Uma das preocupações que não compartilho com vários economistas mais progressistas diz respeito ao fato de que indústrias e demais processos de produção tendem a sair de sociedades de alta renda e se mudar para sociedades de baixa renda. Trata-se de uma realidade irreversível, mas ela não dever ser temida. E há uma boa razão para isso.
Pense em como funcionavam os processos de fabricação antigamente. Por exemplo, em 1800, o setor industrial dos EUA e da Grã-Bretanha era formado por técnicos altamente capacitados. Estas pessoas ganharam muito dinheiro. E então as máquinas começaram a substituí-los, profissão por profissão. Esta tendência continua até hoje.
Pense nos homens que faziam trabalhos de precisão metal-mecânica em 1960, utilizando sofisticados tornos mecânicos. Esses caras tinham de trabalhar com tolerâncias de um milésimo de polegada, ou menos. Eles eram incríveis. Mas não havia muitos deles.
Gradualmente, este tipo de processo de produção foi sendo substituído por máquinas perfeitamente capazes de trabalhar dentro destas ínfimas tolerâncias. As máquinas de hoje são capazes de apresentar a mesma produção de trabalhadores que, uma geração atrás, eram indispensáveis à indústria. Máquina por máquina, estamos assistindo a uma substituição da mão-de-obra qualificada.
A NASA recentemente produziu uma máquina altamente sofisticada que foi criada em uma impressora 3-Dextremamente cara e específica. Em vez de levar um ano para produzir a máquina, a impressora 3-D fez o trabalho em apenas quatro meses — ou seja, reduziu os custos de produção em 66%. Adicionalmente, isso também reduziu o custo de compra da máquina em 30%. Quando se é possível reduzir os custos de produção em dois terços e economizar 30% na compra de uma máquina, estamos vivenciando uma transformação revolucionária nos processos de produção. Aquele dilema entre tempo e dinheiro ainda existe, mas, quando comparado aos tipos de dilema que havia antes da impressora 3-D, não há mais dilema. Tudo o que você tem de fazer é comprar a impressora 3-D, contratar alguém para esquematizar o projeto, e colocar a máquina para fazer o trabalho.
A máquina funciona com tecnologia a laser. Ela literalmente derrete o metal e já o conforma no formato necessário. Tudo isso é feito sem intervenção humana.
O trabalho humano é versátil
Sempre estamos à procura de alguém que faça algo por nós. Se uma máquina é capaz de substituir o trabalho humano, então ela deve substituir o trabalho humano. O trabalho humano não deve ser desperdiçado em tarefas repetitivas que podem ser feitas por uma máquina de maneira igualmente eficaz e menos dispendiosa. Se algo pode ser feito por uma máquina, por que imobilizar algo tão versátil quanto o trabalho humano? O trabalho humano é o mais versátil de todos. Há inúmeras coisas que as pessoas podem aprender a fazer. Já uma máquina pode fazer bem apenas uma coisa; ela não pode fazer outra coisa fora daquilo para a qual projetada. Seres humanos não são como máquinas. Eles podem fazer muitas coisas.
Se um indivíduo se especializou em um determinado processo de produção e tal processo é substituído por uma máquina, ele de fato pode vivenciar uma crise de desemprego. Mas alguém com seu nível de qualificação tem capacidade para trabalhar com outros instrumentos de precisão. Ele é versátil, mas somente a um nível de produtividade muito alto. Ele pode até ser momentaneamente reduzido de cargo por causa das máquinas, mas é possível se recuperar. A maioria das pessoas se recupera. Elas encontram outras coisas para fazer.
Se você trabalha no setor industrial, então você deve aspirar a uma posição que esteja entre uma máquina especializada e a resolução de um problema imediato. Existem todos os tipos de problemas imagináveis e inimagináveis nos processos de produção, o que significa que uma máquina não irá solucioná-los. Qualquer tipo de problema tem de ser resolvido pela mente humana, e por um ser humano equipado com uma ferramenta capaz de resolver o problema. É a criatividade humana, em conjunto com o uso de ferramentas, que é essencial para garantir a produção de uma máquina. Aspire a uma posição em que você tenha constantemente de utilizar sua mente.
Se você tem uma profissão manual que se resume a fazer processos repetitivos, é bom ir adquirindo outras habilidades. Se você pensa que poderá concorrer com uma máquina para fazer processos repetitivos, é bom repensar seu futuro. Em processos repetitivos, a máquina sempre irá vencer. Em algum momento surgirá uma máquina que fará o trabalho melhor do que você. E isso é ótimo para toda a humanidade. Adam Smith já havia observado que as habilidades mecânicas e repetitivas que são necessárias em uma divisão do trabalho não são boas para os homens.
No progresso da divisão do trabalho, o emprego da maior parte daqueles que vivem do trabalho manual, ou seja, da grande maioria das pessoas, acaba sendo limitado a umas poucas e muito simples operações — quase sempre uma ou duas. . . . O homem que passa a vida inteira executando operações simples e cujos efeitos talvez sejam sempre os mesmos ou bastante parecidos não tem nenhuma oportunidade de utilizar sua mente ou de aproveitar sua capacidade inventiva para descobrir expedientes para vencer dificuldades que nunca ocorrem. Portanto, ele perde, naturalmente, o hábito deste esforço e, geralmente, se torna tão estúpido e ignorante quanto é possível uma criatura humana se tornar. O torpor de sua mente o torna não só incapaz de apreciar ou de manter qualquer conversa racional, como também de conceber qualquer sentimento generoso, nobre ou terno, e consequentemente de ter qualquer opinião até mesmo sobre os mais rotineiros aspectos da vida cotidiana. . . . Corrompe até mesmo a atividade de seu corpo, tornando-o incapaz de empregar sua força com vigor e perseverança a qualquer outro emprego que não aquele ao qual se habituou. Sua destreza em seu ofício particular parece, deste modo, ter sido adquirida à custa de suas virtudes intelectuais e sociais. Mas, em toda sociedade avançada e civilizada, este é o estado ao qual os trabalhadores pobres, ou seja, a grande parte das pessoas, irão necessariamente cair, a menos que o governo faça algo para evitar isso.
Adam Smith, A Riqueza das Nações (1776), livro 5, capítulo 1.
O governo não tem de fazer nada para evitar isso. Tudo o que o governo tem de fazer é sair do caminho. Alguém irá inventar uma máquina que substitua o indivíduo nesta atividade tediosa e repetitiva. Máquinas não se entediam. Elas não cometem erros desleixados. Elas não divagam durante seu trabalho.
Alexis de Tocqueville, em seu livro Democracia na América, dizia que a solução era se tornar um líder, e não um operário.
Quando um operário se dedica sem cessar e unicamente à fabricação de um só objeto, acaba realizando esse trabalho com uma destreza singular. Mas perde, ao mesmo tempo, a faculdade geral de aplicar sua mente à direção do trabalho. Ele se torna a cada dia mais hábil e menos industrioso; pode-se dizer que o homem se degrada à medida que o operário se aperfeiçoa. O que se pode esperar de um homem que passou vinte anos da sua vida fazendo cabeças de alfinetes? A que pode se aplicar, agora, essa poderosa inteligência humana que existe nele e que tantas vezes revolveu o mundo, a não ser para procurar o melhor meio de fazer cabeças de alfinete? Quando um operário consumou dessa maneira uma porção considerável de sua existência, seu pensamento deteve-se para sempre perto do objeto cotidiano de seus labores; seu corpo contraiu certos hábitos fixos de que não lhe é mais permitido desfazer-se. Numa palavra, ele não pertence mais a si mesmo, mas sim à profissão que escolheu.
Em uma sociedade em que a divisão do trabalho é altamente desenvolvida, ele pode sair deste emprego e encontrar algo mais de acordo com seus gostos e talentos.
À medida que o princípio da divisão do trabalho recebe uma aplicação mais completa, o operário se torna mais fraco, mais bitolado e mais dependente. A arte faz progressos, o artesão retrocede. Por outro lado, à medida que fica mais manifesto que os produtos de uma indústria são tão mais perfeitos e tão mais baratos quanto mais vasta a manufatura e maior o capital, homens muito ricos e muito esclarecidos se apresentam para explorar indústrias que, até então, tinham sido entregues a artesãos ignorantes ou inábeis. A grandeza dos esforços necessários e a imensidão dos resultados os atraem. Assim, portanto, ao mesmo tempo que rebaixa sem cessar a classe dos operários, a ciência industrial eleva a dos patrões.
Enquanto o operário concentra sua inteligência cada vez mais no estudo de um só detalhe, o patrão analisa o todo, e sua mente se expande na mesma proporção que a do outro se estreita. Em breve, o primeiro não precisará de mais do que sua força física sem inteligência; já o segundo necessita da ciência, e quase do gênio, para ser bem-sucedido. Um se parece cada vez mais com o administrador de um vasto império, o outro, com um bruto.
Felizmente, o livre mercado substitui esse tipo de processo de produção rapidamente. Henry Ford adotava esse processo mecanizado em suas linhas de produção, mas a General Motors tomou o lugar de Ford em uma década. Os processos de produção sempre se movem em direção à cooperação no chão de fábrica, onde as pessoas contribuem com suas ideias e trabalham em equipe para implantá-las. Este foi um dos grandes segredos da indústria japonesa após a Segunda Guerra Mundial. Equipes de homens lidando com problemas conjuntos.
A coisa mais valiosa que as pessoas podem fazer é resolver problemas. Elas não são máquinas. Da mesma maneira, clientes e consumidores têm vários problemas. Não há um só tipo de problema. Há vários padrões de problemas. Mas cada problema possui aspectos singulares. É por isso que máquinas não podem lidar com eles. As máquinas sempre estarão limitadas por sua programação, e elas sempre estarão limitadas por sua incapacidade de inventar soluções criativas para problemas altamente específicos. Ferramentas são máquinas; elas não são criativas. Pessoas são usuárias de ferramentas; elas não são máquinas e, por isso, são criativas. Se um determinado processo de produção substitui pessoas por máquinas, então o destino daquela indústria já está selado. Se um determinado processo de produção ainda utiliza indivíduos para efetuar tarefas repetitivas, então ele está criando um mercado para que uma máquina substitua a força de trabalho. Isso é bom para a força de trabalho e é bom para os consumidores.
O segredo para se ter uma alta renda não é possuir uma capacidade de efetuar tarefas repetitivas. O segredo é ter uma mente criativa. O segredo está na mente criativa que é capaz de aplicar princípios gerais a casos específicos, e então encontrar ferramentas especializadas com as quais implantar seu plano.
Se a sua ocupação requer que você apenas efetue coisas repetitivas, coisas que não requerem muito raciocínio, então seria bom você ficar esperto e começar a procurar algum setor que possua algum conjunto de problemas que alguém com suas habilidades possa resolver. É a capacidade de saber resolver problemas, e não a implantação de soluções mecânicas, que gera uma renda alta. É assim que trabalhadores se tornam líderes e patrões.
Se um sistema educacional de um país treina seu povo para solucionar problemas, então o país tem futuro. Se, por outro lado, o sistema educacional treina seu povo para coisas rotineiras, então ele está ludibriando a população. Em termos de renda, ela não sairá do lugar.