Uma das mais difíceis lições econômicas a ser ensinada aos neófitos desta área — e, surpreendentemente, também a vários economistas bem treinados — é a ideia de que a teoria econômica não pode dizer nada definitivo sobre declarações subjetivas. Ela não pode dizer se algo é ótimo, bom, ruim ou péssimo. Permitam-me alguns exemplos para esclarecer melhor este ponto.
O vinho Cabernet Sauvignon é melhor do que o Fumé Blanc. Peru é melhor do que porco. Matéria no estado sólido é melhor do que no estado de plasma. Cada uma destas afirmações utiliza suas próprias premissas como prova das próprias afirmações, o que nada mais é do que um raciocínio circular. Por isso, fica a pergunta: onde está a prova de cada uma destas afirmações? Sendo declarações meramente subjetivas, discordâncias entre os debatedores podem se prolongar ad infinitum. É tudo simplesmente uma questão de opinião pessoal. A opinião de uma pessoa sobre o que é melhor ou pior é tão válida quanto a opinião de outra pessoa.
Agora, compare estas declarações a estas outras aqui: água é formada de moléculas compostas por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Cientistas não podem dividir o átomo. A distância em graus do equador ao Pólo Norte é de 90. Com afirmações positivas como estas, se houver qualquer desacordo, existem fatos para os quais o proponente destas ideias pode recorrer para resolver a contenda. Por exemplo, se um indivíduo diz que cientistas podem dividir o átomo, mas outro diz que não, uma viagem ao acelerador linear de Stanford para se observar átomos sendo divididos resolve a questão. No entanto, se você disser que Fumé Blanc é melhor do que Cabernet Sauvignon e eu disser que Cabernet Sauvignon é melhor, nossa discordância pode se prolongar eternamente, pois não há fatos ou números concretos para os quais podemos recorrer.
Uma maneira sempre útil de saber se uma afirmação é subjetiva é observar o uso de termos como ‘deveria’, ‘tem de’, ‘melhor’ e ‘pior’. Sempre digo aos meus alunos que, embora seja importante saber se uma afirmação é subjetiva ou não para se raciocinar corretamente, de modo algum estou sugerindo que eles expurguem de seu vocabulário afirmações subjetivas. Afirmações subjetivas são muito úteis para confundir os outros e levá-los a fazer exatamente aquilo que você quer que eles façam para você. No entanto, no processo de enganar os outros, o indivíduo não precisa se enganar a si próprio. Por exemplo, um político diz que cursar universidade “é um imperativo econômico que deve ser acessível a todas as famílias da nação”. Não há absolutamente nenhuma evidência que confirme indiscutivelmente esta afirmação. Com efeito, há vários exemplos de pessoas inteligentes e extremamente bem-sucedidas que sequer completaram o ensino médio. Da mesma maneira, há vários exemplos de pessoas com doutorado que não têm a mínima ideia do que fazem no mundo. Não obstante, tal afirmativa é uma ótima maneira de coagir os outros a pagar pela educação de alguém.
E quanto à afirmação de que as pessoas não deveriam praticar discriminação de raça ou sexo? Qualquer que seja a validez emocional de tal afirmação, ela é, acima de tudo, um mero juízo de valor, sem nenhuma evidência ou fatos que a comprovem. Ademais, se a interpretarmos literalmente, concluiremos que ela é uma tolice sem absolutamente nenhum sentido. Pense a respeito. Discriminação nada mais é do que um simples ato de escolha. Sempre que escolhemos algo — ato este que fazemos várias vezes ao dia —, estamos discriminando. Quando escolhemos uma pessoa para ser nossa parceira para o resto da vida, estamos inevitavelmente discriminando ou por raça ou por sexo ou por ambos. Você gostaria de viver em uma sociedade em que houvesse punições por tal discriminação? Gostaria que o governo estipulasse com quem você deveria se casar?
Já tive alunos que argumentaram que a discriminação por raça e sexo no que diz respeito ao casamento é trivial e sem grandes consequências; mas, no que concerne ao mercado de trabalho, tem de haver leis impondo a igualdade de oportunidade. Mas o que é igualdade de oportunidade, e como você pode afirmar que ela está sendo aplicada? Sempre pergunto aos alunos que defendem esta ideia se eles, ao se formarem, irão dar a cada empregador uma igualdade de oportunidade para contratá-los; se eles irão se oferecer igualmente para as grandes empresas que pagam bem e para o administrador do cemitério que precisa de mais coveiros. E eles sempre me olham com uma expressão atônita e dizem, um tanto constrangidos, que não. E então eu pergunto: “Se você não vai dar a cada empregador a igualdade de oportunidade de lhe contratar, por que então todos os empregadores deveriam ser forçados a lhe dar uma igualdade de oportunidade para ser contratado?”
Sempre que a discussão resvala para a lei da demanda, o termo “necessidade” sempre surge. Um estudante pode dizer que um carro, um celular e água corrente são necessidades essenciais. Minha resposta é que carros, celulares e água corrente não podem ser necessidades essenciais, pois as pessoas conseguiram viver sem estes itens por muito mais tempo do que vivem com eles. Não há nada sem o qual as pessoas não possam viver; apenas as consequências é que podem não ser muito agradáveis.
E você pode dizer, “Williams, mas este seu pensamento não é nada misericordioso!”. Correto. Creio que ser misericordioso para com um semelhante é algo que requer análise isenta e raciocínio desapaixonado. Em outras palavras, temos de pensar com nosso cérebro e não com nosso coração.