palestinos sempre começam!”

Na verdade, esse conflito moderno realmente se iniciou depois que alguns judeus europeus convenceram o Império Britânico [o qual conquistou a região da Palestina durante a Primeira Guerra Mundial] a apoiar a criação de uma nação judaica no Oriente Médio.

“Como eu disse, judia que odeia a si mesma.”

O antissemitismo é definitivamente uma coisa real — eu já tive isso direcionado a mim muitas vezes. Em última análise, trata-se de uma coletivização negativa e odienta de todo um grupo de pessoas, certo?

“Sim, e isso é mau!”

Portanto, não é também mau coletivizar outros grupos de humanos e —

“Eles não são humanos. São animais terroristas infernalmente empenhados em nos destruir.”

 

[Neste momento, faz-se alusão a um vídeo de alguém — provavelmente um judeu sionista — cantarolando: “Não vou parar até que todos os árabes sejam eliminados.”]

 

Terroristas como o Hamas?

“Exatamente.”

O grupo que Israel auxiliou a criar para tentar estabelecer mais controle na região?

 

[Faz-se alusão a reportagens afirmando que o grupo terrorista Hamas foi, na realidade, promovido e financiado pelo próprio estado israelense para rivalizar com o grupo político Autoridade Palestina e, assim, enfraquecer o poder desse grupo político.]

 

“Você está mentindo. Judia má.”

O Hamas é uma organização terrorista porque mata civis para alcançar objetivos políticos, certo?

“Você finalmente está entendendo.”

Então, o que está destruindo campos de refugiados, escolas e prédios de agências de notícias em nome do estado de Israel? Além disso, o que dizer de grupos como Lehi e Irgun, que descaradamente assassinaram civis nos seus esforços para adequar a região em prol dos judeus?

“Eles não tiveram escolha! As pessoas não respeitariam a sua legitimidade, dignidade e existência.”

E que nome você dá aos atos de tratar seres humanos como gado por décadas e de bombardeá-los quando uma pequena subseção deles, como o Hamas, perpetra ataques?

 

[Aludindo ao anúncio do governo israelense de “cerco completo” a Gaza, com o corte de eletricidade, alimentos, água e combustível.]

 

“Os palestinos elegeram o Hamas! Não existem palestinos inocentes.”

Eles elegeram o Hamas? Ou o Hamas obteve uma pluralidade de votos [apenas 44,45% deles], não uma maioria, sem, aliás, que todas as pessoas votassem em 2006 [apenas 74,64% dos eleitores compareceram] — e então tomou o poder de qualquer modo no ano seguinte? As crianças de Gaza, que hoje representam quase metade da população, votaram no Hamas ainda crianças ou antes mesmo de nascerem?

“Essas crianças vão crescer para serem terroristas, de qualquer maneira. Por que você odeia todos os judeus, mas procura todas as razões possíveis para defender os palestinos? Eles nos odeiam por nenhuma outra razão possível a não ser o nosso judaísmo!”

Não estou falando de todos os judeus, mas sim do governo israelense, que se confunde com o judaísmo e com os judeus e depois usa isso como escudo para a sua desumanidade — o que me traz de volta ao motivo pelo qual o estado de Israel não tem o direito de existir.

“Você não vê a estrela de Davi na bandeira? Eles também estão lutando por você, mesmo que você seja ingrata! É o sagrado lar judaico, sua maluca que odeia a si mesma.”

É também o lar dos palestinos, todavia você denuncia o suposto fanatismo religioso deles ao exato mesmo tempo em que usa a sua religião fundida com a autoridade governamental para justificar o confisco das casas deles, assim como os atos de lhes negar direitos humanos básicos e de matá-los indiscriminadamente com toda a força do estado israelense.

“Você não acha que merecemos o nosso próprio país depois de tudo que sofremos?! A minha família morreu no HOLOCAUSTO!”

O mesmo aconteceu com a minha família, até onde ela sabe, e isso é mais um motivo para se opor às investidas do governo israelense. Grupos de pessoas em todo o mundo sofreram nas mãos de governos violentos e dos seus capangas, estimulados por pessoas que acreditam na autoridade deles. Isso não significa que outras pessoas também devam sofrer destinos fatais nas mãos dos governos, incluindo-se nisso um governo que afirma representar judeus perseguidos enquanto simultaneamente persegue judeus que questionam a autoridade dele.

