11 – Três Tesouros Nacionais: Hazlitt, Hutt e Rothbard

0
Tempo estimado de leitura: 16 minutos

Por Llewellyn H. Rockwell, Jr.

 

Para a maioria dos americanos, economistas não são a primeira coisa que vem à mente quando pensam em tesouros, muito menos em tesouros nacionais. Seja fazendo previsões matemáticas arrogantes e falaciosas; enchendo a cabeça dos estudantes universitários com ideias keynesianas e socialistas equivocadas; ou dando cobertura teórica à inflação, tributação, regulamentação e gastos do Estado — o economista típico não é amigo da liberdade.

Mas tudo isso é uma perversão da pura ciência da economia, exemplificada pela escola austríaca e seu maior expoente, Ludwig von Mises. O professor Mises não foi apenas a maior força criativa em economia do século XX, ele também foi um defensor radiante da liberdade.

Há um costume japonês de nomear grandes empreendedores como tesouros nacionais vivos. Scott Stanley, da Conservative Digest, certa vez me pediu para nomear nossos três tesouros nacionais vivos em economia. Eu disse a ele que três homens se destacam como grandes economistas na tradição misesiana: Henry Hazlitt, W. H. Hutt e Murray N. Rothbard.

Henry Hazlitt

A carreira de Henry Hazlitt como economista e jornalista se estende por mais de sete décadas. Um excelente professor de economia da liberdade, ele fez um trabalho teórico pioneiro e tornou as ideias da economia austríaca de livre mercado acessíveis a todos. Um dos economistas mais citáveis de todos os tempos, sua escrita brilha. E seu estilo claro e alegre– assim como seu compromisso com a liberdade – parece apenas se fortalecer com o passar dos anos.

Uma de suas principais realizações é o magistral Economia numa única lição, escrito em 1946. Este pequeno volume educou milhões (em oito idiomas diferentes) fornecendo uma compreensão do livre mercado e da economia austríaca. Ele destrói os argumentos dos socialistas e intervencionistas ao explicar a verdade. Embora tenha sido escrito há mais de 40 anos, ainda não há melhor maneira de começar a aprender a boa economia. Mas o livro é rejeitado pela maioria dos economistas. E não é de admirar. Se Hazlitt fosse seguido, os políticos intervencionistas e seus guarda-costas intelectuais no mundo acadêmico ficariam desempregados.

Como se não já fosse ruim o suficiente que ele tenha desafiado o establishment econômico, seu argumento hermético em favor do livre mercado é acessível ao leigo, e isso é um anátema para o establishment econômico. Folheie qualquer edição de uma das principais revistas de economia e você saberá por que o livro de Hazlitt é considerado herético. Não porque não faça sentido, mas porque faz; não porque não seja lógico, mas porque é; não porque não seja verdadeiro para a vida, mas porque é.

Ao traduzir o jargão deles para o português, vemos a maioria dos economistas começando com axiomas como “vamos supor que todo mundo sabe tudo” ou “ninguém sabe nada” ou “as pessoas nunca mudam de ideia” ou “todos os bens são idênticos”. Homens e mulheres são despojados de sua individualidade para caber em modelos mecanicistas de computador, e a economia é vista como estática ou, na melhor das hipóteses, como uma série de estados estáticos mutáveis, sem elaboração ou processo de mudança. As deduções de tais axiomas devem, é claro, ser falsas.

Hazlitt, como Mises, começa com a suposição de que os indivíduos agem, que o fazem com um propósito e que, conforme as condições mudam, seus planos mudam. Ele não faz separação entre “microeconômico” e “macroeconômico”, termos comumente usados para dar a impressão de que princípios e leis diferentes se aplicam a toda a economia do que os que se aplicam aos indivíduos. Assim, embora possa ser justificado falar sobre ação proposital, decisões à margem e avaliações subjetivas no nível individual, isso não é relevante para os macrogerentes do governo. Mas Hazlitt é um individualista metodológico e, portanto, reconhece que a economia deve ser analisada do ponto de vista da ação individual.

A maioria dos economistas são notórios em fornecer justificativas para as legislações que atendem interesses especiais, porque ignoram o que Hazlitt mapeia com tanta eloquência em Economia numa única lição: os efeitos invisíveis e de longo prazo da política governamental. Para Hazlitt, sendo um economista da escola austríaca, “a economia consiste em olhar não apenas para os efeitos imediatos, mas também para os efeitos mais duradouros de qualquer ato ou política; ela consiste em traçar as consequências dessa política não apenas para um grupo, mas para todos os grupos”.

