Por que todos deveriam ser a favor de se diminuir impostos para os “ricos”

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A redistribuição de renda é um tema constantemente propagado por políticos e intelectuais de praticamente todos os países do mundo. Essas figuras creem ardorosamente que tal política é o caminho certeiro para a prosperidade e igualdade — como se ambas pudessem coexistir naturalmente.

As várias propostas feitas por redistribucionistas de todas as estirpes devem ser respondidas em termos de análises econômicas fundamentadas, análises que sejam claras e poderosas o suficiente para mostrar, como o título desse artigo declara, “Por que todos deveriam ser a favor de se diminuir impostos para os ‘ricos'”. O entendimento da seguinte argumentação deverá servir como resposta completa e suficiente para quaisquer propostas que envolvam o aumento de impostos para fins de redistribuição de renda.

I

O imposto de renda de pessoa física e suas alíquotas progressivas, o imposto de renda de pessoa jurídica, o imposto sobre heranças e o imposto sobre ganhos de capital são todos pagos com fundos que de outra forma teriam sido poupados e investidos. Todos esses impostos reduzem a demanda das empresas por mão-de-obra — em relação à demanda que haveria sem os impostos — e, consequentemente, reduzem ou os salários ou o volume de emprego que essas empresas podem oferecer, uma vez que os impostos destituem as empresas dos fundos com os quais pagariam esses salários.

Similarmente, os impostos destituem as empresas dos fundos com os quais comprariam bens de capital. Esse fato, juntamente com a grande despesa governamental com bens de consumo — despesa essa financiada pelo dinheiro dos impostos arrecadados —, faz com que a produção de bens de capital caia em relação à produção de bens de consumo. E isso implica a redução do grau de intensividade de capital do sistema econômico, o que faz diminuir a capacidade de se obter avanços tecnológicos. O imposto de renda de pessoa física e jurídica, bem como o de ganhos de capital, também reduz poderosamente o incentivo para se introduzir novos produtos e aprimorar os métodos de produção. De todas as formas, esses impostos solapam a acumulação de capital e o aumento na produtividade do trabalho, o que trava aumentos salariais e consequentemente o padrão de vida de todos — e não apenas daqueles sobre quem os impostos recaem.

Dois grandes obstáculos dificultam às pessoas reconhecerem o fato de que todos se beneficiariam com uma redução, ou, melhor ainda, com a completa abolição de todos esses impostos sobre as pessoas consideradas ricas — abolições essas que, obviamente, só seriam possíveis se houvessem reduções equivalentes nos gastos do governo. O primeiro obstáculo é simplesmente o enorme desconhecimento sobre economia, especialmente sobre o beneficio geral advindo da propriedade privada dos meios de produção. As pessoas não absorveram a profunda constatação feita por Mises de que, em uma economia de mercado, para que uma pessoa se beneficie dos meios privados de produção ela não precisa ser a dona desses meios de produção. Isso ocorre porque uma pessoa se beneficia dos meios de produção de outras pessoas — toda vez que ela comprar os produtos oriundos daqueles meios de produção.

E uma pessoa se beneficia dos meios de produção de outras pessoas não apenas na condição de compradora dos produtos, mas também na de vendedora de mão-de-obra. Os meios de produção de terceiros — isto é, o capital deles — representam a fonte tanto da oferta de bens que essa pessoa compra quanto da demanda por mão-de-obra que essa pessoa vende. Quanto maior for a acumulação de capital de terceiros, mais abundantes e mais baratos serão os produtos disponíveis para essa pessoa comprar no mercado e maior será a demanda pela mão-de-obra que essa pessoa poderá vender no mercado — consequentemente, maiores serão os salários aos quais essa pessoa poderá vender sua mão-de-obra. Um capital abundante e crescente nas mãos dos ofertantes de bens e potenciais empregadores é a base de uma economia com preços baixos e descendentes e com salários altos e ascendentes.