“Por que você ainda os está defendendo, judia traidora? Eles não se importam com civis e crianças inocentes tal como Israel procede.”

Eu achava que não existia um palestino inocente…? E Israel também mata civis palestinos, incluindo crianças, o tempo todo, então é um pouco de sujos falando de mal lavados, não?

“Isso porque eles usam esses civis e essas crianças como cobertura de proteção enquanto estão tentando nos massacrar!”

Como as IDF [as forças armadas israelenses] fizeram durante anos?

 

[Aludindo a um texto publicado em 7 de outubro de 2005 pelo repórter Chris McGreal com o título “Tribunal superior israelense proíbe o uso militar de palestinos como escudos humanos”. Primeiro parágrafo do texto:

“O tribunal superior israelense decidiu ontem que a prática de longa data do exército de usar civis palestinos como escudos humanos em combate é ilegal ao abrigo do direito internacional. Declarou que a alegação dos militares de terem modificado o procedimento de forma a permitir que civis se ‘voluntariassem’ para trabalhar com o exército ainda se configurava inaceitável porque era improvável que alguém livremente o fizesse.”]

 

Estas crianças que estavam brincando na praia durante a Operação Margem Protetora eram escudos do Hamas?

 

[Aludindo a um texto publicado em 16 de julho de 2014 por uma agência de notícias sobre quatro crianças sendo mortas na beira de uma praia por um ataque do estado israelense.]

 

“Escudos humanos, escudos humanos, escudos humanos!”

E as mulheres, as crianças e os homens inocentes mortos por terroristas israelenses determinados a estabelecer um estado israelense?

 

[Aludindo a massacres e expulsões de palestinos por milícias sionistas em 1947 e 1948.]

 

“Por que você ainda está defendendo o Hamas? Como é que não é óbvio que, quando eles o fazem, é terrorismo, mas quando nós o fazemos é autodefesa?”

Não estou defendendo o Hamas. É terrível e desumano atacar civis. Mas você tem que analisar em primeiro lugar o motivo pelo qual as pessoas acabam se radicalizando. Você pode e deve olhar para as causas profundas de um comportamento horrível sem, porém, tolerar e desculpar esse comportamento.

 

[A imagem acima aparece.]

 

“A única maneira de sustar a resistência violenta deles é continuar as políticas violentas que incitaram e exacerbam a resistência violenta deles!”

Isso funcionou para Israel ou para os seus paizões Estados Unidos?

“Por que pessoas que odeiam a si mesmas — assim como todas estas pessoas que nutrem o antissemitismo — azucrinam tanto Israel? Trata-se da única democracia no Oriente Médio. Bombardeiam DEMOCRATICAMENTE as pessoas e lhes dão avisos. É humano dizer às pessoas que você está prestes a explodir a casa delas.”

Você realmente não consegue ver quem é o Golias?

“TRAIDORA!!! Estas pessoas são bestas-feras. Judia má. ASHKENAZI! Querem nos apagar da face da Terra. Autodefesa! Devemos apenas varrê-los da face da Terra. Autodefesa! Elegeram o Hamas! Apenas irão crescer para serem terroristas, de qualquer maneira. Você tem tanto ódio no seu coração! MATEM TODOS ELES. Você está defendendo o Hamas. Escudos humanos! Escudos humanos! Por que você está defendendo o Hamas? Eles dão avisos! Eles dão avisos! Eles dão avisos! Hitler deveria ter terminado a tarefa na sua família. ODIADORES DE JUDEUS! Autodefesa! Autodefesa! Você está endossando assassinato em massa! Vamos transformar Gaza num estacionamento. ESTAS PESSOAS SÃO SELVAGENS!

Olhe, você só precisa ser racional sobre isso. Toda democracia tem os seus defeitos, e em Israel não é diferente.”

Finalmente concordamos.

“Cale a boca, sua imunda maluca que odeia a si mesma e simpatiza com terroristas — espere.”