A inflação da oferta monetária gerada pelo banco central, por exemplo, reduz as taxas de juros inicialmente, mas leva a taxas de juros mais altas e menor poder de compra no longo prazo, para não falar do ciclo econômico de expansão e recessão. A inflação pode beneficiar o governo e aqueles que recebem o novo dinheiro primeiro, mas prejudica todos os outros.

Embora fosse um estudioso formidável, Hazlitt não passou sua carreira em uma universidade. Ele era um jornalista ativo de quem H. L. Mencken disse certa vez: “Ele é um dos poucos economistas na história da humanidade que realmente sabe escrever”. Nascido em 1894, Hazlitt foi trabalhar em 1913 como repórter do Wall Street Journal. Ele também foi redator editorial do New York Times e colunista do Newsweek.

Quando era bem jovem, Hazlitt leu os economistas austríacos Carl Menger, Eugen von Böhm-Bawerk e Philip Wicksteed. Mas a principal influência sobre ele foi Ludwig von Mises. E em 1940 Hazlitt ajudou – com o falecido Lawrence Fertig – a arrecadar fundos para um emprego para Mises na New York University. Numa época em que todo marxista e historicista europeu de segunda categoria estava obtendo uma cátedra em Harvard ou Princeton, Mises foi rejeitado pelas universidades americanas por ser considerado “dogmático”, “intransigente” e “de direita”. Por fim, Hazlitt e Fertig conseguiram persuadir a NYU – onde Fertig era curador – a permitir que Mises lecionasse como professor visitante não remunerado.

Mises e Hazlitt tornaram-se amigos íntimos e mais tarde ele organizou a publicação dos livros de Mises: Omnipotent Government, Teoria e História, Burocracia e o monumental Ação Humana, pela Yale University Press.

Durante os anos de Hazlitt no New York Times, ele escreveu sobre os problemas que resultariam dos acordos monetários de Bretton Woods, elaborados por Keynes. (Seus perspicazes editoriais estão reunidos em From Bretton Woods to World Inflation [1983].) Bretton Woods, que os defensores do lado da oferta erroneamente olham para trás com nostalgia, garantiu – como previu Hazlitt – um mundo de inflação de papel-moeda. Também nos deu o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, ainda grandes financiadores do estatismo.

Como argumentou Hazlitt, apenas um verdadeiro padrão-ouro, com o dólar resgatável em ouro tanto no mercado interno quanto internacional, se qualifica como dinheiro sólido. E instituições como o FMI e o Banco Mundial só beneficiam governos e interesses bancários às custas do contribuinte americano e dos pobres de outros países.

Outra obra-prima de Hazlitt é O fracasso da “economia moderna (1959). Aqui Hazlitt produziu o que ninguém jamais tentou: uma refutação linha por linha da Teoria Geral de Keynes. O livro é uma fragmentação paciente e meticulosa das falácias, contradições e pensamentos confusos de Keynes.

Um homem renascentista na tradição de Mises, sua obra inclui 25 livros – sobre economia, filosofia, política, história – além de um romance e centenas de colunas e artigos persuasivos.

O sistema de Bretton Woods quebrou, é claro, como Hazlitt havia previsto. Mas quando, muitos anos antes, o editor do New York Times pediu-lhe que mudasse de posição e endossasse o falso padrão-ouro de Keynes, ele preferiu se demitir a fazê-lo. Esse ato de coragem e princípio exemplifica toda a sua vida.

W.H. Hutt

É possível para um estudante de economia fazer toda a pós-graduação sem ouvir o nome de William H. Hutt. No entanto, sua erudição, bravura e adesão obstinada à verdade econômica fazem dele um herói.

Hutt, agora professor visitante na Universidade de Dallas, trabalhou silenciosamente e com poucos elogios por mais de 60 anos. Ele é responsável por grandes avanços na teoria econômica, uma dúzia de livros e centenas de artigos. Entre suas obras mais importantes estão: Theory of Collective Bargaining (1930), Economists and the Public (1936), Economics of the Color Bar (1964), The Strike-Threat System (1973) e A Rehabilitation of Say’s Law (1975).