Em contraste, a visão dos redistribucionistas, fundada na mais completa e abissal ignorância, defende que a única riqueza da qual um indivíduo pode se beneficiar é a dele própria. Na verdade, essa visão não era desarrazoada na época anterior à ascensão do capitalismo e sua economia de mercado. Até então, as únicas pessoas que poderiam de fato se beneficiar de um pedaço de terra, de um celeiro ou de um arado eram as famílias que os possuíssem e que, com isso, os utilizariam unicamente para produzir o próprio consumo. É essa a visão que os redistribucionistas continuam seguindo até hoje, séculos após ela ter perdido sua aplicabilidade. Eles ainda não acordaram para o mundo moderno. E é sobre esses pressupostos que eles defendem a redistribuição de riqueza. Segundo eles, a redistribuição de riqueza é supostamente necessária para permitir que um indivíduo que não seja dono da riqueza atualmente pertencente a outras pessoas possa se beneficiar dessa riqueza. Somente quando essa riqueza for transferida para ele é que ele poderá se beneficiar dela, garantem os redistribucionistas. É esse o tipo de “benesse” que eles defendem: tirar fundos daqueles que foram mais prodigiosos em acumular capital — um capital que iria beneficiar a todos — e distribuir esses fundos para que outros o consumam. Satisfazer os desejos dos pobres através do consumo de capital é a fórmula redistribucionista para a prosperidade.

O segundo obstáculo que impede as pessoas de reconhecerem que todos se beneficiam de cortes de impostos para os ricos é algo que está intimamente relacionado ao redistribucionismo: os hábitos coletivistas inspirados pelo marxismo e por sua doutrina da classe social. O que quero dizer com isso é que, quando se trata de assuntos econômicos, a maioria das pessoas tende a pensar nelas próprias como membros da classe assalariada, e não como assalariados individualmente distintos. Mais ainda: elas pensam que seus interesses são indistinguíveis dos interesses dos outros assalariados.

Assim, um indivíduo assalariado sabe que, se os seus impostos fossem reduzidos em uma determinada quantia, ele certamente estaria melhor assim do que se fossem os impostos de um milionário ou de alguma grande corporação a serem reduzidos na mesma quantia. No que tange a apenas ele próprio, sua convicção está absolutamente correta. Eu, por exemplo, ficaria em uma situação muito melhor se os meus impostos fossem reduzidos em, digamos, mil dólares por ano do que se os impostos de algum John D. Rockefeller contemporâneo ou os impostos da General Motors fossem reduzidos nos mesmos mil dólares por ano. Mas o erro de raciocínio ocorre quando essas situações individuais são generalizadas. O que é verdadeiro para o cenário em que se compara o efeito de uma redução em meu imposto com uma redução de igual valor nos impostos de empresários e capitalistas — os “ricos” — passa a não valer quando comparo os efeitos trazidos por uma redução nos impostos dos outros assalariados com uma redução de igual valor nos impostos de empresários e capitalistas.

Por exemplo, ao ponderarmos se são os impostos de empresários e capitalistas que deveriam ser reduzidos por uma larga soma, como por exemplo $100 bilhões, ou se são os impostos dos assalariados que deveriam ser reduzidos nessa mesma quantia, quase todo mundo erroneamente irá supor que seria melhor para o indivíduo assalariado que a redução de impostos se desse para a sua classe, e não para os empresários e capitalistas. É como se todos os assalariados compartilhassem da mesma luta de classe contra todos os capitalistas. Isso, entretanto, é uma falácia que se torna aparente logo que se analisa objetivamente a situação a partir da perspectiva do assalariado individual. E é aí que se torna claro que há muito mais em jogo do que o simples dilema sobre quem deveria ser agraciado com a redução de impostos. Por exemplo, embora certamente seja verdade que eu iria ganhar mais se os meus impostos, e não os de um Henry Ford ou de um Bill Gates, fossem cortados em $1.000, é totalmente falso crer que eu ganharia mais se esse mesmo corte ocorresse nos impostos de cada um dos meus colegas assalariados, e não com os impostos de Ford e Gates.

Nesse dilema — se é melhor haver uma redução de $100 bilhões nos impostos dos capitalistas e empresários ou nos impostos dos assalariados — há dois quesitos que representam elementos distintos dessa questão. Primeiro há a questão do benefício para um assalariado individual: será melhor para ele se os seus impostos forem cortados em $1.000 ou se os impostos de qualquer capitalista ou empresário for cortado em $1.000? Já sabemos a resposta para essa questão: é do interesse maior do indivíduo assalariado que os seus impostos sejam cortados. Mas então vem a segunda questão. Após o corte de $1.000 em seus impostos — e dado que o corte total deve ser de $100 bilhões — qual dessas seguintes opções seria a melhor para o indivíduo assalariado: uma redução nos impostos dos empresários e capitalistas no valor sobrante de $99.999.999.000, ou uma redução nos impostos dos outros assalariados que não ele no mesmo valor sobrante — isto é, 99.999.999 outros indivíduos como ele, mas não ele, sendo agraciados com uma redução tributária de $1.000?

Em outras palavras, deixe de lado essa questão sobre cortes de $1.000 nos impostos do indivíduo assalariado versus cortes de $1.000 nos impostos de empresários e capitalistas. Considere apenas os efeitos, para esse assalariado, de um corte de impostos para todos os outros assalariados do país, menos ele, na quantia total de $99.999.999.000 versus um corte equivalente nos impostos dos empresários e capitalistas — todos os Henry Fords e Bill Gates do país. Um corte de mais de $99 bilhões nos impostos de todos os outros assalariados certamente melhorará a situação de cada um deles. Mas qual será o efeito disso sobre o nosso assalariado em questão? Até que ponto seus companheiros assalariados irão poupar e investir essa quantia liberada dos impostos de forma a aumentar a demanda pela mão-de-obra do nosso assalariado? Até que ponto seus companheiros assalariados irão aumentar a demanda por bens de capital e aperfeiçoar a taxa de inovação empresarial de forma a aumentar a quantidade e a qualidade dos produtos que ele compra, aumentando assim o poder de compra do seu salário?

É óbvio que um assalariado se beneficia muito mais de reduções nos impostos dos empresários e capitalistas — os “ricos” — do que de reduções equivalentes nos impostos de seus colegas assalariados. E isso é válido para todo e qualquer assalariado. Uma redução nos impostos dos empresários e capitalistas irá promover a acumulação de capital em um grau muito maior do que faria uma redução de impostos para a massa de assalariados colegas do nosso assalariado em questão. O empresário e capitalista típico irá poupar e investir os impostos que ele não mais tem de pagar, e ele fará isso em uma proporção muito maior do que fariam os assalariados comuns. Ele será levado a introduzir mais melhorias nos produtos e nos métodos de produção, o que também leva a uma grande acumulação de capital. E esse é um processo em que os assalariados — na estrita condição de assalariados — têm um papel pequeno ou nulo. (Isso não quer dizer que os assalariados nunca são responsáveis por inovações. Eles frequentemente são. Mas logo que eles passam a ser, eles se tornam empreendedores. Basicamente, é sempre a perspectiva de altos lucros o que estimula as inovações — e não o simples ganho de altos salários. É a perspectiva de lucros altos que faz com que os empregadores ofereçam incentivos aos assalariados para que estes criem inovações). E é a maior poupança dos empresários e capitalistas que irá promover a inovação, uma vez que ela torna o sistema econômico mais intensivo em capital. Desta forma, o assalariado individual tem muito mais a ganhar com uma redução de impostos para empresários e capitalistas do que para seus companheiros.

Os ganhos advindos desse arranjo são tão substanciais que eles certamente sobrepujam o fato de que, para se tê-los, você perde o benefício de ter os próprios impostos reduzidos em uma soma de $1.000 por ano. Isso significa que os ganhos para um assalariado individual que tenha seus impostos cortados em $1.000 por ano são muito menores do que os ganhos que ele terá se os impostos dos empresários e capitalistas forem cortados em uma quantia imensamente maior, tipo $100 bilhões por ano — isto é, uma quantia que iguala os potenciais $1.000 de cortes de impostos de todos os milhões de outros assalariados do sistema econômico; cortes esses que, nas mãos dos companheiros assalariados, seriam de pouca ou nenhuma valia para ele.

Como mostrei, o assalariado individual ganha com o corte de impostos para empresários e capitalistas em parte porque o efeito desse corte é o de aumentar intensamente a poupança, o que consequentemente gera um aumento na demanda por mão-de-obra, o que por sua vez pode aumentar significantemente os salários. (Mesmo que o efeito não seja o de aumentar os salários, mas, sim, o de aumentar a demanda por mão-de-obra — reduzindo ou eliminando o desemprego —, isso também levaria a um aumento dos fundos disponíveis para o assalariado comum, uma vez que ele teria menos gastos com o pagamento de auxílios aos desempregados). Mas ainda mais importante, o efeito de um corte de impostos para empresários e capitalistas, ao invés de para assalariados, será o de aumentar substancialmente a demanda por bens de capital em relação a bens de consumo, além de aumentar substancialmente a taxa de inovação, incluindo a possibilidade de permitir que empresas recém-criadas cresçam rapidamente, desafiando as mais antigas e consagradas.

O efeito dessa combinação seria o de gerar uma contínua acumulação de capital e consequentemente um contínuo aumento da produtividade da mão-de-obra. E, por sua vez, o efeito disso seria um crescimento contínuo na oferta de bens de consumo em relação à oferta de mão-de-obra. Os preços dos bens de consumo seriam progressivamente menor em relação aos salários, o que significa salários reais progressivamente maiores. Desta forma, em poucos anos o assalariado individual estará muito acima de onde estaria caso o corte de impostos se desse apenas para ele.

Uma medida que comece com cortes de impostos para os “ricos” — e com reduções equivalentes nos gastos governamentais — é a única esperança para se reiniciar efetivamente um progresso econômico significante, evitando-se o retrocesso e o crescente empobrecimento. Por causa disso, essa medida é o mais rápido e garantido caminho para qualquer grande redução da carga tributária incidente sobre o assalariado médio. Ela dá a esperança de que o assalariado médio possa dobrar seu padrão de vida em até menos de uma geração. O padrão médio de vida poderia dobrar em uma única geração se o progresso econômico a uma taxa de apenas 3% ao ano pudesse ser mantido. Tal progresso econômico também significaria uma redução à metade da carga tributária incidente sobre o assalariado médio nesse mesmo período de tempo — isso ocorreria apenas se os gastos governamentais per capita em termos reais fossem congelados, pois assim o assalariado dobraria sua renda real, e a utilizaria para pagar um nível de impostos igual ao atual. E então, é claro, uma vez que todos os impostos que impedem a acumulação de capital e o progresso econômico tenham sido eliminados, reduções adicionais nos gastos governamentais e na carga tributária poderiam e deveriam ser adotadas. Isso corresponderia a um benefício direto para os assalariados, pois seriam reduções diretas dos impostos pagos por eles.

Ironicamente, um aspecto dessa abordagem existe — dentre todos os lugares — justamente na Suécia! O que permite que a Suécia tenha uma das mais altas cargas tributárias do mundo e, ao mesmo tempo, se mantenha como um país moderno, com avanços moderados, é o fato de que a carga tributária na Suécia recai mais pesadamente no assalariado sueco médio, e não nas empresas suecas, cuja carga tributária é na realidade menor do que a das empresas de muitos outros países ocidentais. (Por exemplo, quando consideramos o fato de que as empresas suecas podem deduzir 50 por cento de seus lucros para reinvesti-los no futuro, o que os torna uma reserva isenta de impostos, o imposto de renda de pessoa jurídica efetivo se torna menor na Suécia do que nos EUA: 26 por cento versus 35 por cento). Se as empresas suecas tivessem de arcar com a mesma carga tributária que incide nos assalariados suecos, a economia sueca há muito já estaria em ruínas.

Isso certamente não significa que estou argumentando a favor de uma tributação dos assalariados em um nível comparável à tributação dos assalariados suecos, ou por qualquer aumento de impostos em geral. Estou apenas argumentando em favor de reduções nos gastos governamentais o suficiente tanto para eliminar o déficit orçamentário quanto para tornar possível cortes substanciais nos impostos incidentes sobre empresários e capitalistas, os “ricos”. Estou argumentando que, assim que o progresso econômico resultante começar a aumentar as receitas reais do governo, cortes adicionais de impostos poderiam ocorrer, a fim de acelerar ainda mais o progresso econômico. Estou argumentando em favor de, primeiramente, conseguirmos a eliminação total do imposto sobre heranças, do imposto sobre ganhos de capital, do imposto de renda de pessoa jurídica, e da parte progressiva do imposto de renda de pessoa física, todos juntos. E então, uma vez que isso tenha sido atingido, deve haver uma redução contínua no que restou do imposto de renda de pessoa física, até que este seja totalmente eliminado. O mecanismo essencial para se obter esses resultados seria através de uma combinação entre progresso econômico e redução contínua nos gastos governamentais. Essa é a maneira de se reduzir radicalmente os impostos de todo mundo. É a única maneira.

II

Deve-se deixar claro que reduzir impostos sem uma equivalente redução nos gastos governamentais impossibilita a formação de capital e de poupança. (Aliás, não só impossibilita, como de fato as enfraquece ainda mais, mesmo que os fundos não tributados já tenham sido majoritariamente poupados). Pois, nesse caso, o governo terá de substituir o dinheiro que não foi obtido via impostos por dinheiro emprestado. E cada unidade monetária que o governo pega emprestado é uma unidade a menos da poupança disponível para o resto do sistema econômico. Assim, mesmo que um corte de impostos de $1 resulte em uma poupança adicional de $0,90, ainda houve uma significativa redução líquida da oferta de poupança disponível para o resto do sistema econômico. Nesse exemplo, embora uma redução de impostos tenha gerado $0,90 de poupança adicional, o empréstimo obtido pelo governo faz com que haja $1 a menos de poupança disponível para negócios e consumidores. Assim, por causa do aumento do déficit orçamentário do governo, que por isso teve de obter empréstimos, houve uma redução líquida de $0,10 na poupança disponível para cada $1 de corte de impostos.

Por isso, cortes de impostos com o intuito de estimular a poupança e a formação de capital, mas que são financiados por meio de empréstimos (aumento do déficit), são simplesmente contrários ao seu intuito. E esse fato permanece se, ao invés de serem financiados via empréstimos, os déficits resultantes sejam financiados pela simples criação de dinheiro. Nesse caso, todos os efeitos destruidores que a inflação tem sobre a formação de capital entram em cena.

De maneira similar, equilibrar o orçamento através de aumentos de impostos será algo destrutivo à poupança e à formação de capital caso esses impostos adicionais recaiam sobre a poupança e sobre os gastos produtivos das empresas — no caso, gastos com mão-de-obra e com bens de capital. Ironicamente, são justamente os impostos que recaem pesadamente sobre a poupança e sobre os gastos produtivos que os defensores do equilíbrio orçamentário via aumento de impostos favorecem. Isso porque os impostos que eles desejam aumentar são exatamente aqueles que recaem sobre as corporações e sobre os “ricos”.

