A morte de G. Floyd e o covid-19

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As manifestações recentes contra a morte violenta de G.Floyd parecem estar desvinculadas da atual crise sanitária do Covid-19, mas é apenas na aparência. Vimos neste caso específico um cidadão ser brutalmente agredido, até à morte, pela autoridade constituída de um policial, em flagrante abuso das suas prerrogativas e funções. A questão racial e a luta contra o racismo é o motivo declarado de manifestações que começaram nos EUA e se alastraram por todo mundo. Também é a desculpa para a ação criminosa de vândalos oportunistas, impulsionados e financiados por movimentos ideológicos com clara aspiração política, para destruir patrimônio público, fazer pilhagens e agressões, que em alguns casos levaram à morte de policiais e pessoas inocentes.

Fica evidente pela desproporção das ações que a pauta legítima de luta contra o racismo não é o único motivador das multidões. Talvez sem perceber ou saber articular devidamente, o que revolta muitas pessoas é o abuso de autoridade: alguém que atua em nome do Estado e tem a missão de servir o bem comum protegendo e, se necessário, utilizando da força para conter um agressor, utilizar-se desses poderes que lhe foram delegados para agredir e matar.

Muitas manifestações (refiro-me às legítimas, ou seja, pacíficas), veiculavam mensagens perguntando até quando teremos preconceito e repetiam as palavras de G. Floyd enquanto era agredido: ‘I can’t breathe’ (Eu não consigo respirar). Esse sufocamento real é uma imagem do sufocamento que a autoridade estatal abusiva, irresponsável e tirânica, exerceu ao longo da história e continua exercendo em diversos lugares do mundo.

A pandemia do covid-19, nos últimos meses, fez com que o abuso de autoridade e o ‘sufocamento’ estatal se tornassem norma em diversos países. As pessoas foram proibidas de trabalhar e ganhar o sustento de suas famílias, foram proibidas de ir e vir, foram submetidas à humilhação pública pelas autoridades competentes, foram confinadas em suas casas, muitas vezes lugares pequenos e impróprios para convivência prolongada, vivendo, por um lado, sob o medo do contágio da doença e, por outro, sob a ameaça de sanções se ousassem desafiar as diretivas dos seus respectivos governos. Um único discurso foi declarado como ‘científico’ e, portanto, aceitável. Por mais que muitos especialistas fizessem sérios estudos e trouxessem evidências de que as medidas implantadas pelos governos eram abusivas e teriam sérias consequências sociais, não se lhes deu ouvidos. Prevaleceu o autoritarismo.

É neste contexto, após meses de ‘lockdowns’ de maior ou menor nível, que a lamentável morte de George Floyd aconteceu. Nos EUA e no mundo, o desemprego alcançou níveis recordes desde a grande depressão, os governos implantaram políticas não vistas nem em governos tirânicos do século XX, a população se esgotou emocionalmente, se viu temerosa e impotente. O sufocamento de G. Floyd e seu grito ‘I can’t breathe’ tem sido para muita gente uma espécie de catarse diante da tragédia dos tempos atuais em que o abuso de autoridade estatal se intensificou com a desculpa da pandemia.

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