Nascido em 1899, Hutt formou-se na London School of Economics. Ele publicou seu primeiro grande artigo acadêmico em 1926, refutando a acusação de que a Revolução Industrial empobreceu os trabalhadores, quando, na verdade, elevou dramaticamente o padrão de vida deles. Ele passou a se tornar o grande defensor dos trabalhadores e opositor acadêmico de seu inimigo: os sindicatos.

Muitos livros foram escritos sobre sindicatos, geralmente de uma perspectiva esquerdista, mas nenhuma teoria abrangente de negociação coletiva jamais foi avançada. Hutt fez isso enquanto lecionava na Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul. Em seu The Theory of Collective Bargaining, que Ludwig von Mises chamou de “brilhante”, Hutt destruiu o mito ainda comum de que os interesses do trabalhador e da administração se chocam naturalmente, uma versão disfarçada da teoria da exploração de Karl Marx. Pelo contrário, disse Hutt, o livre mercado traz harmonia. Apenas a intervenção do governo – como por leis que favorecem os sindicatos contra empregadores e trabalhadores não sindicalizados – cria conflito.

Hutt também provou que a negociação coletiva e outras atividades sindicais reduzem os salários dos trabalhadores não sindicalizados e dos pobres. Ele mostrou como todos os países estariam muito melhor se as atividades sindicais endossadas pelo governo fossem proibidas.

Ao contrário dos “progressistas” e socialistas, Hutt reconheceu que a estrutura salarial igualitária da sindicalização é destrutiva. Pagar a todos o mesmo, independentemente da contribuição, destrói o incentivo para melhorar. Ele também é um oponente articulado da violência endêmica aos sindicatos, e tem mostrado que esta é necessariamente parte integrante de seu funcionamento.

Essas ideias, é claro, não ressoaram bem na década de 1930. Mas isso nunca impediu Hutt. Ele enfrentou outro ídolo estatista: J. M. Keynes. Enquanto Hazlitt lutava contra o keynesianismo nos Estados Unidos, Hutt fazia o mesmo no mundo britânico.

Economists and the Public foi publicado no mesmo ano que a Teoria Geral de Keynes, 1936. O livro de Hutt já estava sendo revisado quando o livro de Keynes apareceu, mas ele inseriu uma advertência sobre os perigos do keynesianismo. No livro, Hutt procurou explicar por que o obviamente superior mercado livre estava sob ataque e por que os economistas eram tão desprestigiados. O problema, afirmou, era que nem os economistas, nem o público compreendiam a natureza e o efeito da competição, e que somente a competição irrestrita protege o interesse geral contra o governo e seus interesses. Em “Uma entrevista com W. H. Hutt”, Hutt disse que longe de ser uma força destrutiva, a competição é o “único princípio de coordenação em um mundo complexo” e a maior libertadora dos pobres, uma classe que marxistas e keynesianos afirmam amar, mas conseguem apenas aumentar.

No final da década de 1930, Hutt também revelou seu conceito de “soberania do consumidor”, que influenciou Ludwig von Mises. No mercado livre, disse Hutt, os consumidores têm o direito de comprar ou não comprar e, portanto, os produtores desempenham um papel subserviente. O único caminho para o sucesso em um mercado livre é o produtor servir ao consumidor. Em uma economia estatista, os consumidores não têm voz, os produtores não sabem o que produzir e agradar aos políticos torna-se o caminho para a riqueza.

Em 1939, Hutt deu outro golpe no keynesianismo com a Theory of Idle Resources, que explodiu a teoria do desemprego de Keynes. Keynes havia entendido mal como os recursos econômicos são alocados. Hutt mostrou que um recurso como a mão de obra pode ficar ocioso apenas por meio da intervenção do governo, que eleva seu preço acima do que a comunidade pode pagar, à luz de outras demandas. É por isso que o salário mínimo e os sindicatos são tão destrutivos: eles inibem a flexibilidade no preço do trabalho. Com mercados de trabalho completamente livres (ou seja, sem intervenção governamental ou controle sindical), todo desemprego é voluntário. Talvez um trabalhador queira usar o tempo procurando outro emprego ou esteja esperando por um salário mais alto. Dizer que o desemprego em mercados de trabalho livres não é voluntário, Hutt mostrou conclusivamente, é dizer que todos os desejos humanos estão satisfeitos, ou seja, é negar que a escassez exista. Com essa observação, Hutt destruiu a lógica da macrogestão da política trabalhista e de qualquer programa governamental para “salvar empregos”.