A verdadeira razão pela qual o estado de Israel não tem o direito de existir é a mesma razão pela qual nenhum governo tem o direito de existir. Os crimes do governo israelense podem ser surpreendentemente chocantes, brutais e flagrantemente hipócritas, mas também são um reflexo de todos os governos. Seja o estado “democrático” de Israel abusando de pessoas, seja a “república” americana matando pessoas no seu território e no exterior, seja a oligarquia russa fazendo o mesmo, governos socialistas, governos comunistas, monarquias, teocracias, ditaduras — e tudo que aparece entre eles —, todos os estados, em toda a história humana e nos dias de hoje, dependem do seu monopólio da violência ou da ameaça dela para afirmar, reivindicar e garantir a sua obediência à autoridade imaginada deles e para financiar os regimes deles. Sem a violência organizada ou a ameaça dela e sem pessoas que acreditam na sua legitimidade, eles não podem forçar ninguém a fazer nada, e isso inclui governos que se dizem “representativos”.

Independentemente do tipo de governo, a corrupção e os abusos inevitavelmente ocorrem porque o estado só existe por meio do roubo e da violência — o direito percebido de roubar e matar que nenhum de nós realmente tem. Nem mesmo as pessoas que o estado diz servir e representar ou as pessoas que alegam deter autoridade através do governo. Se as pessoas não têm um direito moral de iniciar a violência, as pessoas não podem delegar esse direito a outras pessoas que alegam representá-las na forma de um governo.

Apesar daquilo em que os antissemitas acreditam, a brutalidade do governo israelense não acontece porque ele é comandado e dirigido por judeus. Isso ocorre porque você não pode ter um governo sem autoridade violenta, que atrai pessoas perturbadas que se põem a governar, agredir e prejudicar os outros. Essa violência inerente permitiu que comunistas matassem milhões e que fascistas massacrassem judeus e outros considerados uma ameaça. Da mesma forma, a ideologia sionista, que não é sinônima do judaísmo como um todo, seria inócua sem a instituição do estatismo para impingir os seus objetivos. Assim como o seria qualquer outra ideologia religiosa — e a crença no governo e em toda a sua legitimidade, todo o seu fanatismo e todos os seus rituais configura uma religião em si mesma, na qual as pessoas fazem adoração, veneração no altar da violência, da autoridade e do controle.

Seja qual for a sua posição sobre Israel e Palestina, se você realmente se opõe à violência contra pessoas inocentes, você deve rejeitar a legitimidade de todo governo — o maior perpetrador das piores atrocidades da história. Não existe assassino em massa mais prolífico que o estado — ou melhor, as pessoas que alucinadamente o imaginam tendo autoridade legítima e aquelas que acreditam estarem agindo corretamente com os seus uniformes, os seus distintivos e as suas armas para impingir os caprichos de políticos e burocratas governamentais que rabiscam palavras num papel ou realizam declarações e consideram legal ou moral — ou legal e moral ao mesmo tempo — a sua brutalidade.

A vasta maioria das relações humanas é pacífica e voluntária, ao contrário da natureza inerentemente não consensual do governo. Em todo o mundo, todos os dias, o estado comete agressões contra as pessoas enquanto semeia ódio, medo e divisão. E em todo o mundo, todos os dias, pessoas individuais trabalham juntas para ajudar umas às outras e para manter o mundo girando e funcionando. E temos muito mais em comum uns com os outros que com a classe dominante que alega nos servir e representar. Na realidade, a menos que você seja verdadeiramente odiento e maníaco, você provavelmente não despreza todos os palestinos, árabes, muçulmanos, judeus, israelenses ou quaisquer outras pessoas. Tais indivíduos odientos e maníacos com certeza existem e são exponencialmente mais perigosos quando recebem autoridade governamental. Independentemente disso, é mais provável que você não odeie nenhum grupo demográfico inteiro, mas simplesmente tenha recebido o ensinamento de que os governos e as organizações violentas agindo em nome desses grupos demográficos literalmente constituam e componham tais grupos — entre aspas, “nós somos o governo”.

A verdade é que somos todos humanos e, independentemente das nossas fés ou crenças, compartilhamos dessa humanidade — o nosso amor pelas nossas famílias e comunidades, assim como os temores pela nossa sobrevivência e as esperanças por um presente e um futuro melhores. Mas a única maneira de sequer conseguirmos isso é abandonar essa crença na autoridade violenta — é acreditar em nós mesmos, assim como nuns nos outros, enquanto reconhecemos o nosso verdadeiro poder, o qual não provém de eleições governamentais ou bombas ou armas. Ele provém da nossa capacidade de romper com a equivocada crença na legitimidade da autoridade violenta e de reivindicar o nosso direito natural de sermos livres.

1 COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui