A questão ideológica fundamental que está em jogo na Ucrânia

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Desde a incursão russa na Ucrânia em 24 de fevereiro, a mídia americana e da Europa Ocidental tem sido quase unânime em promover o modelo que eles desejam que acreditemos e a agenda que eles desejam que sigamos. No Congresso dos Estados Unidos, como na maioria dos órgãos deliberativos da Europa Ocidental e em entidades internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Fórum Econômico Mundial (FEM), o refrão tem sido quase o mesmo: que a heroica e nobre atitude do governo “liberal democrático” ucraniano do presidente Volodymyr Zelensky professa e defende “nossos valores democráticos liberais”, e que foram brutalmente agredidos em um ataque não provocado pelos malvados russos sob seu malvado presidente – a nova “reencarnação de Hitler” – Vladimir Putin, que, é claro, deseja restabelecer o antigo Império Soviético que expirou há trinta e um anos.

É como se nada tivesse mudado desde 1991 – trinta e um anos atrás – quando o comunismo russo pereceu em uma morte ignominiosa, desprezado e ignorada pelo povo russo. É como se nenhuma história tivesse decorrido desde então, e que de alguma forma o fastasma do comunismo soviético, ou alguma forma nova dele, ainda ameace criticamente “o Ocidente”. E assim, devemos nos engajar em uma nova e muito perigosa “guerra fria”, que agora na Ucrânia se torna cada vez mais “quente”.

Entre os “conservadores” do establishment – ​​em particular, aqueles que denominamos neoconservadores – esse refrão encontra forte ressonância, bem como entre os membros republicanos do Congresso dos EUA. É fascinante, para dizer o mínimo, ver Lindsey Graham e Mitch McConnell unidos – como unha e carne – a Chuck Schumer e Nancy Pelosi, em uníssono, defendendo zelosamente uma rápida escalada no envolvimento americano na Ucrânia, não importa se tais ações ofensivas (por exemplo, zonas de exclusão aérea, tropas americanas no solo) possam provocar o Armagedon nuclear. Graham e outros líderes políticos parecem acolher tais trocas nucleares táticas com “níveis aceitáveis ​​de baixas civis e de combate”, alheios ao que realmente aconteceria.

Mais recentemente, essa posição, intelectualmente, foi apresentada por um membro do Claremont McKenna College (um posto avançado ocidental do neoconservadorismo), que repetiu mais uma vez todos os argumentos intervencionistas padrão sobre uma “Ucrânia democrática”, “agressão mundial russa (neocomunismo ?), e a “missão americana” como guardiã global (e executora) da “democracia liberal”.

Embora tenha havido alguma divergência dessa perspectiva no Ocidente (por exemplo, Tucker Carlson, coronel Douglas MacGregor, professor John Mearsheimer, Jacques Baud, Scott Ritter), o fato é que quase a totalidade das principais notícias sobre o conflito ucraniano vem de repórteres que esperam – e depois repetem como se fossem indubitáveis ​​e indiscutíveis – cada palavra telegrafada pelo governo ucraniano e pelos serviços de informação militar. Embora dezenas de repórteres ocidentais estejam incorporados às forças armadas ucranianas, nenhum representante da grande mídia facilita reportagens semelhantes da perspectiva russa. De fato, tanto os Estados Unidos quanto os países da Europa Ocidental tentaram sufocar ou interditar perspectivas opostas. Somente por meio da mídia não-ocidental ou de serviços independentes menores pode-se obter qualquer equilíbrio.

Assim, nos Estados Unidos e na Europa Ocidental somos bombardeados incessantemente por histórias lúgubres de “crimes de guerra russos” e agora de “terrorismo russo”, de tal forma que o senador republicano Graham está pressionando para que a Rússia seja rotulada como “estado terrorista”, certamente com “consequências” a seguir. No entanto, uma investigação mais próxima e profunda dessas acusações e imputações deve fazer com que aqueles preocupados questionem não apenas as contas, mas a boa-fé daqueles que relatam esses supostos eventos.

Escrevi sobre os chamados “crimes de guerra russos” em Mariupol, Bucha e Kramatorsk no início deste ano, e peço aos leitores que voltem e leiam esses artigos e verifiquem, novamente, as fontes. Mais recentemente (3 de agosto), a Anistia Internacional, em um momento revelador e talvez surpreendente de relatos verídicos, designou a Ucrânia e os militares ucranianos como responsáveis ​​por crimes de guerra e terror, usando civis como escudos humanos, inclusive forçando civis a se tornarem alvos específicos do militares russos, algo que eles fizeram na usina siderúrgica em Mariupol, embora a maioria das fontes da mídia ocidental ignore a verdade e ainda culpe os russos. Com uma imprensa ocidental flexível e entusiasmada, o fluxo contínuo de propaganda ucraniana inunda os lares ocidentais a todas as horas do dia… e isso inclui o ramo de notícias da Fox News, que pode muito bem ser o pior infrator.

Mas prescindindo do debate geopolítico e estratégico, da questão dos crimes de guerra e do curso das campanhas militares – se os ucranianos estão avançando além de Kharkov ou os russos defendendo Kherson com sucesso – precisamos dar um passo atrás e nos concentrar em uma questão mais fundamental e ideológica, que, afirmo, deve necessariamente enquadrar esse conflito e como o vemos.

Recentemente, tanto o jornal católico tradicionalista The Remnant quanto o The Saker publicaram o que pode ser o resumo mais conciso e acessível aos leitores em geral do conflito na Ucrânia, o que realmente significa global e ideologicamente. A guerra na Ucrânia é de fato uma guerra por procuração para os Estados Unidos e a Europa Ocidental; mas seu significado mais profundo deve ser entendido e sondado. Pois suas implicações afetam a história e os próprios fundamentos do que chamamos de civilização cristã ocidental.

O artigo é intitulado: “O conflito entre o Ocidente e a Rússia é religioso”, e o autor é Emmet Sweeney, um historiador e autor com trabalhos publicados.

 

 

 

Artigo original aqui

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