Não satisfeito em atacar o keynesianismo, em 1964 Hutt escreveu a primeira crítica detalhada do apartheid racial da África do Sul em Economics of the Color Bar, criticando o socialismo pró-sindicato do governo sul-africano e o intervencionismo como uma abertura para o comunismo. A menos que o mercado fosse libertado da intervenção do Estado, ele mostrou, haveria derramamento de sangue e a destruição da liberdade para todos. Ele defendeu que os negros tivessem a chance de possuir seus próprios negócios e de procurar e manter qualquer emprego que fossem capazes de manter, sem discriminação do Estado.

Hutt mostrou que o apartheid econômico da África do Sul foi projetado em grande parte para proteger os membros sindicais brancos da competição negra. O mercado livre, disse ele, oferece a única esperança para as minorias e os desfavorecidos e para uma sociedade livre na África do Sul. Os controles do governo beneficiam apenas interesses especiais em busca de pilhagem.

The Economics of the Color Bar – que antecipou a análise de Walter Williams sobre raça e governo – é um triunfo da união de teoria e política. Isso é algo que a maioria dos economistas evita por considerar “não acadêmico”. Mas Hutt não esconde seu desejo de influenciar a opinião pública para o laissez-faire. Por isso, ele foi proibido de trabalhar na África do Sul.

Como escreveu Ludwig von Mises, W. H. Hutt “classifica-se entre os economistas mais destacados de nossa época”. O fato de ele não ser classificado como tal pelo mainstream mostra apenas as deficiências deste; isso em nada diminui suas magníficas realizações e coragem.

Murray N. Rothbard

Ludwig von Mises foi o maior economista e defensor da liberdade do século XX. Com erudição e paixão pela liberdade, seu legítimo herdeiro é Murray N. Rothbard.

Rothbard nasceu na cidade de Nova York em 1926. Ele recebeu seu Ph.D. pela Columbia University, e estudou por mais de 10 anos com Mises na New York University. No entanto, seu diploma foi adiado por anos e ele quase não o recebeu, devido à intervenção inédita de um docente.

A dissertação de Rothbard – O Pânico de 1819 – mostrou como o Banco dos Estados Unidos, ancestral do Federal Reserve, causou a primeira depressão americana. Isso ofendeu o professor Arthur Burns, mais tarde presidente do Federal Reserve sob Nixon, que ficou horrorizado com a posição antibanco central e pró-padrão-ouro de Rothbard.

Rothbard acabou obtendo seu Ph.D. e começou a escrever para o libertário Volker Fund em Nova York. Como seu grande professor Mises, as opiniões de Rothbard o impediram de conseguir um cargo de professor em uma grande universidade americana. Finalmente, ele foi contratado pela Brooklyn Polytechnic, uma escola de engenharia sem especialização em economia, onde seu departamento consistia em keynesianos e marxistas.

Ele trabalhou lá, em um escritório de porão escuro e sombrio, até 1986, quando – graças ao empresário de livre mercado S. J. Hall – lhe foi oferecido um distinto cargo de professor de economia na Universidade de Nevada, Las Vegas.

Mas essa falta de uma base acadêmica de prestígio não impediu Rothbard, assim como não fez com Hazlitt, Hutt ou Mises, de atingir um amplo público de estudiosos, estudantes e o público em geral. Rothbard é autor de centenas de artigos acadêmicos inovadores e 16 livros, incluindo Homem, Economia e Estado (1962), A grande depressão americana (1963), Poder e Mercado (1970), Por uma nova liberdade (1973), Conceived in Liberty (1976), A ética da liberdade (1982) e The Mystery of Banking (1983).

Em A grande depressão americana, uma história revisionista abalizada desse desastre econômico, Rothbard usa a teoria austríaca dos ciclos econômicos para mostrar que a inflação do Federal Reserve criou o boom dos anos 1920 e o colapso dos anos 1930. Ataques contínuos de Hoover e FDR ao mercado — na forma de leis de fechamento de fábricas, tributação, intervenção agrícola, controle de preços, etc. — impediram a liquidação de maus investimentos feitos durante o boom e prolongaram e aprofundaram a depressão. Este livro também contém a explicação mais clara e convincente da teoria austríaca dos ciclos econômicos para estudantes.