A única maneira de esses defensores do equilíbrio orçamentário via aumento de impostos agirem consistentemente com a meta de aumentar a formação de capital seria através de um aumento de impostos exatamente sobre as mesmas pessoas que eles alegam estarem protegendo: os pobres e a massa de assalariados, que poupam relativamente pouco. Com efeito, a única maneira de se possibilitar uma maior poupança e uma maior formação de capital, na ausência de cortes nos gastos do governo, seria não só através de aumentos de impostos sobre os assalariados até o ponto em que o orçamento esteja equilibrado, mas também através de aumentos adicionais desses impostos, de modo a compensar a diminuição dos impostos que incidem especificamente sobre a poupança e sobre os gastos produtivos. Na essência, se uma pessoa defende maiores poupança e formação de capital, e no entanto se recusa a defender reduções nos gastos governamentais, então essa pessoa está logicamente obrigada a defender aumentos de impostos sobre assalariados e sobre os “pobres” a fim de equilibrar o orçamento e de compensar as necessárias reduções havidas nos impostos sobre os lucros, sobre os juros e sobre os “ricos”.

Mas não há absolutamente razão alguma para propugnar essa política evidentemente fascista. (Como já mostrei, tal política foi aplicada na Suécia, o país-modelo dos nossos “social-democratas”). Ao invés de colocarmos um grupo se sacrificando pelo o benefício de outro, a solução óbvia e simples seria reduzir acentuadamente todo o sacrifício atual — a saber, reduzir acentuadamente e ao final eliminar completamente as pilhagens feitas pelos grupos de interesse e os gastos governamentais que as financiam através do sacrifício de todos. (A suprema e genuinamente progressista meta de longo prazo seria a eliminação de virtualmente todos os gastos governamentais exceto aqueles direcionados para a defesa contra criminosos comuns e contra governos estrangeiros agressores. A primeira é a função da polícia controlada pelos governos estaduais e locais; a segunda é a função de defesa nacional exercida pelo governo federal).

Essa análise deixa claro que a falha essencial da chamada ‘economia do lado da oferta’ (supply-side economics) — a política das administrações Reagan e George W. Bush — foi a incapacidade de aceitar a necessidade de se reduzir os gastos governamentais. Embora a política de redução de impostos de ambas as administrações tenha sido perfeitamente correta, a maior parte dos potenciais benefícios dos cortes de impostos foi perdida por causa do correspondente alargamento dos déficits orçamentários do governo federal. Lamentavelmente, ambas as administrações e seus defensores não tiveram a coragem requerida para abolir programas de gastos governamentais de forma a fazer com que os cortes de impostos não gerassem déficits.

Essa inapetência explica por que a grande massa de americanos não se beneficiou como deveria com os cortes de impostos. A explicação é que, não tendo havido reduções equivalentes nos gastos governamentais, os cortes de impostos não se transformaram em aumentos na formação de capital, mas sim em seu oposto. Ao invés de haver mais demanda das empresas por mão-de-obra e por bens de capital, houve menos; ao invés de um progresso econômico mais rápido e de salários reais crescentes, houve estagnação econômica — quando não um declínio aberto —, assim como salários reais estagnados ou em queda.

Outras intervenções governamentais que estão em constante crescimento, principalmente na forma de legislações ambientais, também atuam contra a acumulação de capital ao requererem o uso cada vez maior dele para se obter os mesmos resultados de antes — como, por exemplo, ao exigirem que postos de gasolina, lavanderias e numerosos outros negócios incorram em custosos gastos de capital em prol da proteção ambiental e em detrimento da produção de bens e serviços.

