O Japão virou novamente notícia na semana passada. Desta vez, pela espetacular queda de mais de 7% do índice Nikkei em um único dia. Ainda que expressiva, é praticamente um leve soluço quando observamos a alta de mais de 70% nos últimos 12 meses.
E não é somente a Bolsa nipônica que traça uma trajetória de alta; investidores ao redor do globo vêm testemunhando uma forte subida no preço das ações como há muito tempo não se via.
Em Hong Kong, o índice Hang Seng ainda está longe de voltar ao patamar de 2007, mas está perto de seu maior nível desde o estouro da crise financeira, e apresenta uma alta de 21% no último ano. Ainda na Ásia, o principal índice do mercado bursátil da Índia está prestes a superar o pico histórico de 2007. Na Oceania, o índice S&P ASX, que engloba as ações de empresas australianas, já bateu os 5.000 pontos, o topo máximo dos últimos quatro anos e uma alta de quase 25% em 12 meses.
Fonte: Bloomberg
Bolsa do Japão
Fonte: Tradingeconomics.com
Enquanto isso, na Europa, o índice DAX, da Alemanha, atingiu a máxima histórica ao superar os 8.500 pontos no dia 22 de maio (veja o gráfico abaixo). Isso representa uma alta de mais de 30% no acumulado dos últimos 12 meses. Nada mal para um país que pouco tem crescido e segue altamente exposto aos países problemáticos da União Europeia.
Fonte: Tradingeconomics.com
E o que dizer do Reino Unido? Os bretões encontram-se em meio uma forte crise, sua economia está estagnada e Estado, quebrado; ainda assim, o FTSE 100 não para de subir. Caso persista a tendência de alta, é possível testemunharmos a maior cotação de sua história, superando o nível de 6.930 pontos alcançados em dezembro de 1999.
Nem mesmo o índice da Bolsa francesa fica para trás; ainda que esteja longe de seu pico histórico, seus ganhos nos últimos 12 meses se aproximam dos 30%. A mesma análise podemos aplicar à Bolsa espanhola, em que o IBEX 35 permanece distante do auge da bolha de 2007, mas ainda assim experimenta uma alta de mais de 30% no último ano. Da mesma forma, as Bolsas austríaca e holandesa estão próximas dos 30% de ganhos anuais.
Na Escandinávia, tanto a Bolsa da Suécia quanto a da Noruega e a da Dinamarca estão bem próximas de bater o nível de 2007. Com relação ao último ano, todas registram altas superiores a 20%.
Antes de partirmos para o outro lado do Atlântico, não podemos deixar de destacar o mercado bursátil suíço. Desde maio de 2012, o índice SMI persegue uma trajetória ascendente que parece não ter fim, registrando aproximadamente 40% de crescimento. Não tardará muito para que o recorde histórico de 2007 seja quebrado.
Falando em quebra de recordes, é na América onde as Bolsas recompensam os investidores que apostaram nesse mercado nos últimos meses. Já é notório o mais alto patamar de toda a história de ambos os índices Dow Jones e S&P 500. A Bolsa da Nasdaq, entretanto, ainda não chegou lá, mas trilha o mesmo caminho, superando a marca de 20% de ganho anual e atingindo a maior cotação desde o estouro da bolha da internet, em 2000. Enquanto isso, com a exceção da Argentina, a América Latina parece ser o patinho feio das Bolsas globais no último ano.
Fonte: Bloomberg
Em face da realidade dos mercados de ações internacional, poderíamos concluir que estamos diante de uma forte recuperação econômica ou seria apenas mais um episódio de bolha especulativa inflada pelos bancos centrais?
Com parco crescimento econômico no mundo desenvolvido, elevados índices de desemprego e finanças públicas em desequilíbrio, resta claro que a alta das ações é fortemente influenciada pelas políticas monetárias expansionistas dos principais bancos centrais ao redor do mundo.
O grande experimento dos Ph.D.s no comando dos bancos centrais de países desenvolvidos tem inflado os ativos financeiros nos quatro cantos do planeta. E ainda que as commodities estejam em baixa, outros ativos reais também têm sofrido forte influência da elevada liquidez global, como é o caso do mercado imobiliário em diversos países da Europa (Suíça e países escandinavos), Canadá, Austrália e, até certo ponto, o próprio mercado americano.
Nesse ínterim, os índices (e as expectativas) de inflação de preços ao consumidor não acendem a luz vermelha. Pelo contrário, tranquilizam os banqueiros centrais de que suas políticas extraordinárias não têm repercussões negativas neste momento, nem em um longo horizonte de tempo. Qualquer semelhança com a “grande moderação” da década passada não é mera coincidência. Não é preciso lembrar o resultado não intencionado que o excesso de liquidez teve em um passado nada distante.
E quando esse grande experimento vai cessar? Difícil dizer. O Federal Reserve dá sinais altamente ambíguos. Ao passo que suas compras de Treasurys e ativos imobiliários seguem intactas – expandindo o balanço do Fed em cerca de US$ 40 bi a cada mês –, o FOMC alerta que elas podem diminuir, ou até mesmo aumentar, em um futuro próximo. Quando? Dependerá dos dados macroeconômicos.
Na Europa, o Banco Central Europeu tem, surpreendentemente, reduzido seu balanço. Mas esse não é o caso do Banco da Inglaterra, muito menos do Banco Nacional da Suíça (BNS). Este, por sinal, tem levado a cabo uma das maiores expansões monetárias do mundo desenvolvido. Historicamente tido como benchmark de retidão monetária, o BNS duplicou o seu balanço nos últimos dois anos a fim de sustentar o piso de 1,20 franco para cada euro. E como se não fosse suficiente, seu presidente, Thomas Jordan, tem dito à imprensa que tal piso pode até ser elevado.
Para completar a festa, o Banco do Japão parece estar realmente determinado a levar sua nova política, Abenomics, até as últimas consequências. Em síntese, os banqueiros centrais devem continuar inflando os ativos financeiros ao redor do globo.
Como o investidor deve navegar nessa tormenta é tarefa extremamente complexa. Ainda que se possa especular e registrar ganhos espetaculares na Bolsa no curto prazo, é preciso cautela. O tombo é sempre mais rápido que a escalada.
Artigo originalmente publicado em O Ponto Base