Tanto O Pânico de 1819 quanto A grande depressão americana usam ferramentas teóricas extraídas da grande tradição da economia austríaca, incluindo a teoria do desenvolvimento das instituições monetárias de Carl Menger, a teoria do capital de Eugen von Böhm-Bawerk e a teoria dos juros de preferência temporal, e a metodologia e a teoria dos ciclos econômicos de Mises. Rothbard resolveu vários problemas teóricos em cada um e os uniu para criar um modelo praxeológico formal. Ele conseguiu não apenas explicar as flutuações cíclicas causadas pela intervenção do banco central, mas também defender o padrão da moeda-ouro, ausência de banco central, reservas de 100% e laissez-faire.

Após a integração magistral de Rothbard, os economistas não podem mais considerar recessões e depressões como uma parte “inevitável” da economia de mercado. Em vez disso, é claro, elas são causadas pela inflação do banco central e a correspondente distorção das taxas de juros, mau investimento de capital, roubo de poupança e aumentos de preços que a acompanham. O governo, do qual o banco central é apenas um braço, é a verdadeira fonte dos ciclos econômicos.

Embora ainda seja praticado quase universalmente na organização industrial neoclássica e na teoria dos preços, Rothbard refutou a falácia de separar os preços monopolísticos dos preços competitivos. A distinção entre os dois só existe no mundo dos modelos neoclássicos de precificação, onde os empresários cobram preços cada vez mais altos na parte inelástica da curva de demanda dos consumidores. Mas esses modelos estáticos nada têm a ver com o processo dinâmico do mercado. Rothbard mostrou que uma economia livre tem apenas um tipo de preço: o preço de livre mercado, destruindo assim toda a justificativa neoclássica e keynesiana da política antitruste. Os monopólios existem, mostra Rothbard, mas apenas quando o governo ergue uma barreira à entrada no mercado, concedendo a alguma empresa ou indústria um privilégio especial. Os verdadeiros monopólios são os admitidos como os Correios, os de certa forma obscuros como as empresas de energia elétrica e, pior de tudo, o menos questionado, o Banco Central.

Em 1956, Rothbard fez o primeiro avanço formidável no campo da utilidade e bem-estar desde a revolução marginalista na década de 1870 com seu artigo “Reconstruindo a Economia de Bem-estar e de Utilidade”. Com base no trabalho de Menger, ele mostrou que a utilidade é algo que podemos saber apenas observando as preferências individuais reveladas pela ação humana. A utilidade, um conceito estritamente ordinal e subjetivo, não pode ser agregada e, portanto, não pode haver utilidade total. Esse insight remove o fundamento da teoria mais moderna de utilidade e bem-estar social, que, embora disfarçada, geralmente se baseia em comparações interpessoais de utilidade subjetiva.

O avanço de Rothbard não afeta apenas a teoria pura da utilidade e do bem-estar, mas também as políticas tantas vezes justificadas pelos modelos neoclássicos de bem-estar: redistribuição da riqueza, tributação progressiva e planejamento do Estado. Quando os indivíduos são livres para negociar e demonstrar suas preferências subjetivas sem interferência do governo, cada parte espera se beneficiar da troca, caso contrário, não trocaria em primeiro lugar. Rothbard deduz assim que os mercados livres maximizam a utilidade e o bem-estar, enquanto a intervenção do governo, pelo próprio fato de forçar as pessoas a se comportarem de maneiras que de outra forma não fariam, não pode fazer nada além de diminuir a utilidade e o bem-estar.

Foi essa base que permitiu a Rothbard integrar uma teoria rigorosa dos direitos de propriedade com uma teoria científica da economia. Hoje, outros dentro da escola de Chicago estão tentando fazer o mesmo por meio de estudos sobre direitos, ética e os meios para otimizar a utilidade. Mas até que aceitem a teoria da utilidade e bem-estar ensinada por Rothbard e fundamentem sua análise na pura lógica da ação, não terão sucesso.

Em sua grande obra Homem, Economia e Estado, Rothbard faz uma defesa rigorosa da ciência econômica. É um tratado que cobre todo o assunto e é a última magnum opus. Nela, de forma clara e lógica, Rothbard deduz toda a economia a partir de seus primeiros princípios. É um tour-de-force sem igual na economia moderna.