Ademais, a acumulação de capital tem sido enormemente solapada pelas políticas de expansão de crédito e de inflação da base monetária adotadas pelo Banco Central. Na última década, essas políticas foram responsáveis primeiro pela bolha do mercado de ações e depois pela bolha imobiliária. Em ambos os casos, vastas somas de capital foram desperdiçadas em investimentos errôneos e destruídas em consumos excessivos que se baseavam em falsas ilusões de prosperidade. Assim, durante a bolha imobiliária, por exemplo, não somente a indústria da construção civil e a indústria de materiais de construção se sobre-expandiram enormemente, bem como um grande número de casas que não deveriam ter sido construídas acabaram sendo, como também milhões de proprietários de imóveis aumentaram enormemente seu consumo levados unicamente pela crença de que haveria um aumento eterno nos preços de seus imóveis, o que lhes permitiria refinanciar eternamente suas hipotecas. A questão é que esse aumento de preços era induzido unicamente pela inflação monetária e pela expansão do crédito. No final da década de 1990, esse mesmo tipo de sobreconsumo foi a base de uma inflação dos preços das ações da NASDAQ; e maus investimentos similares ocorreram em outras indústrias, tais como as de telecomunicações.

Finalmente, deve ser mencionado que a inflação e a expansão creditícia feitas pelo Banco Central foram responsáveis também pelo crescimento enorme e artificial da desigualdade de renda desde meados de 1990, assim como foram durante a década de 1920. Essa desigualdade não se deu como conseqüência de uma desigualdade da produção econômica, como normalmente seria o caso, mas meramente por conta da criação desenfreada de dinheiro. Esse novo dinheiro, que é criado pelo Banco Central e por todo o sistema bancário, foi injetado primeiro no mercado de ações, e depois no mercado imobiliário. Durante esse processo, esse “falso” dinheiro criou uma gama de ganhos fictícios de capital em termos de preços de ações e de imóveis — os mesmos ganhos fictícios que ocasionaram o sobreconsumo. No caso do mercado de ações, os ganhos fictícios foram predominantemente para os ricos; eram eles que tinham os maiores investimentos em ações e eram eles que mais provavelmente tinham condições de saber como tirar vantagens do mercado em ascensão. Ao mesmo tempo, as taxas de juros artificialmente baixas — obtidas pelas infusões de dinheiro criado do nada — encorajaram um alongamento artificial do que os economistas austríacos chamam de estrutura da produção. (Para a explicação definitiva sobre isso, assista a essa magnífica explicação de PowerPoint). Esse alongamento artificial criou um correspondente aumento artificial na magnitude dos lucros no sistema econômico.

Esse último ponto pode ser entendido ao se reconhecer que, quando se considera o agregado, os fundos que as empresas gastam pagando salários e comprando bens de capital (por exemplo, materiais, componentes, provisões, propaganda, luz e calefação, maquinarias e instalações) são os mesmos fundos que geram o grosso do volume de receitas de venda no sistema econômico. A cada ano, todos os gastos com bens de capital constituem receitas de venda para os vendedores desses bens de capital. A cada ano, o pagamento de salários permite aos assalariados gastar um montante aproximadamente equivalente comprando bens de consumo das empresas. Assim, em um determinado ano, é o total de gastos produtivos das empresas com salários e bens de capital que gera no sistema econômico — direta ou indiretamente — as receitas das vendas comerciais daquele mesmo ano. (O grau em que, a cada ano, os assalariados desejarem adiar para janeiro os gastos dos salários pagos a eles em dezembro, por exemplo, será contrabalançado por essas mesmas escolhas feitas no ano anterior).

Entretanto, cedo ou tarde, esses mesmos gastos produtivos que sustentam a maioria das receitas de venda das empresas também irão aparecer como custos de produção das empresas, custos esses que precisam ser deduzidos das receitas de vendas para que os lucros reais possam ser computados.

