A curva de Phillips é uma fábula econômica

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Keynesianos e outros economistas acreditam que o banco central pode influenciar o crescimento econômico por meio da política monetária, mas que isto pode causar inflação. Assim, se o objetivo é um crescimento econômico mais rápido e menor desemprego, então a economia pode pagar o preço com uma taxa de inflação mais alta. Supõe-se que exista um tradeoff entre inflação e desemprego, descrito pela curva de Phillips: quanto menor a taxa de desemprego, maior a taxa de inflação; inversamente, taxas de desemprego mais altas vêm com menos inflação.

Alguns comentaristas sustentam que, uma vez que a taxa de desemprego caia abaixo do que é conhecido como Taxa de Desemprego Não Aceleradora da Inflação (NAIRU), ela desencadeia uma espiral inflacionária. Essa aceleração da taxa de inflação ocorre por meio do aumento da demanda por bens e serviços, elevando a demanda por trabalhadores e pressionando os salários, o que aumenta os preços.

A NAIRU, no entanto, é uma medida arbitrária, derivada de uma correlação estatística entre mudanças no índice de preços ao consumidor (IPC) e a taxa de desemprego (ou seja, se uma queda na taxa de desemprego abaixo da NAIRU resulta na aceleração da taxa de inflação). Usar uma correlação estatística como base de uma teoria significa que vale tudo. Por exemplo, suponha que seja encontrada uma alta correlação entre a renda do Sr. Jones e o IPC, de modo que quanto maior a taxa de crescimento da renda do Sr. Jones, maior a taxa de aumento do IPC. Podemos concluir a partir dessas informações que, para exercer controle sobre a taxa de inflação, o banco central deve controlar a taxa de aumento da renda do Sr. Jones.

Podemos determinar os fatos da realidade em economia por meio de correlações?

Pode-se usar métodos estatísticos e matemáticos para organizar dados históricos em um corpo útil de informações que podem ajudar a avaliar o estado de uma economia. No entanto, o conhecimento obtido a partir da avaliação dos dados provavelmente será provisório, uma vez que não se pode estabelecer a verdadeira natureza dos fatos.

Milton Friedman escreveu que, uma vez que não se pode estabelecer como as coisas realmente funcionam, as suposições subjacentes de uma teoria não importam. O que importa é que a teoria produz boas previsões. Em seus Essays in Positive Economics, Friedman escreveu:

     O objetivo final de uma ciência positiva é o desenvolvimento de uma teoria ou hipótese que produza previsões válidas e significativas (ou seja, não truístas) sobre fenômenos ainda não observados. . . . A questão relevante a ser feita sobre as suposições de uma teoria não é se elas são descritivamente realistas, pois nunca são, mas se são aproximações suficientemente boas para o propósito em questão. E esta questão pode ser respondida apenas vendo se a teoria funciona, o que significa se ela produz previsões suficientemente precisas.

Por exemplo, um economista acredita que a renda pessoal disponível determina os gastos do consumidor. Ele então constrói um modelo, que é validado por meio de métodos estatísticos e usado para prever a direção futura dos gastos do consumidor. A precisão do modelo é baseada em como os gastos do consumidor estão correlacionados com outras variáveis.

No entanto, devemos aceitar ou rejeitar uma teoria baseada apenas em sua capacidade de fazer previsões precisas? Por exemplo, podemos dizer que todas as outras coisas sendo iguais, um aumento na demanda por pão aumentará seu preço; esta conclusão é verdadeira e não provisória. Mas o preço do pão vai subir amanhã ou mais tarde? As leis da teoria da oferta e da demanda não podem determinar quando o preço aumentará, apenas que ele aumentará. Devemos então descartar essa teoria como inútil porque ela não pode prever o preço futuro do pão?

De acordo com Friedman, formamos nossa visão do mundo real de acordo com a forma como as porções de informação se correlacionam umas com as outras. Observar que variações no IPC são inversamente correlacionadas com a taxa de desemprego não estabelece as causas por trás da taxa de crescimento dos preços ao consumidor. Apenas estabelece que durante um determinado período a taxa de desemprego e a taxa de crescimento dos preços tiveram uma correlação inversa.