Em seu livro Poder e Mercado, originalmente parte de Homem, Economia e Estado, ele desenvolve uma crítica abrangente da coerção do governo. Ele desenvolveu três categorias úteis de intervenção: autística, binária e triangular. A intervenção autística impede que uma pessoa exerça controle sobre sua própria pessoa ou propriedade, como no caso de homicídio ou violação da liberdade de expressão. A intervenção binária força uma troca entre duas partes, como em assaltante de rua ou o imposto de renda. Finalmente, há a triangular, em que o governo obriga duas pessoas a fazer uma troca ou proíbe de fazê-la, como no controle de aluguéis ou salários mínimos. Ele delineia cuidadosamente os maus efeitos de todas as possíveis intervenções na economia, refuta as objeções morais ao mercado e desenvolve a primeira e única crítica praxeológica de todos os tipos de tributação, mostrando que os impostos nunca são neutros.

Rothbard também inovou ao atacar as estatísticas do governo. Como o governo carece do conhecimento gerado pelo mercado, ele deve coletar milhões de estatísticas para planejar a economia, o que obviamente não consegue fazer. Entre as estatísticas menos favoritas de Rothbard está o “déficit comercial”, que só é considerado um problema porque o governo mantém os números. Graças a Deus, ele observou, que as estatísticas comerciais não são mantidas em Manhattan e no Brooklyn. “Caso contrário, ouviríamos gritos de políticos do Brooklyn sobre o perigoso déficit comercial com Manhattan.”

Outra estatística de que ele não gosta é o PIB. Este número contabiliza os pagamentos da previdência e todos os outros gastos do governo como “produtividade”. Sua própria alternativa, o PPR ou do Produto Privado Remanescente (para produtores), mostra uma imagem muito mais clara ao subtrair os gastos do governo da economia. Ele também – com o professor Joseph Salerno – construiu uma alternativa austríaca para as estatísticas de oferta monetária do Federal Reserve, que são construídas sem levar em conta a consistência teórica.

Ele não é apenas um economista brilhante, mas também um mestre da história política narrativa, como mostra sua história colonial dos Estados Unidos em quatro volumes, Conceived in Liberty; e um grande filósofo da tradição individualista, como demonstra A ética da liberdade. Seu projeto atual é uma história massiva do pensamento econômico de uma perspectiva austríaca, encomendado pelo consultor de investimentos e economista austríaco Professor Mark Skousen, que cobre dos gregos antigos até o presente. A julgar pelos capítulos divulgados até agora, este será o maior estudo desse tipo já escrito.

Rothbard é um escritor de poder singular, cujas palavras brilham bastante na página. Como Mises, ele inspirou milhões com sua visão da sociedade livre. No mundo acadêmico, onde a devoção aos princípios é tão popular quanto em Washington, ele carregou a tocha do puro misesianismo.

 

Três gigantes

Como Mises, esses três gigantes exibem habilidade extraordinária, coragem, gentileza pessoal e uma adesão inflexível aos princípios. Em uma época em que obter partes da pilhagem é a norma entre os políticos – governamentais e acadêmicos – Hazlitt, Hutt e Rothbard ergueram bem alto a bandeira da verdade e da liberdade. Eles enfrentaram imensa pressão para retrocederem, mas nunca titubearam. Hoje eles continuam trabalhando para estender a erudição da liberdade. Apesar das barreiras que enfrentaram no passado, hoje a influência deles está se espalhando. E continuará a se espalhar. Em sua luta pela liberdade e pelo livre mercado, eles têm um trunfo que o outro lado não consegue igualar: a verdade.

 

_____________________

Uma versão anterior deste artigo apareceu na Conservative Digest.

 

Bibliografia selecionada

Henry Hazlitt

Economics in One Lesson. New Rochelle, N.Y.: 1946. Reprint. Arlington House, 1979.

The Failure of the “New Economics.” Princeton: Van Nostrand, 1959. Reprint. Lanham, Md.: University Press of America, 1983.

The Critics of Keynesian Economics. Princeton: Van Nostrand, 1960. Reprint. Lanham, Md.: University Press of America, 1983.

Time Will Run Back. New Rochelle, N.Y.: Arlington House, 1966. Reprint. Lanham, Md.: University Press of America, 1986.

Man vs. Welfare State. New Rochelle, N.Y.: Arlington House, 1969.

The Foundations of Morality. Princeton: Van Nostrand, 1969.

The Conquest of Poverty. New Rochelle, N.Y.: Arlington House, 1973.

The Inflation Crisis, and How to Resolve It. New Rochelle, N.Y.: Arlington House, 1978.

From Bretton Woods to World Inflation. Chicago: Regnery Gateway, 1983.