A pergunta-chave é: quando é que esses custos irão de fato aparecer como custos de produção? A mesma quantia monetária utilizada para gastos produtivos será computada futuramente como custos a serem deduzidos de receitas de vendas. A questão é o período de tempo para tal. Pode demorar dias ou semanas. Mas também pode demorar meses ou anos. Por exemplo, se um supermercado gastar $1 milhão na compra de mercadorias no atacado, em uma questão de dias esse $1 milhão será computado como custo. Entretanto, se uma construtora gastar $1 milhão na construção de um novo edifício cuja vida depreciável seja de 40 anos, esse $1 milhão irá ser computado como um custo de produção a ser deduzido das receitas de venda somente após o edifício estar totalmente pronto. E daí então, o custo será computado a uma taxa de $25.000 por ano, por causa de sua vida depreciável de 40 anos. Para que esse gasto de $1 milhão na construção do edifício resulte em um custo anual de depreciação de $1 milhão, o processo teria de ser repetido durante 40 anos, após o qual 40 edifícios desse tipo já teriam sido construídos, cada um se depreciando $25.000 por ano.

A implicação dessa discussão é que alterações no padrão de gastos produtivos — com relação ao período de tempo que levará para que os gastos apareçam como custos a serem deduzidos das receitas de venda — são capazes de gerar um enorme efeito nos lucros das empresas por um considerável período de tempo. Isso ocorre porque, embora as receitas de venda em um dado ano permaneçam as mesmas, os custos a serem deduzidos dessas respectivas receitas podem ser adiados em graus variados. Desta forma, por exemplo, direcionar aquele $1 milhão que seria gasto na compra de alimentos no atacado para a construção de um novo edifício implica uma redução de $1 milhão nos custos a serem deduzidos das receitas, durante o ano corrente. (A redução será integralmente de $1 milhão porque, embora o prédio ainda esteja sendo construído, ele ainda não gerou sequer os custos de $25.000 de depreciação anual, custos esses que só serão computados quando a construção estiver finalizada). Assim, uma vez que a estrutura é alongada e mais e maiores custos são adiados — em termos de seu cômputo para dedução das receitas —, os lucros no sistema econômico são correspondentemente aumentados. Esses são os lucros da fase da expansão (boom) da economia.

A política de dinheiro fácil e de baixas taxas de juros adotada pelo Banco Central provoca duas distorções: esse dinheiro novo injetado no mercado eleva os gastos produtivos e as receitas das empresas, e, simultaneamente, estimula um redirecionamento dos gastos produtivos (investimentos) para pontos mais distantes do momento em que eles serão computados como custos de produção. Gastos produtivos visando resultados mais demorados são um efeito secundário inevitável de taxas de juros baixas. Dessa forma, uma política de expansão de crédito produz um adiamento sistemático do cômputo dos custos empresariais em relação a qualquer volume de receitas, bem como um correspondente alargamento dos lucros empresariais — lucros para os quais não há qualquer base econômica sólida e que não existiriam na ausência de uma expansão creditícia.

Portanto, se de fato não se trata de ignorância econômica e/ou de pura inveja maliciosa, a indignação da esquerda contra a desigualdade econômica poderia muito bem ser coerentemente redirecionada contra a sua adorada política de expansão de crédito.

III

Todo o descontentamento e indignação da esquerda deveriam ser direcionados contra suas próprias políticas e também contra ela própria, por conta de sua volitiva e arbitrária ignorância econômica. A esquerda nada sabe sobre o papel do capital na produção e nem o que realmente faz aumentar os salários reais e o padrão de vida. Na verdade, ela desconhece praticamente qualquer aspecto da economia.

É claro que, em uma demonstração adicional de sua ignorância, os membros da esquerda irão indubitavelmente classificar o argumento apresentado nesse artigo com sendo “elitista”. Não há nada de elitista nele. Há apenas o fato óbvio de que a acumulação de capital e o progresso econômico dependem da poupança e da inovação. E estas, por sua vez, dependem da liberdade de se obter altos lucros e de se acumular grande riqueza.

A única alternativa apresentada a esse modelo de progresso para todos — progresso esse que é atingido por vias do desenvolvimento econômico — é o sistema em que alguns homens ganham à custa de outros por meio da pilhagem e da espoliação. É essa a alternativa defendida pelos redistribucionistas.

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