A teoria deve preceder os dados para dar sentido aos dados

Para dar sentido aos dados históricos, é preciso ter uma teoria que se sustente por conta própria e que não se origine dos dados. A teoria deve originar-se de algo real que não pode ser refutado. Uma teoria que se baseia no fundamento de que os seres humanos estão agindo de forma consciente e proposital atende a esse requisito.

A afirmação de que os seres humanos agem consciente e intencionalmente não pode ser refutada, pois qualquer um que tente refutá-la o faz consciente e intencionalmente, uma óbvia autocontradição. Ludwig von Mises, o fundador dessa abordagem, chamou-a de praxeologia e derivou dela todo o corpo da economia. Mises concluiu que na análise econômica – em contraste com as ciências naturais, onde as verdadeiras causas não são conhecidas por nós – o conhecimento de que os seres humanos agem consciente e intencionalmente nos permite determinar a causalidade: as causas emanam dos próprios seres humanos.

De acordo com Murray Rothbard em seu prefácio para o livro de Mises Teoria e história,

       Um exemplo que Mises gostava de utilizar em suas aulas para demonstrar a diferença entre duas maneiras fundamentais de se abordar o comportamento humano era observar o comportamento humano na Grand Central Station durante a hora do rush. O behaviorista “objetivo” ou “verdadeiramente científico”, dizia Mises, observaria os eventos empíricos: por exemplo, as pessoas que iam apressadamente de um lado para o outro, sem rumo, durante horários previsíveis do dia. E isto era tudo que ele concluiria daí. Porém o verdadeiro estudante da ação humana iria partir do fato de que todo comportamento humano tem algum propósito, e ele veria que o propósito, neste caso, seria sair de casa para pegar o trem, de manhã, para trabalhar, e o contrário à noite etc. É óbvio qual deles conseguiria descobrir e saber mais sobre o comportamento humano, e, por consequência, qual seria o “cientista” genuíno.

Além disso, de acordo com Mises em Ação Humana:

      O físico não sabe o que “é” eletricidade. Ele conhece apenas fenômenos atribuídos a algo chamado eletricidade. Mas o economista sabe o que move o processo de mercado. É somente graças a esse conhecimento que ele está em condições de distinguir os fenômenos de mercado de outros fenômenos e de descrever o processo de mercado.

Atividade econômica e inflação

Ao contrário do pensamento popular, uma forte atividade econômica não causa um aumento geral nos preços das mercadorias e causa um “superaquecimento” econômico. Independentemente da taxa de desemprego, desde que os aumentos de gastos sejam sustentados pela produção, não pode ocorrer superaquecimento. O superaquecimento surge quando os gastos aumentam sem o apoio da produção – por exemplo, quando o estoque de moeda está aumentando. Uma vez que os estoques de moeda aumentam, eles geram trocas de nada por algo (consumo sem produção anterior), levando à erosão da riqueza.

Aumentos no estoque monetário são seguidos por aumentos nos preços ao consumidor, todas as outras coisas sendo iguais. Os preços são outro nome para o dinheiro que as pessoas gastam em mercadorias. Se o estoque de dinheiro em uma economia aumenta enquanto o número de bens permanece inalterado, mais dinheiro será gasto na quantidade dada de bens, então os preços aumentarão. Inversamente, se o estoque de dinheiro permanece inalterado, não é possível gastar mais em todos os bens e serviços; portanto, nenhum aumento geral nos preços é possível. Pela mesma lógica, uma economia em crescimento com um estoque monetário inalterado verá os preços caírem.

Conclusão

Alguns economistas acreditam que existe um trade-off entre inflação e desemprego, que é descrito pela curva de Phillips: quanto menor a taxa de desemprego, maior será a taxa de inflação e vice-versa. No entanto, a curva de Phillips não pode determinar uma relação causal entre inflação e desemprego, o que a torna inútil para a maioria das análises econômicas. É uma observação interessante, mas é só isso.

 

 

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2 COMENTÁRIOS

  1. Realmente essa curva de Phillips é difícil de se levar à sério mas essas idéias persistem porque possibilitam a manutenção da farra com o dinheiro alheio.

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