William H. Hutt

The Theory of Collective Bargaining. Washington, D.C.: Cato Institute, [1930] 1977.

Economists and the Public. London: Jonathan Cape, 1939.

The Theory of Idle of Resources. London: Jonathan Cape, 1939.

Plan for Reconstruction. London: Kegan Paul, 1943.

Keynesianism: Retrospect and Prospect. Chicago: Regnery, 1963.

The Economics of the Colour Bar. London: Deutsch, 1964.

Politically Impossible …? London: Institute of Economic Affairs, 1971.

The Strike-Threat System. New Rochelle, N.Y.: Arlington House, 1973.

A Rehabilitation of Say’s Law. Athens, Ohio: Ohio University Press, 1975.

The Keynesian Episode: A Reassessment. Indianapolis, Ind.: Liberty Press, 1979.

“The Factory System of the Early Nineteenth Century.” Economica (March 1926).

“The Concept of Consumers’ Sovereignty.” Economic Journal (March 1940).

“The Yield on Money Held.” In On Freedom and Free Enterprise, edited by Mary Sennholz, Princeton: Van Nostrand, 1956.

“Every Man A Capitalist.” Policy Review, 1982.

“An Interview with W. H. Hutt.” In An Economist for the Long Run, edited by Morgan Reynolds. Chicago: Regnery Gateway, 1986.

Murray N. Rothbard

The Panic of 1819. New York: Columbia University Press, 1962.

Man, Economy, and State: A Treatise on Economic Principles. 2 vols. Los Angeles: Nash Publishing, [1962] 1979.

Power and Market. Menlo Park, Calif.: Institute for Humane Studies, 1970.

America’s Great Depression. Kansas City, Kans.: Sheed and Ward, 1963. Reprint. New York: Richardson and Snyder, 1983.

The Essential Ludwig von Mises. South Holland, 111.: Libertarian Press, 1973. Reprint. Washington, D.C.: Ludwig von Mises Institute, 1983.

The Mystery of Banking. New York: Richardson and Snyder, 1983.

What Has Government Done to Our Money? Larkspur, Colo.: Pine Tree Press, 1964.

Conceived in Liberty. 4 vols. New Rochelle, N.Y.: Arlington House, 1975, 1975, 1976, 1979 respectively.

For a New Liberty. New York: Macmillan, 1973.

The Ethics of Liberty. Atlantic Highlands, N.J.: Humanities Press, 1982.

Ludwig von Mises: Scholar, Creator, Hero. Auburn, Ala.: The Ludwig von Mises Institute, 1988.

“Toward a Reconstruction of Utility and Welfare Economics.” In On Freedom and Free Enterprise, edited by Mary Sennholz. Princeton: Van Nostrand, 1956.

“In Defense of ‘Extreme Apriorism.’” Southern Economic Journal 23, no. 3 (January 1957).

“The Case for a 100 Percent Gold Dollar.” In In Search of a Monetary Constitution, edited by Leland B. Yeager. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1962.

“Praxeology, Value Judgments, and Public Policy.” In The Foundations of Modern Austrian Economics, edited by Edwin G. Dolan. Kansas City, Kans.: Sheed and Ward, 1976.

“New Light on the Prehistory of the Austrian School.” In The Foundations of Modern Austrian Economics, edited by Edwin G. Dolan. Kansas City, Kans.: Sheed and Ward, 1976.

“The Austrian Theory of Money.” In The Foundations of Modern Austrian Economics, edited by Edwin G. Dolan. Kansas City, Kans.: Sheed and Ward, 1976.

“Law, Property Rights, and Air Pollution.” Cato Journal (Spring 1982).

“The Laissez-Faire Radical: A Quest for the Historical Mises.” Journal of Libertarian Studies 5, no. 3 (Summer 1981).

“The Federal Reserve as a Cartelization Device.” In Money in Crisis, edited by Barry Siegel. San Francisco: Pacific Institute for Public Policy Research, 1984.

“The Case for a Genuine Gold Dollar.” In The Gold Standard: An Austrian Perspective, edited by Llewellyn H. Rockwell, Jr. Lexington, Mass.: Lexington Books, 1985.

“The Origins of the Federal Reserve.” In Central Banking and the Federal Reserve, edited by Llewellyn H. Rockwell, Jr. Auburn, Ala.: The Ludwig von Mises Institute, forthcoming.

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui